Resenha: Diferença e Igualdade nas Relações de Gênero – Revisitando o Debate

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Luciana Alfano Moreira

   O texto Diferença e Igualdade nas Relações de Gênero: Revisitando o Debate, de autoria da Doutora em Psicologia pela USP/SP Maria de Fátima Araújo, visa debater as mudanças nas relações de gênero e a crise na masculinidade sob o impacto do feminismo, a partir de um levantamento bibliográfico utilizando diversos estudos de gênero sobre as subjetividades femininas e masculinas.
A autora inicia o artigo trazendo o conceito de gênero e a discussão do seu uso como categoria de análise, fazendo, primeiramente, a diferenciação entre o significado gramatical que serve para designar os indivíduos de sexos diferentes, relacionado à Biologia, e o seu significado cultural, relacional e situado na esfera social, baseado no uso do conceito de gênero pelas feministas. E esse caráter relacional do gênero levou a uma revisão dos estudos centrados nas mulheres, abrindo a demanda para os estudos sobre as relações de gênero, em que os homens não podem ser estudados independentemente das mulheres e vice versa. E no que tange à utilização do gênero como categoria de análise, a autora busca os estudos de Scott(1995), da brasileira Saffiotti(1997), e da historiadora francesa Louise Tilly(1994) para defender o seu uso, visto que a autora Maria de Fátima Araújo entende o gênero como uma categoria empírica, história e, portanto, analítica.
De acordo com Scott, o gênero é uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado, um elemento construtivo das relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos e, também, um modo primordial de dar significado às relações de poder. E estudar as mudanças na organização das relações sociais é estudar as mudanças nas representações de poder correspondentes. Ela busca compreender como o gênero constrói as relações sociais, como a política constrói o gênero e como o gênero constrói a política. Tilly corrobora com o pensamento de Scott e defende a necessidade de tornar o gênero uma categoria de análise, em detrimento dos métodos descritivos dos estudos sobre a história das mulheres. Já para Saffiotti, gênero (como etnia, raça e classe) são categorias de análise e operam na realidade empírica enquanto categorias históricas.
A autora também entende o gênero como sendo uma categoria política que pode ser usado para estudar a problemática da igualdade e da diferença. Historicamente, a discussão sobre as diferenças entre os sexos desenvolveu-se a partir de duas concepções: a) a essencialista: que acreditava na diferença sexual e na “essência feminina”, supõe um feminismo universal; e a b) culturalista, na qual as diferenças sexuais são resultados da socialização e da cultura. Uma terceira concepção proposta por Françoise Collin(1992) traz igualdade e diferença constituindo uma única categoria, em que há o respeito pelas diferenças, mas também a necessidade delas. Collin propôs pensar a diferença em 3 níveis: entre o sujeito-mulher e sua condição de mulher; entre as mulheres; e entre as mulheres e o mundo dos homens. Para Collin, uma mulher não é só uma mulher, ela não se reduz a sua feminilidade, é um sujeito heterogêneo.
Scott também compactua essa posição, com a afirmação de que a própria oposição binária igualdade-diferença oculta sua interdependência, já que igualdade não é a eliminação da diferença e a diferença não impede a igualdade. A enorme diversidade de identidades supera as classificações macho/fêmea, masculino/feminino, sendo tais diferenças a própria condição das identidades individuais, o verdadeiro  sentido da identidade.
O artigo de Maria de Fátima também traz um breve histórico do movimento feminista e da luta pela igualdade, logo substituída pelo debate igualdade-versus-diferença, na segunda metade da década de 70, quando se passou a falar de diferença cultural feminina, experiência feminina, e do reconhecimento da diversidade cultural de gênero. Revistas as estratégias de luta, ao final dos anos 80, as mulheres passaram a defender a igualdade não mais em nome da capacidade de se assemelharem aos homens, mas, sobretudo, por desejarem a igualdade nas diferenças.
A estratégia de luta da igualdade nas diferenças propiciou uma possível mudança nas relações de gênero, a valorização do feminino e até a libertação, por parte dos homens e das mulheres, de velhos estereótipos. Mas ao levantar a bandeira da igualdade nas diferenças, e propor tal valorização do feminino, o discurso feminista também esbarram no antigo dualismo masculino/feminino, atribuindo valores e características diferentes para cada sexo e excluindo outras possibilidades de que homens e mulheres se diferenciem dos modelos estereotipados e rígidos.
Para Maria de Fátima Araújo, as transformações propiciam que os homens se libertem do peso do machismo e que as mulheres se livrem do imperativo do feminino, adquirindo autonomia e liberdade, sem ter que seguir as características determinadas pelo gênero. Mais uma vez trazendo e consolidando a ideia do gênero como construção social; e nessa perspectiva reconstruir o feminino implica também numa reconstrução do masculino.
Na última parte de seu texto, a autora encerra de forma bastante otimista, afirmando que os homens estão tomando consciência dos conflitos impostos pelo machismo, fugindo do sexismo, e que homens e mulheres estão se distanciando dos modelos estereotipados de gênero e desenvolvendo novas formas de subjetividade. Não se pode discordar que um novo modelo de homem esteja surgindo como consequência de fatores como a independência financeira das mulheres e das políticas de proteção, além de anos e anos de luta feminista, dentre outras coisas, mas também é sabido que essas mudanças caminham a passos lentos. A posição otimista da autora não pode ser simplesmente estendida a todos os homens, nem mesmo a todas as mulheres, que também são propagadoras de pensamentos machistas, preconceituosos e estereotipados em relação a elas mesmas. Transformações como as que a autora já enxerga levam várias gerações para acontecer e dependem de vários outros motivos além dos expostos pela autora Maria de Fátima Araújo.

Referência: Araújo, M. F. Diferença e igualdade nas relações de gênero: revisitando o debate. Psicologia clínica, 2005, 17,2,41-52

