Resenha: mujeres musulmanas – estereotipos occidentales versus realidad social

Juliana Costa Santos

O artigo de uma temática bastante contemporânea e desconstrói conceitos que estão presentes no imaginário de boa parte da população. A autora, Djaouida Moualhi, já nos primeiros parágrafos, coloca-se como personagem da sua própria história: mulher, muçulmana, imigrante e magrebe. Este ultimo termo se refere à região no noroeste da África, onde existe uma concentração de países islâmicos, como é o caso do Marrocos, da Tunísia e da Argélia.
No começo da sua explanação ela traz à tona alguns tipos mais comuns de estereótipos que os ocidentais tem em relação aos muçulmanos e as suas condições de vida, com foco nas questões femininas. Aos poucos ela demonstra como algumas tradições muçulmanas são vistas pelos ocidentais e as consequências dessa visão, sempre fazendo um paralelo com o Cristianismo. Um exemplo é o pensamento de que os muçulmanos são fanáticos e muitas vezes violentos. Segundo a autora esse discurso teve seu começo na época das cruzadas (Robinson, 1990: 18 apud Moualhi, 2000). De acordo com Moualhi (2000), este pensamento remete ao século XIX, quando a maioria dos países árabes e muçulmanos estavam sendo colonizados por potencias ocidentais. Neste momento a sua religião era a maior forma de expressão e resistência, o que levou os colonizadores a demonizarem e condenarem a prática. Outros exemplos citados são o uso do véu, a poligamia e a clitoridectomia (retirada do clitóris).
Na seção seguinte, a autora se dedica a falar detalhadamente sobre os exemplos citados anteriormente, desmistificando cada um deles e apresentando alguns fatos. Em relação ao uso do véu, ela cita o pensamento ocidentalizado de um autor, que define como “símbolo por excelência da marginalização e da alienação” (Manyer, 1996: 67, apud Moualhi, 2000). No entanto ela diz que mulheres que usam véu não atrapalham a sua emancipação, já que o veem como símbolo de elegância e preservação, e não de repressão. Este é um tópico bastante interessante, visto que, aqui no Brasil, é comum observar o discurso criticado pela autora e tantos outros que mobilizam a população em prol de uma luta contra a repressão de mulheres pelo uso do véu, quando na realidade, boa parte das pessoas “compra a briga” sem saber se a “parte interessada” de fato se sente como pensamos. O mesmo funciona para a clitoridectomia, uma prática existente apenas em alguns países de cultura islâmica, mas que surgiu muito antes do islamismo, Lerner (1990), citado por Moualhi (2000) apresentou a existência deste tipo de prática entre egípcios, fenícios, gregos, etc. Segundo algumas culturas que praticam este ato, trata-se de uma circuncisão feminina, com motivos diversos como: higiene, sacrifício, etc.
Apesar de trazer a realidade sobre alguns estereótipos, a autora também aproveita para falar da existência de graves acontecimentos machistas e discriminatórios na cultura islâmica, como a dependência e subordinação da esposa em relação ao seu marido e como as leis o favorece em caso de separação, custódia dos filhos, etc. No entanto, criticando ou não a cultura, ela deixa bastante claro que essas práticas e suas “regras” não são universais. Ainda que exista apenas um Alcorão e um Charia (espécie de livro de “leis” islâmicas), as interpretações são diversas e as leis também. Cada país pode agir de uma forma diferente. Algumas práticas são comuns em alguns países de cultura islâmica, enquanto podem ser condenadas em outro. A visão unificada sobre o mundo islâmico, segundo Moualhi (2000), faz parte do etnocentrismo ocidental.

Referência: Moualhi, D. Mujeres musulmanas: estereotipos occidentales versus realidad social. Papers, 60, 291-304, 2000. Disponível em: http://ddd.uab.es/pub/papers/02102862n60/02102862n60p291.pdf

Resenha: sobreviver ao medo da violação

Victória Santana

O presente artigo discute a situação da mulher frente a antecipação do sofrimento relacionado ao medo da violação, quais as estratégias usadas para lidar com a ansiedade que essa situação inflige. A população feminina é a mais temerosa e que mais toma medidas de proteção contra crimes e é, entretanto, a que apresente menor probabilidade de sofrer crimes em relação aos homens. A questão é explicar o porque desse medo por outra via que não a possibilidade de ser vitimada (Stanko, 1995) .
As autoras trazem como referência duas hipóteses para a explicação desse medo seria a primeira de que os homens apesar de sofrer do mesmo sentimento por conta da imagem masculina na sociedade disfarçam-no com outros tipos de comportamentos (Clemente & Kleiman, 1977, cit. Por Stanko, 1993), a segunda hipótese seria de que as mulheres relacionam essa ansiedade a um tipo de crime violento em especial, o medo da violação, o qual os homens geralmente não temem (Riger et al., 1978). A autora relata várias pesquisas e autores que falam sobre como o medo da violação – abuso sexual – está difundido entre as mulheres como mais temido que o próprio homicídio, enquanto os homens não dão importância devida a esse risco. Além do medo, as mulheres são as que mais tomam medidas de precaução, ainda assim, é importante ressaltar que os tipo de precaução tomadas pelas mulheres não as protegem de fato por na verdade restringirem o acesso e a liberdade do público feminino aos espaços sociais ao mesmo tempo em que essa violência não está restrita a lugares como ruas à noite, sítio escuros, ou lugares com pouca visibilidade. As autoras asseguram que não a violação por si traz graves consequências à sobrevivente, mas que é de fato importante estudar as consequências que o medo das mulheres as violação tem por si só, mesmo sem nunca terem sido vítimas de crimes dessa espécie.
O medo da violação nas mulheres não deve explicado como individual, mas como um processo social que atinge o ser feminino. Como os estudos feministas apontam a violação é uma forma da sociedade machista subjulgar a mulher, mantendo-a numa posição de vulnerabilidade. As autoras trazem a contribuição dos estudos feministas e da psicologia na violência contra mulher, mostrando a faceta de poder e que é socialmente incentivada. O presente estudo conta com uma metodologia que traz aspectos importantes das teorias feministas e que procuram atentar para 1) há uma focalização no gênero (feminino) e na desigualdade social que esta condição acarreta; 2) procura-se dar voz às experiências pessoais e quotidianas das mulheres (ou mesmo de outros grupos marginalizados); 3) paralelamente ao objeto propriamente dito da investigação, encontra-se um compromisso social, para que uma real mudança ocorra nas condições opressoras sob as quais o grupo em estudo se encontra; 4) a reflexão dos próprios investigadores sobre questões que abordam o gênero, raça, classe social e orientação sexual podem influenciar o processo de investigação, daí que; 5) se abandone, de algum modo, a tradicional investigação positivista, que apoia uma relação formal entre investigador e “investigado”, dando lugar a um ênfase participativo por parte do último na própria construção da investigação (Cosgrove & McHugh, 2000). O estudo investigou 18 mulheres, entre 19 e 25 anos, a amostra foi obtida por conveniência na população do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, tendo em vista a maior vitimização de mulheres na faixa etária entre 18 e 24 anos. Foi utilizado como instrumento um guia ou roteiro de discussão baseado na escala “Fear of Rape Scale” O guião é constituído por 10 itens, os quais compreendem a: 1) Qual o crime que mais temem?; 2) Na condição de mulheres, qual o crime que pensam que mais as afetam?; 3) (referida a violação) O que vos faz sentir?, (violação não referida) E a violação, já pensaram sobre isso?; 4) Qual o local/locais onde pensam haver uma maior probabilidade de acontecer? E em que altura do dia?; 5) O que fazem ou deixam de fazer por causa desse crime? (precauções em casa/ rua/transportes públicos/relações sociais/altura do dia); 6) De que modo pensam que o medo da violação afeta a vossa liberdade?; 7) De onde pensam ter surgido esse medo?; 8) Esta abordagem dos condicionalismos que afetam a liberdade das mulheres parece-lhes pertinente? Em que medida?; 9) Que outras ideias gostariam de acrescentar acerca deste tema?. O procedimento escolhido para coleta de dados foi grupo de discussão, onde após contatarem por telefone a disponibilidade das participantes foram realizados três grupos de discussão e posteriormente um quarto grupo. Foi realizada a seguir a análise de conteúdo das transcrições dos grupos de discussão. Os resultados confirmaram as pesquisas anteriores em vários países de que o receio de ser vítima de um crime de violação, a maioria das participantes (n=11) afirmaram ser o crime de violação o maior medo tanto para si mesmas quanto para os que a rodeiam. Todas as participantes afirmam adotar comportamentos para a prevenir abusos quando estão na rua, como trancar a porta do carro, ter cuidado no lugar onde estaciona. A maioria diz que não tem preocupações com o vestuário. É interessante ressaltar o fato de as precauções tomadas pela maioria das participantes são em relação ao período noturno, durante o dia existe um maior sentimento de segurança em relação ao abuso. Os dados levantados pelo estudo parecem confirmar a perspectiva de Stanko (1993, 1995). Outro fato interessante é que as mulheres afirmam tomarem maiores precauções com pessoas desconhecidas que com pessoas próximas, apesar de ser conhecido que em muitos são pessoas que cometem crimes de abuso sexual. As participantes também mencionam os fatores relacionados à cultura como influenciadores no medo da violação, como por exemplo, os papeis socialmente acordado sobre os comportamentos esperados de cada gênero o que corrobora o estudo de Hall, Howard e Bueziu (citado por Fonow et.al, 1992) sobre o fator de dominação machista que está implícito nesse tipo de violência direcionado à mulher. As autoras consideram a partir do estudo que o crime que mais atemoriza as mulheres é o da violação, e que as precauções tomadas surgem num contexto de diminuição da liberdade individual que vai muito além da proteção das mulheres. O contexto cultural em que essas mulheres estão inseridas trazem a vulnerabilidade como uma característica feminina que a predisporia a ser vítima desse tipo de crime de cunho dominador masculino. Assim, a pesquisa trouxe contribuições que contribuem para a confirmação de hipóteses anteriormente levantadas e que devem ser compreendidas a partir do olhar da psicologia sobre as diferenças de gênero que afetam as expressões de ansiedade em homens e mulheres de maneiras diferentes, trazendo danos muito maiores às mulheres que aos homens.

