Resenha – Desvendando mitos: os computadores e o desempenho no sistema escolar

Jonatan Santana Batista

Os temas tecnologia da informação e educação usualmente costumam ser associados e em duas décadas, poucos puderam ousar a colocar tal crença em dúvida. Os autores ao realizarem um estudo com crianças predominantemente de 4° e 8° série do ensino fundamental, engendram uma forma de pesquisar a relação entre informática e rendimento escolar, primeiro tentando definir os dois fenômenos, e em seguida estabelecendo o contexto no qual as relações entre estes ficam situadas. Através deste estudo, os autores colocam mais interrogações nesta questão; É correto o fomento de novas políticas públicas de educação voltadas para a inserção tecnológica especialmente no que tange a informática? Este investimento tem repercutido em melhoria no desempenho dos alunos? Segundo os autores, embora simples, estas perguntas não vem recebendo devida atenção, carecendo de mais cuidado.
De início os autores sustentam que embora o objetivo da escola seja a integração, de modo a igualar o acesso as oportunidades, na prática à instituição escolar tem refletido as desigualdades, e o Estado ao tentar reduzir tal efeito, a partir do final do século 20, começou a investir de forma massiva em informática, no que se refere a partir das Leis de Diretrizes (LDB). Tal lei precisou a informatização nas escolas públicas no intuito de preparar os estudantes para uma dinâmica emergente e já presente nos países industrializados. A constante mudança tecnológica e os impactos destes não deveriam de forma alguma passar despercebidos pelos estudantes. Aliado a este propósito, o Mapa da Exclusão Digital, fomento da Fundação Getúlio Vargas (2003), afirma uma melhoria no desempenho escolar de alunos que possuem acesso à internet. O Mapa da Exclusão digital fora utilizado para mapear os locais onde se faria obrigatória à inclusão digital, enquanto dados do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (surgiu em 1990, consistia em uma prova a ser aplicada em todos os estados), fornece uma conclusão que serviu de apoio as políticas governamentais: investir em computadores e internet para melhorar a qualidade de ensino.
De acordo com a revisão bibliográfica internacional feita pelos autores, há uma ênfase sobre o papel positivo da tecnologia nos diversos âmbitos, inclusive sobre seus impactos na juventude. Mas, ao compilar os artigos que tratam está temática, percebe-se que as conclusões que defendem esta máxima praticamente inquestionável, carecem de dados concretos (sem contar a existência de artigos na mesma condição, mas que afirmam o contrário), não sendo nada além de dados específicos resultante de estudos segmentados, em disciplinas específicas, que sendo generalizadas transpõem a imagem em foco abrangente de um progresso educacional proporcional à inserção tecnológica. O que no Brasil, dados do SAEB expuseram uma intrigante conclusão: dentre todos os fatores de impacto estatisticamente significantes, o único não contemplado é o uso do computador em classe. Outros estudos feitos com alunos da 4° e 8° série, confirmam que o uso do computador foi positivo para as ultimas, mas não para as primeiras. Um estudo feito nos EUA comprovou que o uso de ferramentas virtuais, não gerou melhora na produtividade dos estudantes, mas sim da estilização da apresentação dos trabalhos, não influindo de forma alguma no conteúdo destes.
Os autores ressaltam que mesmo que existam estudos que comprovem que nem sempre a inserção tecnológica está associada ao ganho, mas muitas vezes, tem contribuído para a redução no desempenho (Dwyer, 1997), o uso de tecnologias da informação tem servido de base para altas expectativas em torno do consumo. Como explicar a permanência desta crença? Os autores sugerem que a educação pode ser vista de duas formas: através dos dados objetivos ou através de uma perspectiva ideológica, esta ultima baseada numa visão de mundo que reflete as expectativas referindo-se ao uso de informática nas escolas. Visando se voltar à primeira forma e reduzir os impactos da segunda, foram criados e padronizados testes, dentre os quais o SAEB se constitui exemplo.
As pesquisas do SAEB tentam de um lado, mostrar as influências do neoliberalismo, e por outro focar-se apenas nos dados obtidos, buscando fotografar o ensino básico. Os autores sustentam que uma ênfase predominante no segundo foco, tende a desconsiderar que os dados e suas interpretações podem confirmar ou contestar uma ideologia. Como exemplo, ressaltam o Mapa da Inclusão Digital (FGV, 2003), construído a partir de um estudo feito com alunos da 4° série evidenciando que alunos ao possuírem computadores em suas residências, demonstram melhor desempenho em matemática. O que se torna visível para os autores neste argumento é a ocultação do fato de que a classe social de cada aluno interferia diretamente neste “desempenho”.
A análise dos dados do SAEB demonstra que usar o computador raramente é associado a um melhor desempenho escolar; a literatura internacional também parece ir em direção contrária à evidência de que o computador é um total benefício para os estudantes do ensino fundamental e médio, o que contrasta com a crença da maioria das pessoas; tal crença, não sendo sustentada através dos estudos científicos, passa a ser mantida ideologicamente através de um discurso político, direcionado as politicas públicas. Os autores concluem que: se o uso do computador no cotidiano dos estudantes não resulta em ganho geral de desempenho e produtividade, não será a ausência do uso do mesmo, a solução. Os autores sustentam que estudos corroboram a tese de que a ausência de uso do computador além de não gerar ganho específico em disciplina alguma, resulta em pior desempenho geral do que aqueles que pouco o utilizam. Seria então sensato sugerir o uso moderado do computador, mas caberia a tarefa de definir o que seria “uso moderado” nos dias atuais, o que não é colocado como foco de estudo pelos autores, mas, é necessário para gerar reflexão acerca do uso do computador no cotidiano. Sobre isto, recentemente uma matéria do site UNIVERSIA.COM abordou o mesmo tema, ressaltando um estudo feito pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), alegando o uso de tecnologia em sala de aula como necessário para aumentar o rendimento dos alunos. No entanto, como fora ressaltado no início deste texto, grande parte dos estudos que confirmam tal máxima, referem-se a habilidades específicas, que neste caso, referia-se a matemática e a física. Mas na divulgação do trabalho, apresentava a tecnologia em classe como critério para melhoria do desenvolvimento geral dos discentes. Este dado é importante para que o leitor atento perceba o papel que a escrita e a divulgação tem, tornando-se nestes casos capaz de afirmar o que esta além do escopo dos dados obtidos.