Resenha: Dizer não aos estereótipos sociais – As ironias do controlo mental

Gisele D. Alberton

   O artigo inicialmente fornece uma breve introdução a respeito da influência dos estereótipos nas impressões, julgamentos, avaliações e comportamentos, destacando a importância da categorização e estereotipização ao simplificar a percepção social e facilitar o entendimento do observador sobre a realidade social. O estereótipo pode ocorrer de forma espontânea e automática. Assim a autora mostra duas visões no campo das pesquisas em relação ao controle dos estereótipos. Alguns autores defendem que o controle do pensamento estereotipado mesmo sendo difícil pode ser realizado e outros que a tentativa consciente de controlar o preconceito pode não ser conseguida com sucesso, e ainda, aumentar os pensamentos e respostas estereotipadas comparado com uma situação em que não houve tentativa de controle dos pensamentos estereotipados.
Este artigo de revisão intitulado como “Dizer <<não>> aos estereótipos sociais: As ironias do controle mental” cuja autoria é de Dora Luisa Geraldes Bernardes (2003) tem o objetivo de apresentar uma revisão teórica sobre os mecanismos de supressão dos estereótipos e das condições em que este leva ou não a consequências indesejadas. Para alcançar o objetivo citado a autora faz incursões sobre a ativação e uso dos estereótipos, os mecanismos de controle mental, as consequências da supressão dos estereótipos e as influências de moderadores para diminuir o efeito ricochete após a supressão.
Em relação à propensão para o uso de estereótipos Bernardes argumenta que o conhecimento das pessoas sobre um determinado grupo social forma o estereótipo sobre os mesmos. Essa informação é armazenada na memória e influencia a percepção e os comportamentos dos indivíduos em relação ao grupo e aos seus membros. Baseada nas ideias de Macrae (1994) a autora argumenta que os estereótipos servem para simplificar a percepção, julgamentos e ação. Este processo dá sentido ao ambiente social. Por outro lado, os estereótipos podem enviesar as percepções sociais sem que os indivíduos tenham consciência ou intenção e causar sérios danos a relações sociais. A partir de estereótipos os indivíduos podem ter a tendência a responder ao alvo estereotipado constrangendo seu comportamento e os indivíduos que são alvos podem inclinar-se a responder de modo consistente com o estereótipo (Word, Zana, & Cooper, 1974).
No que se refere aos mecanismos de controle mental a autora destaca que na tentativa de controlar as respostas, as pessoas tentam abolir os pensamentos estereotipados da consciência suprimindo-os. No entanto, essa tentativa pode fazer com este mesmo pensamento fique mais acessível. Para exemplificar sua argumentação ela busca o modelo de Wegner (1994; Wegner & Erber, 1992) explicando que é formado por dois processos cognitivos, a monitorização que busca investigar na consciência qualquer sinal do pensamento estereotipado e a reorientação da consciência que é garantir o afastamento do pensamento indesejado e focar a atenção em outro pensamento. Uma questão que a autora levanta é que enquanto o primeiro processo opera de forma automática e eficiente, o segundo requer recursos cognitivos adequados, o que não acontece de forma frequente. Outra questão é que para o indivíduo detectar o pensamento indesejado ele deve estar consciente daquilo que deseja suprimir, o que pode fazê-lo acessar muitas vezes este pensamento. O efeito irônico que a autora se refere nesse artigo é chamado de ricochete (Wegner, 1994), ou seja, a estratégia de supressão que ao mesmo tempo é uma tentativa de frear o pensamento estereotipado, também estimula o indivíduo a acessá-lo mais vezes. Por este motivo a autora questiona se é possível de fato controlar o uso dos estereótipos e erros perceptuais que estão associados aos mesmos.
Sobre as consequências da supressão dos estereótipos a autora salienta que esses pensamentos ao serem suprimidos retornam à consciência e têm impacto nas avaliações e nos comportamentos dos indivíduos em relação aos grupos. Uma segunda consequência é sobre a supressão espontânea do estereótipo. Tentativas de supressão induzidas pela situação podem aumentar a consciência das normas culturais contra a estereotipização e o preconceito através de pistas situacionais, e assim, estimular esforços espontâneos de supressão dos estereótipos. No que tange a consequências na memória, Bernardes evidencia que a supressão do pensamento estereotípico requer maior atenção, gastando uma quantidade significativa de recursos.
Nos argumentos apresentados pela autora percebe-se que a supressão pode levar a resultados indesejados como a maior acessibilidade ao pensamento que se quer suprimir. No entanto, ela nos apresenta outro grupo de autores que defendem a possibilidade de suprimir esses pensamentos sem o efeito ricochete. Ela foca em elementos que podem moderar esse efeito após a supressão dos estereótipos. Um deles é a mediação da atitude pessoal no efeito que a supressão exerce na acessibilidade ao estereótipo. Pessoas com crenças de que não aceitam estereótipos e preconceitos evitam estereotipizar os outros porque elas acreditam que os estereótipos vão contra suas crenças de justiça e igualdade. O segundo elemento são os objetivos de processamento que podem contribuir para o indivíduo não aplicá-los.
A autora aponta alguns fatores que permitem explicar porque motivo indivíduos com baixo preconceito são capazes de evitar sua ativação. Nessas pessoas há probabilidade de não chegar a ocorrer, assim o efeito ricochete será totalmente evitado. Outra possibilidade é que os estereótipos sejam brevemente ativados, e posteriormente, elas sejam eficazes em suprimi-los, não se verificando tal efeito. Outro fator seria a motivação para inibir os estereótipos. Apesar de indivíduos com baixo preconceito terem sucesso a evitar o efeito ricochete, um aspecto importante a considerar na motivação é a distinção entre interna e externa. Quando a motivação é interna para controlar o preconceito, a discrepância com as crenças pessoais leva a sentimentos de culpa e auto recriminação. Quando a motivação é externa, a discrepância leva a sentimentos de ameaça e medo. Quanto mais baixo o nível de preconceito mais forte é a motivação interna para controlar o preconceito. As normas sociais salientes também podem servir como uma fonte reguladora de motivação externa para diminuir os estereótipos após o período de supressão.
Além destes fatores citados anteriormente a autora apresenta estratégias alternativas à supressão do estereótipo. Ela argumenta que indivíduos com baixo nível de preconceito podem recorrer a outras estratégias de controle dos pensamentos para evitar o efeito ricochete, as quais seriam:
a) a substituição do pensamento estereotipado: mais do que suprimir os pensamentos indesejados esses pensamentos podem ser substituídos por crenças igualitárias. A disponibilidade de pensamentos substitutos previne a ocorrência do efeito ricochete. No caso das pessoas com alto preconceito suas crenças pessoais são fortemente estereotípicas ficam sem pensamentos disponíveis que possam substituir os pensamentos intrusivos.
b) a individuação do alvo: pessoas com baixo preconceito podem procurar informações individuais sobre o alvo e formar impressões com base nessas informações.
Em relação ao segundo elemento citado anteriormente (os objetivos de processamento do indivíduo) indivíduos que têm como objetivo consciente não estereotipizar podem tentar criar outro estado mental e não suprimir o existente. Por exemplo, ao invés de tentar suprimir os estereótipos, eles poderiam adotar pensamentos mais justos com relações igualitárias. Esta estratégia leva o estado de monitorização a procurar pensamentos que não são consistentes com o estado mental reduzindo o efeito irônico.
Através das reflexões de Bernardes há possibilidade de pensar que as pessoas têm determinados conhecimentos sobre os grupos sociais que são considerados ao percebê-los. O problema é que essa informação estereotipa pode enviesar as percepções sociais e causar sérios danos às relações sociais. Desse modo a importância de fazer o controle das respostas estereotipadas reside no fato de que as injustiças sociais que resultam da ativação e uso desses estereótipos podem ser evitadas. Embora a autora afirme através de sua revisão que a supressão poder ser uma estratégia pouco eficaz de autorregulação devido aos seus efeitos irônicos, ainda sim é necessário uma quantidade maior de estudos sobre a mesma já que é um fenômeno complexo que pode ser influenciado por vários fatores como os motivacionais.
A forma de fazer este controle é importante para que seus efeitos a curto e longo prazo possam ser positivos nos contextos sociais. Uma alternativa que a autora traz em suas reflexões é dizer “não” ao estereótipo substituindo os pensamentos estereotipados ou criando outros estados mentais para transformar a informação existente em algo que não prejudique os grupos e seus membros e assim promover relações mais igualitárias. Mas, independente das estratégias o ação de controlar estereótipos e preconceito é um processo necessário, árduo que requer motivação, consciência e recursos cognitivos.
Referência: Bernardes, D. L. G. (2003). Dizer <<não>> aos estereótipos sociais: As ironias do controlo mental. Análise Psicológica, 3, 307-321.