Referência: Berta, M., Ornelas, J. H., & Maria, S. G. (25 de Janeiro de 2007). Sobreviver ao medo da violação: Constrangimentos enfrentado pelas mulheres. Análise Psicológica , pp. 135-147.

Resenha: imagens e significado e o processamento dos estereótipos

Robson de Almeida Silva

O estudo relatado no artigo em questão procurou determinar a existência de diferença entre a avaliação de uma categoria alvo, realizada por meio da simples apresentação do rótulo verbal da categoria e a avaliação de uma categoria alvo em que se acrescentava, durante a apresentação, uma fotografia de exemplares típicos de cada categoria. Também buscou avaliar a influência do tamanho da cidade de residência do participante na avaliação da distância social, estando em jogo nesse caso a investigação sobre os efeitos contextuais na avaliação dos estereótipos. Para ambos os focos foi utilizado a escala de distância social de Bogardus como instrumento.

Como embasamento teórico o artigo inicia apresentado uma apanhado histórico sobre a forma como o estudo do estereótipo se desenvolveu no âmbito da psicologia social, neste sentido é destacado os diferentes métodos de estudos do estereótipos na medida em que é proposto a diferenciação entre o fenômeno enquanto um conjunto compartilhado de crenças e como o processo de estereotipação. O estudos partiram do auto-relato ao qual buscava-se o conteúdo, para o métodos experimentais onde a investigação girava em torno de quais os mediadores cognitivos responsáveis pelo processo de estereotipização.

De forma geral, a discussão teórica chega ao ponto onde é posto que estereótipos passaram a ser considerados como crenças compartilhadas referentes aos atributos pessoais, especialmente traços de personalidade e aos comportamentos de um grupo de pessoas, já a estereotipização, definida como o processo de aplicar um julgamento estereotipado a um indivíduo de forma a apresentá-lo como tendo traços que são comuns a outros membros de uma mesma categoria.

O estudo contou com 2006 participantes distribuídos em 49% do sexo masculino e 51% do sexo feminino, a coleta de dados foi realizada de forma computadorizada. O experimento foi realizado de acordo com um delineamento 2 x 3, sendo que na primeira condição, foi utilizado os tipos de escala de distância social (sem foto x com foto), enquanto a segunda condição se referia à cidade de residência do participante (Juiz de Fora, Além Paraíba ou Vila Velha).

Por fim, os resultados da pesquisa revelam a existência de diferenças na avaliação da categoria alvo quando apresentada por meio de estímulos inteiramente abstratos como o relato verbal, se comparada com a avaliação realizada quando foram acrescentadas em formato de imagens (fotografias) de exemplares do grupo alvo. No que diz respeito ao segundo proposito do estudo, percebeu-se que o grau de distância social em relação aos membros da categoria alvo recebeu influência do tamanho da cidade em que o participante do experimento reside.

Referência: Pereira, M. E. ; Martins, A. ; Cupertino, C. ; Ferreira, F. Imagens e significado e o processamento dos estereótipos. Estudos de Psicologia, 7, 2, 389-397, 2002.