Referência: Dwyer, T., Wainer, J., Dutra, R., Covic, A., Magalhães, V. Ferreira, L., Pimenta, V. e Kleucio, C. Desvendando mitos: os computadores e o desempenho no sistema escolar. Educação & Sociedade, 28, 101, 1303-1328, 2007.

Resenha – Investigações psicológicas no ciberespaço: O impacto do interesse, filiação grupal e conhecimento na adesão às crenças ufológicas.

Graciara Oliveira Silva

Nesse estudo, os autores apresentam uma breve introdução sobre o sistema de crenças, explicando que umas podem ser mais justificadas e, por isso, mais endossadas do que outras. Isso acontece quando a decisão de crer ou não crer é objeto de uma reflexão e crítica aprofundadas, diferente das crenças constitutivas do sujeito que crê, uma vez que a justificação não é tão importante.
Para adentrar nas crenças ufológicas, os autores pontuaram que a princípio nós não duvidamos que somos seres humanos com atributos que nos identificam como tal e diferenciam-nos dos demais seres vivos que se evoluíram no planeta Terra. Nessa perspectiva evolucionista que nos afasta do criacionismo, e também do antropocentrismo, os autores refletem:

Ao mesmo tempo em que temos certeza de que pertencemos a uma espécie que se desenvolveu no planeta Terra, consideramos como justificada a crença que o nosso pequeno planeta ocupa uma posição quase irrisória face à imensidão do universo. Seríamos, então, os únicos entes pensantes nesse imenso universo ou seria mais sensato supor que talvez em uns poucos dentre os milhões de astros celestes tivessem surgido formas de vida e civilizações diferentes das modalidades que conhecemos? (Pereira; Silva; Silva, 2006, p.376).

Nesse sentido, os autores afirmam que as crenças sobre a existência de extraterrestres e civilizações em outros planetas são plausíveis, porém, duvidosas por causa da falta de comprovação, visto que elas são justificadas por “argumentos construídos com base em evidências sobre a presença de objetos voadores não-identificados” (Idem, p.376). Em seguida, refletem mais:

As crenças se referem a entes reais ou elas fazem alusões apenas a potencialidades derivadas dos arrazoados desenvolvidos por mentes humanas? O que possibilita tantas pessoas acreditarem que tais seres existam, que são mais civilizados e nos visitam com freqüência? Por outro lado, como duvidar de que não somos únicos no universo, sem acreditar que eles se encontram entre nós? (Idem, p.376).