Resenha: Interagindo com homens sexistas dispara a ameaça a identidade social entre mulheres engenheiras

Gustavo Siquara

O estudo em questão teve como objetivo avaliar a ameaça a identidade social de mulheres engenheiras em interação com homens sexistas e a possível diminuição do desempenho. Na interação entre os indivíduos existem padrões e julgamentos que fazemos sobre os outros. A interação pode ser um pouco mais complicada quando se trabalha com o papel de gênero. Nesse sentido atitudes sexistas despertam um interesse particular na interação tal como na área de engenharia e matemática. Mulheres nesse campo de atuação normalmente tem um estereotipo negativo de incompetência e atitudes sexistas de ameaça ambiental.
A ameaça à identidade social pode resultar em um baixo desempenho e incertezas sobre o seu pertencimento. O que os autores propõem é que o estereotipo negativo e comportamentos sexistas dos homens criam um ambiente de desvalorização da mulher e das suas contribuições e habilidades. A hipótese do estudo é que atitudes sexistas dos homens engenheiros e matemáticas possam ativar a ameaça à identidade social em mulheres através dos comportamentos interpessoais que desvalorizam as contribuições e habilidades das mulheres. Para a investigação do estudo foi realizados um total de cinco experimentos. No estudo 1, foi investigado se o nível de sexismo do homem poderia predizer o comportamento para as mulheres com quem eles interagem. Nesse caso os autores procuraram predizer se quanto mais sexista o homem poderia mostrar uma maior dominância sutil na interação com as mulheres. Nos estudos de 2 a 5 os autores examinaram se o nível de sexismo tem efeito sobre os padrões de interação. Ou seja, eles investigaram se os homens sexistas poderiam ativar a ameaça a identidade social.
As discussões gerais do estudo ressaltam que as mulheres são minorias no campo das engenharias e matemáticas, com isso tem mais interações com homens. O estudo mostrou de modo geral que a interação pode ter consequências negativas para o desempenho das mulheres nesse campo. Quando as mulheres engenheiras ou matemáticas interagem com homens sexistas podem experienciar ameaça a identidade social e especificamente ameaça ao estereotipo o que pode diminuir o desempenho nesse domínio. O resultado do estudo 1 apontou que quanto maior o escore de sexismo do homem maior domínio e interesse sexual ele exibiu para a mulher com quem ele acredita ser uma colega estudante de engenharia. Nos estudos 2 a 5 evidenciou que mulheres ao detectarem sinais de comportamentos sexistas elas serão desvalorizadas e correm o risco de serem vistas sobre a lente de um estereotipo negativo. Com isso as mulheres que tiveram interação com homens sexistas tiveram um desempenho pior em comparação quando as mulheres tinham interação com homens não sexistas. O ambiente pode ser um potente local para criar a ameaça.
Outro achado interessante foi de que as mulheres intelectualmente de baixo desempenho reportaram sentir mais atraídas pelos homens que mostraram dominância e comportamento de interesse sexual. Esses resultados são complexos, mas o comportamento dos homens sexistas pode ser reforçado pelas mulheres nesses casos, resultando na atração por eles. Assim cria um ciclo que aumenta o atraso apresentado pelas mulheres e continuam com o domínio que eles têm sobre os estereótipos negativos.
O estudo mostra a influencia da ameaça ao estereotipo a partir do ambiente e da sua relação interpessoal. Proporcionar um ambiente menos sexistas, ou discriminatório é essencial para o desenvolvimento de todas as pessoas. No estudo foi apresentado a interação comportamental em relação às mulheres e homens sexistas a partir da matemática, no entanto poderíamos pensar em outros temas como classes sociais ou étnicas. De maneira geral isso reforça a importância de se buscar um ambiente mais inclusivo e menos estereotipado. Pois em muitos casos os estereótipos podem ter influencia negativa a partir da categorização social ou de gênero das pessoas. Os métodos de intervenção devem ser baseados na mudança do estereotipo já que a forma de inter-relação irá afetar diretamente o desempenho do individuo. Um dos achados mais interessantes no estudo foi o caso das mulheres que tinham um desempenho inferior reforçavam o comportamento dos homens sexistas. Isso pode fazer com que se perpetue o estereotipo e cada vez mais as mulheres vão se sentir menos eficaz nessa área de conhecimento. Se esse ciclo não for quebrado cada vez mais o estereotipo irá afetar as relações interpessoais e os grupos minoritários.

Resenha: Logel, C., Spencer, S. J., Iserman, E. C., Walton, G. M. Hippel, W. Bell, A. E. (2009) Interacting With Sexist Men Triggers Social Identity Threat Among Female Engineers. Journal of Personality and Social Psychology, 96, (6), 1089-1103.