Resenha: sexismo, homofobia e outras expressões correlatas da violência

chamada

Anna Paula Brandão

O artigo pretende expor as práticas e abordagens para com as vítimas de violência, apontando os modelos teóricos que dão suporte aos profissionais inseridos em programas de apoio a vítimas de violência, comparando esses modelos e dialogando com as políticas sociais. O objetivo da autora é tratar do sexismo e da homofobia expressos através de atos de violência, destacando a importância da compreensão de questões sociais e estruturais para abordar esse tema.
Os debates sobre feminismo ganham força a partir dos anos 80, entretanto a autora relata o tímido espaço em que esse tema é abordado na academia brasileira, em contraposição a grande produção acadêmica nas áreas das ciências sociais, antropologia, história e psicologia social em países de língua anglo-saxônica. Destaca ainda as políticas sociais pautadas nas questões de gênero, com uma série de serviços e instituições especializadas, a partir da década de 80, como um possível apaziguador dos debates e discussões em torno da violência de gênero. Como se o reconhecimento público (através de políticas sociais) bastasse e encerrasse a discussão.
Entretanto, a despeito da rede especializada e da ampla quantidade de informações sobre o tema, muitas questões continuam sem superação no que tange o tema da violência, o que sinaliza uma necessidade de estar ainda pensando e dialogando sobre isso. A autora considera de extrema importância o aporte teórico estrangeiro para embasar nossos estudos, mas destaca a necessidade de estudos locais, adaptados as particularidades e singularidades brasileiras. O objetivo da autora com esse artigo é justamente contemplar a demanda por estudos no tema da homofobia, sexismo e violência.
O artigo sinaliza a falta de modelos que superem o reconhecimento de vítimas e os agressores, alegando a necessidade de ir além da descrição e catalogação de perfis, sugerindo a elaboração de estratégias mais eficazes na prevenção e combate a violência de gênero. A violência de gênero, estando enraizada de maneira forte e velada em uma sociedade que se estrutura através de relações de poder entre os indivíduos, é perpassada por uma série de variáveis e fatores que devem ser levados em conta na análise da conjuntura. O que a autora destaca é justamente uma dificuldade dos psicólogos em articular todas essas questões para adequarem a suas abordagens.
O sexismo, a homofobia e a violência de gênero, temas centrais no artigo, são cuidadosamente conceituados para esclarecer alguns pontos no debate. “Sexismo é uma posição, ou uma postura misógina, de desprezo frente ao sexo oposto” (von Smigay, 2002). É, portanto, uma atitude de discriminação frente ao sexo oposto que pode ser desempenhada por homens ou mulheres. Considerando a cultura ocidental, perpassado por valores patriarcais que ainda estão em voga, existe uma representação social a cerca das mulheres, dos papéis, espaços e funções que ela deve desempenhar na sociedade. Essa representação subsidia práticas que, na grande maioria dos casos, “desprezam, desqualificam, desautorizam e violentam as mulheres” (Von Smigay, 2002).
A homofobia está associada a uma atitude de medo e rejeição à homossexualidade (Weinberg, 1972 apud von Smigay, 2002). A autora através de Welzer-Lang (1994) discorre sobre como o medo organiza uma série de questões do dia-a-dia das pessoas. O medo, que pode desencadear o ódio, estrutura comportamentos de fuga. Em uma análise etimológica, o artigo fragmenta a palavra homofobia, situando homo como o idêntico, e fobia como o medo, portanto chegamos ao medo do simular. Extrapolando a análise etimológica, na homofobia existe um medo, um receio de se identificar, de ser simular ao objeto de preconceito e marginalização social. É nesse ponto que podemos pensar o quanto o preconceito inscreve muito mais o preconceituoso do que o objeto de preconceito (Crochík, 1995 apud Von Smigay, 2002). No medo por algo que posso surgir no sujeito preconceituoso, emergem as atitudes de rejeição, incorrendo, em alguns casos, em violência.
Em terceiro vem o conceito de violência de gênero, e autora logo destaca a importância de não haver confusões com violência contra as mulheres. Antes de tudo é necessário destacar que a especificidade dessa violência retrata uma conjuntura sociocultural em que é essencial essa distinção para evitar o prejuízo de incorrer no erro de que toda violência é igual e merece os mesmos aparelhos de atenção e tratamento. Existe, portanto, um tipo de violência que se circunscreve através de relações de poder compreendidas através do sexismo e da homofobia. Em uma cultura que coloca o homem viril em uma posição socialmente privilegiada, desprezando aqueles considerados desvirilizados – nesse ponto podemos pensar nas mulheres, nos homossexuais, nas crianças e nos idosos – a violência não pode ser abordada apenas como atos de agressão entre indivíduos iguais perante a lei. Se há uma estrutura social de desigualdade – e ela pode ser corroborada através, por exemplo, da análise das relações entre mulher e homem nas famílias, no lugar das crianças e idosos na sociedade, na representação social a cerca dos homossexuais – essa estrutura deve ser considerada através da legislação e das políticas públicas.
A partir da década de 90, o artigo cita 3 rupturas, ou modificações importantes. Em primeiro, o abandono “de uma lógica dual e contrastante, que opõem homens e mulheres”, em segundo a ruptura com “determinações mecânicas e imediatas”, em terceiro “uma recusa dos conceitos ou das perspectivas de universalização e generalização”. Esse três pontos repercutiram em um modo diferente de pensar a mulher, a começar pela necessidade em se referir ao termo no plural – as mulheres – sinalizando uma complexa e conflituosa relação social (von Smigay, 2002).
Um ponto importante do artigo é a questão da socialização dos homens. Existe um compartilhamento de valores hierárquicos e dominantes ensinados aos homens no espaço doméstico e reafirmados nos espaços públicos e este aprendizado orienta a discriminação a indivíduos e grupos considerados desvirilizados. “Tanto o sexismo quanto a homofobia estruturam o medo de abandonar as atribuições de seu grupo sexual”, assim a autora coloca o sexismo e a homofobia como formas de manter um status quo, uma relação de hierarquia. Sendo dispersa através de uma infinidade de estruturas sociais, é possível observar a sua sustentação até mesmo através das mulheres, que aprendem as normas nas relações interpessoais e romper com essas regras se mostra muito complexo, incorrendo muitas vezes na simples culpabilização das vítimas pela manutenção das estruturas de poder.
No que tange os modelos de intervenção, o artigo destaca três perspectivas: clínica, psicoeducativa e feminista. A perspectiva clínica possui base psicológica e, genericamente falando, possuem um foco na análise e abordagem das vítimas, sendo criticada por tirar o foco dos agentes de agressão, centrando os estudos e discussões em cima do sofrimento psíquico da vítima. A perspectiva psicoeducativa pauta-se em uma reinserção social do agressor. Dentro dessa perspectiva uma série de teorias é citada para compreender o contexto de emergência dos agressores e a dificuldade de modificação da relação entre agressor e vítima, além de apontar o contexto familiar como um espaço socializante que expressa uma série de violências. Dentro dessa questão do contexto familiar é importante, entretanto, ressaltar o contexto sociocultural como base para as estruturas de violência no contexto privado, sob o perigo de dedicar uma grande parcela de responsabilidade social a um contexto domiciliar que teoricamente não poderia ser acessado por políticas sociais de atenção e cuidado. Na perspectiva feminina há um foco sob o sujeito político, uma ideia de sistema de gênero pautado na hierarquia do masculino, além de uma desigualdade na maneira como a violência atinge os membros de uma família.
Para concluir o artigo, a autora traz a necessidade de uma compreensão política da violência. Ela ressalta a existência de uma violência específica contra grupos sociais desprestigiados. Portanto, “a violência não se dá em um vazio; está na cultura” (von Smigay, 2002), ela deve ser analisada sobre a ótica de uma cultura falocêntrica que localiza agressores e vítimas.

