Foto do dia: sin prejuicios (Chile)

Fonte: antinatural

Notícia do dia: Preconceito é rotina, dizem brasileiros na Europa

O velho mundo já não seria tão civilizado quanto julgamos? Clique aqui para ler a notícia publicada no Portal Terra.

Artigo publicado: The Lost E-Mail Technique

Título: The Lost E-Mail Technique: Use of an Implicit Measure to Assess Discriminatory Attitudes Toward Two Minority Groups in Israel

Autores: Orit E. Tykocinski, Liad Bareket-Bojmel

Periódico: Journal of Applied Social Psychology, 39, 1, 2009, 62-81.

Resumo: clique aqui para obter

Biblioteca: inclusão de conteúdo

Acrescentado à biblioteca o artigo Actitudes Explícitas e Implícitas hacia los Hombres Homosexuales en una Muestra de Estudiantes Universitarios en Chile, de M. Cárdenas e J. Barrientos

Estereótipos e publicidade: nas ruas

Biblioteca: inclusão de conteúdo

Acrescentado à biblioteca o artigo Só de corpo presente: o silêncio tácito sobre cor e relações raciais na formação de professoras no estado do Pará, de Wilma Nazaré Baía Coelho.

Resenha do texto Rethinking the Link Between Categorization and Prejudice Within the Social Cognition Perspective

Letícia Vasconcelos

O presente artigo traz uma crítica à correlação direta que foi se estabelecendo ao longo dos últimos 40 anos entre a categorização e o preconceito. Os autores analisam teorizações e pesquisas da perspectiva da cognição social para demonstrar a tese de que não se pode comprovar a existência de tal correlação, bem como questiona sua conseqüência direta: a elaboração de propostas de redução do preconceito que se baseiam na redução das fronteiras entre as categorias sociais. Os dois eixos principais de argumentação são: demonstrar a ausência de suporte empírico que comprove tal correlação e re-afirmar que uma eliminação da categorização não só é impossível, como altamente indesejável. Uma breve revisão histórica visa demonstrar que trabalhos como os de Allport, Tajfel e Campbell, tidos como precursores da tradição da cognição social, ainda que apontassem para o papel da categorização na formação do preconceito, davam uma ênfase menor ao caráter cognitivo do viés inter-grupal do que o assumido por seus sucessores. São analisadas as três conseqüências principais que derivam da dominância da perspectiva da cognição social para o estudo do preconceito: a preponderância de explicações de base cognitiva sobre os conflitos inter-grupais, a não inclusão do componente afetivo presente em tais conflitos e a compreensão do preconceito como produto do conteúdo de estereótipos negativos. Estudos tradicionalmente usados para comprovar a existência da correlação entre categorização e preconceito são questionados, apontando-se ora uma imprecisão conceitual, ora a variedade de explicações alternativas para dar conta da suposta correlação encontrada. Quanto à questão do preconceito, os autores buscam demonstrar que as estratégias de descategorização e de recategorização não surtem o efeito esperado de sua diminuição. Nem por isso os autores deixam de apontar alternativas para a diminuição do preconceito. Segundo eles, a estratégia ideal é aquela que encontra o equilíbrio entre manter as fronteiras das categorias, como elemento de constituição da identidade social, e minimizando ao máximo o viés inter-grupal. O multiculturalismo é descrito como uma estratégia que mais se aproxima deste ideal, uma vez que mantém a diversidade cultural e étnica. Mais do que simplesmente reconhecer esta diversidade, uma estratégia que busque reduzir o preconceito precisa reconhecê-la como riqueza. Com uma argumentação que recorre a uma revisão teórica e empírica bastante abrangente, o artigo, em última instância, vem defender uma abordagem que atue no sistema de valores individuais e grupais, em especial pela ênfase em valores como a diversidade e a tolerância

Estereotipos y variabilidad categorial: contraste entre modelos de representación