Resenha: Neurociência da Raça

Gustavo Siquara

Os autores do estudo trazem fazem uma revisão sobre os artigos que utilizaram Neuroimagem e as estruturas cerebrais a partir da exposição a faces de pessoas negras e brancas. O objetivo dessa resenha foi analisar os achados encontrados do artigo que apresenta e discute os estudos de neuroimagem em respostas a categoriais de raça negras e brancas em participantes Americanos. Com o advento da neurociência está sendo possível demonstrar as bases neurais de diferentes processos psicológicos e sociais. A algumas décadas os cientistas já estudam sobre a representação mental de raça e etnia. Mais atualmente tem surgindo estudos que apresentam evidências eletrofisiológicas, ressonância magnética funcional e outros métodos fisiológicos para entender como os indivíduos processam, avaliam e utilizam a variação humana ao longo da dimensão da raça. As áreas cerebrais que apresentam maiores ligações com a temática de etnias e raças são: amigdala, Córtex cingulado anterior, córtex pré-frontal dorsolateral e giro fusiforme.
A amigdala é uma estrutura subcortical muito relacionada a estudos de atitudes, crenças e tomada de decisão no estudo de brancos e negros. Em humanos a amigdala tem um papel essencial relacionado a aprendizagem emocional e medo. Essa estrutura apresenta muitas ligações com o córtex que detecta estímulos emocionalmente relevantes no ambiente, modulando o funcionamento cognitivo a atenção e a memória. A história das relações raciais nos EUA é especialmente marcada por emoções complexas incluindo medo e hostilidade. Embora ainda não seja encontrada em alguns estudos, existe uma predominância maior da ativação da amigdala quando tem que julgar faces de seu outgroup. Essa diversidade de achados está ligado principalmente a complexidade do funcionamento cerebral, principalmente por um fenômeno tão complexo como o preconceito. Outras áreas cerebrais serão apresentadas mais a frente a respeito da ativação da amigdala.
Há algumas décadas já existem estudos que apresentam medidas de associação implícitas em relação brancos e negros e o preconceito. As medidas implícitas tem apresentado um bom poder preditivo em relação ao preconceito. Os estudos também apontam que existe associação entre as medidas implícitas e a ativação da amigdala, com isso atitudes preconceituosas relacionadas à raça podem ser mediadas pela amigdala em respostas a faces de ingroup e do outgroup. No entanto a ativação da amigdala e consequentemente das medidas implícitas parecem ser moduladas por outras áreas cerebrais que apresentam efeito em atitudes sobre o preconceito.
Estudos com crianças que apresentam síndrome de Willians, que é uma condição genética marcada por comportamento excessivamente amigável, tem uma redução de ativação da amigdala em situações de ameaça e do giro fusiforme na interação com faces brancas e negras. A baixa ativação da amigdala foi detectada para faces relacionadas à raça mais não relacionadas ao gênero. Esse resultado sugere que a variabilidade da ativação da amigdala entre os indivíduos e as diferenças individuais dos grupos parece emergir de muitas influencias, incluindo temperamento, diferenças individuais e exposição a atitudes culturais. Em outras palavras a ativação da amigdala pode refletir a percepção da mente que diferencia a característica perceptual do estimulo da raça. Os resultados sugerem que a representação neural de atitudes implícitas e explicitas em relação a raça provavelmente está dentro de um larga sobreposição e interação de sistemas cerebrais.
Outra região cerebral que tem apresentado relações nos estudos sobre raça é a região do Córtex cingulado anterior. Geralmente as pesquisas apontam essa região sendo ativada quando o individuo experiência algum conflito entre uma resposta preponderante e intencional. São resposta que exigem um controle cognitivo como a tarefa de Stroop. Alguns estudos têm apontado que o córtex cingulado anterior reflete o conflito entre a resposta preponderante, automática de atitudes raciais e as respostas explicitas intencionais sobre a crença do igualitarismo sobre a raça. Nesse sentido os estudos indicam que a resposta de ativação da amigdala está correlacionada com o aumento da ativação do córtex cingulado anterior. Ou seja, quando o individuo inibe a resposta preponderante e regula a expressão do preconceito vai haver simultaneamente o aumento da ativação do córtex cingulado anterior. Outras pesquisas já apontam previamente que indivíduos podem ser intrinsecamente motivados ao controle de atitudes raciais, mas outros necessitam de uma motivação externa como as normas de igualitarismo para implementar o controle do preconceito. Os resultados dessas pesquisas mostram que a motivação intrínseca de inibição do preconceito é mais eficaz em comparação a indivíduos que são externamente motivados. Os indivíduos que são motivados mais internamente conseguem controlar mais expressão do preconceito.
A região dorsolateral pré-frontal está relacionada ao controle dos estímulos. Os estudos apontam essa área como ligada a regulação cognitiva das emoções modulando as respostas da amigdala. Também está envolvida no monitoramento e implementação do controle do comportamento. Conjuntamente com o córtex cingulado anterior a região dorsolateral pré-frontal no controle de respostas conflitantes e em atitudes implícitas no controle e regulação dos comportamentos ligados a raça. Lesões nessa região estão associados a redução do autocontrole e auto monitoramento. As regiões do córtex cingulado anterior e o dorso lateral pré-frontal são ativadas quando os indivíduos veem faces negras ou brancas e são correlacionadas com medidas implícitas. Essa região parece ser uma base para o controle da expressão do preconceito.
Os sistemas de controle de atitudes raciais são explicados de duas formas. A psicologia social tem proposto que processamentos complexos sociais e pessoais motivam e influenciam outros aspectos menos complexos a construir categorias bases, como as raças. Nesse processamento primeiro requer a detecção e categorização da avaliação da raça. A outra proposta envolve o alto processamento cognitivo pessoal e motivacional que exerce algum controle sobre processos cognitivos mais baixos. Nesse caso quando existe um conflito as áreas do córtex cingulado e do dorsolateral pré-frontal que regulam as emoções envolvidas na ativação da amigdala. Há evidencias de que outras regiões do córtex pré-frontal também está envolvida nesse processo de regulação racial.
A circuitaria cerebral envolvidas nos processos raciais são maleáveis. Os estudos apontam que a ativação dessas áreas cerebrais automatizadas é resultado de aspectos maleáveis que dependem de situações e fatores diferentes. Em um estudo que foi apresentado fotos de familiares, pessoas negras admiradas e indivíduos brancos, houve uma mudança na ativação da amigdala na apresentação de estímulos de raças de outros grupos. Ou seja, houve uma diminuição da ativação da amigdala quando apresentados em membros do outgroup. Esses achados implicam na exposição a contra estereótipos/faces familiares podem diminuir a presença do preconceito.
Um dos objetivos do artigo foi entender quais os processos cerebrais e como os circuitos neurais estão implicados na emoção e no processamento cognitivo que podem estar envolvidos na identificação, avaliação dos grupos e a expressão do comportamento. Outros estudos devem estar presentes no sentido de entender como a raça pode influenciar a tomada de decisão.
Os avanços na área de neurociências permitem entender melhor o comportamento. Ao analisarmos algo complexo e multideterminado como é o nosso comportamento não podemos deixar de levar em conta aspectos biológicos e também sociais. A integração de ambos os estímulos iram provavelmente oferecer as melhores respostas sobre o nosso comportamento. A negação ou preponderância de qualquer uma dessas questões, acredito que irá diminuir e limitar o nosso entendimento sobre o comportamento. A medida que entendermos cada vez mais comportamentos sociais mais que também tem influencias biológicas (vice-versa) iram surgir novas questões que deverão ser respondidas e se tornaram naturalmente cada vez mais complexas.

Referência: Kubota, J. T., Banaji, M. R., Phelps, E. A. (2012) The Neuroscience of race. Nature Neurosciense, 15(7), 940-948.

Resenha: crenças essencialistas sobre policiais e delinquentes

Saulo Santos Menezes de Menezes

O estudo de Pereira e cols. buscou avaliar o impacto do país de origem e da direção do transplante de cérebro no julgamento da conduta social de policiais e criminosos, e analisar, segundo o modelo das explicações folk das condutas sociais, as justificativas apresentadas pelos participantes para as suas respostas.
As hipóteses a serem testadas foram a da existência de alguma diferença no grau de essencialização entre os participantes espanhóis e brasileiros, diferenças de julgamento nas circunstâncias em que o cérebro é transplantado de um policial para um delinquente (condição hegemônica) ou na direção inversa (condição não-hegemônica), e a manifestação de diferenças em relação ao modelo explicativo adotado para a elaboração das justificativas para as respostas.
Para tanto, a pesquisa coletou dados em instituições de ensino superior localizadas no Brasil e Espanha. Foram feitos enunciados de histórias na quais se apresentava a versão onde o cérebro de um delinquente é transplantado para um policial. Cada participante avaliou a história relativa exclusivamente a uma das duas versões da categoria entitativa policial-criminoso, ou seja, do transplante do cérebro de policial para criminoso ou do criminoso para policial.
Os resultados mostraram que, para os participantes espanhóis, o cérebro de um policial pode modificar o padrão de conduta de um delinquente, mas o inverso não é verdadeiro. Por outro lado, o padrão de resposta dos participantes brasileiros não indicou qualquer diferença entre os valores esperados e obtidos nas respostas relacionadas com a direção do transplante do cérebro. Os participantes, desta forma, concordaram com o ponto de vista de que apenas uma alteração na natureza biológica do indivíduo pode gerar mudanças comportamentais.
Percebeu-se, no geral, que as fontes de explicação contemplam as causas internas, a história causal, as pressões situacionais e as razões, demonstrando a importância dos papéis, do status, do ambiente social e da dinâmica individual e coletiva no processo de essencialização da categoria entitativa policial/criminoso. Houve também uma indicação de que, enquanto alguns participantes concordaram com o ponto de vista de que apenas uma alteração na natureza biológica do indivíduo pode gerar mudanças comportamentais, outros foram absolutamente explícitos ao se referirem a teorias claramente essencializadoras. Neste ponto, os hábitos, costumes, rotinas, tradições culturais mostraram-se elementos importantes.
Portanto, a presença de uma teoria implícita tornou possível a expressão do raciocínio categórico essencialista nas circunstâncias em que o agente acolhe uma teoria que lhe permita justificar a estabilidade ou a mudança do comportamento. Os dados também sugeriram que estas teorias implícitas podem ser diferenciadas e que as explicações que se centram nas pressões situacionais explicam de forma predominante, mas não exclusivamente, a estabilidade da conduta. Assim, as pressões situacionais podem ser fundamentais para explicar a ausência de mudanças nas condutas que se seguem ao presumido transplante.