Segundo os autores, a justificação para as crenças ufológicas são construídas a partir de observações por meio de registros visuais e audiovisuais dos discos voadores. Por isso, o objetivo desse estudo foi o de “investigar as crenças a respeito de dois entes: extraterrestres e objetos voadores não-identificados” (Idem, p. 376)
Os autores afirmam que as crenças são sustentadas e compartilhadas muito mais pelo “endossamento subjetivo” do que pelo “estatuto epistemológico”e, por isso, a adesão ou o endosso geram repercussões em vários segmentos.
Nessa perspectiva de crenças compartilhadas, os autores optaram por ampliar o número de participantes da pesquisa para a coleta de dados através da internet. Eles defendem que há uma tendência cada vez mais fortalecida de pesquisas reais em ambientes virtuais. Destaco que muitos estudiosos questionam essa divisão entre o real e o virtual, e o conceito de virtualização do pensador francês Pierre Lévy em sua obra O Que é o Virtual (1996), promovendo uma abertura ainda maior para a práticas de tais pesquisas.
A partir do problema de pesquisa de “identificar as diferenças nos padrões de crenças compartilhadas por pessoas envolvidas ou não com grupos de pesquisas ufológicas sobre temas relacionados com a presença de extraterrestres e de objetos voadores não-identificados” (Idem, p.376), os autores conceituaram de uma forma geral as crenças, pontuaram sua importância na psicologia social e apresentaram suas hipóteses.
A primeira hipótese foi a de que o nível de conhecimento sobre os eventos ufológicos seria diretamente proporcional à adesão à crença. Em seguida, apresentaram hipóteses adicionais que desdobraram nas seguintes variáveis: interesse pelo assunto e filiação em grupos de estudo e pesquisa ufológica.
Em resumo, o instrumento de pesquisa utilizado abordou as seguintes categorias: 1) crenças sobre os extraterrestres e a humanidade; 2) crenças sobre as interferências dos extraterrestres no planeta Terra; 3) crenças sobre as relações entre extraterrestres e humanos; 4) crenças sobre os extraterrestres, a ciência e os cientistas; 5) crenças sobre os extraterrestres e as teorias conspiratórias. Segundo os autores, uma interpretação geral dos resultados sugere que:

[…] dentre as cinco modalidades de crenças consideradas, as relativas aos extraterrestres e a humanidade obtiveram um maior grau de adesão, seguida pelas crenças relativas aos extraterrestres, a ciência e aos cientistas. As crenças a respeito das interferências dos extraterrestres no planeta Terra obtiveram um baixo grau de adesão. Os resultados também sugerem que, globalmente, os participantes não aderem ou rejeitam as suposições relativas às teorias conspiratórias ou às crenças acerca das relações entre extraterrestres e humanos (Idem, p. 379).

Os resultados desse estudo apresentaram padrões diferenciados de adesão às crenças. Foi verificado que a primeira hipótese era verdadeira. Porém, “o interesse pelo assunto e, em menor grau, a filiação aos grupos de pesquisa ufológicos, exerceram uma influência mais significativa na adesão às crenças ufológicas que o grau de conhecimento” (Idem, p. 383). Por fim, concluiram que os resultados desse estudo apontam para a possibilidade de “desenvolver modelos preditivos a respeito do grau de adesão às crenças ufológicas” (Idem, p.383) e de continuação em outro estudo.

Pereira, M. E. ; Silva, J. e Silva, P. Investigações psicológicas no ciberespaço: O impacto do interesse, filiação grupal e conhecimento na adesão às crenças ufológicas. Interação (Curitiba), 10, 375-384, 2006.