Diogo Araújo

O conceito de variabilidade categorial tem despertado considerável interesse, dada as implicações que tem para a compreensão dos estereótipos e do processamento de informação social em geral. Dolores Morera Bello e Armando Rodríguez Pérez, da Universidade de La Laguna, Espanha, apresentam neste artigo um estudo experimental que investigou se a variabilidade categorial se armazena como informação abstrata ou se elabora a partir da recuperação de exemplares.
Tradicionalmente, entende-se que os conteúdos dos estereótipos são uma generalização de determinados atributos a todos os membros e uma categoria social. Porém, investigações recentes têm encontrado que as pessoas não são sensíveis apenas a tendência de homogeneização, mas também apreendem as diferenças entre os indivíduos de um mesmo grupo, dando lugar ao conceito de variabilidade percebida.
Os modelos de memória social assumem que os estereótipos consistem tanto em informações abstratas como em informações episódicas. As pessoas disporiam de informações estereotípicas que incluem informações descritivas e avaliativas sobre os membros de um grupo, e ao mesmo tempo, informações sobre a variabilidade entre eles.
Segundo os autores, não existe ainda um consenso sobre qual tipo de informação é utilizada preferencialmente. Os modelos baseados na abstração entendem que o que se armazena são representações cognitivas abstratas, que resumem o conhecimento sobre os grupos. Os juízos de variabilidade sobre uma categoria se elaboram automaticamente enquanto se processa a informação relativa aos membros de um grupo.
Os modelos baseados em exemplares consideram que a memória armazena certos episódios como unidades simples de informação, e que antes de avaliar uma categoria social, as pessoas recuperam os exemplares acessíveis, realizando inferências para dar conta das demandas do ambiente. O juízo de variabilidade só se elabora quando a tarefa em questão lhe requer, sendo preciso recuperar da memória a informação episódica da categoria.
Para investigar se o conhecimento da variabilidade categorial está armazenado como informação abstrata ou se dá a partir da recuperação de exemplares referentes à categoria, elaborou-se um experimento que utiliza três estratégias: determinar se o juízo de variabilidade de uma categoria social é estável ou se modifica com a apresentação de novos exemplares; comprovar se a latência de tempo do julgamento de variabilidade é similar a de um julgamento espontâneo e menor que a de um julgamento baseado na recuperação; por ultimo, determinar se o juízo de variabilidade é independente das condutas recordadas ou, pelo contrário, se existe uma relação entre ambos.
Participaram do experimento 48 estudantes de graduação em Psicologia, para o qual foram apresentados 24 estímulos que faziam referencia a condutas de eficácia e de ineficácia relativas a categoria “general de exercito”. Baseando-se em estudos anteriores com a mesma população desta pesquisa, sabia-se que o atributo “eficaz” é concebido como compartilhado por 75% dos membros da categoria “general de exercito”, sendo um atributo estereotípico, e, portanto, de baixa variabilidade. O desenho fatorial foi de 2×2, formando-se quatro grupos experimentais: condutas de variabilidade baixa e estereotípicas (75% eficaz/25% ineficaz); variabilidade baixa e contra-estereotípicas (25% eficaz/ 75% ineficaz); variabilidade alta e estereotípicas (55% eficaz/ 45% ineficaz); e variabilidade alta e contra-estereotípicas (45% eficaz/ 55% ineficaz). Os exemplos de condutas apresentadas referiam-se a um grupo específico de generais, identificados pelas iniciais.