Referência: Pereira, M. E.; Estramiana, J. L. A.; Vasconcelos, C.; Alves, M. V. Crenças Essencialistas Sobre Policiais e Delinquentes. Psicologia: Teoria e Pesquisa Out-Dez 2010, Vol. 26, n. 4, pp. 707-715.

Resenha: As novas formas de expressão do preconceito e do racismo

Jerry Kambale Musema

Neste artigo o autor propõe uma reflexão quanto às novas formas de expressão do preconceito e do racismo, constatando suas diferenciações, denominando-as como ‘novas expressões’ de preconceito e racismo, pontuando conceitualmente o racismo moderno e simbólico da Austrália e dos EUA, os racismos aversivos e ambivalentes no EUA, juntamente com o preconceito sutil da Europa e o racismo cordial do Brasil, esclarecendo o diferencial entre preconceito e racismo.
O preconceito contemporâneo é visto como uma atitude invasiva étnica que pode ser dirigida a um grupo como um todo ou a um indivíduo, por fazer parte de um determinado grupo com suas peculiaridades tanto físicas quantas fenotípicas. O racismo por outro lado é fruto de uma discriminação étnica representada pela cor da pele ou uma marca física rotulado como diferente, sendo ampliado para a exclusão hierárquica social, ficando explicito que o racismo é uma distinção biológica entre grupos e o preconceito é a atitude excludente que pode sofrer o individuo tanto institucionalmente quanto culturalmente. O preconceito é a forma verbal do racismo, isto é, o preconceito se resume como uma atitude sendo uma consequência restringindo-se em ato/ação, enquanto o racismo constitui em discriminação étnica racial juntamente a exclusão social.
As novas formas de expressão do preconceito e do racismo são mostradas através de dados quanto às mudanças históricas relacionados aos estereótipos, após a 2ª guerra mundial é perceptível um preconceito, mas leve e um racismo acobertado devido aos movimentos pelos direitos civis nos EUA, Declaração dos Direitos Humanos entre outras atitudes raciais, evidenciando transformações quanto a uma nova demonstração de racismo e preconceito referente ao comportamento discriminatório habitual das pessoas e nas suas relações interpessoais. Revelando que estamos muito longe da igualdade racial e social.
O conceito de racismo simbólico se baseia em um sentimento de intimidação, contra os negros, quanto os mesmos representarem uma ameaça aos valores éticos, sociais, culturais e econômicos, contestando os valores do grupo dominante, atingindo desta forma o status quo. O conceito de racismo moderno é apresentado como uma forma oculta de racismo, não transparecendo socialmente, sendo encoberto por expressões antirracistas. Sendo assim, é perceptível que os dois conceitos de racismo têm a mesma base, quanto à ameaça do negro aos valores ditos como importantes pelos brancos, visto que a sua afirmação é crescente, mediante preconceitos e discriminação.
O conceito de racismo aversivo constitui em mostrar a ambiguidade dos valores éticos, democráticos e antirracistas dos brancos americanos, quando os mesmos que defendem a igualdade democrática são defrontados com situações inter-racial em que os brancos tem que justiçar a discriminação, esses discriminam os negros. Os racistas não incluem os negros como seres cidadãos, portanto não estão no rol daqueles que tem direito a democracia. Em uma análise psicanalista e etiológica é notório que o racista dominante se esconde por trás de um discurso vazio não racista que contribui para o desenvolvimento de estereótipos e preconceitos.
O conceito de racismo ambivalente ressalta os pressupostos do racismo aversivo, pois ambos procuram mostrar a sociedade uma imagem democrática não preconceituosa, entretanto na visão psicanalítica existe dois tipos de atitudes o pró e anti negros. As atitudes anti negros tem uma percepção e sentimentos negativos aos negros, quanto a sua cultura, demonstrando aversão a qualquer tipo de afeto ou sentimento. Enquanto as atitudes pró-negros produzem um afeto exacerbado como demonstração de não discriminação aos negros, na tentativa de encobertar seus verdadeiros sentimentos.
O preconceito sutil é estudado na Europa, proveniente do preconceito direcionado a uma pequena cultura de antigas ex-colônias, surgindo assim uma nova expressão de preconceito, esse não somente atingi aos negros como também grupos exógenos ou externos, esse preconceito se fundamenta em três dimensões, a primeira está relacionado a valores tradicionais e crenças, a segunda enfatiza o exagero das diferenças e dos seus estereótipos e por último a negação e a rejeição do exogrupo. Diferentemente do preconceito flagrante, que se subdivide em duas dimensões que se baseiam em rejeições, a primeira diz respeito a um conceito de que o exogrupo apresenta uma ameaça a economia e o ultimo diz respeito a rejeição intima, em que eles não se relacionam emocionalmente, nem sexualmente com os integrantes do exogrupo.Sendo assim pode-se verificar que o preconceito flagrantes é mais direto e quente, ao passo que o preconceito sutil não se manifesta abertamente, sendo mais frio e indireto.
O racismo cordial tipicamente brasileiro, onde a maioria da população é birracial e se julgam não racistas, porém traz um preconceito “não intencional”, revestido de brincadeiras e zombarias, fortalecendo o mito racial e a teoria do embranquecimento, popularizando desta maneira o racismo de forma interpessoal contribuindo para a propagação e ridicularizando os estereótipos dos negros.
O autor traz contribuições teóricas, empíricas e conceituais, quanto a reflexões de novas formas de expressões de preconceito e racismo, afirmando que essas novas expressões devem ser estudadas e analisadas, pois elas aos serem expressas ou mesmo ocultas são formas de conscientizar-se para combatê-las.