Resenha: Representação Social e Estereótipo: A Zona Muda das Representações Sociais.

chamada

Poliana Neres Costa

O texto apresentado é um artigo científico que aborda a temática das representações sociais e estereótipos em um contexto específico que é a universidade de Aix-en-Provence, localizada em Provence na França.
A autora inicia o artigo apontando uma dificuldade nos dados encontrados em pesquisas sobre representações sociais. Este problema é questionado, também, por outros investigadores, como Abric e outros. Assim a autora insere o termo de “zona muda” que surgem das representações disfarçadas por certos elementos em determinadas situações, ou seja, em determinados contextos e momentos existe uma “zona muda” composta por certos elementos da representação que não são verbalizados pelos indivíduos. Estes elementos relacionam-se com os valores, normas e crenças sociais que acabam influenciando na expressão das representações. E mesmo que estes elementos façam parte de representações centrais eles são omitidos para evitar conflitos morais ou que desviem da norma social.
Desta forma, objetivando-se conseguir revelar os elementos da “zona muda” de representação Menin (2006) destaca que é necessário elaborar métodos específicos de verificação. E para tal é preciso amenizar a pressão normativa sobre o sujeito que representa. Para alcançar este propósito a autora expõe duas técnicas: uma de substituição que “visa reduzir a pressão normativa, reduzindo o nível de implicação pessoal do sujeito com relação à representação do objeto”, ou seja, o participante responde como se estivesse falando por outra pessoa que seja de seu grupo de referência; e a outra técnica é a de descontextualização normativa que “visa reduzir a pressão normativa colocando o sujeito num contexto mais distante de seu próprio grupo de referência”.
Menin (2006) apresenta algumas pesquisas realizadas pela Escola de Aix sobre as “zonas mudas” das representações. E ressalta, apoiando em alguns outros pesquisadores, aspectos sobre o núcleo central das representações e sua estabilidade. Além disso, realiza um ensaio ao trabalhar com os estudos de diversos autores sobre a temática da “zona muda das representações”.
Das pesquisas realizadas concluiu-se que os dados obtidos eram quase, totalmente, reflexos complexos dos modelos normativos pertinentes para o objeto de representação. Diante disso, a autora coloca que as técnicas de substituição e descontextualização já tinham sido utilizadas em outros contextos externos aos da representação, no entanto foi usada pela primeira vez na pesquisa em representações sociais por Deschamps e Guimelli (2000).
A autora apresenta também pesquisas relacionadas com outros temas como estereótipos e preconceito, visando compreender se a ativação de estereótipos e o preconceito em situações distintas de investigação (usando a técnica de substituição e a técnica de descontextualização normativa) influenciam na “zona muda” de representação. Para tal desígnio foram usados grupos considerados alvos do racismo e estereótipos como os maghrebinos, os ciganos e os muçulmanos. Destas pesquisas ultimou-se que as representações sociais apresentam certa plasticidade e variabilidade a depender de que posição da qual se fala e para quem se fala.
Menin (2006) expõe as hipóteses da “zona muda”, destacada por outros autores como, por exemplo, Guimelli e Deschamps (2000), Abric (2003), Deschamps e Guimelli (2004), em que as respostas dos sujeitos se adequariam as normas sociais ao temerem ser “mal vistos” pelos seus grupos de referência, outra hipótese seria a da “transparência das representações” em que um sujeito falaria de um grupo por meio de conhecimentos, de um mesmo objeto, adquiridos através das representações e estereótipos dos membros do outro grupo. Uma outra hipótese é a da influência social efetivada por meio de relações de interdependência e de trocas de informações (a partir de crenças, opiniões, atitudes e guias de comportamento) entre diversas entidades sociais.
Finalizando a autora traz um questionamento, considerado um problema de investigação no campo da psicologia, associado com as “zonas muda das representações” que consisti em “até que ponto o que as pessoas respondem nos questionários correspondem ao que realmente pensam?” sendo que os discursos se alteram a depender de para quem os sujeitos falam e a partir de quem fala, se por si ou por outros.
Desta forma, Menin (2006) destaca a relevância e presença das normas sociais frequente nas representações podendo surtir alterações ao orientar que representação seria mais adequada, produzindo até mesmo modificações centrais.
Assim o modo como a coleta de dados é feita interfere nas representações obtidas. Diante disso a autora sugere o uso de técnicas mais qualitativas de investigação como entrevistas e observação de práticas, fundamentadas na concepção de Jodelet (2003). Desta forma, Schulze e Camargo (2000) em um artigo sobre psicologia social, representações sociais e seus métodos afirmam que “deve-se considerar o nível de complexidade dos fenômenos investigados pela teoria das representações sociais” de modo que, conforme exposto por Jodelet (1989) (citada em Schulze & Camargo, 2000) as escolhas metodológicas deve apresentar-se em consonância com as situações em que as representações surgem e funcionam.

