Resenha – Desvendando mitos: os computadores e o desempenho no sistema escolar

Jonatan Santana Batista

Os temas tecnologia da informação e educação usualmente costumam ser associados e em duas décadas, poucos puderam ousar a colocar tal crença em dúvida. Os autores ao realizarem um estudo com crianças predominantemente de 4° e 8° série do ensino fundamental, engendram uma forma de pesquisar a relação entre informática e rendimento escolar, primeiro tentando definir os dois fenômenos, e em seguida estabelecendo o contexto no qual as relações entre estes ficam situadas. Através deste estudo, os autores colocam mais interrogações nesta questão; É correto o fomento de novas políticas públicas de educação voltadas para a inserção tecnológica especialmente no que tange a informática? Este investimento tem repercutido em melhoria no desempenho dos alunos? Segundo os autores, embora simples, estas perguntas não vem recebendo devida atenção, carecendo de mais cuidado.
De início os autores sustentam que embora o objetivo da escola seja a integração, de modo a igualar o acesso as oportunidades, na prática à instituição escolar tem refletido as desigualdades, e o Estado ao tentar reduzir tal efeito, a partir do final do século 20, começou a investir de forma massiva em informática, no que se refere a partir das Leis de Diretrizes (LDB). Tal lei precisou a informatização nas escolas públicas no intuito de preparar os estudantes para uma dinâmica emergente e já presente nos países industrializados. A constante mudança tecnológica e os impactos destes não deveriam de forma alguma passar despercebidos pelos estudantes. Aliado a este propósito, o Mapa da Exclusão Digital, fomento da Fundação Getúlio Vargas (2003), afirma uma melhoria no desempenho escolar de alunos que possuem acesso à internet. O Mapa da Exclusão digital fora utilizado para mapear os locais onde se faria obrigatória à inclusão digital, enquanto dados do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (surgiu em 1990, consistia em uma prova a ser aplicada em todos os estados), fornece uma conclusão que serviu de apoio as políticas governamentais: investir em computadores e internet para melhorar a qualidade de ensino.
De acordo com a revisão bibliográfica internacional feita pelos autores, há uma ênfase sobre o papel positivo da tecnologia nos diversos âmbitos, inclusive sobre seus impactos na juventude. Mas, ao compilar os artigos que tratam está temática, percebe-se que as conclusões que defendem esta máxima praticamente inquestionável, carecem de dados concretos (sem contar a existência de artigos na mesma condição, mas que afirmam o contrário), não sendo nada além de dados específicos resultante de estudos segmentados, em disciplinas específicas, que sendo generalizadas transpõem a imagem em foco abrangente de um progresso educacional proporcional à inserção tecnológica. O que no Brasil, dados do SAEB expuseram uma intrigante conclusão: dentre todos os fatores de impacto estatisticamente significantes, o único não contemplado é o uso do computador em classe. Outros estudos feitos com alunos da 4° e 8° série, confirmam que o uso do computador foi positivo para as ultimas, mas não para as primeiras. Um estudo feito nos EUA comprovou que o uso de ferramentas virtuais, não gerou melhora na produtividade dos estudantes, mas sim da estilização da apresentação dos trabalhos, não influindo de forma alguma no conteúdo destes.
Os autores ressaltam que mesmo que existam estudos que comprovem que nem sempre a inserção tecnológica está associada ao ganho, mas muitas vezes, tem contribuído para a redução no desempenho (Dwyer, 1997), o uso de tecnologias da informação tem servido de base para altas expectativas em torno do consumo. Como explicar a permanência desta crença? Os autores sugerem que a educação pode ser vista de duas formas: através dos dados objetivos ou através de uma perspectiva ideológica, esta ultima baseada numa visão de mundo que reflete as expectativas referindo-se ao uso de informática nas escolas. Visando se voltar à primeira forma e reduzir os impactos da segunda, foram criados e padronizados testes, dentre os quais o SAEB se constitui exemplo.
As pesquisas do SAEB tentam de um lado, mostrar as influências do neoliberalismo, e por outro focar-se apenas nos dados obtidos, buscando fotografar o ensino básico. Os autores sustentam que uma ênfase predominante no segundo foco, tende a desconsiderar que os dados e suas interpretações podem confirmar ou contestar uma ideologia. Como exemplo, ressaltam o Mapa da Inclusão Digital (FGV, 2003), construído a partir de um estudo feito com alunos da 4° série evidenciando que alunos ao possuírem computadores em suas residências, demonstram melhor desempenho em matemática. O que se torna visível para os autores neste argumento é a ocultação do fato de que a classe social de cada aluno interferia diretamente neste “desempenho”.
A análise dos dados do SAEB demonstra que usar o computador raramente é associado a um melhor desempenho escolar; a literatura internacional também parece ir em direção contrária à evidência de que o computador é um total benefício para os estudantes do ensino fundamental e médio, o que contrasta com a crença da maioria das pessoas; tal crença, não sendo sustentada através dos estudos científicos, passa a ser mantida ideologicamente através de um discurso político, direcionado as politicas públicas. Os autores concluem que: se o uso do computador no cotidiano dos estudantes não resulta em ganho geral de desempenho e produtividade, não será a ausência do uso do mesmo, a solução. Os autores sustentam que estudos corroboram a tese de que a ausência de uso do computador além de não gerar ganho específico em disciplina alguma, resulta em pior desempenho geral do que aqueles que pouco o utilizam. Seria então sensato sugerir o uso moderado do computador, mas caberia a tarefa de definir o que seria “uso moderado” nos dias atuais, o que não é colocado como foco de estudo pelos autores, mas, é necessário para gerar reflexão acerca do uso do computador no cotidiano. Sobre isto, recentemente uma matéria do site UNIVERSIA.COM abordou o mesmo tema, ressaltando um estudo feito pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), alegando o uso de tecnologia em sala de aula como necessário para aumentar o rendimento dos alunos. No entanto, como fora ressaltado no início deste texto, grande parte dos estudos que confirmam tal máxima, referem-se a habilidades específicas, que neste caso, referia-se a matemática e a física. Mas na divulgação do trabalho, apresentava a tecnologia em classe como critério para melhoria do desenvolvimento geral dos discentes. Este dado é importante para que o leitor atento perceba o papel que a escrita e a divulgação tem, tornando-se nestes casos capaz de afirmar o que esta além do escopo dos dados obtidos.