Refêrencia: Estudos de Psicologia 2004, 9(3), 401 http://www.scielo.br/pdf/epsic/v9n3/a02v09n3.pdf

Resenha: Os estereótipos e o viés linguístico intergrupal

Saulo Santos Menezes de Almeida

Neste trabalho, Pereira e cols. procuram determinar como participantes adultos e crianças, de etnia branca e negra, utilizam as categorias linguísticas para codificar cenas apresentadas de forma visual em que aparecem personagens do ingroup e do outgroup. As cenas apresentadas são socialmente consideradas socialmente positivas e negativas.
De natureza experimental, quatro estudos verificaram as ações negativas dos membros do ingroup e as positivas dos membros do outgroup, e as positivas dos membros do ingroup e as negativas dos membros do outgroup. Vale ressaltar que as hipóteses foram testadas levando em consideração a perspectiva motivacional do modelo das categorias linguísticas intergrupais onde se tende a eliciar respostas abstratas e o modelo cognitivo onde as respostas que fogem às expectativas tendem a ser interpretadas de forma mais concreta.
Para todos estes estudos é então levado em consideração o modelo de categorias linguísticas intergrupais e o viés linguístico intergrupal. Semin e Fiedler (1988), através de seus estudos, diferenciam quatro categorias linguísticas predominantemente utilizadas na descrição de pessoas e eventos: 1) os verbos que descrevem ações, comportamentos específicos e observáveis com começo e fim delimitados; 2) os verbos que interpretam ação, onde se encontra subjacente uma interpretação; 3) os verbos que fazem referências a estados duradouros; e 4) os adjetivos, que se referem às características disposicionais do indivíduo.
O viés linguístico intergrupal sugere que há uma tendência na avaliação do comportamento dos outros de uma forma diferenciada, sendo que se a ação for uma ação positiva dos membros do próprio grupo, a causa do comportamento é atribuída a fatores de natureza pessoal ou interna, enquanto o mesmo tipo de ação, executada por membros do outgroup, tende a ser interpretada como produzida por fatores de natureza externa ou situacional. Sendo que, no caso dos comportamentos negativos observa-se o oposto. Portanto, o viés linguístico intergrupal pode ser interpretado como um indicador implícito de preconceito.
O primeiro experimento procurou responder em que medida indivíduos avaliam personagens que pertencem ao próprio grupo e a um grupo externo de uma forma diferenciada, e se as categorias linguísticas usadas são as mesmas. Para tanto, utilizou-se de uma amostra de 87 participantes adultos selecionados por critério de conveniência em locais públicos da cidade de Salvador. Os dados foram obtidos através de uma escala em que se apresentou uma série de alternativas e o participante indicou a que melhor retratava a natureza da cena visualmente apresentada.
O experimento utilizou um caderno de apresentação em que estavam desenhadas seis cenas, três socialmente positivas e três negativas. Foram elaborados dois conjuntos de cenas, em que todos os personagens centrais eram crianças, sendo que cada conjunto retratava os personagens centrais como de etnia branca ou negra. Os resultados deste experimento mostraram que não foi encontrada qualquer diferença no plano estatístico, nem na avaliação da etnia do personagem retratado nem na análise de cada uma das cenas em separado.
Tentando responder as mesmas questões do primeiro experimento, o segundo experimento utilizou uma amostra de 88 participantes, e ao invés de indicar a opção que melhor retrataria a natureza da cena, estes foram convidados a elaborar uma frase a respeito da cena e do seu protagonista. Os resultados indicaram que, ao contrário do esperado, participantes negros e brancos codificaram uma cena negativa em que um membro do outgroup é retratado negativamente de uma forma mais abstrata do que concreta que a avaliação dos membros do ingroup. No entanto, os participantes avaliaram mais positivamente às ações encetadas pelos membros do próprio grupo.
Quanto ao terceiro experimento, assim como o quarto, ao contrário dos anteriores, investigaram-se os padrões de codificação linguística em uma amostra de 40 crianças frequentadoras de uma escola particular da cidade do Salvador, e adotou um procedimento computadorizado para apresentação das cenas e coleta dos dados. Os resultados apontaram que os participantes brancos, de uma forma compatível com as hipóteses do viés linguístico intergrupal, codificaram as cenas positivas em que são representados membros do ingroup de uma forma mais abstrata que as cenas em que são representados membros do outgroup.
Os resultados apresentados pelos participantes negros, no entanto, apontam numa direção contrária, já que as ações positivas encetadas pelos membros do outgroup foram avaliadas de uma forma mais abstrata que as realizadas pelos membros do ingroup. No caso das cenas negativas, os resultados não estão de acordo com o esperado na literatura. No caso da influência conjunta da etnia do participante e do personagem, não foram encontradas diferenças significativas na codificação de nenhuma das seis cenas, assim como no caso da influência isolada da etnia do participante. No caso da influência da etnia do personagem, foram encontradas diferenças significativas marginais em três cenas.
No quarto experimento utilizaram-se relatos livres apresentados por cada um dos participantes. A amostra foi constituída por 21 participantes selecionados. Pode-se observar que participantes brancos e negros avaliaram de forma mais abstrata os comportamentos positivos apresentados pelos membros do seu próprio grupo étnico. E os resultados indicaram que a etnia do participante e a do personagem interagira apenas na cena em que o personagem ajuda uma senhora idosa a atravessar a rua.
Assim, os estudos apontaram que, de uma forma geral, não se encontrou qualquer evidência sistemática de que os participantes codificaram de forma mais abstrata as cenas positivas em que eram representados membros do ingroup e a as cenas negativas em que eram representados membros do outgroup.

Referência: Pereira, M. E.; Fagundes, A. L. M.; Silva, J. F.; Takei, R. Os estereótipos e o viés linguístico intergrupal. Interação em Psicologia, 2003, 7(1), p. 125-137.

Resenha: Normas sociais e preconceito: o impacto da igualdade e da competição no preconceito automático contra os negros

Gilcimar Santos Dantas

O trabalho tem como objetivo investigar o quanto os valores relacionados à competição e à igualdade contribuem na expressão do preconceito automático contra negros. O estudo parte de uma perspectiva conhecida como processos duais ou automatismo e controle, que afirma que existem dois tipos de cognição. Uma que se manifesta de modo controlado, através de uma estrutura evolutivamente mais recente, que ocorre de modo mais lento, que requer esforço e que se caracteriza por ser mais analítica. Já a segunda ocorre de modo automático, decorrente de uma estrutura evolutivamente mais primitiva, que ocorre sem esforço, de maneira rápida e inconsciente, disparada a partir de características superficiais do alvo e que possui maiores relações com o preconceito. Este último tipo de cognição, quando ocorre, se torna difícil de controlar podendo influenciar as atitudes e os comportamentos subsequentes. Boa parte dos estudos sobre este tema costuma estudar os fenômenos intrapsíquicos subjacentes à expressão do preconceito automático. Entretanto, o presente estudo busca investigar o papel das normas sociais na expressão do preconceito automático contra negros. Para isso, foi utilizado o Teste de Atitudes Implícitas (IAT), que apresenta, em milésimos de segundo, faces de pessoas negras e palavras tanto de conteúdo negativo quanto positivo, assim como faces de pessoas brancas e palavras tanto de conteúdo negativo quanto positivo. O participante precisa fazer o mais rápido possível a associação destas faces com essas palavras e quanto mais alta for a associação entre faces negras e conteúdos negativos e faces brancas e conteúdos positivos, maior a expressão do preconceito automático. Para verificar o impacto dos valores relacionados á competição e à igualdade, os autores realizaram três estudos.

No primeiro estudo, 35 participantes foram alocados em três condições experimentais, sendo que na primeira os participantes eram requeridos a pensarem em argumentos sobre a igualdade formal e escreverem sobre eles. No segundo, os participantes eram solicitados a pensarem e escreverem argumentos sobre meritocracia competitiva e no terceiro (o grupo controle) era requerido que os participantes pensassem e escrevessem sobre vida extraterrestre. Após este momento os participantes respondiam ao IAT e o objetivo dos pesquisadores era saber se a expressão do preconceito implícito sofria influência dos contextos aos quais os grupos foram alocados. Os resultados demonstraram uma maior expressão do preconceito contra negros entre os participantes alocados no contexto de meritocracia competitiva, uma menor expressão (mas inda existente) do preconceito contra negros entre os participantes alocados no contexto igualitário e uma expressão ainda menor (mas ainda presente) do preconceito contra negros entre os participantes alocados no grupo controle.