Referência: Smigay, K. Sexismo, homofobia e outras expressões correlatas da violência: desafios para a psicologia política. Psicologia em Revista, 8, 11, 32-46, 2002

Resenha: análise psicossocial do preconceito contra homossexuais

Irza Maria Carvalho Santos

Neste artigo os autores fazem uma explanação sobre o preconceito contra homossexuais e suas raízes históricas. Gordon Allport foi um dos pioneiros no estudo do preconceito em Psicologia Social. Sua definição é a mais empregada para definir o mesmo “uma atitude evitativa ou hostil contra uma pessoa que pertence a um grupo simplesmente porque ela pertence àquele grupo, e está, portando, presumindo que objetivamente ela tem as qualidades atribuídas ao grupo” Allport (1954). Contudo estudos a respeito demonstram que esse fenômeno vem assumindo formas cada vez mais sutis e camufladas, por causa dos avanços humanitários e as leis que proíbem atos discriminatórios contra grupos minoritários.

Mesmo com as leis que proíbem atos discriminatórios as pessoas parecem não terem conseguido acabar com o fenômeno e sim transformado a sua forma de expressa-lo. O preconceito se divide entre: o flagrante e o sutil. O preconceito flagrante é a forma mais tradicional, direta e aberta. O preconceito sutil é a forma mais contemporânea de discriminação, discreta e indireta, atendendo assim a norma social da não discriminação, em que as pessoas consideram inaceitável ser preconceituoso e temem ser mal vistas por apresentarem tal comportamento. O artigo apresenta uma nova forma de apresentação do preconceito sutil: a infra-humanização. Essa é a visão que propaga o sentido de que alguns humanos são considerados “menos humanos” do que outros.

O preconceito contra homossexuais tem ainda muito poucos estudos da Psicologia Social no Brasil. Um levantamento feito na Sacie-lo (Scientific Eletronic Library On-Line), no dia 30 de abril de 2006, usando a palavra-chave “preconceito contra homossexuais”, resultou apenas no trabalho de Lacerda, Pereira e Camino (2002). Esse interesse é perceptível tanto nos movimentos que lutam pelos direitos dos homossexuais, tal como a parada gay, que cresce em número de participantes todos os anos, no Brasil e no mundo, como em programas sociais que têm como objetivo diminuir o preconceito. O programa “Brasil sem Homofobia”, lançado em 2004, é uma resposta aos altos índices de discriminação contra o grupo, o artigo aponta ainda para apenas uma pesquisa “Juventudes e Sexualidade” (Castro, Abramovay & Silva, 2004), realizada em 14 capitais brasileiras. Os resultados dessa pesquisa apontam para a expressão flagrante do preconceito contra homossexuais, pouco preocupada em atender às normas do igualitarismo.

O artigo traz que existem cinco categorias de explicações para o homossexualismo que estão diretamente relacionadas com a forma como os homossexuais são vistos pela sociedade, são elas: explicações biológicas, ou seja, distúrbios de natureza fisiológica, hormonal ou gestacional; psicológicas que é constituída pela crença de que a homossexualidade é resultado de traumas experienciados na primeira infância; religiosas, aponta o homossexual como uma pessoa que não segue a palavra de Deus, que não tem força espiritual e religiosidade para resistir às tentações; ético-morais, representaria a crença de que a homossexualidade está relacionada com a ausência de respeito, de caráter e de valores morais do indivíduo; e explicações psicossociais que organiza as crenças de que a homossexualidade não é doença e deve ser compreendida na sua totalidade, pois trata da forma distinta pela qual cada um vive sua sexualidade, que é parte da identidade do sujeito.

A pesquisa apresentada pelo artigo partiu da hipótese de que as expressões do preconceito e descriminação contra os homossexuais atualmente apresenta componentes da infra-humanização. Diferente de outras pesquisas, que mostrar o preconceito flagrante como forma principal de expressão contra os homossexuais, esta pesquisa também identificou o preconceito sutil, mas tais resultados podem ser característicos da amostra, majoritariamente feminina. Homens heterossexuais geralmente expressam maiores níveis de preconceito sexual do que mulheres heterossexuais.

De modo geral, a relevância do tema proposto aponta a necessidade de mais estudos na área, pois que são muito insignificantes as pesquisas psicológicas sobre o preconceito contra homossexuais. A meu ver, as manifestações de preconceito flagrante e sutil se mostram mais frequentemente em relação aos homossexuais do que outros grupos minoritários, e fica evidenciado todo o processo de marginalização e exclusão social dos homossexuais.

Referência: Fleury, A. e Torres, A. Análise psicossocial do preconceito contra homossexuais.Estudos de Psicologia (Campinas), 24,4,475-486, 2007.

