Resenha – Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo

Camila Leão

O artigo “Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo” aborda um tema bastante interessante e presente no cotidiano de todos nós. Afinal, quem nunca escolheu o destino das viagens de férias tomando como referência as belas imagens postadas nos folhetos de turismo?As imagens atraentes e os dizeres encantadores presentes nesses folders das agências de turismo foram o foco do trabalho do professor Marcos Emanoel Pereira (Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Bahia. Coordenador do Programa de Pós- Graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia.) e da pesquisadora Tula Ornelas (Bacharel em Turismo. Aluna especial do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Da Universidade Federal da Bahia. Coordenadora do Curso de Bacharel em Turismo da Faculdade Olga Mettig, Salvador, Bahia).Eles realizaram uma pesquisa analisando de forma descritiva trinta e cinco folders da agência de turismo Bahiatursa, a agência de fomento ao turismo do Estado da Bahia. Após essa análise, os pesquisadores encontraram algumas categorias de estereótipos que se repetiam em vários folders, com o intuito de atrair turistas para a Bahia. Os pesquisadores conseguiram encontrar cinco classes de poderosos estereótipos utilizados pela Bahiatursa referentes à Bahia e ao seu povo. São eles: “Terra da felicidade”; “Povo festeiro”; “Povo Hospitaleiro”; “Povo Mestiço”; “Povo religioso”.Pode-se notar, a partir da leitura desse artigo, o grande poder dos estereótipos para a economia turística. Uma concepção positiva sobre um povo que se torne amplamente compartilhada atrai lucros e investimentos. Por isso, cria-se todo um fetiche mercadológico que seja capaz de despertar a vontade de “estar lá” e de “ser como eles”. Os turistas buscam por experiências diferentes daquelas presentes no seu cotidiano (como o contato com belezas naturais, fugindo de um cotidiano urbano turbulento), e buscam o contato com pessoas agradáveis, receptivas, alegres. Assim como tudo presente no nosso habitat Capitalista, a Cultura e as características de um povo, juntamente com as belezas naturais de um local, passaram a ser um “acessório” que valoriza a venda de viagens.A teoria que alicerça a Psicologia Behaviorista, a qual afirma que um estímulo neutro, quando associado com um estímulo agradável e reforçador, imediatamente tornar-se-á um estímulo também reforçador, é bastante utilizada na construção desses folders de turismo. Um lugar como a Bahia, que pode ser visto como um estímulo neutro para muitas pessoas, quando associado às frases e às imagens positivas, torna-se um estímulo altamente reforçador. O emparelhamento de um lugar como a Bahia com sensações agradáveis, com pessoas receptivas e alegres, enfim, com estímulos positivos, valoriza a imagem do lugar.Um dos processos básicos do comportamento é a motivação, segundo Maslow e McGregor, teóricos da Psicologia. A motivação á um fator que impulsiona uma pessoa a consumir algo presente no mercado. Os donos de negócios juntamente com as empresas de marketing criam necessidades internas e externas e as incutem no psicológico das pessoas, que procurarão suprir tais “necessidades”. Eles criam também necessidades secundárias, que são aquelas que interferem na escolha de um produto, diferente das nossas necessidades primárias (como a sede, o sono, a fome, a proteção do corpo contra frio, calor e outros). Essas necessidades secundárias são aquelas que determinam qual marca de alimento, bebida ou roupa uma pessoa irá consumir. É a partir da criação dessas necessidades secundárias que uma pessoa atualmente escolhe um destino turístico.A imaginação do consumidor o faz acreditar que ele realmente necessita daquele produto, e ele vai agir de tal forma que consiga obter tal produto. O que leva uma pessoa a escolher o destino de sua viagem a partir do conteúdo dos folders de turismo, são também fatores motivacionais de cunho secundário, ou seja, não são essenciais para a sua sobrevivência, mas fazem parte de uma necessidade criada. Uma atitude positiva para um lugar, juntamente com estereótipos positivos para as pessoas nativas daquele lugar é essencial para a escolha de um destino turístico.O presente estudo do artigo foi importante na medida em que revela a força e o poder mercadológico dos estereótipos na valorização dos destinos turísticos. Vê-se a importância também do cuidado com o uso desses estereótipos, já que os mesmos influenciam no modo de ver tanto dos turistas quanto do povo nativo. Tanto os turistas como os nativos passam a compartilhar de tal maneira esses estereótipos, que acabam por assimilar as características atribuídas ao seu grupo social. E essas características acabam se cristalizando. Desse modo, a Psicologia deve não somente contribuir para ajudar a fomentar o turismo na Bahia, mas também aplicar-se mais intensamente no plano social e tentar levantar os possíveis impactos de todos esses estereótipos construídos que fazem parte do imaginário popular em relação à Bahia e ao seu povo.

Referência: Pereira, M. E. ; Ornelas, T. Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo. Caderno Virtual de Turismo, 17, 2005

Autor: Marcos E. Pereira

Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal da Bahia. O currículo Lattes pode ser acessado no site http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4799492A6

2 comentários em “Resenha – Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo”

  1. de fato, as agências de turismo vivem de propagar estereótipos positivos acerca dos destinos e do povo nativo, e essa indústria(do turismo) é bastante importante na bahia. o lado ruim da veiculação de estereótipos, entretanto, é verificado com o turismo sexual, que abrange o brasil como um todo. esse tipo de prática vem sendo combatida, mas a associação do país a mulheres fáceis e dispostas a “agradar” ainda é muito forte.

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  2. Acho que o psicólogo ao se engendrar na descoberta dos impactos dos estereótipos no imaginário popular levantara prognósticos relevantes para determinados aspectos da infre-instrutura turística possibilitando ganhos para ambas as partes. Empresarial e popular.

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