No segundo estudo, o objetivo foi saber os sentidos da igualdade por parte dos participantes. Para isto um novo grupo de 35 participantes foi convidado a responder à pergunta: “Para você, o que é igualdade”? O primeiro sentido foi formado por respostas em termos de “igualdade de direitos e deveres” enquanto que os demais tipos de expressão de igualdade foram “solidariedade”, “não preconceito”, “igualdade como cidadania” e “igualdade como respeito às diferenças”. Estes resultados levaram à conclusão de que existem diferentes formas de perceber a igualdade, o que levou ao terceiro estudo que tinha como objetivo saber se argumentos da percepção de igualdade, decorrentes das respostas do segundo estudo, anulariam a expressão do preconceito contra negros no IAT.

No terceiro estudo, foram criados mais três grupos, que totalizaram um número de 35 participantes. O primeiro grupo foi solicitado a pensar e escrever argumentos referentes à competição individualista (como no primeiro estudo), o segundo foi solicitado, também, a pensar e a escrever argumentos referentes à igualdade solidária (decorrente dos argumentos dos participantes do segundo estudo), enquanto que foi requerido ao terceiro grupo a pensar e a escrever argumentos a respeito da igualdade formal (a mesma do primeiro estudo). Assim como no primeiro estudo, os participantes foram submetidos ao IAT e o objetivo dos pesquisadores foi o mesmo do primeiro estudo. Os resultados deste terceiro estudo mostraram que o contexto da meritocracia competitiva produziu grande ativação de preconceito automático contra negros, enquanto que no contexto de igualdade formal (apesar de ainda existir), o preconceito automático contra negros foi menor e no contexto de igualdade solidária este preconceito não se manifestou.

Os resultados destes estudos sugerem que apesar de muitos indivíduos se mostrarem favoráveis a atitudes não preconceituosas, tais atitudes podem não ser tão significativas assim, a ponto de impedirem a manifestação do preconceito implícito. A realização de estudos nesta abordagem parece ser muito importante no contexto brasileiro que, ao contrário de alguns países, possui um longo histórico de expressão de preconceito implícito contra indivíduos negros. Um outro ponto importante, apresentado nestes estudos é que a expressão do preconceito contra negros foi intensificada no contexto da meritocracia competitiva, assim como foi amenizada no contexto de igualdade formal e anulada no contexto da igualdade solidária sem que os participantes tivessem consciência. Estes dados trazem à discussão o paradigma do agente racional que afirma que a tomada de consciência é suficiente para uma revisão e, por sua vez, uma mudança das atitudes preconceituosas. Isto sugere o quanto pode ser difícil controlar preconceitos automatizados e que para muda-los não se depende apenas de uma tomada de consciência, mas também de determinadas estratégias de redução do preconceito.

Referência: Lima, M., E., O., Machado, C., Ávila, J., Lima, C. & Vala, J. (2005). Normas sociais e preconceito: o impacto da igualdade e da competição no preconceito automático contra os negros. Psicologia: Reflexão e Crítica, 19, 2, 309-319.

Valores psicossociais e orientação à dominância social: um estudo acerca do preconceito

Márcia Deocleciano

Valores psicossociais e orientação à dominância social: um estudo acerca do preconceito” Psicologia: Reflexão e Crítica, 20 (3), 490-498, Porto Alegre 2007, dos pesquisadores Sheyla Fernandes, Joseli Da Costa, Leoncio Camino e Roberto Mendoza traz um estudo cujo objetivo foi analisar as relações existentes entre o preconceito, através da orientação à dominância social, e os valores psicossociais, a partir de quatro sistemas: o religioso, o materialista, o pós-materialista e o hedonista, onde as considerações apresentadas tem o preconceito como resultado das construções ideológicas amplamente compartilhadas pelos grupos sociais. Os pesquisadores começam o presente trabalho visando abordar o preconceito e os valores de estudantes universitários de uma capital nordestina, traçando uma análise teórico-empírica em função das relações estabelecidas entre os níveis individuais de preconceito e a adesão aos sistemas de valores. Trouxe como considerações teóricas estudos desde 1954 «A natureza do preconceito», Allport a estudos recentes (Fernandes & Almeida, 2006; Lima & Vala, 2004a) onde apontam que as mudanças sociais ocorridas que visam à dissolução ou, pelo menos, a moderação das desigualdades sociais, não se mostram bem sucedidas.

Quanto ao método utilizado foi uma amostra composta por 205 estudantes universitários do curso de psicologia de duas universidades da cidade de João Pessoa, Paraíba, sendo 77,6 % de mulheres e 22,4 % de homens, com idade variando entre 16 e 30 anos (Média 21,5; Moda 20; DP 2,54). Destes 89,3% eram solteiros e 48,3% se dedicavam exclusivamente aos estudos. Os sujeitos foram escolhidos em função de sua presença nas salas de aula no momento da coleta de dados. Os questionários foram aplicados coletivamente mas respondendo individualmente.

Os resultados indicaram inicialmente que todos os sistemas de valores se apresentaram importantes para a construção de uma sociedade ideal, enquanto que a dominância social foi fortemente rejeitada pelos participantes deste estudo. Ainda acrescentam que a respeito deste resultado, duas pontuações se fazem pertinentes: a primeira se faz atuante desde o período que sucede a Segunda Grande Guerra, podendo ser explicada a partir dos princípios normativos de alguns países que coíbem qualquer tipo de discriminação (Lima, 2002), atenuando superficialmente os sentimentos negativos dirigidos aos grupos marginalizados. A segunda indica que os valores considerados importantes para uma sociedade adequadamente justa seguem o mesmo padrão imposto pelas ideologias políticas elaboradas socialmente (Da Costa, 2000; Lima, 1997; Lima & Camino, 1995; Pereira et al., 2001a) fazendo-se necessária uma nova pesquisa para enriquecer os estudos na esfera psicossociológica.

Resenha: Mulheres ciganas – medo, relações intergrupais e confrontos identitários