Após a apresentação dos estímulos, pediu-se que os participantes respondessem uma escala com sete pontos (1=nada/7=muito). Três questões eram sobre a informação apresentada sobre o grupo estímulo: um julgamento automático (quanto são simpáticos), um julgamento de memória (o quanto são reflexivos) e um julgamento de variabilidade global (o quanto são parecidos um com os outros), tendo como objetivo avaliar se a latência do julgamento de variabilidade se aproximava mais de um julgamento automático ou de um julgamento recuperado. Estas questões foram novamente apresentadas, mas pedindo-se que os participantes pensassem na categoria “general” como um todo, ao invés dos exemplificados.
Posteriormente, se solicitou que os participantes avaliassem, atribuindo porcentagens, a variabilidade de 12 pares de atributos bipolares da categoria social dos generais, sendo três relacionadas com a informação apresentada (eficazes/ineficazes, eficientes/ineptos, competentes incompetentes) e os outros nove, não (rudes/corteses, honrados/desonestos, arrogantes/humildes), procurando se verificar o grau de similitude vs.variabilidade percebida, tanto em relação a categoria de forma global como em relação a diversos atributos. Por último, os participantes tinham que recordar o mais fielmente possível todas as condutas apresentadas, para se determinar se existe uma relação entre a variabilidade das condutas estímulo lembradas e a estimativa de variabilidade do grupo.
Os resultados encontrados mostraram que o julgamento de variabilidade permanece estável em todas as condições experimentais, levando-se a conclusão que existe uma crença prévia a cerca do nível da variabilidade da categoria social que não se altera, independente dos exemplares concretos apresentados. Porém, quanto à avaliação da variabilidade dos atributos discriminadamente, houve diferenças significativas. A apresentação de informações estereotípicas levam ao julgamento de menor variabilidade dos atributos do grupo, enquanto as informações contra-estereotípicas levam a uma avaliação de maior variabilidade destes atributos. A análise do tempo de latência da resposta das avaliações de simpatia, reflexividade e variabilidade chegou a conclusão que o tempo de resposta para a variabilidade percebida se aproxima da latência para a avaliação que utiliza a memória, e se distancia do julgamento automático.
A partir dos dados apresentados, o estudo conclui que não é possível afirmar que o juízo de variabilidade está baseado na recuperação de exemplares. Entretanto, a latência deste juízo não permite se afirmar que este ocorra automaticamente, sugerindo um modelo que assume a existência de informações sobre a variabilidade preexistentes na memória, e, portanto, certo nível de abstração, mas suscetível de revisões e modificações diante da informação contextual.