Resenha: música, comportamento social e relações interpessoais

Rosicley Almeida Lima

A pesquisa relatada por Ilari (2006) objetivou analisar a relação entre música e relacionamento interpessoal amoroso. Muitos estudiosos se debruçam há décadas sobre o papel da música na história da evolução da espécie humana e até hoje não chegaram a um consenso em relação ao assunto.
O texto ressalta que a funcionalidade da música no mundo ocidental, pelo menos, está relacionada direta ou indiretamente, aos relacionamentos interpessoais. Em qualquer fase da vida, em envolvimentos profissionais ou pessoais, em atividades de cunho festivo ou religioso, a música se faz presente na história das civilizações como um dos instrumentos de atração interpessoal. A atração interpessoal é apresentada como “uma experiência que leva os indivíduos a relatarem uma conexão especial com os outros…” (p. 2), e que remete às nossas experiências ao longo da vida. De acordo com o texto atitudes, crenças e valores em comum são elementos importantes na atração interpessoal e é justamente isso que a relaciona com o desenvolvimento do gosto musical, já que ambos dependem de contingências sociais.
É sabido que a música possui diferentes objetivos nas mais variadas culturas, como excitar e acalmar, sendo que o grupo social irá definir a ‘adequação’ de cada ritmo ao momento em que a música é tocada. Desse modo, a música é capaz de despertar as mais diversas sensações, pois está intimamente relacionada com as situações do cotidiano.
O texto traz resultados de estudos da psicologia da música (nem sabia que existia) sobre o papel desta na atração heterossexual, ou melhor, sobre o modo como o gosto musical influencia na escolha de parceiros do sexo oposto. E a conclusão foi que os estereótipos comumente associados aos grupos sociais também se aplicam aos estilos musicais, uma mostra da interferência cultural na relação música-indivíduo. Para Ilari, “os estereótipos associados à música, que nada mais são do que esquemas cognitivos que passam pelo viés de categorias impostas social e culturalmente, aparentam ser determinantes nas atitudes interpessoais.” (p. 3). O gosto musical, nesses casos é considerado representante de um conjunto de crenças e valores que servem para categorizar as pessoas.
A pesquisa já realizada nos EUA e em alguns países europeus, dessa vez foi aplicada em uma amostra brasileira composta por 50 jovens (metade homens e metade mulheres) adultos entre 12 e 43 anos frequentadores de um restaurante universitário de Campinas/SP, todos com pouco ou nenhum envolvimento formal (cursos, etc.) com o meio musical. O instrumento desenvolvido para a coleta de dados consistiu em três partes: primeiro, os participantes foram expostos a cinco pares de classificados pessoais e a partir disso, deveriam escolher, em cada par, o parceiro de sua preferência, ressaltando que a variável música (por ex., toca violão) estava presente em apenas um classificado de cada par. Em seguida, o instrumento traz a seguinte proposição incompleta: “As pessoas que ouvem….(estilo musical) são geralmente….(adjetivo)”, e os participantes deveriam atribuir no mínimo dois adjetivos com base nos estilos propostos, a saber: MPB, jazz, música clássica, samba/pagode, rock/pop e sertanejo, considerados os mais populares em nosso país. Por último, todos responderam questões abertas sobre sexo, idade, experiência educacional, experiência musical prévia e tempo de escuta musical, e ainda questões abertas sobre a relevância da música nas vivências pessoais, inclusive nas relações interpessoais.
Os resultados parciais mostraram que a maioria dos participantes relacionou gosto musical a características da personalidade e às atitudes. A classe social e consequentemente o status também foram associações frequentes. Um exemplo disso são as relações envolvendo o gênero sertanejo, maior concordância de adjetivos entre os participantes, que foi considerado música para indivíduos humildes, moradores ou não da zona rural, além de muito sentimentais. Nota-se uma forte associação ainda com a música sertaneja de raiz e um contraponto com o ‘moderno’ sertanejo de duplas que com suas letras românticas e grande influência de instrumentos como a guitarra, em pouco ou quase nada se parecem com a música sertaneja de Tonico e Tinoco, por exemplo. E se a pesquisa tivesse acontecido nos tempos atuais do sertanejo universitário certamente os estereótipos de classe social e de personalidade relacionados a esse estilo estariam ainda mais confusos e/ou discrepantes.
Para 86% dos entrevistados, a música é importante no relacionamento amoroso na medida em que influencia os sentimentos de ambos os parceiros (80%), tornando-os mais ou menos sensíveis enquanto indivíduos e também par (71%), e ainda promove a conexão entre o casal (68%), ajudando a chegar ao romance (67%). Um dado surpreendente é o de que 14% da amostra afirmou não namorar alguém com gosto musical diferente do seu, reforçando o poder dos estereótipos envolvidos com a música; uma das justificativas seria a de que essa contradição entre os gostos musicais seria crucial nas saídas dos parceiros para se divertirem juntos. Porém, a maioria dos participantes se mostrou aberto para a experiência de se relacionar com alguém de gosto musical oposto ao seu, sinalizando a existência das diferenças e o necessário respeito a elas.
Como dado mais significativo sobre a díade música-relacionamento amoroso, a maioria esmagadora da amostra (92%) descreveu no mínimo dois episódios de suas vidas em que determinada música teve destaque especial, fazendo com que sua audição elicie necessariamente respostas de recordações desses episódios.
A autora resumiu em três os objetivos da música nos relacionamentos interpessoais: objetivos de excitação, elevando-a (música rápida) ou diminuindo-a (música lenta); objetivos de fundo acústico para criar um clima de acordo com o contexto e ainda suprir possíveis falhas na comunicação verbal, por exemplo; objetivos de interação social facilitando a aproximação e a troca de experiências; objetivo de fortalecer a memória afetiva, fazendo com que determinada música ajude o indivíduo a lembrar de fatos ou pessoas de seu convívio.
Ilari conclui que a música tem relação indireta nas relações interpessoais e consequentemente na escolha de parceiros amorosos, seja facilitando a aproximação, tornando mais ou menos agradável os encontros, trazendo à memória recordações do passado, e assim por diante. Dessas observações a autora infere que o papel da música na história da evolução humana precisa ser reconsiderado.
Subestimar a função da música no desenvolvimento das relações humanas é negar o seu caráter principal de linguagem entre os indivíduos nos mais diversos momentos de sua história pessoal e coletiva. Obviamente, particularidades culturais devem ser levadas em conta quando explicamos o papel da música na vida das pessoas, pois sem dúvida, ela consiste em um indicativo das representações sociais, haja vista os muitos estereótipos que alimenta.

Referência: Ilari, B. (2006). Música, comportamento social e relações interpessoais. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 1, p. 191-198.

Resenha: A imagem da enfermagem frente aos estereótipos – uma revisão bibliográfica

Vinicius Rodrigues Santin

Entre as diversas profissões da área da saúde, a Enfermagem se destaca por ser aquela que, no âmbito de suas diversas atribuições, se responsabiliza por prestar os cuidados mais básicos aos pacientes. É um trabalho essencialmente manual, sendo que ao longo de sua história foi exercido geralmente por mulheres, historicamente e culturalmente associadas ao cuidado materno. Desse modo, a profissão carrega consigo estereótipos intensamente ligados à questão de gênero. A partir disso, o artigo “A imagem da enfermagem frente aos estereótipos: uma revisão bibliográfica”, de Santos e Luchesi (2002) faz uma análise histórica muito interessante sobre como foi construída a representação atual das enfermeiras, fortemente relacionada com a representação da própria mulher e com a desvalorização com a qual o gênero feminino costuma conviver. Identificadas com a natureza e com seu poder de cura em períodos pré-patriarcais, a mulher se viu submetida a uma crença de que deveria ser dominada, juntamente com a natureza, para que o pensamento racional científico – e masculino – desvendasse os seus segredos. As autoras colocam a doença como fazendo parte desta natureza misteriosa e submetida à dominação do homem, mais especificamente do médico. Assim, o “poder da cura”, o papel de dominador do corpo humano era atribuído ao homem, ao médico, ficando sob a responsabilidade das enfermeiras o cuidado, a higiene, o toque no corpo do doente. Elas utilizam uma citação de Badinter (1986) que afirma muitas mulheres terem sido consideradas feiticeiras e queimadas durante a Idade Média, pelo simples fato de praticarem as funções curativas conferidas ao gênero masculino. Em sequência, citando Paixão (1979), o período da Reforma Protestante foi colocado como um período crítico na história da Enfermagem em muitos países em decorrência da expulsão das enfermeiras religiosas que atuavam nos hospitais, que acabaram por ser substituídas por mulheres com menos preparo e definidas pelo autor da citação – de forma um tanto preconceituosa – como de “duvidosa moralidade”, que seriam as analfabetas, bêbadas e imorais. Essas mulheres trabalharam com grande jornada e péssimas condições, e deixavam os pacientes abandonados de forma que muitos optavam por receber cuidados de familiares em casa. O texto pontua ainda uma diferença em relação ao preconceito sofrido pela enfermagem no que se refere à remuneração ou não de quem a exerce, de forma que, segundo Pinheiro (1962), em sua época, a Enfermagem voluntária era vista como sublime quando praticada por religiosas voluntárias e, em contrapartida, era vista como um trabalho servil quando referente às enfermeiras remuneradas. Nesse ponto, é possível fazer uma relação com os estereótipos machistas da mulher santa – a mãe, a esposa recatada – e da prostituta – mulher da rua, libertina -, materializados nas enfermeiras que, ao mesmo tempo que exercem uma função de cuidado altamente associável à função materna, estão entre as profissionais mais sexualizadas no imaginário masculino. Independentemente de o trabalho das enfermeiras ser visto como servil ou como sublime, o estereótipo de submissão aos médicos se mantém. tendo sido consolidado inclusive por Florence Nightingale, enfermeira britânica pioneira no tratamento de feridos de guerra, ao afirmar que a enfermeira deve ser treinada para “agir da melhor forma na execução de ordens” e executar as atividades “em estreita obediência ao poder e conhecimento dos físicos e cirurgiões”, de acordo com citação que as autoras atribuem a Smith (1982). Santos e Luchesi pontuam ainda a existência de estereótipos que relacionam as enfermeiras a um trabalho de mão-de-obra barata, e fazem uma crítica à mídia, colocando-a como uma “grande rival da divulgação do verdadeiro exercício da profissão” ao divulgar a imagem das enfermeiras como símbolo sexual e como profissionais de nível social inferior, afirmando a existência de falta de ética em prol da obtenção de maiores lucros. Deve-se levar em consideração que a mesma mídia que deturpa a imagem da profissão pode ser utilizada em seu benefício, desde que as profissionais se posicionem de forma atuante para isso.