Referência: Dwyer, T., Wainer, J., Dutra, R., Covic, A., Magalhães, V. Ferreira, L., Pimenta, V. e Kleucio, C. Desvendando mitos: os computadores e o desempenho no sistema escolar. Educação & Sociedade, 28, 101, 1303-1328, 2007.

Resenha: publicidade contra-intuitiva e o efeito ricochete

Elva Valle

O artigo é dividido em quatro partes (tópicos): introdução, efeitos esperados, a publicidade contra-intuitiva e o efeito ricochete, considerações finais. O objetivo principal é discutir o papel da propaganda como meio divulgador de idéias, tanto para manter, como, para alterar conceitos estereotipados em relação a grupos minoritários. Para promover essas mudanças, seria então utilizada a propaganda contra-intuitiva, uma tentativa de romper com crenças estereotipadas. Mas, esse formato acarretaria, em alguns casos, consequências negativas: o efeito ricochete.
Para o melhor entendimento do texto, os autores trazem definições de termos relevantes: estigma, crença, estereótipos e preconceito. Estigma seria um atributo depreciativo, uma marca que faz com que o indivíduo estigmatizado, aos olhos dos outros, seja menos humano. As crenças seriam aquilo que é aprendido desde a infância (nos diferentes contextos: casa, escola, meios de comunicação), e é adotado como verdade. Estereótipos seriam crenças coletivamente compartilhadas. E preconceito seria uma atitude emocional e racional, negativa e injusta, em relação a um grupo, ou indivíduo membro de determinado grupo. As atitudes preconceituosas seriam o resultado da combinação de estereótipos negativos e crenças pessoais.
Através da utilização de contra-estereótipos, seria possível promover nos receptores uma alteração de crenças enraizadas. É importante também salientar, que a propaganda contra-intuitiva não se afasta do objetivo mercadológico da propaganda; assim essas produções cumprem, além da função de mercado, uma função social ao estimular o indivíduo a desenvolver uma nova postura em relação aos grupos estereotipados. Pesquisas mostram que indivíduos com baixo grau de preconceito são mais propensos a substituir pensamentos negativos, devido a motivações mais igualitárias. Portanto, a propaganda contra-intuitiva funcionaria melhor com esses indivíduos.
Para se ter o efeito persuasivo da mensagem, o papel do indivíduo receptor é importante: é necessária a simetria entre mensagem, informações (conhecimentos prévios) do receptor, e motivação para assimilar o que foi apresentado. Como o discurso contra-intuitivo almeja uma nova construção (ou desconstrução) da realidade, os efeitos esperados seriam aumentar a revisão e formação de pensamentos objetivos, atualizando o olhar social para crenças arcaicas. Mas também um efeito contrário ao desejado poderia ocorrer, o chamado efeito ricochete. Ou seja, em algumas circunstâncias, poderia reforçar os pensamentos preconceituosos, podendo sugerir também que o personagem estigmatizado não poderia ter a realidade apresentada (de prestígio) e por isso a situação seria engraçada.
É importante não esquecer o papel o da comunicação social na esfera social, como influenciador e “(trans)formador” de opinião, e a isso deve ser dar um olhar críticos nas propagandas atuais. A propaganda tem um poder de reforçar preconceitos ou promover novos valores. E seu papel influenciador da publicidade foi estudado diversas vezes, como por exemplo, a propaganda “educativa”, que ensinou a sociedade a consumir e conviver com novas tecnologias como sabonete, geladeira etc.
Contudo, alguns pontos relevantes ficaram de fora da análise desse artigo, como a não-aceitação da imagem contra-estereotipada, que foi o caso do comercial das Havaianas com a vovó, que por solicitação de parte da audiência, foi retirado do ar. Seria importante também uma análise mais profunda do comercial escolhido. O exemplo citado é da propagada “Está na hora de rever seus conceitos” do Novo Fiat. Onde coloca um personagem negro numa posição de prestigio, casado com uma loira. O personagem está apenas como pano de fundo, não abre a boca durante todo o comercial. Essa seria realmente uma propaganda contra-intuitiva? Outro ponto, também não abordado, é a questão do uso de protótipos versus estereótipos; o uso de protótipos nos comerciais é de certa forma bastante funcional, e por ser um protótipo, pode carregar pouco ou nenhum estereótipo.
De maneira geral, o texto aborda conceitos teóricos importantes, e também apresenta de forma clara as idéias da propaganda contra-intuitiva, revelando que, apesar de possíveis efeitos negativos, esse formato é bastante positivo na desconstrução de crenças estereotipadas.

Referência: LEITE, Francisco; BATISTA, Leandro Leonardo. A publicidade contra-intuitiva e o efeito ricochete. Revista Galáxia, São Paulo, n. 15, p. 155-166, jun. 2008. Disponível em: http://200.144.189.42/ojs/index.php/galaxia/article/view/5739, último acesso em 14 de dezembro de 2011

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