Referência: Morera, D. e Rodriguez Perez, A. Estereotipos y variabilidad categorial: contraste entre modelos de representación. Psicothema, 10, 3, 697-707, 1998

Resenha: Dizer não aos estereótipos sociais: As ironias do controle mental

Jamyle Reis

O artigo tem como objetivo apresentar uma ampla revisão teórica sobre os mecanismos de supressão dos estereótipos e dos contextos que resulta em efeitos não almejados. Começa abordando estereotipização como o conhecimento e as crenças que o individuo tem sobre um grupo social. Segue justificando o processo de estereotipização como um mecanismo que permite simplificar as informações do complexo mundo social. Para a autora é quase consenso acreditar que estamos propensos a pensar com o auxilio de categorias. A principal questão que o artigo busca responder é até que ponto é possível controlar a expressão do pensamento categorical.
O segundo tópico abordado é os mecanismos de controle mental que se caracteriza pela tentativa de controlar as respostas estereotípicas. A autora com base em Macrae e colaborares defende que a tentativa de inibir um pensamento pode contribuir para que ele se torne ainda mais acessível. Cita o modelo teórico de supressão desenvolvido por Wegner (1994, Wegner e Erber, 1992), em que primeiro ocorre um processo de monitorização de pensamentos que tem como meta a vigilância de qualquer pensamento a ser evitado. Ao mesmo tempo, começa um segundo processo operativo cuja meta principal é a reorientação da consciência para repelir o pensamento indesejado e focar sua atenção num pensamento de distração. Entretanto o individuo pode falhar nesse processo caso haja pressões do contexto, distração e se não houver recursos cognitivos e motivação para suprimir os estereótipos, de modo que este processo não apenas falhe, mas também ocorra seu oposto. Esse oposto é o efeito irônico de Ricochete (ERE).
O terceiro tópico refere-se às conseqüências irônicas da supressão dos estereótipos, é citado três experimento relatados por Macrae et al (1994a) em que apresenta um aumento na acessibilidade e de dependência dos estereótipos após a tentativa de inibição de estereótipos de skinhead. Nestes experimentos, num primeiro momento os participantes desempenham uma tarefa em que metade dos participantes tinha que suprimir o estereótipo e a outra metade não recebeu nenhuma instrução para suprimir o estereótipo. No experimento 1, na tarefa subseqüente, os participantes de ambos grupos tiveram como instrução escrever um segundo parágrafo sobre outro skinhead, sem que fosse dada qualquer instrução de supressão. Os resultados demonstraram que participantes que tiveram instrução de suprimir na primeira tarefa tiveram um ERE na segunda tarefa, em relação aos participantes que não tiveram essa instrução. No experimento 2, verificou-se que participantes que tiveram a instrução de supressão sentaram-se mais afastados de uma cadeira que seria supostamente ocupada por skinhead do que os que não tiveram a instrução. No experimento 3, ficou evidenciado que o que o estereótipo fica mais acessível após tentativas de inibição. Achado de Macrae et al.(1998) aponta que um elevado self focus (atenção dirigida) está ligado a tentativa de inibição da utilização de estereótipos. Isso ocorre possivelmente devido à atenção auto-dirigida que aumenta a saliência de crenças pessoais que sugerem que estereotipização não é adequada. No que se refere à memória, a tentativa de supressão pode levar a uma maior acessibilidade e melhor memória para esses pensamentos.
O quarto tópico por um lado apresenta uma serie de influencias que podem moderar o impacto da ERE após a supressão de estereótipos, por outro lado aponta que a inibição de estereótipo pode não resultar na ERE. Entre os fatores de moderação da ERE, a influência do nível de preconceito em que a atitude pessoal frente à esterotipização após a supressão é considerado fator mais importante. Questiona que estereótipo está para ser suprimido. Uma vez que o alvo é um importante aspecto para supressão. Outro questionamento é até que ponto o estereótipo é ativado. Visto que a ativação de estereótipo em indivíduos com baixo nível de preconceito, pode não acontecer. A prática de supressão do estereótipo ocorre de maneira diferente em individuo com baixo e alto nível de preconceito, no primeiro caso essas pessoas são altamente motivadas a suprimir preconceito, devido suas crenças igualitárias. No segundo caso, os indivíduos são motivados a suprimir estereótipos devido a pressões externas.
Entre as estratégias alternativas para supressão de estereótipos é apontado o papel de pensamentos substitutos em que os pensamentos estereótipos podem ser substituídos por crenças igualitárias. Outra estratégia é a individuação do alvo e construir impressões com base nestas informações. Além disso, um aspecto importante de ser mencionado na regulação da vida mental é os objetivos do processamento do individuo. Aqueles que têm como objetivo não estereotipizar, ao invés de suprimir, pode adotar como estratégia pensar de forma igualitária.
Por fim, investigações recentes sobre controle de pensamento consideram que tentar suprimir os pensamentos, crenças e desejos podem ser uma perda de tempo. Expulsos da mente, essas cognições podem retornar, ainda mais forte. Demonstrações do efeito ricochete dos estereótipos apontam que a supressão pode ser uma estratégia ineficaz de controle mental. A literatura também indica que as tentativas de inibir o estereótipo não são igualmente prejudiciais em todos os casos. Devido os inúmeros fatores envolvidos na supressão dos estereótipos é preciso que investigações futuras dediquem-se a estratégias alternativas de controle mental e as compare em termos de eficácia e efeitos negativos.

Fonte: Bernardes, D. Dizer não aos estereótipos sociais: as ironias do controlo mental. Análise Psicológica. 21,3, 307-321, 2003