 

Referência: Menin, M. S. S.; (2006). Representação Social e Estereótipo: A Zona Muda das Representações Sociais. Psicologia: Teoria e PesquisaJan-Abr 2006, Vol. 22 n. 1, pp. 043-052.

 

Notícia do dia: sob máscaras, engraxates de La Paz lutam contra a discriminação

Fonte:http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5530922-EI8140,00-Sob+mascaras+engraxates+de+La+Paz+lutam+contra+a+discriminacao.html

A Herança Obscura, estereótipos e preconceitos, a Saga

Resenha: A imagem das enfermeiras frente aos estereótipos: uma revisão bibliográfica

Cecília Spínla


As autoras iniciam o texto explicitando a relevância dos profissionais de enfermagem manterem uma comunicação eficiente com os pacientes, mas revela que esta é dificultada pelo estereótipo da profissão que faz com que os pacientes possuam preconceitos com os profissionais.

As autoras afirmam que a profissão sofre estereótipo com relação ao gênero e explica que este sofre contribuição da tradição judaico-cristã que define uma dominação do homem sobre a mulher. Corrobora com este fato o papel da mulher na idade Média que era responsável por atividades de menor complexidade. Nesta ocasião o cuidar médico era reservado aos homens e ás mulheres restava o cuidado e a manutenção da higiene dos doentes e da ordem do ambiente, trabalho considerado sujo para os médicos que na sua maioria eram de famílias abastadas.

O texto identifica também o preconceito social que reserva aos profissionais da área o estigma de indivíduos que não tiveram uma melhor oportunidade de formação profissional.

Segundo o texto, o trabalho de enfermagem foi por muito tempo desenvolvido por mulheres religiosas que se dedicavam aos doentes, realidade que durou até o início do século XVI, quando ocorreu a revolta Luterana e a ascenção do anglicanismo.

Com a queda do catolicismo e a expulsão das religiosas dos hospitais, a Enfermagem, sem mão-de-obra qualificada, passou a ser exercida por mulheres de moral duvidosa que eram submetidas a péssimas condições de trabalho.

É neste cenário que se constrói a imagem da profissão. Doentes que preferem tratar-se em casa para não sofrerem maus tratos, comerem péssimas comidas ou terem que ceder a suborno por parte dos “profissionais” de Enfermagem.

Outro estereótipos relacionando a profissão diz respeito a desvalorização do serviço prestado e a visão da enfermagem como mão de obra barata. Essa visão, segundo Padilha (1998) advém da prática da Enfermagem no Brasil por religiosas, criando o entendimento de que esta prática deveria ser prestados apenas pelo amor de Deus e que a remuneração a esses serviços constituiria-se em ato impuro e mercenário.

É discutido pelas autoras também o papel da mídia na formação da imagem do profissional de Enfermagem. Para as autoras este veículo dissemina a idéia da Enfermeira como símbolo sexual, prejudicando ainda mais a desmistificação desses falsos conceitos perante a da sociedade.

Encontramos também no texto uma reflexão sobre o estereótipo de submissão no âmbito de valor da profissão da Enfermagem com relação a Medicina, o que advém de uma tradição militar que prezava pelo treinamento da enfermeira para agir com fiel observância às ordens médica e atenta ás relações de autoridade.

Com os dados acima apresentados podemos entender o preconceito que sofre a profissão de enfermagem e compreender o porque das autoras do texto trazerem neste artigo a preocupação com a capacidade de escuta e confiança do paciente/doente com esses profissionais. Tendo em vista que as relações estabelecidas sofrem influência de todos os estereótipos acima citados, que são muitas vezes reforçados pela nossa sociedade atual, é esperado que estes profissionais sofram o estigma de inferiores e menos competentes e com isso encontrem dificuldade de ascender profissional e socialmente.

Reforçando esses preconceitos, a nossa sociedade atual tende a reconhecer no médico o único profissional capaz de atender integralmente no âmbito da saúde, ficando todos os demais profissionais a cargo de implementar as ações descritas. Exemplo claro temos na Lei do Ato Médico que busca legitimar a soberania deste profissional em detrimento às outras profissões da área de saúde.

Perde-se com isso a noção da relevância do serviço de enfermagem, que atua no ambiente hospitalar cuidando da evolução dos pacientes, supervisionando e controlando rotinas e suportando os serviços médicos e multidisciplinares dispensados aos pacientes.