Referência: Santos, C. e Luchesi, L. A imagem das enfermeiras frente aos estereótipos: uma revisão bibliográfica.Proceedings of the Brazilian Nursing Communication Symposium, 2002, São Paulo, Brasil.

Resenha: As novas formas de expressão do preconceito e do racismo

Thianne Passos Luz

O artigo “As novas formas de expressão do preconceito e do racismo” de autoria dos doutores em Psicologia Social Marcus Eugênio Oliveira Lima e Jorge Vala traz os conceitos de novas e sofisticadas formas de expressão de preconceito e racismo na contemporaneidade. Essas formas se diferenciam de maneiras antigas de discriminação na medida em que são mais sutis e encobertas.

Iniciando seu texto com uma citação de J.J. Rousseau, Lima e Vala explica que o preconceito e o racismo parecem ser tão antigos quanto são as relações de poder entre os homens e a necessidade de justificação destas. Desde a antiguidade greco-romana já existia um preconceito de base cultural contra os escravos. No entanto, desde então até a os dias de hoje as sociedades modificaram consideravelmente suas formas de expressão de preconceito e de racismo. Depois da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, mudanças sociais, econômicas e políticas ocorreram em todo o mundo, como as críticas ao regime nazifascista, a Declaração dos Direitos Humanos (1948), a condenação da UNESCO às classificações raciais (1950), as lutas pelos direitos civis no EUA entre outros movimentos que foram imprescindíveis para que surgissem novas formas de expressão de preconceito e racismo, apesar de tudo isso possivelmente ter criado uma aparente atmosfera de igualdade, liberdade e fraternidade entre todos.

Os autores apontam para um fato interessante. Preconceito e racismo sempre foram percebidos como problemas do outro. Pesquisas realizadas por Turra e Venturi (1995) mostram que 89% dos pesquisados afirmam que existe racismo no Brasil, mas apenas 10% admitem ser racistas. Ainda são mencionadas pesquisas feitas na Europa, Estados Unidos da América e Austrália. Na distinção entre preconceito e racismo, o primeiro conceito é explicado através da definição de Gordon Allport (1954), como uma atitude hostil contra um indivíduo, simplesmente porque ele pertence a um grupo desvalorizado socialmente. O segundo termo é classificado como mais do que uma atitude, constitui-se num processo de hierarquização, exclusão e discriminação contra um indivíduo ou toda uma categoria social que é definida como diferente com base em alguma marca física externa (real ou imaginada), a qual é ressignificada em termos de uma marca cultural interna que define padrões de comportamento (Lima e Vala, 2004).

Fazendo uma breve contextualização histórica do racismo, e baseado em pesquisas, os autores identificaram as seguintes novas formas de expressão de preconceito e racismo: o racismo moderno na Austrália e nos EUA (McConahay & Hough, 1976; Pedersen & Walker, 1997), em que admite-se que a desigualdade não é decorrente de questões sociais e sim econômicas, a inferioridade social é explicada a partir de crenças de fundamentação biológica; o racismo simbólico nos EUA (Kinder & Sears, 1981), que se baseia em sentimentos e crenças de que os negros violam os valores tradicionais americanos do individualismo ou da ética protestante nos EUA; o racismo aversivo também nos EUA (Gaertner & Dovidio, 1986), seria o tipo de atitude racial que caracterizaria americanos brancos que têm fortes valores igualitários, mas que apresentam uma certa ambivalência, resultante do conflito entre sentimentos e crenças associados a valores igualitários e sentimentos negativos com relação aos negros; o racismo ambivalente nos EUA (Katz & Hass, 1988), que se caracteriza por atitudes contra (fundamentada na ética protestante de trabalho árduo, realização pessoal e disciplina) e favoráveis (fundamentadas no igualitarismo e no humanitarismo) que coexistem nos indivíduos.
Foi identificado também o preconceito sutil na Europa (Pettigrew & Meertens, 1995) que seria aquele mais frio e indireto, uma forma mais velada de preconceito e que possui três dimensões: defesa dos valores tradicionais, exagero das diferenças culturais e a negação de emoções positivas caracterizada pela rejeição à expressão de simpatia e admiração com relação aos membros do exogrupo; e o racismo cordial no Brasil (Turra & Venturi, 1995) que é definido como uma forma de discriminação contra os cidadãos não brancos (negros e mulatos), que se caracteriza por uma polidez superficial que reveste atitudes e comportamentos discriminatórios, que se expressam ao nível das relações interpessoais através de piadas, ditos populares e brincadeiras de cunho “racial”.
“As novas formas de expressão do preconceito e do racismo” é muito interessante para um esclarecimento de que o preconceito e o racismo estão presentes no dia-dia de todos, em vários lugares do mundo. Os autores deste artigo concluem pontuando que a conceituação e classificação das novas formas de preconceito e racismo existentes hoje demonstram que sua identificação é complicada e também difícil de ser combatida. Mas o combate é necessário, pois não é porque o preconceito e o racismo são expressos de forma menos explicita que antigamente que eles não tragam danos à sociedade e a quem sofre com eles.

Referência: Lima, M. E. e Vala, J. As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos em Psicologia (Natal), 9, 3, 2004

