Resenha: análise psicossocial do preconceito contra homossexuais

Irza Maria Carvalho Santos

Neste artigo os autores fazem uma explanação sobre o preconceito contra homossexuais e suas raízes históricas. Gordon Allport foi um dos pioneiros no estudo do preconceito em Psicologia Social. Sua definição é a mais empregada para definir o mesmo “uma atitude evitativa ou hostil contra uma pessoa que pertence a um grupo simplesmente porque ela pertence àquele grupo, e está, portando, presumindo que objetivamente ela tem as qualidades atribuídas ao grupo” Allport (1954). Contudo estudos a respeito demonstram que esse fenômeno vem assumindo formas cada vez mais sutis e camufladas, por causa dos avanços humanitários e as leis que proíbem atos discriminatórios contra grupos minoritários.

Mesmo com as leis que proíbem atos discriminatórios as pessoas parecem não terem conseguido acabar com o fenômeno e sim transformado a sua forma de expressa-lo. O preconceito se divide entre: o flagrante e o sutil. O preconceito flagrante é a forma mais tradicional, direta e aberta. O preconceito sutil é a forma mais contemporânea de discriminação, discreta e indireta, atendendo assim a norma social da não discriminação, em que as pessoas consideram inaceitável ser preconceituoso e temem ser mal vistas por apresentarem tal comportamento. O artigo apresenta uma nova forma de apresentação do preconceito sutil: a infra-humanização. Essa é a visão que propaga o sentido de que alguns humanos são considerados “menos humanos” do que outros.

O preconceito contra homossexuais tem ainda muito poucos estudos da Psicologia Social no Brasil. Um levantamento feito na Sacie-lo (Scientific Eletronic Library On-Line), no dia 30 de abril de 2006, usando a palavra-chave “preconceito contra homossexuais”, resultou apenas no trabalho de Lacerda, Pereira e Camino (2002). Esse interesse é perceptível tanto nos movimentos que lutam pelos direitos dos homossexuais, tal como a parada gay, que cresce em número de participantes todos os anos, no Brasil e no mundo, como em programas sociais que têm como objetivo diminuir o preconceito. O programa “Brasil sem Homofobia”, lançado em 2004, é uma resposta aos altos índices de discriminação contra o grupo, o artigo aponta ainda para apenas uma pesquisa “Juventudes e Sexualidade” (Castro, Abramovay & Silva, 2004), realizada em 14 capitais brasileiras. Os resultados dessa pesquisa apontam para a expressão flagrante do preconceito contra homossexuais, pouco preocupada em atender às normas do igualitarismo.

O artigo traz que existem cinco categorias de explicações para o homossexualismo que estão diretamente relacionadas com a forma como os homossexuais são vistos pela sociedade, são elas: explicações biológicas, ou seja, distúrbios de natureza fisiológica, hormonal ou gestacional; psicológicas que é constituída pela crença de que a homossexualidade é resultado de traumas experienciados na primeira infância; religiosas, aponta o homossexual como uma pessoa que não segue a palavra de Deus, que não tem força espiritual e religiosidade para resistir às tentações; ético-morais, representaria a crença de que a homossexualidade está relacionada com a ausência de respeito, de caráter e de valores morais do indivíduo; e explicações psicossociais que organiza as crenças de que a homossexualidade não é doença e deve ser compreendida na sua totalidade, pois trata da forma distinta pela qual cada um vive sua sexualidade, que é parte da identidade do sujeito.

A pesquisa apresentada pelo artigo partiu da hipótese de que as expressões do preconceito e descriminação contra os homossexuais atualmente apresenta componentes da infra-humanização. Diferente de outras pesquisas, que mostrar o preconceito flagrante como forma principal de expressão contra os homossexuais, esta pesquisa também identificou o preconceito sutil, mas tais resultados podem ser característicos da amostra, majoritariamente feminina. Homens heterossexuais geralmente expressam maiores níveis de preconceito sexual do que mulheres heterossexuais.

De modo geral, a relevância do tema proposto aponta a necessidade de mais estudos na área, pois que são muito insignificantes as pesquisas psicológicas sobre o preconceito contra homossexuais. A meu ver, as manifestações de preconceito flagrante e sutil se mostram mais frequentemente em relação aos homossexuais do que outros grupos minoritários, e fica evidenciado todo o processo de marginalização e exclusão social dos homossexuais.

Referência: Fleury, A. e Torres, A. Análise psicossocial do preconceito contra homossexuais.Estudos de Psicologia (Campinas), 24,4,475-486, 2007.

Autor: Marcos E. Pereira

Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal da Bahia. O currículo Lattes pode ser acessado no site http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4799492A6

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