Resenha: Sexismo hostil e benevolente: inter-relações e diferenças de gênero

Aline Campos

A autora investiga a teoria do sexismo hostil e benevolente desenvolvida por Glick e Fiske (1996), e de que modo os homens e mulheres endossam esta ideologia. Ela pesquisou como o sexismo ambivalente se manifesta em uma amostra brasileira, submetendo 540 estudantes universitários brasileiros ao Inventário de Sexismo Ambivalente, criado pelos mesmos autores.
A autora apresenta o tema do preconceito, em suas manifestações declaradas ou sutis. Inicia com a definição de preconceito lançada por Allport em 1954: o preconceito é uma hostilidade ou antipatia dirigida a grupos ou membros destes grupos, devido a generalizações incorretas.
Afirma que atualmente o preconceito é visto como uma atitude negativa dirigida a membros de determinados grupos sociais, devido à sua pertença a estes grupos (Smith e Mackie, 1995). Como atitude, o preconceito tem três componentes: o cognitivo, manifestado pela presença dos estereótipos; o afetivo, que é o preconceito em si; e o comportamental, resultando em atos discriminatórios (Fiske, 1998).
O sexismo, preconceito relativo às diferenças entre os sexos, desfavorece as mulheres, em função de sua condição de gênero (Lips, 1993). Este pode ser institucional (por exemplo, através de uma política salarial que prejudica as mulheres) ou interpessoal (por exemplo, a presença de atitudes negativas dirigidas às mulheres).
As teorias feministas explicam o sexismo como derivado da cultura patriarcal, na qual os homens têm a primazia do grupo dominante e controlam o espaço público, enquanto as mulheres são responsáveis pelo privado, e pela reprodução dos valores patriarcais na família.
O sexismo é um instrumento para garantir as desigualdades de gênero, e promove atitudes de desvalorização da mulher através da socialização. Cria representações das mulheres como dóceis, passivas e submissas, e dos homens como fortes e responsáveis.
Mais recentemente, atitudes sexistas tradicionais vêm sendo substituídas por novas formas, indiretas ou simbólicas. O sexismo antigo sugere, por exemplo, estereótipos sobre menor competência feminina; já o moderno nega que ainda exista a discriminação contra as mulheres, e antagoniza sua luta por uma maior inserção social e apoio governamental. O sexismo moderno também incentiva sentimentos negativos em relação às mulheres, só que de forma mais encoberta.
Glick e Fiske (1996) contribuíram ao estudo das novas formas de sexismo, desenvolvendo a teoria do sexismo ambivalente, segundo a qual o sexismo se manifesta através de duas atitudes: hostil e benevolente. O sexismo hostil apresenta uma antipatia explícita contra as mulheres, enquanto o sexismo benevolente exalta um combinado de sentimentos e condutas positivas em relação à mulher – tais como, “o homem não pode viver sem as mulheres”.
A visão benevolente, apesar de atestar aspectos positivos do feminino, reforça o preconceito, pois mantém a visão de que a mulher é frágil, dependente do homem, e naturalmente talentosa para o cuidado. A mulher é vista de forma romântica, e isto discrimina contra mulheres que não cabem neste padrão idealizado, como as feministas.
O sexismo hostil e o benevolente incluem de três componentes, estes também sujeitos à ambivalência. O primeiro componente é o paternalismo, que se manifesta de forma hostil através da dominação, e de forma benevolente através da proteção às mulheres. O segundo é a diferenciação entre os sexos, que se manifesta de forma hostil pela competitividade, e de forma benevolente pela noção de complementaridade. O terceiro é a heterossexualidade, que se manifesta negativamente pela hostilidade entre os sexos, e positivamente pela intimidade (Fiske e Glick, 1995).
No presente estudo, a autora investigava a aplicação do Inventário de Glick e Fiske em uma amostra brasileira. Este inventário consiste em 22 afirmativas, com opções de resposta Likert de seis pontos, e é considerado como fidedigno e válido. Para medir o sexismo hostil, aparecem frases como “quando uma mulher conquista um homem ela costuma mantê-lo sobre rédea curta”; “muitas mulheres, com a desculpa de buscarem igualdade, estão é querendo favores especiais”; e “as mulheres querem obter poder para exercer controle sobre os homens”. Na avaliação do sexismo benevolente, aparecem itens como: “as mulheres devem ser amadas e protegidas pelos homens”; “num desastre, as mulheres devem ser salvas antes dos homens”; e “uma boa mulher deve ser colocada num pedestal pelo seu homem”.
Os resultados do estudo brasileiro confirmaram aqueles apresentados em outros países: o sexismo hostil e o benevolente são construtos independentes, porém correlacionados positivamente. Homens apresentaram escores significantemente mais altos do que as mulheres na escala de sexismo hostil, e na escala de sexismo benevolente não se diferenciam das mesmas. Ou seja, as mulheres tendem a refutar o sexismo hostil e endossar o sexismo benevolente.
As mulheres provavelmente dão suporte ao sexismo benevolente por se sentirem protegidas e recompensadas por este. Porém, o sexismo benevolente é subsidiado pela mesma ideologia que sustenta o sexismo hostil, o patriarcalismo, um sistema que fomenta a desigualdade entre os sexos e a supremacia masculina. Numa proposta aparentemente benevolente, as mulheres são apresentadas como frágeis e necessitadas da proteção, admiração e afeto masculinos.
Sendo assim, endossar o sexismo benevolente preserva os valores patriarcais que limitam as oportunidades das mulheres, e acaba validando o sexismo hostil.

Fonte: Ferreira, M. C. (2004). Sexismo hostil e benevolente: inter-relações e diferenças de gênero. Temas em Psicologia da SBP, Vol.12, no 21, 119-126.