Jaime Naupuile Dala


O artigo com o título em epígrafe procurou compreender através da teoria da identidade social, os estereótipos presentes no imaginário rural associados ao grupo cigano, bem como os sentimentos associados a este grupo humano. Inicialmente são apresentados os conceitos de identidade social e processos grupais. Os autores entendem como identidade social tal como proposta por Henri Tajfel, apresenta-se como um valioso recurso teórico. A teoria procura elucidar a constituição da identidade no âmbito das relações intergrupais, enfatizando os processos que limitam um determinado campo da identificação. Neste caso a categorização social se revela como um conceito fundamental na descrição dos processos identitários. Para Tajfel, a categorização é o processo social no qual “se reúnem os objetos ou acontecimentos sociais em grupos, que são equivalentes no que diz respeito as ações, intenções e sistemas de crenças do individuo” (p.290). Este processo se fundamenta na necessidade da criação de condições que permitam apreender nos diversos contextos sociais, elementos ordenadores da realidade que facilitam definir as fronteiras entre endogrupo e o exogrupo a fim de se construir a identidade social, derivado do conhecimento do seu grupo de pertença, o que facilita a elaboração de estereótipos que são um conjunto de crenças sobre os atributos inerentes a pessoas de um determinado grupo. Quando pensamos nos outros através de lentes estereotipadas, desenvolvemos expectativas e certas interpretações do seu comportamento, com base nos recursos simbólicos cria-se mecanismos de proteção. Os autores aludem que o grupo cigano tem sido alvo de ameaça de estereótipos associados a preconceito racial devido o sentimento de medo que grupo maioritário vive como impulsionador dos maus tratos relacionados aos ciganos, confirmando características presentes no imaginário social amplamente difundido acerca deste grupo social que tem sido considerado como ladrões, malfeitores e amaldiçoados. Adicionando-se a realidade da própria historia humana ser de conflitos, contada pelos rastros do confronto entre grupos de diferentes épocas, que visam criar e manter espaços do grupo de pertença. Para o esclarecimento sobre a raiz de atitude de medo entre o grupo maioritário, as mulheres rurais, os autores recorrem a Delumeau que a descreve de seguinte maneira: O medo se encontra na apreensão provocada entre pessoas que não se conhecem, ou que se conhecem mal, que vêm de fora, que não se parecem conosco e que, sobretudo, não vivem da mesma maneira que vivemos. Falam uma outra língua e têm códigos que não compreendemos. Tem costumes, comportamentos, práticas culturais que diferem das nossas, não se vestem como nós, não comem como nós, têm religião, cerimónias e ritos cujo significado nos escapa. Por todas essas razões, eles nos assustam e somos tentados a toma-los como bodes expiatórios em caso de perigo. Se uma desgraça acontece a uma coletividade, é por causa do estrangeiro.
O mundo polarizado pela ideologia política, raça, etnia, classes sociais moldam as identidades e a medida que se desenvolvem, os sentimentos vão sendo fortemente marcados por regras, normas sociais, valores, crenças bem como sistema de papéis, difundidos pelos grupos sociais de pertença que guiam comportamentos aumentando assim a autoestima e o senso de distinção do outro. Carvalho, Machado e Suyama (2002) assinalam que o desenvolvimento do ser humano ocorre através do confronto de ações, emoções motivações e significados, como elementos importantes na formação do carácter do individuo. Nesse sentido, o carácter é forjado a partir das práticas sociais vivenciadas decorrentes das interações, construídas em contextos históricos determinados pelos elementos culturais e das informações veiculadas pelos meios de comunicação social que provocam sentimentos de medo e insegurança. Fiorin (224) enfatiza que entre a difusão de uma cultura do medo, um sentimento individual e socialmente partilhado, referenciado por objetos sociais que são oferecidos às nossas relações cotidianas já interpretados e revestidos de uma ideologia que contribui para a discriminação.
O artigo enfatiza que o grupo cigano integra uma cultura que durante muitos séculos sofre de injustiças, preconceitos e perseguições, até os dias atuais, o reflexo de uma história de sofrimento e marginalização. Fatos recentes na Europa registram a perseguição à população cigana. Em países como Itália, Roménia e França, acampamentos de ciganos foram incendiados e os seus habitantes expulsos. O que ocorre são fatos de desumanização que continuam marcando negativamente a historia deste grupo humano. O desrespeito à cultura deste povo é identificado não só nos fatos acima citados, mas também nas tentativas de aculturação. Vaz (2005) alude que apesar da Constituição Federal brasileira garantir os mesmos direitos a todos que nascem no país, na prática eles são violados quando se trata de populações pertencentes a minorias étnicas, e com os ciganos, não é diferente. A realidade de exclusão que vive o grupo cigano, está relacionada com sentimentos de estereótipos e preconceito racial praticados pelo grupo maioritário enraizado nas crenças amplamente difundidas a partir dos grupos de pertencimentos.
Os objetivos do estudo foram: (1) conhecer alguns elementos que compõem os estereótipos presentes no imaginário rural acerca do grupo étnico cigano, bem como os sentimentos associados ao grupo. Tendo em conta que as relações entre grupos ciganos e não ciganos poderiam favorecer a apreensão mais nítida dos processos identitários; (2) verificar como o medo medeia a elaboração de identidades e práticas sociais de solidariedade e exclusão.
O estudo foi realizado numa população de 10 mulheres rurais não ciganas, com idades entre 34 e 67 anos; 09 casadas e 01 divorciada; 04 eram escolarizadas, 04 tinham o ensino primário e 02 o ensino fundamental; todas moradoras de uma mesma comunidade rural localizada no interior de um estado brasileiro. Os dados foram coletados através de entrevistas orientadas por um roteiro semiestruturado organizado em três módulos de informação: a) dados pessoais dos participantes; b) questões sobre o cotidiano da comunidade rural e c) questões contemplando o grupo cigano, tanto na dimensão representacional. O tratamento dos dados foi realizado através do sotwere ALCESTE.
Os resultados do estudo confirmaram que, os estereótipos compartilhados pelas mulheres rurais em relação ao ser cigano contêm uma série de características negativamente valorizadas: os ciganos são percebidos como sujos, amaldiçoados, pessoas que pedem, roubam, que buscam uma maneira fácil de ganhar dinheiro sem trabalhar, que enganam os outros e que viajam constantemente, não tendo uma moradia fixa; são tidos, portanto, como um povo de cultura estranha. Além demais os estereótipos entre mulheres rurais do grupo maioritário aumentam devido o poder místico atribuídas as mulheres ciganas que usam para amedrontar membros do exogrupo e, assim, conseguir o que desejam, constituem elementos que acabam por determinar o sentimento de medo neste caso particular de algumas mulheres rurais que preferem atender rapidamente aos pedidos das ciganas, visto que se não o fizerem podem ser amaldiçoadas. O estudo assinala que com base na teoria da identidade social, permitiu compreender como os indivíduos se posicionam em relação as suas redes de pertenças grupais, sempre motivados pela busca de uma autoimagem positiva, através de atribuição de valores positivos ao próprio grupo e consequentemente, valores negativos aos outros grupos identificados como opositores na inevitável comparação social estabelecida. Com base nos instrumentos constantes na constituição brasileira sobre esse grupo, e por outro lado a possibilidade de conhecer os membros do exogrupo sua organização, práticas e costumes, usando os recursos académicos disponíveis assim como as leis igualitárias de bom tratamento entre seres humanos que orientam as sociedades modernas, poderiam contribuir para reflexão positiva que diminuiria paulatinamente as práticas de exclusão do grupo cigano da convivência social. O artigo finaliza com uma importante questão a ser levada em conta é como agem os grupos os grupos definidos através de atributos negativos. A questão dos negros em um mundo racista, das mulheres em mundo machista, dos homossexuais em um mundo heterossexista ou mesmo dos ciganos como um dos grupos depositários do medo no mundo ocidental. Os interesses ideológicos em jogo nas sociedades e difundidos amplamente aparecem serem os panos do fundo que propiciam a prática de preconceitos, discriminação e exclusão social.
A pesquisa é interessante, leva os leitores uma reflexão crítica da realidade atual que necessita da busca permanente dos valores baseados nas leis igualitárias e justiça social para um bem-estar da humanidade na presente época. O artigo foi bem trabalhado e merece uma leitura completa.
Referência: Bonomo, M., et al. Mulheres ciganas: medo, relações intergrupais e confrontos identitários. 03, 10, 747-758, 2010.