Resenha: “Estereótipos e destinos turísticos – o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo

Talita Moreira

Não é sem razão que o uso de estereótipos é uma estratégia bastante requisitada por propagandas turísticas. Muitas vezes somos atraídos a um local, nos sentimos vinculados a um povo, sem nunca termos tido contato direto, mas só de ouvir falar, ver fotografias. É comum encontrar em frases populares, romances, poemas, músicas e folhetos turísticos muitos estereótipos sobre o povo baiano. A Bahia aparece muitas vezes como a terra da felicidade, da alegria, de todos (santos, credos, ritmos, raças, entre outros) e seu povo, por sua vez, é alegre, festeiro, acolhedor, feliz, criativo, e a diversidade parece ser uma característica muito presente.

O artigo escolhido como base para este texto foi “Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo”, de autoria de Marcos Emanoel Pereira e Tula Ornelas, publicado em 2005. O artigo se propõe a identificar e discutir o uso de estereótipos a partir da análise de folders institucionais e de divulgação, elaborados pela Bahiatursa, destinados à promover o destino turístico Bahia.

Pereira e Ornelas (2005) procuram identificar o potencial utilitário dos estereótipos para analisar como eles são utilizados como um meio de divulgar e promover destinos turísticos. Inicialmente os autores, apresentam uma breve revisão histórica dos estudos sobre estereótipos. Defendem que apesar de mudanças avaliativas que os estereótipos sofreram ao longo do tempo, a visão negativa que sempre acompanhou o construto não foi eliminada totalmente, considerando que os estereótipos ainda continuam sendo considerados fundamentalmente como o efeito da manifestação de mecanismos da economia cognitiva. Porém, é questionado pelos autores se os estereótipos seriam necessariamente negativos ou seria possível apontar que a utilização deles oferece alguma contribuição para determinados segmentos sociais ou mesmo para a sociedade como um todo?

Apesar dos autores reconhecerem que a literatura especializada sobre os estereótipos e o turismo não ser vasta, defendem que possivelmente, hoje, nenhuma área da vida cultural seja capaz de salientar a natureza utilitária dos estereótipos quanto à indústria do turismo. Analisam que os materiais promocionais elaborados pelas agências de fomento ao turismo procuram divulgar e promover os destinos, utilizando os estereótipos como um meio de ressaltar o que determinado local tem de mais belo, atraente, sedutor e encantador, desempenhando, assim, o papel de formador de motivações e desejos, contribuindo para a construção da identidade turística do destino que está sendo promovido.

Quanto aos resultados do estudo, é apontado que dos 35 folders identificados no arquivo da Bahiatursa, 26 exibiam a utilização de estereótipos, em forma de textos ou imagens, entretanto, apenas doze folders institucionais foram escolhidos para análise. Os estereótipos identificados podem ser agrupados em duas grandes categorias, uma referente ao lugar e outra referente ao povo. Sobre a primeira categoria os autores salientam que conceitualmente é inadequado se referir a estereótipos sobre lugares, pois se trata de um conceito cujo referente restringe-se a categorias sociais. Entretanto, é enfatizado, no texto, que para este caso um precedente será aberto, dada a impossibilidade de se refletir sobre estereótipos de um povo sem considerar o território habitado por tal população.

Em relação às representações estereotipadas relativas ao local, o artigo destaca três: A expressão ‘terra encantada’ – aparece em todos os folders, recebe 26 citações; A formulação ‘terra da felicidade’ – com 20 citações; A representação ‘paraíso tropical’ – utilizada em três folders, sendo citada quatro vezes.

O estudo identificou que o tema da festa é um dos temas mais utilizados nos folders. A ideia de um povo alegre e festeiro alcança as maiores frequências, embora não presente em todos os folders. Os estereótipos sobre um povo hospitaleiro aparecem em mais da metade dos folders, a visão estereotipada do baiano hospitaleiro sugere que este povo recebe com carinho o visitante.

É destacado pelos autores que o estereótipo do povo mestiço é apresentado em sete folders, e pretende oferecer certo caráter de democracia racial e de convívio harmonioso entre brancas, negros e índios. Além disso, o estereótipo do baiano criativo aparece em cinco folders, já o estereótipo sensual é apresentado em 8 folders. Sobre este último é válido apontar o destaque dado, no artigo, ao fato que este estereótipo é encontrado, sobretudo nos folders divulgados em língua estrangeira, e que atualmente quase que não se encontra folders com a apresentação de imagens de mulheres seminuas, pois se entende que pode fortalecer o turismo sexual amplamente combatido nas últimas décadas.

Entretanto, Pereira e Ornelas (2005) afirmam que embora não haja uma referência explícita a sensualidade mediante imagens de mulheres de biquínis, existe alusões mais sutis, em que se pode encontrar à sensualidade na maneira baiana de se vestir, visto que o clima permite o uso de vestes decotadas, no jeito de andar. Também aparece a ideia da Bahia enquanto que adepta a todos os credos, santos, há um convite para que “o turista se vista de branco, amarre uma fita do Senhor do Bonfim no pulso, mas não esqueça de colocar um patuá no bolso”.

Por fim, os autores assinalam que a apropriação turística dos estereótipos é uma via de mão dupla, uma vez que não apenas os turistas desenvolvem percepções estereotipadas do povo visitado, como também os nativos desenvolvem estereótipos sobre os turistas. De forma que, para os visitantes os estereótipos permitem uma simplificação do tipo de comportamento a ser adotado durante os contatos. Já para os visitados, os estereótipos favorecem o desenvolvimento de uma sequência de roteiros que proporcionam facilidades nas relações com os visitantes, permitindo a alguns garantir o sustento econômico. Assim, neste contexto, os estereótipos proporcionam uma função relevante a todos os envolvidos nas atividades turísticas.

Referência: Pereira, Marcos Emanoel; Ornelas, Tula. (2005). Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo. Caderno Virtual de Turismo, vol. 5, núm. 3, 2005, pp. 9-17. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Río de Janeiro, Brasil. Disponível em http://redalyc.uaemex.mx/pdf/1154/115416147002.pdf

Estereótipos e turismo: praia do amor

Contribuição: Zélia Fernandes

O prefeito lançou a campanha de verão para Guaibim, município que fica a 17 Km de Valença.Haverá a inauguração de uma ciclovia  e o lançamento da idéia : Guaibim , praia do amor para isso foram feitas algumas estátuas, entre elas essas que mostram um mulata e um homem branco representando Adão e Eva.

guaibim

Fonte: http://riounafm.blogspot.com/2011/10/praia-de-guaibim-agora-e-praia-do-amor.html

Notícia do dia: estereótipos em nome da hospitalidade

Contribuição: Diogo Araújo

Quase sempre os estereótipos são utilizados pelas pessoas de forma negativa. Porém, o orgão oficial de turismo inglês, preocupado com gafes ao se atender os estrangeiros que invadirão Londres durante os Jogos Olímpicos de 2012, pretende usar os estereótipos para que o país seja um melhor anfitrião. Foi realizado um levantamento de comportamentos que devem ser evitados quando se lidar com visitantes de várias nacionalidades, com o objetivo de criar uma cartilha e prevenir situações embaraçosas.   Clique aqui para ler.

Notícia do dia: quando há medo aflora o racismo, a exclusão e a agressão

Matéria da BBC Brasil relata as reações intempestivas de moradores de cidades turísticas mexicanas à chegada de turistas oriundos de regiões onde a gripe suina é mais intensa. Clique aqui para ler o relato.

Estereótipos e a venda de destinos turísticos

Contribuição: Gilcimar Dantas

As propagandas para atrair turistas sempre exageram. No caso do estado da Bahia não seria por menos: um lugar aonde todos estão sorrindo o dia inteiro, aonde o sol está brilhando e não chove o ano todo e que há uma alegria que emana em todo lugar. Num estado tão contraditório, um dos estados mais pobres do país e o sexto em geração de renda, isso mais parece uma brincadeira de mal gosto.

Artigo publicado: Balinese identity as tourist attraction

Título: Balinese identity as tourist attraction: From `cultural tourism’ (pariwisata budaya) to `Bali erect’ (ajeg Bali)

Autor: Michel Picard

Periódico: Tourist Studies 2008;8 155-173

Resumo: clique aqui para obter

Artigo publicado: Afro-Cuban cultural tourism and the accusation of religious commercialism

Título: Speculators and santuristas: The development of Afro-Cuban cultural tourism and the accusation of religious commercialism

Autora: Kali Argyriadis

Periódico: Tourist Studies 2008;8 267-286

Resumo: clique aqui para obter

Artigo publicado: sex in a transnational tourist town

Título: Negotiating the public secrecy of sex in a transnational tourist town in Caribbean Costa Rica