Resenha: Diferença e igualdade nas relações de gênero – revisitando o debate

Louise Correia Vital

O artigo “Diferença e igualdade nas relações de gênero: revisitando o debate” da autora Maria de Fátima Araújo situa o leitor, a partir de um enfoque histórico, no debate sobre a diferença e igualdade no âmbito das questões de gênero.
Primeiramente, o texto se inicia apresentando o argumento de que em diversas áreas do conhecimento procuram ou procuraram estudar a “diferença sexual”, como na antropologia e nas ciências sociais. Porém, apenas com o feminismo foi instaurado uma nova forma de análise das diferenças e igualdades entre os sexos. Este novo olhar permitiu que não só se pensasse nessas questões dicotomicamente, entre os sexos, mas também dentro deles: “não só entre homens e mulheres, mas entre mulheres e entre homens”.
A partir da utilização do conceito de “gênero” pelas feministas americanas como uma categoria de análise social, e não no seu sentido puro gramatical de “indivíduos de sexos diferentes”, houve um deslocamento dos estudos sobre a ‘mulher’ para se estudar as ‘relações de gênero’. Pois não é possível dissociar o mundo da mulher do homem e vice-versa. Sendo assim, o termo foi associado mais à relações sociais entre os sexos, e não à padrões de comportamento naturalizados. A definição apresentada pela autora abarca bem esta mudança: O termo “gênero” torna-se, antes, uma maneira de indicar “construções culturais” – a criação inteiramente social de ideias sobre papéis adequados aos homens e às mulheres. Trata-se de uma forma de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de homens e de mulheres. “Gênero” é, segundo essa definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado. Com a proliferação dos estudos sobre sexo e sexualidade, “gênero” tornou-se uma palavra particularmente útil, pois oferece um meio de distinguir a prática sexual dos papéis sexuais atribuídos às mulheres e aos homens (Scott, 1995: 75).
O estudo sobre gênero percebe, então, as representações deste como estruturador da percepção e da organização concreta e simbólica da vida social, como disse a própria autora “Na medida em que essas referências estabelecem distribuições de poder (um controle ou um acesso diferencial às fontes materiais e simbólicas), o gênero torna-se envolvido na concepção e na construção do poder em si mesmo. ”
A utilização do gênero como metodologia de estudo analítico foi proposto por autoras como Scott(1995) e a historiadora francesa Louise Tilly(1994) como forma de criticar a forma puramente descritiva com que se dava os estudos sobre a mulher. Elas acreditam que o gênero deveria ser aceito como uma verdadeira categoria de análise, por meio de uma conceitualização que possa desafiar os conceitos dominantes atualmente na disciplina histórica. A autora corrobora com a ideia do gênero como uma categoria empírica e histórica, e portanto, como uma categoria analítica. Sendo assim, ela escreve: “Apreendido da realidade empírica, [o gênero] ele expressa as relações históricas e as formas de existência da realidade social. ”
Além desta categoria, Maria entende o gênero como sendo também uma categoria política que pode ser usado também para estudar a problemática da igualdade e diferença entre os sexos. A diferença entre os seres humanos já foi tratada em diversos âmbitos – filosófico, religioso, biológico, psicológico, antropológico e social. Atualmente esse debate continua muito forte, com a diferença no discurso: não mais “direito à diferença”, mas sim “respeito às diferenças” e a “preservação das particularidades culturais”
Historicamente, a discussão que cerceia o gênero desenvolveu-se a partir de dois vieses: um essencialista, que acreditava na naturalização de certas características, como a “essência feminina”, exaltando a diferença desta com a do sexo oposto; e a culturalista, em que acredita que as diferenças sexuais são resultados da socialização e da cultura. Uma terceira abordagem que se desenvolveu acerca desta temática foi exposta pela feminista francesa Françoise Collin (1992). Ela trouxe os conceitos dicotômicos de igualdade e diferença como constituindo uma única categoria, em que não só há um respeito pelas diferenças, como também uma necessidade. Collin propôs pensar a diferença em 3 níveis: entre o sujeito-mulher e sua condição de mulher; entre as mulheres; e entre as mulheres e o mundo dos homens. Com relaçao a sua primeira distinção, ela diz que uma mulher não é só uma mulher. “Um sujeito mulher não se reduz à sua feminilidade; ao contrário, é um sujeito heterogêneo ”. Sobre a diferença entre as mulheres, diz que é importante construir uma nova forma de socialização entre elas, para que seja possível incluir essas diferenças. E em relação a diferença entre as mulheres e o mundo dos homens, diz ser necessário uma nova forma de compreender essa relação. A proposta de Collin é de incorporar em um diálogo contínuo as diferenças e igualdades, sem haja negação de uma ou de outra, ou seja, desconstruir a análise binária que vem sendo feita desses elementos.
Sobre a questão da igualdade, no início do movimento feminista, a luta pela igualdade se sobrepôs à luta pela diferença. As mulheres tentaram ocupar o lugar do homem, transgredindo a norma que permitia classificar a mulher como o avesso do homem, porém “na luta pela igualdade tropeçaram na diferença”. A diferença, naquela época, era vista como sinônimo de desigualdade. Ao tentar ocupar o lugar do homem na sociedade, essas mulheres se viram em um confronto com sua real identidade. Somente no final dos anos 80 isso se inverteu e as mulheres resolveram defender o direito de serem diferentes dos homens.
Por fim, o último tópico do texto em questão fala sobre a crise da masculinidade e as novas relações de gênero. As mudanças no mundo da mulher decorrente do feminismo não foi isolado do mundo dos homens, esse também se modificou. Assim como feminino, repensar o masculino pressupõe rever modelos de comportamento, teorias e discursos que foram usados para explicar o “masculino” ou a “essência masculina”. A crisa da masculinidade tem início no século XVII na frança, onde existiam mulheres que possuíam mais escolaridade e conhecimento e por isso se questionavam sobre o lugar da mulher na sociedade da época. As chamadas “preciosas francesas” defendiam a igualdade entre os sexos, o direito ao amor e ao prazer sexual, o acesso à mAraújo, M. F. Diferença e igualdade nas relações de gênero: revisitando o debate. Psicologia clínica, 2005, 17,2,41-52esma educação intelectual dada aos homens. Na Inglaterra, com o desenvolvimento do amor romântico e a ascensão do individualismo – pois um está diretamente ligado ao outro – houveram muitas discussões acerca dos papéis dos homens e das mulheres na família, no casamento e na expressão da sexualidade. Portanto, vê-se que assim como as mudanças no mundo dos homens estão diretamente ligados a questões históricas, o mundo das mulheres não escapa à isso. Com a ascensão do capitalismo e a destituição da estrutura paternalista, houve uma abertura para que a mulher pudesse se inserir no espaço público – trabalhando, por prazer ou necessidade. Devido a essas transformações socais, percebe-se que os homens, assim como as mulheres, buscam maneiras diferentes e distantes do sexismo para se inserir e se afirmar como ser masculino na sociedade, partindo do princípio de que não há uma masculinidade, assim como não há uma única feminilidade. Diante desse quadro, é possível, para a autora, afirmar que relações de gêneros mais democráticas podem vir a surgir, tendo o direito à igualdade e o respeito às diferenças como suporte.
A partir do que foi apresentado, Maria se utiliza do debate histórico sobre a igualdade-diferença e as transformações sociais ocorridas para discutir a questão da igualdade-diferença, a ideia de gênero como categoria de análise e a crise da masculinidade. O que foi apresentado ao final do texto pela autora tem um caráter bastante otimista. Segundo ela, os homens estão buscando novas formas de se inserir na sociedade, “tomando consciência das tensões e conflitos impostos pelo machismo” valorizando a subjetividade e relações íntimas, fugindo do sexismo que por anos vigorou e provocando relações de gênero mais democráticas. Esta idealização pode ainda estar longe de se tornar realidade. É verdade que muitos dos comportamentos-padrão que eram atribuídos a ambos os sexos está sendo hoje muito debatido e alguns deles até desclassificados, porém, presumir que essas modificações se estende para todos os homens ou a maioria não é verídico, e ainda que fosse, admitir que apenas isto desenvolverá relações mais harmoniosas entre os sexos é uma visão bastante ingênua por parte da autora. Uma vez que todos os dias presenciamos formas antigas e retrógradas de comportamento por parte dos homens (e das mulheres). Mesmo os direitos humanos ainda se encontra muito distante deste ideal. Certamente não se pode negar as conquistas e a importância do espaço que existe para que esses debates sobre gênero estejam mais presentes no dia a dia. Porém, uma mudança de valores desta magnitude, como infere a autora, ainda não existe, mas vê-se que a tendência é continuar caminhando em direção a tal ideal, talvez as futuras gerações possam desfrutar disto.

