Resenha: O brasileiro, o racismo silencioso e a emancipação do afro-descendente

Jerry Kambale Musema

A partir das experiencias vividas por Ferreira (2002), o autor no seu trabalhou buscou-se ampliar melhor o intendimento a respeito da construção da identidade afro-brasileira. Iniciando seu trabalho com as afirmações do especialista em denunciar os disfarces na aparências, Nelson Rodrigues de que o Brasil a muitos anos se fez acreditar que não existia a discriminação etnoracial, como já avia sido afirmado pelo próprio Ferreira no seus trabalhos ( 1999- 2000).
Percebe-se que a discriminação existe no Brasil, e esta enraizada em muitas pessoas; mas ainda sabendo da sua existência, a maioria não querem falar a seu respeito; segundo a Revista Veja (10.01.1996) e a Datafolha (Rodrigues, 1995), considerando suas pesquisas, afirmaram que a população Brasileira considera a discriminação como algo que o “outro” tem, e nunca com a própria pessoa.
Nesse mesmo contexto que o autor aponta o fato da palavra “moreno” que acaba parecendo “politicamente correto” mas no fundo, seria considerada como uma situação que demostra “uma estratégia simbólica de fuga de uma realidade em que a discriminação impera”. As classes dominadas procuram um espelho nas classes dominantes; e isso acaba dificultando a forma de se lidar com o preconceito racial que esta encoberta por “frases educadas”. Essa ideologia leva a uma preservação do problema, e consequentemente levando uma grande parte a acreditar que ela não existe e não há necessidade de ser enfrentada. É importante levar em consideração a analisa de Bauman (1999), “libertando das restrições morais a ação com um propósito, a modernidade tornou o genocídio possível” (p.58). Em nome da modernidade ouvi o grande massacre dos judeus; e isso acontece ainda nos dias de hoje, o exemplo dos índios no Brasil; podemos sitar também algumas das tribos na Africa que sofreram e ainda continuam sofrendo em nome da modernidade. Assim essas concepções da modernidade, tornou o africano no brasil como escravo, “o escravo em negro, e o negro numa pessoa destinada a ‘desaparecer’, em nome da constituição de um povo cordial e moreno”.
Na época do século XX o branqueamento era defendido por muitos pesquisadores brasileiros. Destacando no artigo uma das tristes colocação, pelo antropólogo Roquete Pinto em 1927, que fazia uma previsão em que “em 2012 a população brasileira seria constituída por 80% de brancos e 20% de mestiços, nenhum negro e nenhum índio”.  Nesse contexto o autor tenta mostrar três “condições” para o crescimento do preconceito e a forma que ela esta sendo expresso no Brasil: a primeira é de eliminação ou diminuição do chamado “diferente”; a segunda, pela concepção legitimado pelo processo histórico, e assim levando o Africano a ser escravizado e considerado apenas como objeto e não como ser humano; ultimo é inferiorização do negro a ponto de “prever sua extinção na constituição do povo brasileiro.”
Por ter essa referencia da identidade proveniente de um mundo branco, o negro começa a se desvalorizar, assim se vendo como sem valor. Salienta, Pereira (1987), “a escola é um lugar onde a criança alimenta subliminarmente a figura do negro caricatural”. A escola deveria ser o lugar onde as crianças poderiam aprender a sua verdadeira história que ajudaria a levantar seus auto-estimas, mas infelizmente, a escola tem ensinado a mesma história deturpada ‘eurocêntrica’ como tem feito a sociedade, assim ao em vez de resolver problemas existentes, acaba incentivando o negro aos valores do dominador, “valores brancos”.
Outro ponto importante a citar na “referencia de identidade no mundo branco” é o do padrão de beleza que é sempre proveniente do branco como referencial; dessa forma desvalorizando a beleza negra, a considerando como inferior e para se superar deve tentar chegar perto do padrão branco para poder ser visto como bela. Essa visão levou a maioria de nossos povos negros a uma baixa auto-estima; e com isso, o individuo começa a ter a impressão de não fazer parte de nem um grupo, de tal forma que não se dá seu valor como ser humano.
Em decorrência, desse tempo que o negro passa em conflito, muitas perguntas que quer ter as respostas, sem esquecer a discriminação sofrida. O autor chama essas fases de “experiências que destroem a funcionalidade da visão de mundo presente e, ao mesmo tempo, sugerem nova direção no sentido de uma transformação ou ressocialização”. Apos essas fases conflituosas, o afro-descendente passa por uma fase de “ intensa metamorfose pessoal” aonde ele vai deixando os velhos pensamento e vai construindo os novos com bases africanas. Para Cross (1991), essa nova identidade deve levar ao afro-descendente manter uma boa relação com as pessoas da sua cor, e também criar boas relações com pessoas de outras cores, mas mantendo o respeito a sua identidade.
Ao final do artigo, o autor apresenta mais uma vez os dois discursos que esta sendo propondo: um que aceita a existência do racismo, e outro o nega. Apesar dos dois, o mais importante é que o negro possa mostrar que a sua cultura é algo positiva e também combatendo a discriminação, tendo em mente que ela é uma luta continua. Além disso “enfatizar as nossas raízes nos currículos e reconstruir a história do processo de formação do povo brasileiro, não mais sob a ótica branca oficial, mas com uma visão mais abrangente.”
Referência: Ricardo Franklin Ferreira. O Brasileiro, o racismo silencioso e a emancipação do Afro-descendente; Psicologia & Sociedade; 14 (1): 69-86; jan./jun.2002
Disponivel em: <http://www.scielo.br/pdf/psoc/v14n1/v14n1a05.pdf&gt;