As autoras concluem que o combate a este preconceito formado sobre a profissão de Enfermagem pode ser feito primeiramente através da identificação e conhecimento destes na população e posteriormente com a criação de estratégias de enfrentamento e divulgação da verdadeira profissão, revertendo assim ao profissional, a valorização da sociedade pelo
seu trabalho.

Referência: Santos, C. e Luchesi, L. A imagem das enfermeiras frente aos estereótipos: uma revisão bibliográfica.Proceedings of the Brazilian Nursing Communication Symposium, 2002, São Paulo, Brasil

Resenha: Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica

chamada

Cecília Spínla

As autoras iniciam o texto incentivando uma reflexão sobre estereótipos e trazem alguns conceitos que clarificam o tema para os leitores. Entendido por Ayesteran e Pãez (1987) como “uma representação social sobre os traços típicos de um grupo, categoria ou classe social”, atualmente os estereótipos mais estudados são os étnicos, sendo também muito presente em nosso convívio social os estereótipos de gênero, profissão, classe social e o de ciclo de vida, objeto deste artigo.

As autoras alertam para a complexidade da literatura sobre o tema já que se trata de um “conceito multiunívoco – constructo categorial, generalizador, estável e definidor de um grupo social”.

No caso dos idosos, preconceito oriundo do ciclo de vida do indivíduo, a autora defende que este se caracteriza como uma representação social da gerontofobia, que se define como o “processo de estereotipia e de discriminação sistemática, contra as pessoas porque são velhas” (Staab e Hodges, 1998).

Neste processo se associam ao idoso conceitos e traços negativos associados à incapacidade, fraqueza e inutilidade, percepções pejorativas do fenômeno de envelhecer.

Vale ressaltar que o estereótipo sofre influência direta do contexto cultural em que está inserido, e na nossa atual sociedade vemos reforçado a visão da “velhice como uma doença incurável, como um declínio inevitável, que está votado ao fracasso”.

As autoras apresentam no artigo um estudo realizado na Université de Montreal por Champagne e Frennet que identifica catorze estereótipos mais frequentes em idosos, são eles:

* Os idosos não são sociáveis e não gostam de se reunir;
* Divertem-se e gostam de rir;
* Temem o futuro;
* Gostam de jogar às cartas e outros jogos;
* Gostam de conversar e contar as suas recordações;
* Gostam do apoio dos filhos;
* São pessoas doentes que tomam muita medicação;
* Fazem raciocínios senis;
* Não se preocupam com a sua aparência;
* São muito religiosos e praticantes;
* São muito sensíveis e inseguros;
* Não se interessam pela sexualidade;
* São frágeis para fazer exercício físico;
* São na grande maioria pobres.

A análise da pesquisa chama a atenção para a confusão de conceitos existentes que faz com que os pesquisados destaquem como características da velhice traços de personalidade e fatores socioeconômicos ao invés de características específicas do envelhecimento.

A partir deste ponto podemos refletir sobre a possível existência de mitos sobre o envelhecimento que impedem o estabelecimento de contatos e conhecimento verdadeiros sobre os idosos.

E com base nessa análise a autora conclui o artigo alertando aos leitores a necessidade de atentarmos para os mitos e estereótipos criados sobre a velhice, pois eles estão muitas vezes ligados ao desconhecimento do processo de envelhecimento mas mesmo assim geram enorme sofrimento nos idosos e influenciam fortemente na nossa interação com os idosos.

Referência: Martins, R. M. e Rodrigues, M. L. Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica. Millenium. Revista do ISPV, 29, 249-254, 2004

O homem que via

Fonte: http://kimjongillookingatthings.tumblr.com/

Meu nome é Khan!

Contribuição: Wilma Ribeiro
Professora do Curso de Psicologia
Faculdade Adventista da Bahia

Meu nome é Khan! Um filme interessante para se analisar os estereótipos e o preconceito étnico. Trata-se da história de Khan (Shahrukh Khan- mesmo sobrenome na vida real), portador da síndrome de Asperger, que quando criança aprende de sua mãe muçulmana que a única diferença que existe entre seres humanos é entre bons e maus. Ao tornar-se adulto vai morar em São Francisco – EUA, casa-se com uma hindu e após o ataque às torres gêmeas – 11 de setembro de 2001 – a sua vida muda completamente. A xenofobia contra muçulmanos acaba tornando a dinâmica social e psicológica da família de Khan insuportável. A jornada de Khan que é apresentada no filme trata-se de sua tentativa de provar que não é um terrorista. Recomendo!