Referência Bibliográfica:Araújo, M. F. Diferença e igualdade nas relações de gênero: revisitando o debate. Psicologia clínica, 2005, 17,2,41-52

Resenha: aparência física e amizade íntima na adolescência- Estudo num contexto pré-universitário

Maria de Fátima Andrade Souza

Uns dos pontos mais importantes sobre a adolescência e que atualmente se estuda bastante são o desenvolvimento da capacidade para a comunicação íntima e a percepção sobre o autoconceito.
Definindo “intimidade” como uma “relação emocional” na qual, um permite ao outro sentir bem-estar, porque eles sentem o consentimento implícito para que possam revelar suas questões mais pessoais, compartilhamento dos interesses e atividades comuns, podendo também permitir as sensações, por exemplo, proximidade do corpo, toques, etc.
O autor deixa muito claro a grande importância do desenvolvimento dessa intimidade, pois ela proporciona um espaço para autorrevelação, ao crescimento e ao bem-estar desses adolescentes. Ele cita Sharabany (1994, 2000) quando expõe a estrutura dessas relações em oito dimensões: 1. Sinceridade e Espontaneidade; 2. Sensibilidades e Conhecimento; 3. Vinculação; 4. Exclusividade; 5. Dádiva e Partilha; 6. Imposição; 7. Atividades Comuns; 8. Confiança e Lealdade.
Interessante observar o quanto é difícil para o processo de desenvolvimento e expressão da intimidade sem ainda ter um exercício de autoconhecimento, sem ter definido os seus objetivos e valores perante a “sua sociedade”.
Cordeiro cita Pasini (1990), quando fala do conceito de intimidade corporal, fundamentalmente, “estruturada pela percepção que temos de nós próprios e do nosso próprio corpo, enfim, pelo nosso autoconceito.
Como a nosso sociedade, louva o corpo bonito, esbelto para as meninas e “malhado” para os meninos, esse conceito de ideal corporal se torna determinante na satisfação como um todo, por isso, muito importante na satisfação nas relações e na autoestima desses adolescentes. Outro ponto importante a ser observado: essa imagem que o adolescente tem do seu próprio corpo está intimamente ligada com a imagem que os outros lhe devolvem do seu corpo.
O exposto até agora trás uma conclusão muito importante: o corpo é um instrumento de poder e satisfação na relação com os outros e com consigo mesmo, mas muitas vezes também trás insatisfação chegando até a negação do próprio corpo.
É na adolescência que surgem estas questões com o corpo: a sua percepção, aparência física e isso vai determinar o acesso ao mundo e a toda experiência de vida.
É durante a adolescência que surgem as verdadeiras relações de amizade íntima, fazendo com que o adolescente adquira maior capacidade em expressar valores como a honestidade, descoberta de si mesmo e dos outros, assim como a verdade e todas as suas consequências na procura do prazer relacional. Nesse contexto, nos dias atuais, surgem novas formas de revelação da intimidade: chat groups, SMS, mIRC.
É mais fácil para esses adolescentes revelar-se mais aos seus pares que aos adultos, pois junto com os outros adolescentes encontram experiências idênticas para relatar. Eles escolhem então, amigos que têm os mesmos interesses, valores, credos e atitudes.
Há, entretanto, aspectos muito importantes que não podem deixar de ser considerados: as transformações dos impulsos sexuais, desenvolvimento das capacidades de pensamento, principalmente no domínio do conhecimento social e as específicas mudanças de papéis sociais.
Nesta fase, é desejável que o modelo de vida vá procurar um equilíbrio dinâmico, entre o exercício de pensar e agir para que os reconheçamos como únicos, a procura, construção e partilha de relações de intimidade e a procura também de um envolvimento na vida social, e consequentemente, o natural reconhecimento como integrante do mundo adulto. Existindo aí um grande risco, pois as falhas deste equilíbrio podem determinar falhas na construção da identidade, na autodescoberta ou até de uma forma mais radical, o isolamento social na fase tardia da adolescência.
O autor especifica os objetivos e as hipóteses do seu estudo e os métodos utilizados, assim como das escalas de medidas que utilizou.
É interessante agora, citar alguns dos resultados aos quais Cordeiro (2006) chegou com estes estudos:
1. Os resultados de Amizade Íntima são mais elevados no sexo feminino que no sexo masculino. Provavelmente este fato estará relacionado com a definição mais precoce, no sexo feminino, da sua identidade e por conseguinte, de uma definição mais clara do seu papel nas relações com os outros.
2. Quanto às dimensões que compõem a Amizade Íntima, a que apresenta resultados médios mais elevados para o total pesquisado é a Confiança e Lealdade. As relações de Amizade Íntima envolvem partilhas que não permitem a traição e se sustentam na defesa incondicional do melhor amigo perante os seus pares.
3. Para ambos os sexos, comparando os resultados das várias dimensões, observa-se que a única dimensão onde a diferença não tem expressão significativa é na dimensão Exclusividade Relacional.
4. Para ambos os sexos, a dimensão Amizade Íntima com o Melhor Amigo, a dimensão Atividades Comuns, estatisticamente, não tem nenhuma expressão.
5. Para ambos os sexos, a dimensão Amizade Íntima com a Melhor Amiga, as dimensões que são estatisticamente significativas são Vinculação, Imposição e Confiança e Lealdade.
6. Foram encontradas diferenças significativas entre os sexos nas dimensões Sinceridade e Espontaneidade, Sensibilidade e Conhecimento Mútuo, Exclusividade Relacional, Dádiva e Partilha e Atividades Comuns.
7. Quanto à Percepção do Autoconceito, para a totalidade da população em estudo foi observado um resultado médio, nitidamente acima do ponto médio da Escala utilizada, o que indica um nível de Percepção do Autoconceito médio elevado, sendo ainda mais elevados no sexo masculino.
8. A Percepção sobre a Aparência Física indica um resultado médio com valores mais elevados no sexo masculino
9. Quanto à Percepção sobre a Aparência Física e a Amizade Íntima verifica-se que não existem correlações estatisticamente significativas, segundo os sexos.
10. Na população estudada, o valor mais elevado foi encontrado na correlação Percepção sobre Aparência Física / Amizade Íntima, sugerindo que a associação dessas duas variáveis se encontram muito próximas de ser estatisticamente significativa.
Ao final do artigo, o autor ainda sugere alguns temas para discussão que aqui não serão especificados (ver artigo).

Referência: Cordeiro, Raul A. Aparência física e amizade íntima na adolescência: Estudo num contexto pré-universitário. Análise Psicológica (2006), 4 (XXIV): 509-517.