Autora: Susan Frohlick

Periódico: Tourist Studies 2008;8 19-39

Resumo: clique aqui para obter

Resenha – Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo

Camila Leão

O artigo “Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo” aborda um tema bastante interessante e presente no cotidiano de todos nós. Afinal, quem nunca escolheu o destino das viagens de férias tomando como referência as belas imagens postadas nos folhetos de turismo?As imagens atraentes e os dizeres encantadores presentes nesses folders das agências de turismo foram o foco do trabalho do professor Marcos Emanoel Pereira (Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Bahia. Coordenador do Programa de Pós- Graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia.) e da pesquisadora Tula Ornelas (Bacharel em Turismo. Aluna especial do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Da Universidade Federal da Bahia. Coordenadora do Curso de Bacharel em Turismo da Faculdade Olga Mettig, Salvador, Bahia).Eles realizaram uma pesquisa analisando de forma descritiva trinta e cinco folders da agência de turismo Bahiatursa, a agência de fomento ao turismo do Estado da Bahia. Após essa análise, os pesquisadores encontraram algumas categorias de estereótipos que se repetiam em vários folders, com o intuito de atrair turistas para a Bahia. Os pesquisadores conseguiram encontrar cinco classes de poderosos estereótipos utilizados pela Bahiatursa referentes à Bahia e ao seu povo. São eles: “Terra da felicidade”; “Povo festeiro”; “Povo Hospitaleiro”; “Povo Mestiço”; “Povo religioso”.Pode-se notar, a partir da leitura desse artigo, o grande poder dos estereótipos para a economia turística. Uma concepção positiva sobre um povo que se torne amplamente compartilhada atrai lucros e investimentos. Por isso, cria-se todo um fetiche mercadológico que seja capaz de despertar a vontade de “estar lá” e de “ser como eles”. Os turistas buscam por experiências diferentes daquelas presentes no seu cotidiano (como o contato com belezas naturais, fugindo de um cotidiano urbano turbulento), e buscam o contato com pessoas agradáveis, receptivas, alegres. Assim como tudo presente no nosso habitat Capitalista, a Cultura e as características de um povo, juntamente com as belezas naturais de um local, passaram a ser um “acessório” que valoriza a venda de viagens.A teoria que alicerça a Psicologia Behaviorista, a qual afirma que um estímulo neutro, quando associado com um estímulo agradável e reforçador, imediatamente tornar-se-á um estímulo também reforçador, é bastante utilizada na construção desses folders de turismo. Um lugar como a Bahia, que pode ser visto como um estímulo neutro para muitas pessoas, quando associado às frases e às imagens positivas, torna-se um estímulo altamente reforçador. O emparelhamento de um lugar como a Bahia com sensações agradáveis, com pessoas receptivas e alegres, enfim, com estímulos positivos, valoriza a imagem do lugar.Um dos processos básicos do comportamento é a motivação, segundo Maslow e McGregor, teóricos da Psicologia. A motivação á um fator que impulsiona uma pessoa a consumir algo presente no mercado. Os donos de negócios juntamente com as empresas de marketing criam necessidades internas e externas e as incutem no psicológico das pessoas, que procurarão suprir tais “necessidades”. Eles criam também necessidades secundárias, que são aquelas que interferem na escolha de um produto, diferente das nossas necessidades primárias (como a sede, o sono, a fome, a proteção do corpo contra frio, calor e outros). Essas necessidades secundárias são aquelas que determinam qual marca de alimento, bebida ou roupa uma pessoa irá consumir. É a partir da criação dessas necessidades secundárias que uma pessoa atualmente escolhe um destino turístico.A imaginação do consumidor o faz acreditar que ele realmente necessita daquele produto, e ele vai agir de tal forma que consiga obter tal produto. O que leva uma pessoa a escolher o destino de sua viagem a partir do conteúdo dos folders de turismo, são também fatores motivacionais de cunho secundário, ou seja, não são essenciais para a sua sobrevivência, mas fazem parte de uma necessidade criada. Uma atitude positiva para um lugar, juntamente com estereótipos positivos para as pessoas nativas daquele lugar é essencial para a escolha de um destino turístico.O presente estudo do artigo foi importante na medida em que revela a força e o poder mercadológico dos estereótipos na valorização dos destinos turísticos. Vê-se a importância também do cuidado com o uso desses estereótipos, já que os mesmos influenciam no modo de ver tanto dos turistas quanto do povo nativo. Tanto os turistas como os nativos passam a compartilhar de tal maneira esses estereótipos, que acabam por assimilar as características atribuídas ao seu grupo social. E essas características acabam se cristalizando. Desse modo, a Psicologia deve não somente contribuir para ajudar a fomentar o turismo na Bahia, mas também aplicar-se mais intensamente no plano social e tentar levantar os possíveis impactos de todos esses estereótipos construídos que fazem parte do imaginário popular em relação à Bahia e ao seu povo.

Referência: Pereira, M. E. ; Ornelas, T. Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo. Caderno Virtual de Turismo, 17, 2005

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