Resenha: Aparência física e amizade íntima na adolescência: Estudo num contexto pré-universitário

Apohena Noroya

O artigo se configura como uma pesquisa que aborda a associação entre a percepção sobre a aparência física e a amizade intima, considerando-os como um fator de importante valor preditivo no desenvolvimento psicossocial de adolescentes. Na introdução o autor caracteriza intimidade como uma relação emocional marcada pela concessão mútua de bem-estar, pelo consentimento explicito para revelação dos assuntos privados, podendo envolver a esfera dos sentidos e pela partilha de interesses e atividades em comum, favorecendo o crescimento e a auto-revelação do adolescente.
Segundo o autor, alguns estudos estabelecem que o conceito de intimidade/amizade intima na adolescência e pré-adolescência, pode ser estruturado em oito dimensões: sinceridade e espontaneidade; sensibilidade e conhecimento; vinculação; exclusividade; dádiva e partilha; imposição;atividades comuns; confiança e lealdade. Sendo que a intimidade deve ser avaliada numa esfera dual, onde se conhece a si mesmo e ao outro ao mesmo tempo. O conceito de intimidade corporal passa primeiro pela percepção que se tem de si próprio, o auto-conceito, que pode ser positivo ou negativo e a depender de como os adolescentes vêem o próprio corpo isso vai ser determinante para sua relação com o outro, pois o corpo físico e aparência são o meio por excelência de acesso ao mundo e a toda experiência de vida.
Na adolescência emergem as verdadeiras relações de amizade baseadas na intimidade e o favorecimento de novas formas protegidas de intimidade através das redes sociais da internet favorece a propagação da amizade entre eles. Junto a outros adolescentes eles se sentem mais seguros para compartilhar interesse, valores, credos atitudes sem o medo de se sentirem julgados. Outro aspecto que o autor destaca como determinante nas mudanças dos relacionamentos íntimos entre adolescentes são os aspectos da puberdade e as transformações dos impulsos sexuais.
O auto-reconhecimento, o ser reconhecido pelo outro, construir, partilhar relações de intimidade e interagir socialmente constitui-se como um exercício de equilíbrio para o adolescente e as falhas deste equilíbrio podem determinar falhas na construção da identidade e isolamento social no futuro. Existem ainda segundo o autor, diferenças de gênero na forma pela qual meninas e meninos lidam com estas experiências, ocorrendo segundo alguns autores uma maior destreza entre as meninas no estabelecimento de relações com base na intimidade e no entendimento interpessoal.
Para analisar a relação entre a percepção sobre a aparência física e as relações de amizade intima na adolescência, o autor optou por realizar uma pesquisa com alunos pré-universitários de duas Escolas Secundárias de Portugal entre alunos do sexo feminino e masculino. Foi utilizado um questionário contendo as: Escala de Amizade Intima, Escala de Percepção de Auto-conceito(adaptada para a população portuguesa) e Notação Social Familiar – Graffar Adaptado que investiga o nível socioeconômico, além de dados de identificação sobre os adolescentes.
Os resultados mostraram diferenças entre gêneros onde os valores de amizade intima são mais elevados no sexo feminino e os valores de percepção sobre a aparência física, mais elevados no sexo masculino, o que sugere uma valorização diferente, entre sexos, dos aspectos do auto-conceito físico e da amizade intima na adaptação social e pessoal de adolescentes. As meninas apresentam mais maturidade do que os meninos para lidar com uma relação de amizade intima, sendo que, entre os indivíduos do sexo feminino e do masculino existe uma predileção por amizades do sexo feminino por motivações diferentes, pois as meninas buscam pares aos quais se identificam e os meninos buscam o sexo oposto numa perspectiva de auto afirmação da sua masculinidade.
Os valores de percepção sobre a aparência física revelam-se mais influentes num baixo auto conceito feminino, acredita-se pela própria cobrança, muito maior entre os indivíduos do sexo feminino pela beleza física e a necessidade de ser aceita por pares de ambos os sexos.

Referência:
Cordeiro, Raul A. Aparência física e amizade intima na adolescência: Estudo num contexto pré-universitário. Análise Psicológica, 24, 3, 509-517, 2006.