Graciara Oliveira Silva
Nesse estudo, os autores apresentam uma breve introdução sobre o sistema de crenças, explicando que umas podem ser mais justificadas e, por isso, mais endossadas do que outras. Isso acontece quando a decisão de crer ou não crer é objeto de uma reflexão e crítica aprofundadas, diferente das crenças constitutivas do sujeito que crê, uma vez que a justificação não é tão importante.
Para adentrar nas crenças ufológicas, os autores pontuaram que a princípio nós não duvidamos que somos seres humanos com atributos que nos identificam como tal e diferenciam-nos dos demais seres vivos que se evoluíram no planeta Terra. Nessa perspectiva evolucionista que nos afasta do criacionismo, e também do antropocentrismo, os autores refletem:
Ao mesmo tempo em que temos certeza de que pertencemos a uma espécie que se desenvolveu no planeta Terra, consideramos como justificada a crença que o nosso pequeno planeta ocupa uma posição quase irrisória face à imensidão do universo. Seríamos, então, os únicos entes pensantes nesse imenso universo ou seria mais sensato supor que talvez em uns poucos dentre os milhões de astros celestes tivessem surgido formas de vida e civilizações diferentes das modalidades que conhecemos? (Pereira; Silva; Silva, 2006, p.376).
Nesse sentido, os autores afirmam que as crenças sobre a existência de extraterrestres e civilizações em outros planetas são plausíveis, porém, duvidosas por causa da falta de comprovação, visto que elas são justificadas por “argumentos construídos com base em evidências sobre a presença de objetos voadores não-identificados” (Idem, p.376). Em seguida, refletem mais:
As crenças se referem a entes reais ou elas fazem alusões apenas a potencialidades derivadas dos arrazoados desenvolvidos por mentes humanas? O que possibilita tantas pessoas acreditarem que tais seres existam, que são mais civilizados e nos visitam com freqüência? Por outro lado, como duvidar de que não somos únicos no universo, sem acreditar que eles se encontram entre nós? (Idem, p.376).
Segundo os autores, a justificação para as crenças ufológicas são construídas a partir de observações por meio de registros visuais e audiovisuais dos discos voadores. Por isso, o objetivo desse estudo foi o de “investigar as crenças a respeito de dois entes: extraterrestres e objetos voadores não-identificados” (Idem, p. 376)
Os autores afirmam que as crenças são sustentadas e compartilhadas muito mais pelo “endossamento subjetivo” do que pelo “estatuto epistemológico”e, por isso, a adesão ou o endosso geram repercussões em vários segmentos.
Nessa perspectiva de crenças compartilhadas, os autores optaram por ampliar o número de participantes da pesquisa para a coleta de dados através da internet. Eles defendem que há uma tendência cada vez mais fortalecida de pesquisas reais em ambientes virtuais. Destaco que muitos estudiosos questionam essa divisão entre o real e o virtual, e o conceito de virtualização do pensador francês Pierre Lévy em sua obra O Que é o Virtual (1996), promovendo uma abertura ainda maior para a práticas de tais pesquisas.
A partir do problema de pesquisa de “identificar as diferenças nos padrões de crenças compartilhadas por pessoas envolvidas ou não com grupos de pesquisas ufológicas sobre temas relacionados com a presença de extraterrestres e de objetos voadores não-identificados” (Idem, p.376), os autores conceituaram de uma forma geral as crenças, pontuaram sua importância na psicologia social e apresentaram suas hipóteses.
A primeira hipótese foi a de que o nível de conhecimento sobre os eventos ufológicos seria diretamente proporcional à adesão à crença. Em seguida, apresentaram hipóteses adicionais que desdobraram nas seguintes variáveis: interesse pelo assunto e filiação em grupos de estudo e pesquisa ufológica.
Em resumo, o instrumento de pesquisa utilizado abordou as seguintes categorias: 1) crenças sobre os extraterrestres e a humanidade; 2) crenças sobre as interferências dos extraterrestres no planeta Terra; 3) crenças sobre as relações entre extraterrestres e humanos; 4) crenças sobre os extraterrestres, a ciência e os cientistas; 5) crenças sobre os extraterrestres e as teorias conspiratórias. Segundo os autores, uma interpretação geral dos resultados sugere que:
[…] dentre as cinco modalidades de crenças consideradas, as relativas aos extraterrestres e a humanidade obtiveram um maior grau de adesão, seguida pelas crenças relativas aos extraterrestres, a ciência e aos cientistas. As crenças a respeito das interferências dos extraterrestres no planeta Terra obtiveram um baixo grau de adesão. Os resultados também sugerem que, globalmente, os participantes não aderem ou rejeitam as suposições relativas às teorias conspiratórias ou às crenças acerca das relações entre extraterrestres e humanos (Idem, p. 379).
Os resultados desse estudo apresentaram padrões diferenciados de adesão às crenças. Foi verificado que a primeira hipótese era verdadeira. Porém, “o interesse pelo assunto e, em menor grau, a filiação aos grupos de pesquisa ufológicos, exerceram uma influência mais significativa na adesão às crenças ufológicas que o grau de conhecimento” (Idem, p. 383). Por fim, concluiram que os resultados desse estudo apontam para a possibilidade de “desenvolver modelos preditivos a respeito do grau de adesão às crenças ufológicas” (Idem, p.383) e de continuação em outro estudo.
Pereira, M. E. ; Silva, J. e Silva, P. Investigações psicológicas no ciberespaço: O impacto do interesse, filiação grupal e conhecimento na adesão às crenças ufológicas. Interação (Curitiba), 10, 375-384, 2006.