Resenha: Aparência física e amizade íntima na adolescência: estudo num contexto pré-universitário

Aruanã Fontes

A adolescência é uma fase da vida marcada tipicamente por intensas transformações fisiológica, anatômicas, psicológicas e sociais caracterizando a passagem da infância para a fase adulta. No que tange às mudanças psicossociais, o conhecimento de si e o fortalecimento das amizades estão em vigência para o adolescente, e se torna alvo de vários estudiosos. Para Cordeiro (2006) estes aspectos são os mais importantes deste período por isso ele elabora um estudo, relatado no seu artigo “A aparência física e amizade íntima na adolescência: Estudo num contexto pré-universitário”.

Inicialmente o autor conceitua a intimidade/ amizade íntima como uma relação emocional onde há um bem-estar mútuo, revelação de assuntos particulares, envolvendo ou não os sentidos, e presença de interesses e atividades em comum.

Contudo, segundo o autor, para que haja a expressão de assuntos íntimos é preciso um exercício de auto-conhecimento. Apesar de ser um exercício particular, a percepção do próprio corpo e da aparência física vai sendo construída com influência do que os outros nos atribuem e dos padrões estéticos. Por outro lado a construção da identidade e o conhecimento de si vão ser importantes para o desenvolvimento da amizade baseada na intimidade.

Cordeiro levanta a possibilidade de que, o fato da amizade mais íntima se tornar comum na fase estudada ocorre devido à segurança que os adolescentes encontram, mais em seus pares do que nos adultos, para revelar seus assuntos individuais, compartilhar valores, objetivos e idéias.

O autor considera determinantes para essas mudanças nas relações alguns aspectos como: a puberdade, o desenvolvimento da capacidade de pensamento – principalmente no domínio do conhecimento social. Essas transformações, porém, ocorrem de maneiras distintas entre o sexo feminino e o masculino. Considerando que a as meninas já têm recursos que lhes permitem expressar sua intimidade, não descrevendo que recursos são esses. Os rapazes se equiparam a elas quando chega à fase adulta.

Com base no seu conhecimento e uma breve literatura sobre o tema, Cordeiro elege, em seu estudo, um objetivo geral de investigar a relação entre a percepção sobre a aparência física e a amizade íntima na adolescência. Ele elabora também três objetivos específicos: avaliar a percepção da aparência e o nível de desenvolvimento da relação de amizade íntima em cada sexo e identificar a diferença entre eles. Desta forma, tem como hipótese que haveria esta diferença entre as moças e rapazes, bem como seria distinta a forma que a percepção sobre si exerce influência no estabelecimento de relações íntimas.

Para realização deste estudo, participaram 309 alunos e alunas pré-universitárias com idade média de 18 anos. Com o objetivo de avaliar a amizade íntima foi escolhida a escala “Intimate Friendship Scale” (Sharabany, 1994, 2000) sob duas formas, O Meu Melhor Amigo e A Minha Melhor Amiga, com oito dimensões: sinceridade e espontaneidade; sensibilidade e conhecimento mútuo; comportamentos de vinculação; exclusividade relacional; dádiva e partilha; imposição; atividades comuns e confiança e lealdade. Já para avaliação do auto-conceito foi aplicada a escala “The self-perception profile for college students” (Neemann & Harter, 1986), com sete dimensões: aparência física, amizades íntimas, aceitação social, relação com os pais, relações amorosas, humor, moralidade, apreciação global.

A partir dos resultados, constatou-se que com relação à Amizade Íntima o sexo feminino tem um grau mais elevado que o masculino. Para o autor isto acontece devido à afirmação precoce da identidade nas meninas, o que faz com que já tenham formado suas posturas nas relações. Ainda na escala de Amizade Íntima a dimensão Confiança e Lealdade obteve maior valor médio, o que para o autor, indica que os jovens primam por amizades que possam partilhar segredos e que não haja traição.

Quanto a Amizade Íntima com o Melhor Amigo, a dimensão Atividades em Comum foi a única que pouco difere entre os sexos. O autor acredita que os rapazes consideram estas atividades o componente mais importante para a amizade, enquanto que as meninas valorizam este e outros pontos. Com relação à Melhor Amiga houve consenso, entre os sexos, nas dimensões Amizade Íntima, Vinculação, Confiança e Lealdade. Os resultados semelhantes quando se trata das relações com o sexo feminino foi explicado como resultante da identificação por parte das meninas e, para os rapazes seria uma necessidade de afirmação da sua masculinidade perante o sexo

Contatou-se que a Percepção do Auto-conceito foi elevada no geral, sendo os valores maiores no sexo masculino do que no feminino, bem como a dimensão Percepção sobre Aparência Física. Apenas esta sub-escala e a Apreciação Global obteve diferenças estatisticamente significativas entre os sexos.

Acerca das relações entre a Percepção sobre Aparência Física e a Amizade Íntima não houve correlações significativas. Apesar disso, notou-se que todas as correlações são negativas no sexo masculino e no total, porém no sexo feminino isto ocorreu apenas em Percepção sobre Aparência Física e Amizade Íntima com a Melhor Amiga. Os valores, apesar de não significativos, indicam uma tendência para quanto maior a auto-percepção menor a amizade íntima.

O autor é mestre na área de Saúde, formado em enfermagem, e aparenta ter apenas um breve conhecimento quanto às questões psicológicas que envolvem o assunto. Assim o artigo, apesar de publicado na revista Análise Psicológica, não traz discussões profundas. Entretanto o estudo abre espaço para reflexões sobre os dados e posteriores estudos para obter convicção da relação proposta.

O artigo nos remete a idéia de que talvez, entre a percepção de si e as relações de amizade na adolescência, haja uma relação recíproca onde uma influencia a outra, ao contrário da relação unidirecional proposta pelo autor – apesar de os dados não serem estatisticamente significativos e, portanto não asseguram nenhuma correlação. Como afirmam alguns psicólogos sociais, há a existência da vida social anterior a consciência de si que a influencia. Por outro lado, os adolescentes têm seu papel ativo na formação de sua auto-percepção que vai interferir, por sua vez, nas suas relações.

Referência: Cordeiro, R. Aparência física e amizade íntima na adolescência: Estudo num contexto pré-universitário Análise Psicológica, 4, 509-517, 2006.

Resenha: Música, Comportamento Social e Relações Interpessoais

Natália Canário Gomes

Beatriz Ilari é graduada em Educação Artística (Música) pela Universidade de São Paulo (1994), mestre em Artes – Música – pela Montclair State University (1998) e PhD em Educação Musical – pela McGill University (2002). Além disto, tem experiência na área de psicologia da música, com ênfase em cognição e aprendizagem. Em 2006, Ilari publicou o artigo “Música, Comportamento Social e Relações Interpessoais”, no qual trata do estudo que realizou, com três diferentes objetivos, referentes à música e às relações interpessoais.

Num primeiro momento, a autora buscou determinar o papel da música nessas relações, na atração e na escolha de parceiros. Em seguida, a intenção foi verificar se os estereótipo ligados aos estilos musicais detectados na Europa e EUA, poderiam também ser encontrados numa amostra do Brasil. Por fim, o estudo procurou esclarecer se existem funções específicas da música nas relações interpessoais.

A revisão de literatura feita pela pesquisadora mostra que, apesar de ainda não se ter confirmado a existência de um gene musical, a música continua a ser universal e exerce papel importante nas sociedades e culturas. Para Gregory (1997, citado por Ilari, 2006), a música é um fenômeno social que desempenha funções tradicionais e tem sentidos próprios nas diversas culturas ao longo da história, e que dependem de aspectos específicos das mesmas. Já para Huron (1999, citado por Ilari, 2006), a música tem importância evolutiva, pois cria cenários para os relacionamentos humanos (inclusive os amorosos), além de exercer efeitos sobre a atração e sobre o desenvolvimento de relações interpessoais.

Tomando como base o trabalho de Reeder (2000), a autora propõe que a atração seja definida como uma “experiência que leva os indivíduos a relatarem uma conexão especial com os outros” (Ilari, 2006), sendo considerada por muitos estudiosos um dos componentes do desenvolvimento das relações entre os indivíduos. Para os evolucionistas, a atração interpessoal é essencial para a formação de vínculos que resultem em descendentes e, consequentemente, na perpetuação da espécie. A psicologia cognitiva, por sua vez, postula que a atração relaciona-se aos esquemas cognitivos, construídos a partir dos ideais – formulados no decorrer da vida – tanto de parceiros, como de relacionamentos amorosos.

Dentre os fatores que influenciam a atração interpessoal já identificados estão: a atração física (um dos principais), a proximidade, interação e exposição a outras pessoas, bem como a semelhança real ou percebida entre as mesmas. Além destes, as atitudes, crenças e valores comuns também são muito importantes, tendo em vista que a atração interpessoal envolve reciprocidade entre os indivíduos. O contexto social e a cultura são determinantes para estas atitudes, crenças e valores, e, portanto, mantém uma relação crucial com o estabelecimento da atração e com o desenvolvimento de relações interpessoais. A relevância, para o estudo, desta afirmação é que, tanto a música, quanto a atração interpessoal, dependem do contexto social.

Mas, outra semelhança entre música e atração pode ser observada: ambas são capazes de eliciar sentimentos. Os sentimentos induzidos pela música têm impacto sobre o comportamento social. Isto se deve, em parte, ao fato de que diferentes níveis de excitação são alcançados a depender do estilo musical, o que explicaria a seleção de cada um desses gêneros para os diversos contextos sociais. Fora isso, são os fatores culturais e situacionais que determinarão o que se deve considerar “música adequada”, já que, não só os usos da música, mas também a percepção dela, são comportamentos aprendidos e determinados pelos membros do grupo.

Autores como Zillman e Bhatia (1989, citado por Ilari, 2006) estudaram os efeitos da atração heterossexual quando associada aos estilos musicais, e chegaram ao resultado de que a preferência musical interfere na atração intepessoal, e na percepção e avaliação da personalidade alheia. Puderam também chegar à conclusão de que a influência exercida pela música sobre a atração está relacionada aos estereótipos associados aos seus diferentes estilos, e às respostas individuais a estes estereótipos.

Embasada pala revisão teórica, a autora conduziu seu estudo com uma amostra de cinquenta adultos e jovens, com média de 27 anos de idade. Nenhum deles tinha mais de três anos de instrução musical formal, nem tomava aulas de música no momento da realização da pesquisa. O grau de escolaridade dos paricipantes variou do primeiro grau completo, à pós-graduação.

Na primeira parte do estudo – que tinha o objetivo de verificar quais os efeitos da música na atração interpessoal e na escolha de parceiros – os participantes foram expostos a cinco pares de classificados e deveriam escolher, em cada par, o parceiro que considerasse mais atraente. Os textos de cada par eram equivalentes, tendo como única variável a música. A conclusão que se pode chegar, após a análise dos dados desta etapa da pesquisa, foi que a música parece ser apenas mais um fator considerado na atração/escolha de parceiro, não tendo nenhum efeito significativo, seja positivo ou negativo.

O segundo objetivo era relativo à forma como as pessoas avaliam as demais basenado-se nas preferências por estilos e gostos musicais. O instrumento utilizado nesta fase era constituido de uma sentença incompleta, onde o participante deveria atribuir dois adjetivos ou mais ao gênero musical indicado. Os gêneros foram: MPB, jazz, música clássica, samba/pagode, rock/pop e sertanejo. Assim, os adjetivos e expressões idiomáticas levantados durante a coleta de dados foram alocados em dez categorias emergentes, que permitiam determinar se as associações entre estilos musicais e adjetivos/expressões estavam mais relacionadas à personalidade ou a determinados grupos sociais. A partir dos resultados observou-se que os participantes, de maneira geral, tenderam a correlacionar o gosto musical mais às atitudes e à personalidade.

No entanto, também foram encontradas algumas associações relacionadas à estratificação social e status. Como exemplo pode-se citar o jazz e a música clássica, que foram ligadas a pessoas cultas e instruídas, o que pode estar relacionado à dificuldade de de acesso às mesmas através da mídia e de órgãos culturais. Em contrapartida, as pessoas que gostam de samba e pagode, gêneros amplamente divulgados e associados ao carnaval, foram tidas como energéticas e extrovertidas. Contudo, o estilo musical que abrigou o maior número de adjetivos e expressões idiomáticas convergentes foi o sertanejo. Já o que obteve maior diversidade de respostas foi o “música do mundo”, o que talvez se deva à sua presença relativamente recente no Brasil.

A última parte do estudo era constituído de questões abertas gerais, como sexo, idade, experiência educacional, experiência musical prévia e tempo médio de escuta musical, e de questões mais direcionadas (três abertas e duas fechadas) sobre a importância da música nas relações interpessoais, nos namoros e em outros eventos da vida. Os dados coletados mostraram que apenas 14% da amostra apontou a música como sem importância alguma em suas relações amorosas – dos outros 86%, a grande maioria afirmou que a música ajuda a criar uma atmosfera que propicia o humor e os sentimentos.

Também 14% da amostra disse que nunca namoraria alguém com gosto musical diferente do seu – estas pessoas eram da faixa etária mais elevada, e argumentavam que gostos musicais distintos levam a problemas nos relacionamentos amorosos. Um ponto interessante foi que, deste subgrupo, três participantes usaram como argumento a suposição que gostos musicais diferentes refletem diferenças sociais e educacionais, fatores indispensáveis para um bom relacionamento. No entanto, de maneira geral, concluiu-se que o gosto musical não está entre os elementos mais fundamentais para um relacionamento a dois.

Quanto à importância da música em eventos da vida, apenas 8% da amostra afirmou não lembrar de nenhum momento importante. Entre os demais, grande parte dos episódios relatados diziam respeito a alguma forma de relacionamento interpessoal, principalmente as referentes a comemorações, festas, passeios, viagens e cerimônias religiosas. A análise mais aprofundada desta última parte do estudo foi capaz de revelar quatro usos da música no contexto das relações interpessoais: objetivos de excitação, dependendo do contexto social; fundo acústico, para a criação de ambientes sonoros e para preencher as “lacunas” durante a falta de interação em eventos sociais; facilitadora de atividades que promovem a aproximação entre os indivíduos; e artefato mnemônico.

Terminadas todas as análises, pode-se dizer que realmente a música exerce um papel importante nas relações interpessoais, ainda que não o faça de forma direta. O que é ainda mais relevante é que os estereótipos encontrados relativos a gêneros musicais, tanto de personalidade, como os relacionados com a estratificação social e ao status, mostraram-se influenciando na atração interpessoal, o que, se partirmos da perspectiva cognitivista, era esperado. A psicologia cognitiva também está de acordo com a conclusão de qua a música serve como elemento de ligação entre pessoas e eventos, facilitando o armazenamento na memória. Quanto aos evolucionistas, parece ser coerente a afirmação de que a música propicia um ambiente onde seja capaz haver a aproximação dos indivíduos, podendo resultar em relações amorosas, necessárias à sobrevivência da espécie.

Todas estas considerações trazidas pelo artigo são bastante interessantes, dado que pouco se pára para refletir sobre importância “prática” da música (e das artes, como um todo) na vida das pessoas. Em geral, a música costuma ser vista apenas como meio de diversão, o que leva a pensar que ela é dispensável. Apesar de algumas limitações nas conclusões tiradas, devido, principalmente, ao tamanho reduzido da amostra, este estudo é um indicativo de que essa concepção da música como supérfula deve ser repensada. Além disto, a questão levantada sobre a influência dos estereótipos relacionados a estilos musicas na atração interpessoal é um bom tópico para estudos posteriores, posto que as diferenças quanto aos gostos musicais chegam a levar a conflitos interpessoais mais graves, formando verdadeiros grupos de ódio, que merecem maior atenção dos pesquisadores.


Referência: Ilari, B. Música, Comportamento Social e Relações Interpessoais. Psicologia em Estudo, Maringá, v.11, n.1, p.191-198, 2006.

Resenha: Influencia de los estereotipos en la percepción de la obesidad

Natália Canário Gomes

A Organização Mundial de Saúde define o sobrepeso e a obesidade como um acúmulo excessivo de gordura no corpo com níveis capazes de afetar a saúde, sendo considerados os maiores fatores de risco para diversas doenças crônicas. Atualmente, não só os países desenvolvidos apresentam um alto número de pessoas acima do peso ideal. O que vem acontecendo é um aumento, principalmente nas áreas urbanas, de casos de sobrepeso e obesidade mesmo em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.

Estes dados fizeram crescer o interesse nos programas de tratamentos para redução destas taxas. No entanto, o que se vê é uma grande preocupação com os hábitos alimentares e de atividades físicas, deixando de lado as diferentes percepções que existem não só acerca do tema, mas, também, dos indivíduos considarados gordos ou gordas. Tendo em vista este descaso, os autores Fernández, González, Lobera e Millán (2008), produziram o artigo “Influencia de los estereotipos en la percepción de la obesidad”, a fim de agregar aos projetos psicoeducativos que tratam da obesidade, os estereótipos e crenças sobre a mesma.

Segundo os autores, os estereótipos fazem com que percebamos os indivíduos com características específicas, de acordo com o grupo ao qual pertencem. Assim, uma só característica nos leva a inferir traços de personalidade, capacidade física e intelectual, etc, ainda que não se disponha de outros dados referentes à pessoa ou grupo em questão. Associado a isto, a aparência constitui-se num dos aspectos mais relevantes na formação das teorias implícitas da personalidade. Como o sobrepeso e a obesidade se expressam também em imagem, as pessoas que sofrem destas patologias são alvos recorrentes dos estereótipos.

Os estereótipos, que agregam crenças acerca de um grupo, são o componente cognitivo do preconceito. No entanto, considera-se que é o componente afetivo que constitui o preconceito em si. Quanto ao sobrepeso e à obesidade, existem discordâncias quanto a se esta atitude negativa leva à discriminação. Enquanto alguns argumentam que não, é frequente que se atribua às obesas a responsabilidade pelo seu estado, discriminando-as e penalizando-as socialmente por sua falta de auto-controle.

Para os autores, no caso da obesidade, o preconceito enviesa os processos de categorização, fazendo com que a partir de um dado físico categorizemos uma pessoa obesa de acordo com nossas crenças, numa fusão entre estereótipo e categorização. Isto leva a uma discrepância nas atribuições feitas às pessoas pertencentes a este grupo: aspectos negativos (mais abstratos) são atribuídos a causas internas, enquanto que os positivos (mais concretos) tendem a ser atribuídos a causas externas e instáveis. Este fato é de fundamental importância, tendo em vista que as formas mais abstratas são muito mais resistentes à mudança, e tendem a ser percebidas como estáveis.

Numa sociedade onde é cada vez mais desencorajada a manifestação do preconceito, a redução real do mesmo não existe. Assim como é visto em relação a outros grupos, os obesos são alvos do preconceito sutil, automático, não expressado. A presença de atitudes negativas frente à obesidade é constatada em todas as idades, níveis de escolaridade, gêneros, e com algumas nuances interculturais.

Diante destas considerações, os autores conduziram um estudo para observar se a percepção da obesidade é diferente entre um grupo de universitários (sem sobrepeso), um grupo de pessoas com transtornos alimentares (com peso normal), e outro composto por obesos. A amostra total contou com 234 participantes, sendo 138 universitários, 47 com transtornos alimentares e 49 com obesidade.

O material utilizado foi uma lista de 146 adjetivos do inventário para avaliação dos transtornos de personalidade de Tous, Pont e Muiños, destinado a adolescentes e adultos de ambos os sexos. Através do inventário é possível destacar nove tipos de personalidade normal, bem como as alterações de personalidade que parecem se correlacionar com cada uma delas. Assim, os tipos de personalidade normal/alterada são: Introvertida/Esquizóide, Inibida/Evitativa, Cooperativa/Dependente, Sociável/Historiônica, Confiante/Narcisista, Convincente/Anti-social, Respeituosa/Obsessivo-compulsiva, Sensível/Passivo-agressivo, Impulsiva/controlada.

O questionário foi aplicado por uma psicóloga ao grupo de universitários e ao de pacientes com transtornos alimentares. A estes grupos foi pedido que assinalassem os adjetivos que, para eles, melhor classificariam os obesos. Já ao grupo de pessoas obesas, foi pedido que escolhessem os adjetivos que melhor descreviam sua forma de ser. Quem ficou encarregada da aplicação do inventário neste último foi uma enfermeira.

Durante a interpretação dos dados foi visto que, na amostra geral, há uma coexistência da adjetivos positivos e negativos. Contudo, é destacável que os adjetivos mais citados não estão entre os que definem as personalidades confiante e convincente, o que não ocorre quando consideradas as diferenças intergrupais. Vistos separadamente, os referidos tipos de personalidade estão presentes quando se considera a percepção que os obesos têm de si (acrescidos da personalidade respetuosa). Já as pessoas sem sobrepeso da amostra vêm as pessoas obesas como introvertidas, inibidas e sensíveis.

Assim, o que se pode constatar é que a forma de perceber, qualificar e definir os obesos por parte do grupo de sujeitos com obesidade é muito diferente da forma como o fazem os dois outros grupos. A percepção que as pessoas obesas têm de si é muito mais positiva que a percepção que o grupo de estudantes e o de pacientes com transtornos alimentares têm acerca dos obesos. Os resultados também indicam que os estereótipos induzem a um enviesamento perceptivo quanto às características da personalidade.

O pavor que as pessoas com transtornos alimentares têm de ganhar peso pode explicar o porque deste grupo ter atribuido às pessoas obesas características de personalidade mais negativas que os indivíduos do grupo controle (universitários). Mas, ao mesmo tempo, o uso – aparentemente de forma compensatória – de alguns adjetivos por estes grupos mostram a perpetuação do mito do “gordo feliz”, bondoso, complacente, etc. Além desses aspectos, estando de acordo com a teoria, os dois grupos sem sobrepeso não assinalaram alguns adjetivos que não viessem a confirmar os estereótipos relativos aos obesos.

Por fim, o artigo é concluído destacando a importância de um tratamento, tanto da obesidade, quanto dos transtornos alimentares, que abarque um trabalho psicoeducativo preocupado com as teorias implícitas da personalidade acerca das pessoas obesas. Deve-se, assim, estar atento aos estereótipos, à estigmatização e à culpabilização destes indivíduos.

Este destaque feito pelos autores pode ser corroborado por outros estudos, que mostram que os próprios profissionais de saúde devem ser submetidos ao trabalho psicoeducativo proposto. Cardeal, Cordás e Segal (s.d.), num artigo sobre os “Aspectos psicossociais e psiquiátricos da obesidade”, relatam que atitudes e estereótipos negativos em relação à obesidade por parte de médicos e demais profissionais da área são frequentemente descritos na literatura sobre o tema. Uma das consequências disto é que os médicos podem se sentir menos interessados em tratar pacientes com sobrepeso, por considerar que eles têm pouca força de vontade, e que pouco se beneficiarão do aconselhamento. Mais do que isto, vê-se que a percepção destas atitudes e estereótipos por parte do paciente dificulta o tratamento, tendo em vista que ele fica mais relutante em procurar ajuda adequada.

No entanto, a relevância dos resultados obtidos ultrapassa a problemática terapêutica. O fato de pessoas obesas frequentarem menos anos a escola, terem menos chance de serem aceitas em escolas e, quando mais velhas, de conseguirem os empregos mais concorridos, além de terem os salários mais baixos e menor probabilidade de se envolverem num relacionamento estável (Cardeal, Cordás e Segal, s.d.), são indicativos do quão necessário é perseverar nos estudos sobre a obesidade, seus estereótipos, e o impacto destes na vida das pessoas com sobrepeso ou obesas.

Referências:
Jauregui Lobera, I.; Rivas Fernandez, M.; Montana Gonzales, M.ª T. e Morales Millan, M.ª T.. Influencia de los estereotipos en la percepción de la obesidad. Nutr. Hosp. [online]. 2008, vol.23, n.4, pp. 319-325. ISSN 0212-1611. Disponível em: http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0212-16112008000500003&lng=pt&nrm=iso

Cardeal, A., Cordás, M. V., Segal, T. A. (s.d.). Aspectos psicossociais e psiquiátricos da obesidade. Revista de Psiquiatria Clínica. Disponível em: http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol29/n2/81.html

Resenha: o brasileiro, o racismo silencioso e a emancipação do afro-descendente

Gilcimar Dantas

A expressão do preconceito racial no Brasil é um fenômeno difícil de ser compreendido, percebido e, portanto, enfrentado. Isto se dá por conta dos seus mecanismos subliminares que encontram suporte na cordialidade dando a impressão de que não há racismo neste país, levando à conclusão de que não se deve adotar nenhum tipo de postura frente a tal situação. Segundo o autor, em uma pesquisa realizada pelo Datafolha, em 1996, 89% dos brasileiros afirmaram que existia racismo no Brasil, entretanto apenas 10% admitiram esse racismo como seu, apesar de serem unânimes ao admitirem que o racismo é percebido em outras pessoas. Sendo assim, neste campo extremamente confuso, se torna altamente difícil a concretização de medidas que contribuam para a mudança desse quadro. Por conta disso, a população negra acaba tendo dificuldades em construir uma identidade positivamente afirmada que culminaria no engajamento em políticas com o objetivo de melhoria de sua condição social.

Tendo como referência as situações acima citadas, o autor busca investigar alguns processos presentes na construção da identidade do negro brasileiro partindo de algumas experiências vividas por três mulheres de uma família negra. Essas três pessoas possuem aparências diferentes no que tange o gradiente de cor, sendo consideradas anteriormente uma delas como morena, outra como morena e a última como parda. Não obstante, devido a episódios de discriminação racial e à participação em grupos de militância elas passaram a se enxergar como negras independente da tonalidade mais escura ou mais clara de pele.

Segundo o depoimento de membros dessa família, os filhos quando eram crianças não ouviam falar de preconceito racial e quando esses assuntos viam à tona eram tratados de maneira jocosa. Para o autor, essa forma de lidar com o preconceito é algo comum na sociedade, entendendo que a melhor maneira de lidar com racismo é o silêncio e que o termo moreno, palavra arraigada na cultura brasileira, é uma forma politicamente correta de se referir ao negro, que tem como função a fuga de uma realidade de discriminação levando esse indivíduo a se identificar com símbolos ligados ao grupo dominante.

Dentre os espaços favoráveis às distorções dos referenciais da comunidade negra está a escola, a qual é um microcosmo da sociedade que rodeia a criança, reproduzindo de maneira subliminar uma imagem caricatural do negro, estimulando os estereótipos de submissão do afro-descendente. Tudo isso apoiado numa visão de mundo eurocêntrica que cria um processo pedagógico que leva a pessoa negra a não reivindicar os seus referenciais culturais e seus interesses políticos e sociais. Além disso, os padrões de beleza derivados da estética branca são usados como referência correta e positiva em contraposição a uma estética negra considerada primitiva, menor e exótica.

Uma das mulheres entrevistadas afirma que se esfregava muito quando começou a tomar banho sozinha pois achava que a cor da sua pele era sujeira. Outra disse que na época da escola foi ridicularizada por seus amigos e seu namorado. Assim, essas mulheres buscavam se aproximar ao máximo dos padrões de indivíduos considerados brancos. Neste contexto, as pessoas negras tendem a internalizar valores desqualificados sobre si mesmas e nunca se sentindo satisfeitas com os seus êxitos, pois jamais conseguirão atingir o ideal branco.

De todo modo, essa pessoa tomando consciência da desvalorização a qual esta submetida, ela pode fazer um movimento contrário ao que está estabelecido assumindo uma postura de valorização de suas características culturais e raciais. Essas experiências são, normalmente, conflitivas, pois afrontam uma maneira de ver o mundo e a si mesma levando-a a um questionamento sobre uma realidade de rejeição difícil de ser negada e que, por sua vez, a leva a uma ruptura com todo um mundo simbólico. Após essa ruptura, o individuo passa a desenvolver uma nova estrutura com referenciais em matrizes africanas, voltando-se ao engajamento em organizações que buscam estratégias de combate ao racismo e em movimentos que valorizam a cultura negra.

O autor chama à atenção ao fato de as pessoas que adotam a militância como modo de vida tenderem a desenvolver uma identidade apoiada em procedimentos de vedamento e exclusão que resultam na repetição do terreno que elas mesmas se decidiram modificar. De qualquer forma, ele considera importante a presença de pessoas negras em movimentos de militância

Mas é importante estar atento também à importância de reivindicações de especificidades á comunidade negra exatamente por conta da exclusão em esferas da sociedade aonde os brancos são a maioria ou, até mesmo, a totalidade. Nestes contextos, quando se tenta delimitar um espaço no intuito de que a presença e o direito dessas pessoas sejam garantidos, muitos costumam dizer que está havendo racismo ao revés. Na verdade, não é disso que se trata, mas sim de uma necessidade de garantir que coisas se concretizem em um espaço aonde os negros sofrem de uma imensa desvantagem. De toda sorte, não existem subsídios políticos, financeiros e ideológicos para se reproduzirem um terreno tal qual ele se encontra, sendo que forma contrária, por parte dos negros.

Para o autor, o afro-descendente passa a abandonar ideologias simplificadoras, reconhecendo as impressões anteriores sobre negritude como românticas e idealizadas, havendo uma decepção com os grupos radicais e passando a participar de grupos mais envolvidos seriamente com o combate à discriminação e de valorização das matrizes africanas. Neste sentido, a pessoa passaria a ter atitudes mais abertas e menos defensivas nas quais, além de manter relações com outras pessoas negras, construiria relacionamentos significativos com outros indivíduos não-negros respeitando as auto-definições destes. Poderá, também, participar de coalizões com outros membros de grupos organizados a respeito de outros pontos de vista. A partir de então, referências de raça e africanidade passam a ser questões de grande importância na vida dessa pessoa. Uma das mulheres entrevistadas, nesse sentido, afirma que agora é negra, não precisa mais lutar contra isso e que, não nasceu negra, se tornou negra.

Para Ferreira, um processo histórico, no Brasil, articulado a um projeto de modernidade apoiado cientificamente desenvolveu meios que acabam por deslegitimar o africano, juntamente com o mito da democracia racial que tende a negar esse fato. Mas, de qualquer forma o que foi apresentado no então trabalho também apresenta mecanismos que tornam possíveis uma reversão desse quadro. Sendo assim, se fazem necessários o debate sobre preconceito e discriminação na escola sob uma ótica mais abrangente, a participação em grupos de militância com objetivos políticos e culturais e fomentos dessa discussão na academia através de estudos voltados à questão do afro-descendente.

Por fim, o autor conclui ser importante que a pessoa branca não negue as sua raízes culturais africanas e indígenas, assim como o negro não negue as sua raízes européias e indígenas, pois esta é uma luta do brasileiro que é culturalmente negro, branco e indígena.

Isso é, de fato, relevante, mas é necessário se ter a sensibilidade para o foco num referencial ancestral o qual o indivíduo negro possa se sentir pertencente, ter um passado do qual deva se orgulhar e construir a sua identidade para não cair em um discurso que afirma que todos são miscigenados e que, por sua vez, não faz sentido reivindicar direitos a um grupo racial específico.

Referência: Ferreira, R. F. (2002). O brasileiro, o racismo silencioso e a emancipação do afro-descendente. Vol. 14 (1): 69-86.

Resenha: A expressão das formas indirectas de racismo na infância

Contribuição: Aruanã Fontes

O racismo tem se tornado cada vez mais indireto, discreto e sutil na sociedade contemporânea. Assim, buscam-se atenuar as expressões explícitas do preconceito, substituindo-as por novas formas que não evidenciem seu caráter discriminatório. Vários estudos na área da psicologia social têm se debruçado sobre este tema para descrevê-lo ou constatar as suas causas, entretanto normalmente focam nos adultos. França e Monteiro contemplam este assunto, direcionando seus estudos para as novas expressões do racismo, porém na infância. As autoras, no artigo, buscam confrontar as teorias cognitivas do desenvolvimento que consideram que a partir dos 7 ou 8 anos as crianças – devido ao desenvolvimento das capacidades cognitivas – se tornam menos preconceituosas. Para isso elas fazem uma breve revisão da literatura acerca da discriminação sutil em adultos, a fim de aproximar estes conceitos da realidade das crianças. Dentre as abordagens apontadas, a teoria do racismo aversivo de Dovidio e Gaertner merece destaque. Esta teoria afirma que as expressões de racismo dependem do contexto de resposta. Assim, nos meios em que o socialmente esperado não se faz claro, ou que há uma justificativa para a discriminação, o racismo se faz evidente. Gaertner concluiu que a saliência da norma anti-racista faz com expressões de racismo sejam evitadas. Esta justificativa, para França e Monteiro, serve também para o fato de as crianças acima de 8 anos começarem a reduzir ou extinguir suas manifestações de discriminação. Para as autoras a partir desta idade já há interiorização das normas sociais anti-racista, e o discernimento dos locais em que pode ou não discriminar as outras crianças. França e Monteiro elaboram três estudos com crianças brancas, com uma quantidade balanceada de crianças entre 8 e 10 anos e entre 5 e 7 anos, para comprovar que as primeiras já se assemelham aos adultos no que diz respeito a expressão discreta do racismo. Vale salientar que todas tinham capacidade de realizar e entender as tarefas requeridas. No primeiro estudo foi dada uma instrução na qual cada criança teria que recompensar duas crianças-alvo (uma negra e uma branca) por ter ajudado em uma tarefa, carregando tijolos – historia fictícia. O contexto poderia ser: igualitário – os alvos com o mesmo desempenho na tarefa –, o qual comporta justificação para a discriminação; ou contexto de diferenciação – o alvo negro com menor desempenho que o branco ou vice-versa – onde a discriminação era justificável. A discriminação seria, então, detectada através da distribuição dos doces em cada contexto. As autoras confirmaram as hipóteses de que: no geral o alvo Negro seria discriminado; as crianças menores o discriminariam em qualquer contexto e as maiores apenas no contexto em que havia justificativa para tal. O segundo estudo foi realizado em escolas onde cada criança participava de uma entrevista. Uma entrevistadora negra dava notas de brinquedo à criança para que as distribuíssem para duas crianças em fotos – uma branca e uma negra – dizendo que estas notas seriam revertidas em dinheiro real, para ajudar as crianças a comprarem suas bicicletas. Este estudo procurava testar o impacto do nível de saliência da norma anti-racista – representada pela presença ou ausência da entrevistadora – na discriminação – observada através da quantia de dinheiro que destinada aos alvos. Constatou-se que, como esperado, as crianças mais novas discriminaram o alvo negro independente da saliência da norma, ou seja, estando a entrevistadora presente ou não. Já no grupo de crianças mais velhas, houve discriminação somente no contexto onde a norma anti-racista não era saliente, no qual a entrevistadora tinha se retirado. Para investigar o período da infância no qual já existi a interiorização das normas contra o racismo, foi elaborado um terceiro estudo com um grupo de crianças e de mães. Foi mostrada, então, uma lista com 11 grupos (doentes de SIDA, homossexuais, índios, condutores de risco, negros, cegos, pessoas feias, gordas, racistas, pessoas sujas e políticos). Para as mães foi perguntado o quanto era normal ter sentimentos negativos com relação a cada grupo, e para as crianças o quanto elas gostavam destes. As escalas para os dois grupos iam de 1 (acha certo – para as mães – ou gosta – para as crianças) a 3 – o extremo oposto. Os resultados mostraram que os grupos os quais as mães achavam mais aceitável o preconceito, as crianças de todas as idades mostravam discriminação com relação a estes. Contudo, com relação ao grupo de negros, as mães não consideram permitido o preconceito e as crianças de 5 a 7 anos os discriminaram. Porém, as mais velhas revelaram sentimentos positivos com relação ao grupo focado, se mostrando compatíveis com as normas do seu grupo de referência. A partir dos estudos, pode-se constatar que as crianças a partir dos 8 anos já interiorizaram, pelos menos parcialmente, as normas anti-racistas. Ao contrário do que a teoria cognitiva do desenvolvimento afirma, elas não deixam ter preconceitos, e sim driblam as regras sociais. Assim, em contextos onde essas regras não estão salientes ou em que há justificação para a discriminação, que não a racial, elas se mostram racista. Estudos como estes tem grande relevância, pois ao verificar expressões indiretas de racismo na infância devemos mudar nossas práticas com relação às crianças, ou seja, os estudos implicam em uma transformação na maneira de ver os comportamentos delas. Nas escolas, por exemplo, é preciso estar atento as relações entre as crianças, já que, muitas vezes, quem percebe as formas sutis são apenas aquelas que sofrem com o racismo. Estas formas são muitas vezes tidas como exagero da vitima, o que vai interferir na formação de sua identidade racial.

Referência França, D. X. e Monteiro, M. B. (2004). A expressão das formas indirectas de racismo na infância. Análise Psicológica. Vol. 4 (22): 705-720.

Resenha: a expressão das formas indiretas de racismo na infância

Contribuição: Gilcimar Dantas

Estudos que analisam preconceitos em crianças afirmam que estas se tornam menos preconceituosas após os sete anos de idade a partir do amadurecimento de estruturas cognitivas já existentes. Entretanto, há uma contradição entre a diminuição do preconceito a partir do sete anos de idade e atitude preconceituosas dessas mesmas pessoas quando adultas. Sendo assim, em contraposição à abordagem cognitiva do desenvolvimento, França e Monteiro buscam demonstrar, por meio de uma pesquisa realizada em escolas públicas e privadas do Brasil, que a expressão do preconceito não diminui, mas apenas modifica a sua forma de se manifestar tornando-se menos direta. Para tanto, foram realizados três estudos no intuito de avaliar o efeito da saliência nas formas de expressão de racismo na infância e o processo de socialização da norma anti-racista em dois grupos de idade – crianças entre cinco e sete nãos e entre oito e dez anos. No primeiro estudo procurou-se investigar as formas indiretas de racismo em contextos aonde a discriminação poderia ser justificável e em outro no qual a discriminação não poderia ser justificável nos dois grupos de idade. As crianças foram entrevistadas individualmente, tendo como estímulo fotografias de crianças negras e brancas, e ainda quatro pequenos tijolos e seis doces de brinquedo. Durante a entrevista, era contada à criança uma história a qual ela estava querendo construir uma casa (para as meninas) ou uma garagem de brinquedo (para os meninos) e que seria necessária a ajuda de crianças que ganhariam doces como recompensas. Os tijolos eram usados para representar o quanto cada criança da fotografia, branca ou negra, havia carregado. Numa situação o alvo branco carregava mais que o alvo negro e numa outra o alvo negro carregava mais que o alvo branco, sendo que após o somatório final, ambos tinham carregado a mesma quantidade de tijolos. Os resultados indicaram que no contexto em que se justificava a discriminação as crianças mais novas recompensavam mais o branco, ao passo que as mais velhas eram igualitárias. Já no contexto em que a discriminação não era justificada ambos os grupos recompensavam mais o branco. No segundo estudo foi utilizada uma entrevistadora negra a fim de manipular um contexto onde uma norma anti-racista estivesse muito ou pouco saliente. Este estudo teve como objetivo verificar se a presença da entrevistadora negra influenciaria na expressão do racismo entre os dois grupos de idade. As crianças foram abordadas em sala de aula tendo sido entrevistadas individualmente. A entrevistadora contava uma história de duas crianças, uma negra e uma branca, que precisavam de contribuições para comprar bicicletas. Havia diante dos entrevistados dois mealheiros, trancados com cadeado, um com a foto da criança negra e outro com a da criança branca, aonde os entrevistados colocariam as suas contribuições (cédulas de brinquedo de um real) na quantia que desejassem. Os resultados desse estudo indicaram que houve discriminação do alvo negro por parte das crianças, sendo que quando a entrevistadora estava presente as crianças entre dez e oito anos contribuíam de maneira igualitária ao contrário do que faziam quando a entrevistadora não estava. Por outro lado, as crianças entre cinco e sete anos contribuíam menos à criança negra estando a entrevistadora na sala de aula ou não. Partindo do pressuposto de que a prática do racismo sutil está ligada às pressões da norma anti-racista, o terceiro estudo teve como objetivo verificar a partir de que idade as crianças interiorizavam essa norma através dos adultos. Participaram dessa pesquisa quinze crianças brancas e quinze mães também brancas. Neste trabalho foi utilizada uma lista com onze grupos (negros, pessoas racistas, homossexuais, índios, portadores do vírus da AIDS, motoristas barbeiros, cegos, pessoas feias, racistas, gordas, sujas e políticos) sobre os quais as crianças eram solicitadas a dizerem através de uma escala, que variava entre 1 (muito), 2 (talvez) e 3 (nada) o quanto gostavam de cada pessoa pertencente aos grupos listados. Lembrando que as escalas só foram aplicadas em crianças que foi verificado o seu conhecimento sobre o significado de cada um dos grupos listados. As mães, por sua vez, respondiam a uma escala que se referiam a esses mesmos onze grupos, que variava entre 1 (não está certo ter sentimentos negativos em relação a esse grupo), 2 (talvez esteja certo) e 3 (está certo ter sentimentos negativos em relação a esse grupo). Os resultados deste estudo demonstraram que os grupos alvo de preconceito por parte das mães foram políticos, pessoas racistas e homossexuais. As crianças entre cinco e sete anos se diferenciaram de suas mães apresentando preconceito relativo ao grupo dos negros enquanto que entre as crianças de dez a oito anos não houve essa diferenciação. Ou seja, elas não apresentaram preconceito contra negros, assim como fizeram as suas mães. Os resultados dessa pesquisa põem em questão a afirmação meramente cognitivista de que as crianças, ao se tornarem mais velhas, por já terem atingido a fase da descentração, seriam capazes de perceber a diferenciação no interior de cada categoria levando-as a agirem de maneira menos estereotipada. Para as autoras, a grande causa para esse tipo de comportamento seria a interiorização das normas sociais do racismo sutil e a capacidade de geri-las de acordo com o contexto. Não se pode esquecer também, que como se trata de uma pesquisa realizada em escolas brasileiras, não se deve perder de vista, também, os efeitos da democracia racial na qual a expressão do racismo se dá de maneira velada e cordial indo para além da interiorização de normas sociais anti-racistas por questões politicamente corretas. No Brasil, a expressão do racismo se torna sutil no intuito de “demonstrar” que todos os brasileiros são iguais racialmente e de que não há necessidade de se buscar mudanças sociais nesse campo. Referência França, D. X. e Monteiro, M. B. (2004). A expressão das formas indiretas de racismo na infância. Análise Psicológica. Vol. 4 (22): 705-720.

Resenha: Estereótipos sobre idosos: uma representação gerontofóbica

Elisa Maria Araújo

O artigo “Estereótipos sobre idosos: uma representação gerontofóbica” aborda a discussão sobre o uso primordial dos estereótipos para a percepção de outros seres humanos. Define os estereótipos como uma percepção extremamente simplificada, que se caracteriza por ser um modelo lógico para resolver uma contradição da vida cotidiana. Martins e Rodrigues (2004) introduzem, no entanto, que os estereótipos contribuem para o não reconhecimento da unicidade do indivíduo, e conseqüentemente, para o despotismo em determinadas situações. Por se tratar de um constructo categorial, generalizador, estável e definidor de um grupo social, o artigo apresenta que a literatura científica sobre os estereótipos é prolixa.

Dentro dos estudos apresentados neste presente trabalho, há a vertente que entende que os estereótipos são pré-concepções rígidas, podendo ser falsas e irracionais. Dentre os diversos domínios da vida social em que os estereótipos são utilizados, este artigo se volta a analisar os estereótipos que envolvem os idosos. Neste caso, a valorização dos estereótipos sobre a velhice gera uma representação social gerontofóbica. Isso acontece quando o fenômeno de envelhecer passa a ser tratado como prejudicial, de menor utilidade ou associado à incapacidade funcional. De acordo com Nogueira (1996, apud Martins e Rodrigues, 2004), os preconceitos envolvem geralmente crenças, de que o envelhecimento torna as pessoas senis, inativas, fracas e inúteis. O desenvolvimento de rejeição e rotulagem de um grupo, em particular de indivíduos, ocorre porque as características individuais com traços negativos são atribuídas a todos os indivíduos desse grupo.

O artigo utiliza a palavra “velhote”, que descreve os sentimentos ou preconceitos resultantes de micro-concepções e dos “mitos” acerca dos idosos, como forma de exemplificar os estereótipos que se referem aos idosos. Da mesma maneira, a velhice remete a uma representação de uma doença incurável, como um declínio inevitável, que está votado ao fracasso. Este estereótipo tornou-se tão socialmente aceito que Louise Berger (1995, apud Martins e Rodrigues, 2004) afirma que abundam hoje “idéias feitas e preconceitos relativamente à velhice. Os ‘velhos’ de hoje, os ‘gastos’, os ‘enrugados’ cometeram a asneira de envelhecer numa cultura que deifica a juventude”.

Em seguida, as autoras reservam um espaço do trabalho para fazer esclarecimentos específicos sobre os conceitos de atitudes, crenças e estereótipos. De forma sucinta, objetiva e pouco embasada em autores e estudos anteriores, elas definem atitude como sendo “conjunto de juízos que se desenvolvem a partir das nossas experiências e da informação que possuímos das pessoas ou grupos”, podendo ser favorável ou desfavorável, além de exercer influência nos comportamentos. Além disso, definem crença como “um conjunto de informações sobre um assunto ou pessoas, determinante das nossas intenções e comportamentos, formando-se a partir das informações que recebemos”. Como exemplo, as autoras se utilizam da “idéia” de que todos os idosos são sensatos, dóceis e nunca se zangam. E por fim, conceitualizam estereótipo como sendo uma imagem mental muito simplificada que é partilhada, nas suas características essenciais por um grande número de pessoas. Seria um “chavão”, uma opinião feita, uma generalização e simplificação de crenças, podendo ser de natureza positiva ou negativa. A idéia de que todos os idosos são prudentes seria um exemplo de um estereótipo positivo, na qual são atribuídas características positivas ao grupo; e ao contrário, a crença de que os idosos são senis, representa uma forma de estereótipo negativo.

Baseando-se em estudo da Universidade de Montreal por Champagne e Frennet (cit. por DINIS, 1997, apud Martins e Rodrigues, 2004), o artigo identifica quatorze estereótipos considerados como os mais freqüentes relativos aos idosos. Importante ressaltar, que o artigo não faz nenhum comentário sobre como se deu este estudo, com quem foi realizado e quando aconteceu, e isso se mostra uma grande limitação do artigo em discussão. Simplesmente apresenta os resultados, analisando-os superficialmente.

Dentre os estereótipos mais freqüentes, a maioria destes não tem relação a características específicas do envelhecimento, mas sim a traços da personalidade e a fatores socioeconômicos. Como estereótipos mais freqüentes, foram encontrados que: os idosos não são sociáveis e não gostam de se reunir; temem o futuro; são pessoas doentes que tomam muita medicação; fazem raciocínios senis; são muito sensíveis e inseguros; não se interessam pela sexualidade; divertem-se e gostam de rir; gostam de jogar às cartas e outros jogos; gostam de conversar e contar as suas recordações; gostam do apoio dos filhos; não se preocupam com a sua aparência; são muito religiosos e praticantes; são frágeis para fazer exercício físico; são na grande maioria pobres.

Este resultado revela que se de um lado os estereótipos simplificam a realidade, por outro, minimizam as diferenças individuais entre os membros de um determinado grupo, o que revela um desconhecimento do processo de envelhecimento. Além disso, a utilização de estereótipos é causa de enorme perturbação nos idosos, uma vez que estes negam o seu processo de crescimento e os impedem de reconhecer as suas potencialidades, de procurar soluções precisas para os seus problemas e de encontrar medidas adequadas.

Por fim, a visão global e generalizada, que caracteriza os estereótipos gerontológicos, distorce a realidade. O artigo conclui sua análise com a reflexão de que investigações diversas sobre esta temática têm demonstrado que a distorção causada pelos estereótipos “cegam” os indivíduos, impedindo-os de se precaverem das diferenças que existem entre os vários membros, não lhe reconhecendo deste modo, qualquer virtude, objeto ou qualidade.

Além disso, o artigo apresenta influências que a enfermagem sofre e que são determinantes para a prática de comportamentos positivos e negativos desses profissionais. De acordo Berger (1995, apud Martins e Rodrigues, 2004), respeito, a reciprocidade e a confiança são exemplos de atitudes positivas que os profissionais de enfermagem podem ter diante das influências do meio e do social; e “automorfirmo social”, “gerontofobia”, “âgismé” e a infantilização ou “bebeísme” são exemplos de atitudes negativas quanto aos idosos. Estas atitudes negativas são respectivamente: o não reconhecimento da unicidade do idoso; o medo irracional de tudo quanto se relaciona com o envelhecimento e com a velhice; todas as formas de discriminação, com base na idade; e simplificação demasiada das atividades sociais e/ou recreativas e pela organização de programas de atividades, que não correspondem às necessidades dos indivíduos.

O artigo termina com a mesma análise superficial com a que começou. Apresenta uma visão geral de como os estereótipos referente aos idosos geram influências na vida dos idosos, e no comportamento das pessoas frente a estas pessoas. Faz reflexões sobre o quanto se perde e se ganha com a utilização dos estereótipos, porém não aprofunda em nenhuma discussão. Durante toda a discussão, faz-se pouca referência a estudos e pesquisas anteriores sobre o tema, o que mostra grande limitação do texto em questão.

Resenha: Martins, R. M. e Rodrigues, M. L. Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica. Millenium. Revista do ISPV, 29, 249-254, 2004.

Resenha: O silêncio como forma de racismo: a ausência de negros na publicidade brasileira

Luzia Mascarenhas de Almeida

Em 2008, a abolição da escravatura completou 120 anos. No entanto, esse marco histórico pouco foi evidenciado na mídia brasileira.
O artigo em questão teve como objetivo discutir brevemente a mídia e as relações raciais, no entanto, ao contrário da maioria dos trabalhos, não pretendeu falar sobre as imagens e formas de representação do negro, e sim sobre o seu silenciamento, buscando analisar o papel dessa invisibilidade como elemento produtor de sentido.
Desde o período da abolição dos escravos, a elite brasileira vem empreendendo uma severa tentativa de branqueamento da sociedade. Porque, segundo Martins, o negro era o símbolo maior do atraso e da degradação. Era uma ameaça para o Brasil que nascia.
Na produção cultural da época, o discurso racial dos grupos políticos era identificado. A literatura nacional romântica, na sua primeira fase, surge exatamente para negar a existência do negro, quer social, quer esteticamente.
Segundo Martins, todas as imagens que eram associadas ao negro insistiam em caracterizá-lo como ser inferior e incompatível com a “civilização”.
Assim, valorizava-se o biótipo europeu (a pessoa branca) enquanto se
“trabalhava”, de modo disfarçado, para o desaparecimento e estigmatização do componente negro da sociedade, fazendo com que o Brasil criasse um registro branco de si mesmo. Esse registro foi um instrumento de dominação que ultrapassou o século XIX e chegou, remodelado, aos nossos dias.
Em meio ao desenvolvimento das novas tecnologias, a mídia ia assumindo o papel de principal veiculadora de modelos e padrões. Para embasar a discussão sobre o papel da mídia como instrumento de dominação, Martins discorre sobre o livro A Cultura da Mídia de Douglas Kellner.
Em seguida, fala do caso específico do Brasil, onde a questão racial vai ser um dos principais, senão o principal foco de conflitos e disputas. Em nossa sociedade, existe uma segregação que não é positivada em lei, mas que pode ser percebida no imenso abismo social que existe entre brancos e negros. Alguns estudos, como os realizados pelo IPEA, comprovam que os negros não têm acesso igualitário a bens e serviços. E ainda, essa dificuldade de acesso também ocorre no “mercado” de bens simbólicos, ou seja, espaços públicos, arte e, em especial, meios de comunicação (um caso-modelo de reprodução das nossas relações raciais).
No tocante à midia, os negros ocupam posições negativas, subalternas e de segundo plano.
Exceções únicas devem ser feitas aos cenários esportivo e musical, onde ganham projeção e valor.
No universo dos meios de comunicação, a publicidade assume relevância que extrapola sua função primeira de estímulo e incentivo ao consumo. Ela é o mais eficiente vetor de discursos e mensagens simbólicas. Assim, ao difundí-los, a publicidade dará eco aos valores da sociedade que a produziu. Como no Brasil os valores são pautados dentro de uma lógica eurocêntrica que deprecia o que não é espelho, nossos anúncios tendem a reproduzir e legitimar as desigualdades raciais.
Com relação à imagem do negro na publicidade, a partir de pesquisas realizadas, Martins afirma que a publicidade, quando não torna o negro “invisível”, apresenta-o, na maioria das vezes, de modo estereotipado. Os quatro estereótipos geralmente relacionados à pessoa negra são: o trabalhador braçal, figura próxima ao ex-escravo, no qual estão inseridos frentistas, carregadores e empregadas domésticas; o negro divertido e performático; o negro atlético, ao qual está ligada tanto a imagem do desempenho esportivo como a do vigor sexual; e o carente social, negro dependente e despossuído. Tais estereótipos têm como função responder aos fatores ambientais, como nas situações de conflitos grupais e nas diferenças no poder e nos papéis sociais.
No tocante a sua participação na publicidade, pesquisas realizadas em 1994 e 1995, além de uma realizada em 2007, apontam para uma notável invisibilidade do negro na esfera da publicidade.
Em seguida, o autor chega ao ponto primordial do artigo, que é analisar a política de silenciamento (afirmação de algo para apagar, necessariamente, outros sentidos possíveis, mas indesejados) com relação ao negro em nosso país.
Para Martins, a elite brasileira define simbolicamente quais são os lugares do negro dentro da sociedade, permitindo que ocupe determinados espaços dentro de uma cadeia de representações, ao passo que o apaga dos demais.
Existem duas consequências relevantes com relação à política de silenciamento imposta aos negros no Brasil. São elas: a questão da construção da identidade e a naturalização do racismo.
Dessa maneira, o artigo discute questões relacionadas ao negro e a sua inserção na mídia e na publicidade, colocando em foco o racismo que vem se propagando desde o século XIX e que hoje é tido como inconstitucional, no entanto, não deixa de existir de um modo sutil e dissimulado, inclusive nos meios de comunicação. Nesse sentido, faz-se necessário questioná-lo e denunciá-lo

Referência: Martins, C. O silêncio como forma de racismo: a ausência de negros na publicidade brasileira. Interscience Place, 2, 200

Resenha: Música, comportamento social e relações interpessoais

Aílton Alves de Souza

Muitos teóricos se debruçam sobre a questão da música em busca de saber os seus reais efeitos social e fatores relacionais sobre os indivíduos. Apesar de o lingüista Steven Pinker promover suas declarações que poderiam contrariar alguns efeitos benéficos da música, isto veio a suscitar maiores reflexões envolvendo multidisciplinarmente categorias de especialistas num objetivo específico, “a música e seus efeitos”.
Não se pode acreditar que por uma razão geneticista-determinista existisse um gene determinado para a música, assim como também não existe um gene determinado para a homossexualidade e ou a violência, entretanto, elas existem e numa escala acentuada. E como as outras situações, a música existe e continua a exercer o seu papel nas sociedades e nas culturas.
Platão, a alguns séculos antes da era cristã, em sua magnânima sabedoria já dizia: “a música é valiosa não apenas por que cria requintes de sentimento e caráter, mas também por que preserva e restaura a saúde”.
Na antiguidade, nas grandes civilizações, a música era utilizada como uma forma de terapia para cura de enfermidade alem de está presente nos encontros sociais e religiosos. Era extensamente empregado para cura de distúrbios emocionais o que nos trás na contemporaneidade uma clara demonstração de seus efeitos sobre os indivíduos.
Segundo Huron (1999) dentro de uma característica filogenética, a música incrementa uma ambiência e proporciona todo um clima para a aproximação das pessoas em seus encontros amorosos e baseado no mesmo autor, a música exerce alguns efeitos sobre a atração e sobre o desenvolvimento subseqüente das relações interpessoais. Assim, a música, conforme Gregory (1997), é um fenômeno social que vem mantendo suas funções tradicionais e sentidos próprios em diferentes sociedades no decorrer da história.
É sabido que para ocorrer uma relação interpessoal precisa do aparecimento de um atrativo que empurre os indivíduos para um ponto comum de união e que possivelmente deve está extremamente entrelaçado com os processos cognitivos. Não se pode desprezar neste contexto, os valores das atitudes e crenças como forças que podem mover as pessoas para a atração interpessoal. Isto nos trás a idéia de que a atração interpessoal depende do contexto social o que pode ocorrer também com a formação do gosto musical. Por mais díspare que pareça esta comparação, ela trás um ponto de interseção que é a indução e o aflorar de sentimentos.
Diante de seus efeitos, podemos dizer que a música tem a possibilidade de levar o indivíduo a dois extremos diferentes; visualizemos o trio do chiclete com bananas tocando em pleno carnaval na avenida, a música “Cabelo raspadinho” que pode suscitar aos ouvintes num determinado contexto, a adotar comportamentos desviantes que a emoção te solicita. Por outro lado, se ouvirmos a música “Com te Partiró” na interpretação de Andrea Bocelli, certamente teremos outras emoções que não aquelas(e também precisa ser analisado o contexto). Diante disso, dá para se perceber que os sentimentos induzidos pela música têm implicações significativas para o comportamento social (Crozier, 1997), em partes por que gêneros musicais diferentes eliciam graus diferentes de excitação.
Baseado nisso, entende-se que não se devem levantar bandeiras quanto ao gosto musical do indivíduo, pois o senso de “música apropriada” depende de fatores culturais e situacionais, uma vez que as respostas, as percepções e os usos da música são comportamentos aprendidos e previamente determinados por membros de um grupo social (Abeles, Hoffer & Klotman, 1995).
Diante de estudos desenvolvidos para testar a veracidade dos efeitos da música sobre o indivíduo, eles trazem uma revelação de que, de fato, a música exerce um papel importante nas relações interpessoais, muito embora não comprovadamente os seus efeitos sobre a atração e a escolha de parceiro. Porém, deixou claro que de forma indireta e generalizada também seus efeitos repercutem sobre a relação interpessoal.
Assim podemos concluir que “conforme a sugestão de Pinker (1997) de que nossas vidas permaneceriam praticamente inalteradas na ausência da música, não é inteiramente verdade, primeiramente, devido ao seu caráter”, outrossim, a sua idéia se esbarra na questão da definição de música, uma vez que existem muitas definições possíveis, que ultrapassam as fronteiras do Mundo Ocidental, bem como o que as pessoas definem como música.

Referência: Ilari, B. Música, comportamento social e relações interpessoais. Psicologia em Estudo, 11,1, 191-198

Análise psicossocial do preconceito contra homossexuais (complemento histórico)

Lucas Carneiro

Nesta presente resenha busco complementar o artigo de Alessandra Ramos Demito Fleury e Ana Raquel Rosas Torres (análise psicossocial do preconceito contra homossexuais) apontando para as raízes históricas e os vieses políticos e ideológicos por de trás do preconceito e a visão infra- humana acerca da homossexualidade. Alertando para propensões teóricas das instituições religiosas judaico-cristãs e das ciências pós revolução industrial e revolução francesa para criar explicações essencialista para melhor controlar o comportamento humano; Tanto sobre a forma de pecado contra a natureza humana, na Idade média, quanto sobre a noção de biologicamente normal ou patológico, pós revolução industrial. Busco, também, apontar que apesar dos preconceitos em relação os homossexuais terem em parte mudados para forma mais sutis e camuflados, por causas dos avanços humanitários e leis que proíbem atos discriminatórios contra os grupos minoritários, não perde seu caráter marginalizatório e excludente.
Antes de qualquer coisa; gostaria de propor uma reflexão sobre uma citação de Sevan tirada do livro: Vigiar e Punir de Michel Foucault. Na qual ele procura demonstrar que o domínio, pela sociedade, da vigilância e da atribuição de direitos e deveres às pessoas não se estabelece apenas no corpo, e sim, principalmente na mente, no controle das idéias pelos conceitos morais de culpa, e percepção de crime e castigo.
Para ele, essas idéias têm de estar fortemente ligadas e se suceder sem intervalo (…) Quando tiverdes conseguido formar assim a cadeia das idéias na cabeça de vossos cidadãos, podereis então vos gabar de conduzi-los e de ser seus senhores. Um déspota imbecil pode coagir escravos com correntes de ferro; mas um verdadeiro político os amarra bem mais fortemente com a corrente de suas próprias idéias; é no plano fixo da razão que ele ata a primeira ponta; laço tanto mais forte quanto ignoramos sua tessitura e pensamos que é obra nossa; o desespero e o tempo roem os laços de ferro e de aço, mas são impotentes contra a união habitual das idéias, apenas conseguem estreitá-la ainda mais; e sobre as fibras moles do cérebro, funda-se a base inabalável dos mais sólidos impérios.
Nesse sentido, a arte de vigiar e punir deve repousar sobre uma tecnologia da representação. Encontrar para um desvio as proposições que convêm é encontrar a desvantagem cuja idéia seja tal, que torne definitivamente sem importância a idéia de se tornar um desviante. Importa, então, à ordem, estabelecer pares de representação de valores opostos, instaurando diferenças quantitativas entre o normal e o anormal, submetendo estas normas categoriais a uma relação de poder. Contudo, essa relação deve parecer a mais natural possível, o que representa estar cada vez mais distante da arbitrariedade. Devem fazer com que pensemos que nossos pensamentos são realmente nossos através de idéias essencialistas para que não reflitamos e apenas repitamos os comportamentos que foram socialmente programados.
Esse trecho é de extrema importância para que reflitamos sobre nossos automatismos julgamentos estereotipados que muitas vezes são feitos sem certa reflexão histórica prévia. E para que antes que saímos brigando e vociferando preconceitos feito os macacos da parábola que brigavam sem saber o porquê; sem saber do condicionamento passado com o jato de água; proponho esta análise histórica da construção social dos conceitos sobre homossexualidade.
O primeiro registro sobre a homossexualidade data 12.000 mil anos antes de cristo. É um registro arqueológico da Era Paleolítica onde algumas pinturas de caverna e centenas de “batons” fálicos foram encontrados na caverna de Gorge d’Enfer em Dordonha na França. Entre os exemplares encontrados destaca-se um dildo duplo supostamente utilizado para em relações sexuais entre mulheres.
Outros registros arqueológicos apontam para 5000 AC na Era Mesolítica onde o homo erotismo está representado em uma rocha encontrada em Addara na Sicília. Nessa inscrição em rocha, homens e mulheres dançam ao redor de duas figuras masculinas com ereção. Supõe-se que esse registro represente uma relação homo erótica.
No século XXVI a.C. (2600 a.C.) na Tumba do faraó Niuserré na 5ª dinastia do império egípcio, os cabeleireiros e manicures da grande casa, Nyankh Khnom e Khom Hotep, foram retratados numa pintura onde insinua-se um beijo homossexual entre homens. Segundo estudiosos da história do Egito há de se considerar que o beijo entre homens não têm, necessariamente, uma conotação homoerótica, sendo muitas vezes manifestados como uma relação de amizade em várias civilizações até os dias atuais
No século XXVI a.C. (2600 a.C.) na Tumba do faraó Niuserré na 5ª dinastia do império egípcio, os cabeleireiros e manicures da grande casa, Nyankh Khnom e Khom Hotep, foram retratados numa pintura onde insinua-se um beijo homossexual entre homens. Segundo estudiosos da história do Egito há de se considerar que o beijo entre homens não têm, necessariamente, uma conotação homoerótica, sendo muitas vezes manifestados como uma relação de amizade em várias civilizações até os dias atuais
sec. XX a.C.A civilização Mochica da região dos Andes na América do Sul retratava a penetração per annum em 3% da coleção das cerâmicas coletadas pela Família Larco com datação estimada em 1000 a.C. Há informações também de que várias esculturas em Ouro das civilizações pré-coloniais dos Andes que representavam a prática do homoerotismo foram derretidas com a chegada dos espanhóis no continente.
630 A.c. – Aristocratas Dorianos da Grécia antiga assumem relações pederástas formais entre adultos nobres e homens adolescentes com o objetivo de educar a população e conter o crescimento populacional. Os registros mais conhecidos da homossexualidade foram resgatados da história da Grécia e Esparta. Durante os séculos VII a.C. a VI a.C. a grécia antiga vivenciou grandes fatos históricos, representados através de sua arte onde a homossexualidade é abordada. Nesse período o poeta Álcman escreveu um coro às virgens onde muitos historiadores acreditam haver uma simbologia de homo erotismo entre mulheres; a poetisa Safo da Ilha de Lesbos, que alguns historiadores consideram como bissexual, escreve vários poemas que alcançam tanto homens como mulheres. Segundo o historiador grego Plutarco, Sólon, homem de estado, legislador e poeta lírico de Atenas mantinha relações homossexuais com Pisístrato. A homossexualidade também teve registos históricos reconhecidos de afeição e convivência nesse período.As relações pederastas se espalharam pela Grécia antiga, influenciando os esportes, a literatura, a política, a filosofia, as artes e a comunidade causando, segundo alguns estudiosos, um grande florescimento cultural; também é considerara e valorização dabeleza muscular e a nudez atlética nesse período.
Depois desse breve histórico o que podemos dizer? Podemos dizer que todos esse povos eram profanos porque não tinham Deus nos seus corações e por isso praticavam esses atos abomináveis contra a “natureza humana” ou podemos dizer que a mudança de valores eticos e morais sobre a sexualidade humana (determinando o certo do pecado) foi mudado para atender interesse politicos e militares de dos hebreus, mais especificamente a tribo de Judá que posteriormente terá o nome de judeus. Como todos conhecem os judeus foram escravos dos egipicios fugiram para Canaã chegado na “ terra prometida” foram escravidos pelos assirios , depois pelos babilônios , depois pelos Persas e por fim pelos Romanos. Então, em um dado momento de sua história os judeus perceberam que o único meio de se libertar a escravidão seria aumentando seu contingente populacional para fortalelecer seu exercito ( na época o poder de um povo era estipulado pelo força de seu exército e como antigamente não tinha bomba atômica e armas de exterminio em massa; essa força de uma exercito significava o número de pessoas que ele possuia). Então, desta forma, os Judeus para aumentar seu contigente populacional e liberta-se das escravidão para enfim dominar a “terra prometida”; fazeram uma revolução ética e moral de todos os valores vigentes a época e criaram mitos como de Onã e de Sodoma e Gomorra para recriminar qualquer forma de ato sexual que não estaria destinado a procriação; como por exemplo, sodomia , masturbação e derivados. E então, a partir deste momento passou a santificar e naturalizar o casamento, familia, o homem heterossexual e filhos; e a punir a todos que não se encaixavam nesses parâmetros.
Há algumas passagem no velho testameto que condenam a homossualidade, como por exemplo : “Não te deitarás com um homem, como se fosse mulher: isso é toevah (também no grego bdelygma, ambos significam “impureza” ou “ofensa ritual”).” (Levítico 18:22) e “Se um homem dormir com outro homem, como se fosse mulher, ambos cometerão “toevah”. (Levítico 20:13). Evidenciando, assim, dentro dessa perspectiva religiosa os preconceitos eram mais rigorosos aos homens; sobre tudo aos que eram passivos, pois, dessa, forma se igualariam e tornariam inferiores como as mulheres. Vale lembrar que as mulheres por toda historia foram consideradas inferiores moralmente e culpadas pelo pecado original (Se vocês acham isso muito, basta lembrarem se da bula emitida pelo Papa Inocêncio VIII durante 5 de dezembro de 1484, ,na qual desiginava os frades dominicanos James Sprenger e Heinrich Kramer para escreverem um manual Malleus Maleficarum -O Martelo das Feiticeiras-, escrito em 1486 ,visando ensinar os juízes a reconhecerem e punir as bruxas em seus múltiplos disfarces e atitudes. Não precisa nem dizer que milhares de mulheres foram mortas injustamente acusada de bruxarias durante a inquisição e deixando, assim, um imenso legado de repressão, medo e submissão ).
Já no novo testamento passagens como: “Não errais: nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem os ladrões nem os bêbados … herdarão os reino de Deus” (I Coríntios 6:9-10). Representam o controle da sexualidade humana através do medo do inferno. Devida a queda do império romano , invansão babarbaras, feudalismo, peste , caos publico. A igreja catolica passa ser a mais poderosas instituição existente da idade media, tanto financeiramente quanto politicamete; desta forma, então passa a a ter a prerrogativa de dizer a verdade , criar e estipular normas e padrões e normas de condutas a serem seguidos. Então, és que aparece a figura de Tomás de Aquino , considerado por muitos como mais santo dos sabios e o mais sabios dos santos, criador do mecanismo mais eficiente para controlar o comportamento sexual humano na época – mecanismo de controle pelo medo do pecado.
Tomás de Aquino foi o responsável pela pecaminização da qualquer forma de sexo que não fosse destinada a procriação e estipulação de normas de condutas para a copula entre homens e mulheres como por exemplo: o sexo só seria permetido dentro do casamento heterosexual com fins procriativos, não poderia fazer sexo em pé porque não somos bichos , a mulher nunca podeia ficar por cima na relação sexual porque seria contra a natureza divina; E por acaso se as pessoas não seguissem essas normas estariam condenadas a arder no fogo do inferno ou na fogueira da inquisição.
Tal autor inclui a homossexualidade entre os pecados contra naturam- contra natureza- ( não se deve disperdiçar o sêmem em vasos profanos , somente nos vasos sagrado- vagina- para procriação), junto com a masturbação e a relação sexual com animais. Para Tomás, esses pecados sexuais são mais graves do que os pecados secundum naturam, embora estes se oponham gravemente à ordem da caridade, por exemplo: adultério, violação, sedução. Isto porque, para Aquino, a ordem natural foi fixada por Deus e sua violação constitui uma ofensa ao Criador, o que seria para ele mais grave do que uma ofensa feita ao próximo (cf. Suma Teológica, II-II, questão 154, artigo 11, corpo). Santo Tomás de Aquino chega a colocar a prática da homossexualidade no mesmo plano de pecados torpíssimos, como o de canibalismo. A partir de então, devido a enorme influência do pensamento tomista no cristianismo, a palavra “sodomia” popularmente foi-se desvinculando de seu sentido filológico original e passou a ser, em quase todo mundo, conotativa de homogenitalidade, ou então sexo anal, seja este hétero ou homossexual.
Então depois de muitas inquisições; mandando para fogueira sodomitas , hereges, feiticeiras e judeus. A igreja católica começa perder a prerrogativa de ter o poder para dizer a verdade para ciência. O saber religioso devido aos movimentos como renascimento , iluminismo , revolução francesa ( ascenção da buruesia ), revolução industrial foram se tornandos obsoletos. Então, assim,a ciência, , passar a ser o discurso mais conviniente para legitimar os interesse politicos das elites dominantes pós revolução industrial.
Surgi , assim, o cientificismo racista , com teorias como a frenologia, eugenia, darwinismo social; teóricos como Francis Gall, Francis Galton, Paul broca, Gobineau, Lavanter entre outros; Todos esse ,buscavam maneiras, meio que de maneira “inconsciente” de legitimar a superioridade racial, através dos vieses biologicos e cientificos, do homem ,heterossexual, branco, europeu sobre as mulheres, homossexuais, negros, asiaticos e africanos e latinos. Não devemos esquecer que essas teorias serviram como desculpas, fachadas essencialistas e biológicas com o intuito de legitimar “legalmente” a politicas neocolonialisas desses povos sobre os demais.Então , dessa forma, passam a afirmar que a homossexualidade é um disturbo orgânico, perversão da mesma forma que buscavam afirmar biologicmente e cientificamete qe os negros e a mulheres são inferiores aos brancos e homens respectivamente.
Com a passagem do século 18 e o enaltecimento da racionalidade em detrimento da fé; o mecanismo de controle da sexualidade passa não ser mais legitimado pela definição moral de certo ou pecado, e sim, agora, através, da “neutralidade cientifica” do biologicamente normal ou patológico.
Como prova dessa pseudo neutralidade dessa ciência que só fazia repetir valores morais introjetados seculos atrás; podemos citar fatos mirabolantes como A descoberta do espermatozóide, em 1677, motivou a Medicina a se associar à Igreja Católica para qualificar a masturbação como uma doença abominável e um mal moral, uma vez que o espermatozóide veio a ser considerado como um bebê em miniatura. Mas tarde a ciência o século 18 passou a legitimava a companha anti- masturbatoria que a enxergava a masturbação como uma doença que provocava distúrbios do estômago e da digestão, perda do apetite ou fome voraz, vómitos, náuseas, debilitação dos órgãos respiratórios, tosse, rouquidão,paralisias,tuberculose e podendo até causar loucura e enfraquecimento do órgão de procriação a ponto de causar impotência, falta de desejo sexual e ejaculações nocturnas e diurnas.
Outro exemplo é o deSamuel Auguste Tissot que em 1758, publica o “Ensaio sobre as doenças decorrentes do Onanismo”, em que diz que esta doença ataca os jovens e libidinosos e, embora comam bem, emagrecem e consomem seu vigor juvenil. E no inicio do século 19 no dicionário das ciências médicas de Serruer- descrevia o jovem masturbador como esses sintomas fisicos : “pele terrosa, lingua vacilante, olhos cavos, gengivas retraidas e cobertas de ulceraçoes que anunciavam uma degradação escorbutica”.
Então ,desta forma, ficava dificil separar , naquela época, o que era ciência , o que era politica, o que era religiao e o que era verdade. Isso é que nos leva a pensar materialmente da seguinte forma : Como os homossexuais não poderiam suprir os ideais burgueses patriarcais de familia e dar filhos ( mão de obras para o sistema) , para sustentar esta nova forma de politica capitalista ;o pensamento do pecado nevano (introjetados e condicionados ao longo dos séculos pela religião católica e judaica) verticalizou para os conceitos de patológico, doente , anormais e inerentemente pervetidos; fadados, assim, os homossexuais a marginalização e exclusão social. Em decorrência , dessa confusão ideológica de enxergar , não era de se adimirar que muitos cientistas buscassem reverter os homossexualidade na base de muita porrada e tratamento de choques e reprimi-la atravésl de leis penais que buscassem crimilaliza-las. Como por exemplo:
Em 1870, um texto de Westphal intitulado “As Sensações Sexuais Contrárias” definiu a homossexualidade em termos psiquiátricos como um desvio sexual, uma inversão do masculino e do feminino. A partir de então, no ramo da Sexologia, a homossexualidade foi descrita como uma das formas emblemáticas da degeneração. Nessa época já existiam leis que proibiam as relações entre pessoas do mesmo sexo.
Em 1890, o Codigo penal republicanos brasileiro prévia punição de práticas homossexuais entre homens. Durante o Estado Novo (1940) , o júrista Alcântara Machado redigiu o código penal e introduziu a proposta de criminalizar de maneira explicita homossexual do sexo masculino quando causarem escândalo público; impondo-se ambos os participates detenção até um ano.
Terapias de Choques Elétricos aplicadas por Ugo Cerletti a partir de 1938 para várias finalidades, incluido a tentativa de cura para a homossexualidade utilizando o pressuposto de que se a homossexualidade tem explicações neuro-bioquímicas, então ela é curável. Na mesma linha, a lobotomia, desenvolvida por Antônio Egas Moniz em 1935 também foi aplicada como tratamento da homossexualidade até 1979 na Alemanha.
Em 1968 o DSM a homossesualidade aparecia no capitulo de desvios sexuais,como um tipo de aberração na qualo interesse sexuais são dirigidos primariamente a objetos outros que não pessoas do sexo oposto.
Até a decada de 90 a maioria do spsicologos argumetavam que a homossexualdade era um disturbio psiquico. Até a penultima edição da Classificação Internacional de Doenças ( CID-9) de 1985, esa orientação era formalmente cosiderada patologica.
Então depois, desse breve histórico, fica evidenciado todo o processo de marginalização e exclusão social dos homossexuais. E por mais que estejamos com certa abertura a respeito do tema, leis humanitárias que punam e condenem a discriminação dos grupos minoritários; É ainda muito difícil transgredir anos de condicionamento mental e social. Então, desta forma, corroborando com os estudos de Alessandra Ramos Demito Fleury e Ana Raquel Rosas Torres; atesto o mesmo: os preconceitos em relação aos homossexuais não vem se acabando, e sim, tornado cada vez mais “sutil”, remanescendo ainda os mesmos vieses essencialistas e discriminatórios de séculos atrás; principalmente quando se trata da homossexualidade masculina. Isto porque a escolha de um parceiro sexual oposta ao da maioria estaria transgredindo séculos de condicionamento socias e conceitos de gênero, papéis e scripts de comportamentos “ditos naturalmente masculinos” são reforçados pela nossa sociedade e que foram alicerces da construção de todas as civilizações ocidentais. É necessário que percebamos que esses constructos depreciativos em relação a homossexualidade não vieram do nada , nem são muito menos naturais, e sim, foram criados socialmente ao longo dos séculos para atender demandas e interesse econômicos e políticos; que visavam controlar e disciplinarizar os comportamentos humanos através, principalmente, pela divisão do trabalho dentro de uma sociedade capitalista e construção de uma família “normal” para atender a demanda de darem novos “filhos” para o sistema.

Referências:
Fleury, A. e Torres, A. Análise psicossocial do preconceito contra homossexuais. Estudo de Psicologia (Campinas) 24, 4, 475-486; 2007
http://pt.wikipedia.org/wiki/Homossexuais
Foucault, Michel. A História da Sexualidade I (A Vontade de Saber). Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.
Foucault, Michel, História da Sexualidade 2: O Uso dos Prazeres, Rio de Janeiro, Graal, 1984
Foucault, Michel Vigiar e punir. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 1987.