Coisas do Brasil (ou da Bahia?)

– Desculpe, mas acho melhor você não fazer isto. Vai que cai na mão de um marginal ou de um sequestrador; se eu fosse você não colocava o nome e número do telefone de casa na agenda do celular.

Crenças e estereótipos: critérios para a classificação

chamada

Os estereótipos são crenças. As crenças se organizam sob a forma de sistemas. Cada indivíduo adere a um número bastante substancial de crenças. Uma forma de impor uma organização a esta enorme diversidade é mediante a adoção de um esforço taxionômico, como o conduzido pelo professor Helmuth Krüger, que identifica as dimensões fundamentais a partir das quais é possível classificar e oferecer inteligibilidade a um conjunto heteróclito e disparado de crenças ordenadas sob a forma de sistemas:

a) o nível de consciência, uma vez que algumas crenças são resultantes de um esforço apurado de reflexão e crítica, enquanto outras são adotadas sem que seja possível identificar qualquer esforço sistemático de reflexão;

o grau de consciência da crença estereotipada é baixo, pois se trata de uma crença generalizada e não submetida a um esforço reflexivo sistemático;

b) o objeto da crença, pois as crenças podem ter por referente pessoas, o mundo objetivo, o si mesmo e entidades ideais ou abstratas;

as crenças estereotipadas se referem a grupos e categorias sociais humanas. É inadmissível fazer alusões a estereótipos de animais, objetos, coisas e demais entes inanimados;

c) o modo, desde que algumas crenças podem ser afirmativas, enquanto outras tendem a ser negativas;

usualmente as crenças estereotipadas são expressas sob forma afirmativa, embora seja possível a expressão dos estereótipos mediante o uso de asserções de caráter negativo;

d) a aceitação pessoal, pois algumas crenças são acompanhadas por um forte sentimento de certeza, enquanto outras são expressas sem qualquer convicção;

os estereótipos são crenças a respeito de grupos sociais, cujo grau de certeza pode ser variável, a depender de quem crê e do conhecimento sobre o grupo alvo;

e) a importância atribuída, uma vez que os indivíduos não atribuem a mesma importância ou não aderem com o mesmo fervor a todas as classes de crenças;

estereótipos são crenças a respeito de grupos sociais, cujo grau de importância é variável e depende daquele que crê;

f) a congruência entre crenças e ações, dado que algumas crenças são acompanhadas por ações congruentes, enquanto em outras circunstâncias não ocorre qualquer congruência entre a crença e a ação;

O mais usual é que as crenças estereotipadas sejam acompanhadas por ações consistente com o que se acredita.

g) perspectiva temporal, pois umas crenças podem se referir ao passado, ao presente ou ao futuro;

as crenças estereotipadas geralmente se referem ao presente, embora nada impeça que elas possam fazer alusão ao passado ou mesmo a uma certa perspectiva futura.

h) consenso ou concordância social, pois algumas crenças obtém um alto grau de concordância social, enquanto outras encontram apoio, quando o encontram, apenas em grupos minoritários;

uma crença estereotipada depende de um forte grau de compartilhamento social, senão estaríamos a falar de crenças idiossincráticas e não de crenças estereotípicas;

i) a necessidade lógica, dado que é justificado estabelecer uma distinção entre as crenças que são capazes de se exprimir sob a forma de verdades necessárias e outras que exprimem apenas afirmações contingenciais.

as crenças estereotipadas devem ser entendidas como explicações ou teorias a respeito dos atributos ou das ações de outras pessoas.

Fontes: Krüger, Helmuth. Psicologia das Crenças: perspectivas teóricas. Tese de concurso para professor titular do Departamento de Psicologia Social e Institucional da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 1995
Pereira, Marcos E. Humor e estereótipos no ciberespaço. Tese de doutorado. Instituto de Psicologia. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1996

Leia também

Definição de estereótipos
Conceitos fundamentais: preconceitos e discriminação
Endogrupo e exogrupo

Estereótipos e categorias sociais

Estereótipos: noções fundamentais
Estereótipos e estereotipização
Estereótipos e racionalização

Os estereótipos e a opinião pública

As primeiras reflexões sistemáticas a respeito dos estereótipos foram apresentadas por Walter Lippman, um jornalista norte-americano. Ele sugeriu que na vida moderna as pessoas são convidadas a tomar, diariamente, uma série de decisões sobre um conjunto de temas a respeito do qual o qual não possuem qualquer conhecimento. Como esta decisão tem de ser tomada, e de forma rápida, na falta de um repertório informacional adequado que guie racionalmente a decisão, elas terminam por se sustentar em um conjunto de crenças, compartilhadas amplamente pela sociedade, e sobre as quais não se dispensou qualquer juízo avaliativo. O argumento central das reflexões de Lippman sobre os estereótipos parece ser este: cada ser humano, mesmo conhecendo apenas uma pequena parte da superfície terrestre, e ainda assim em caráter restrito e limitado, é solicitado a tomar decisões sobre um número substancial de questões, algumas extremamente complexas, sobre as quais não possui um entendimento satisfatório, o que o impõe a interpretar a realidade de acordo com o seu próprio ponto de vista, ao elaborar um retrato parcial e um tanto ingênuo a respeito do mundo em que vive.

Fontes: Marcos. E. Pereira. Psicologia Social dos Estereótipos. São Paulo:EPU.
Lippman, W. (1922) Public Opinion. New York: Harcourt, Brace
%d blogueiros gostam disto: