Resenha: A imagem das enfermeiras frente aos estereótipos: uma revisão bibliográfica

Cecília Spínla


As autoras iniciam o texto explicitando a relevância dos profissionais de enfermagem manterem uma comunicação eficiente com os pacientes, mas revela que esta é dificultada pelo estereótipo da profissão que faz com que os pacientes possuam preconceitos com os profissionais.

As autoras afirmam que a profissão sofre estereótipo com relação ao gênero e explica que este sofre contribuição da tradição judaico-cristã que define uma dominação do homem sobre a mulher. Corrobora com este fato o papel da mulher na idade Média que era responsável por atividades de menor complexidade. Nesta ocasião o cuidar médico era reservado aos homens e ás mulheres restava o cuidado e a manutenção da higiene dos doentes e da ordem do ambiente, trabalho considerado sujo para os médicos que na sua maioria eram de famílias abastadas.

O texto identifica também o preconceito social que reserva aos profissionais da área o estigma de indivíduos que não tiveram uma melhor oportunidade de formação profissional.

Segundo o texto, o trabalho de enfermagem foi por muito tempo desenvolvido por mulheres religiosas que se dedicavam aos doentes, realidade que durou até o início do século XVI, quando ocorreu a revolta Luterana e a ascenção do anglicanismo.

Com a queda do catolicismo e a expulsão das religiosas dos hospitais, a Enfermagem, sem mão-de-obra qualificada, passou a ser exercida por mulheres de moral duvidosa que eram submetidas a péssimas condições de trabalho.

É neste cenário que se constrói a imagem da profissão. Doentes que preferem tratar-se em casa para não sofrerem maus tratos, comerem péssimas comidas ou terem que ceder a suborno por parte dos “profissionais” de Enfermagem.

Outro estereótipos relacionando a profissão diz respeito a desvalorização do serviço prestado e a visão da enfermagem como mão de obra barata. Essa visão, segundo Padilha (1998) advém da prática da Enfermagem no Brasil por religiosas, criando o entendimento de que esta prática deveria ser prestados apenas pelo amor de Deus e que a remuneração a esses serviços constituiria-se em ato impuro e mercenário.

É discutido pelas autoras também o papel da mídia na formação da imagem do profissional de Enfermagem. Para as autoras este veículo dissemina a idéia da Enfermeira como símbolo sexual, prejudicando ainda mais a desmistificação desses falsos conceitos perante a da sociedade.

Encontramos também no texto uma reflexão sobre o estereótipo de submissão no âmbito de valor da profissão da Enfermagem com relação a Medicina, o que advém de uma tradição militar que prezava pelo treinamento da enfermeira para agir com fiel observância às ordens médica e atenta ás relações de autoridade.

Com os dados acima apresentados podemos entender o preconceito que sofre a profissão de enfermagem e compreender o porque das autoras do texto trazerem neste artigo a preocupação com a capacidade de escuta e confiança do paciente/doente com esses profissionais. Tendo em vista que as relações estabelecidas sofrem influência de todos os estereótipos acima citados, que são muitas vezes reforçados pela nossa sociedade atual, é esperado que estes profissionais sofram o estigma de inferiores e menos competentes e com isso encontrem dificuldade de ascender profissional e socialmente.

Reforçando esses preconceitos, a nossa sociedade atual tende a reconhecer no médico o único profissional capaz de atender integralmente no âmbito da saúde, ficando todos os demais profissionais a cargo de implementar as ações descritas. Exemplo claro temos na Lei do Ato Médico que busca legitimar a soberania deste profissional em detrimento às outras profissões da área de saúde.

Perde-se com isso a noção da relevância do serviço de enfermagem, que atua no ambiente hospitalar cuidando da evolução dos pacientes, supervisionando e controlando rotinas e suportando os serviços médicos e multidisciplinares dispensados aos pacientes.

As autoras concluem que o combate a este preconceito formado sobre a profissão de Enfermagem pode ser feito primeiramente através da identificação e conhecimento destes na população e posteriormente com a criação de estratégias de enfrentamento e divulgação da verdadeira profissão, revertendo assim ao profissional, a valorização da sociedade pelo
seu trabalho.

Referência: Santos, C. e Luchesi, L. A imagem das enfermeiras frente aos estereótipos: uma revisão bibliográfica.Proceedings of the Brazilian Nursing Communication Symposium, 2002, São Paulo, Brasil

O romantismo naturalista e a origem dos estereótipos sobre os brasileiros

Artigo publicado no website Ciência Hoje, Portugal, por Edson Struminski, aponta a origem dos estereótipos sobre os brasileiros e chama a atenção para o papel desempenhado pelo movimento do romantismo naturalista, adotado como política de estado, no reinado de D. Pedro II. Clique aqui para ler a matéria.

Ciência Hoje, Portugal

Os estereótipos na literatura: as aventuras do Sr. Pickwick

Toda e qualquer categoria social é objeto de uma série de representações, amplamente compartilhadas pela população. O trecho abaixo, reproduzido dos Pickwick Papers, a primeira e divertidíssima obra de Charles Dickens, reflete um traço particularmente saliente do estereótipo da categoria dos profissionais da política.

– “Está tudo pronto?”, perguntou o honorável Samuel Slumkey ao Sr. Perker?

-” Tudo, meu caro senhor”, respondeu o homenzinho

– ” E nada foi omitido, espero?”, disse o honorável Samuel Slumkey.

– “Coisa alguma deixou de ser feita, meu senhor, absolutamente nada. Há vinte homens bem lavados à porta da rua, para que o senhor possa apertar-lhe as mãos; e seis crianças de colo que o senhor terá de acariciar as cabecinhas e perguntar pela idade; não deixe de prestar atenção nas crianças, meu senhor, é o tipo de coisa que sempre produz grande efeito.”

– ” Eu o farei”, disse o honorável Samuel Slumkey

– ” E, talvez, caro senhor”, insinuou com prudência o homenzinho, ” o senhor pudesse, – eu não estou afirmando que é indispensável -, mas se o senhor beijasse uma delas, isto certamente produziria um grande efeito na multidão.”

– “O efeito não seria o mesmo se os meus assessores o fizessem?”, perguntou o honorável Samuel Slumkey?

– “Receio que não”, replicou o agente; ” se o senhor o fizer, pessoalmente, creio que isto o tornará bastante popular.”

– “Muito bem”, disse o honorável Samuel Slumkey, com o ar resignado, ” então o farei, que jeito?”

– “Preparem a comitiva”, gritaram os vinte homens da comissão eleitoral.

No meio das saudações do populacho, a banda, os recrutas, os homens do comitê eleitoral, os eleitores, os cavaleiros e as carruagens tomaram os seus lugares, cada veículo com uma parelha de cavalos levando quandos cavalheiros poderia comportar em pé e, no designado ao Sr. Perker, iam o Sr. Pickwick, o Sr. Tupman, o Sr. Snodgrass e mais meia dúzia de membros da comissão eleitoral.

Ocorreu um momento de suspense, enquanto a comitiva esperava que o Sr. Slumkey subisse na sua carruagem. Repentinamente a multidão irrompeu em uma grande aclamação.

“Ele acaba de sair,” disse o pequeno Sr. Perker, excitadíssimo; quando nada porque a posição em que se encontrava não permitia ver o que estava ocorrendo alhures.

Outros aplausos, ainda mais altos.

“Ele apertou a mão dos homens”, gritou o pequeno agente.

Mais aplausos, ainda mais veementes.

 

“Ele acariciou a cabeça dos bebês,” relatou o Sr. Perker, trêmulo de ansiedade.

Um rugido de aplausos que fez estremecer a atmosfera.

– “Ele beijou uma delas”, bradou o entusiasmado homenzinho.

Um segundo trovão

– “Ele beijou outra”, urrou, sem fôlego, o gerente.

Um terceiro trovão.

“Ele está beijando todas as crianças!” gritou o entusiasmado homenzinho. E sob a gritaria ensurdecedora da multidão enstusiasmada, a comitiva começou a se movimentar.

Fonte: Pickwick Papers (tradução livre, cotejada com a tradução de Otávio Mendes Cajado, publicada como As aventuras do Sr. Pickwick, São Paulo, Abril Cultural, 1982 e com a tradução de José Maria Valverde, publicada como Los papeles póstumos del Club Pickwick, Madrid, Editorial Mondadori)

 

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