Resenha: o brasileiro, o racismo silencioso e a emancipação do afro-descendente

Gilcimar Dantas

A expressão do preconceito racial no Brasil é um fenômeno difícil de ser compreendido, percebido e, portanto, enfrentado. Isto se dá por conta dos seus mecanismos subliminares que encontram suporte na cordialidade dando a impressão de que não há racismo neste país, levando à conclusão de que não se deve adotar nenhum tipo de postura frente a tal situação. Segundo o autor, em uma pesquisa realizada pelo Datafolha, em 1996, 89% dos brasileiros afirmaram que existia racismo no Brasil, entretanto apenas 10% admitiram esse racismo como seu, apesar de serem unânimes ao admitirem que o racismo é percebido em outras pessoas. Sendo assim, neste campo extremamente confuso, se torna altamente difícil a concretização de medidas que contribuam para a mudança desse quadro. Por conta disso, a população negra acaba tendo dificuldades em construir uma identidade positivamente afirmada que culminaria no engajamento em políticas com o objetivo de melhoria de sua condição social.

Tendo como referência as situações acima citadas, o autor busca investigar alguns processos presentes na construção da identidade do negro brasileiro partindo de algumas experiências vividas por três mulheres de uma família negra. Essas três pessoas possuem aparências diferentes no que tange o gradiente de cor, sendo consideradas anteriormente uma delas como morena, outra como morena e a última como parda. Não obstante, devido a episódios de discriminação racial e à participação em grupos de militância elas passaram a se enxergar como negras independente da tonalidade mais escura ou mais clara de pele.

Segundo o depoimento de membros dessa família, os filhos quando eram crianças não ouviam falar de preconceito racial e quando esses assuntos viam à tona eram tratados de maneira jocosa. Para o autor, essa forma de lidar com o preconceito é algo comum na sociedade, entendendo que a melhor maneira de lidar com racismo é o silêncio e que o termo moreno, palavra arraigada na cultura brasileira, é uma forma politicamente correta de se referir ao negro, que tem como função a fuga de uma realidade de discriminação levando esse indivíduo a se identificar com símbolos ligados ao grupo dominante.

Dentre os espaços favoráveis às distorções dos referenciais da comunidade negra está a escola, a qual é um microcosmo da sociedade que rodeia a criança, reproduzindo de maneira subliminar uma imagem caricatural do negro, estimulando os estereótipos de submissão do afro-descendente. Tudo isso apoiado numa visão de mundo eurocêntrica que cria um processo pedagógico que leva a pessoa negra a não reivindicar os seus referenciais culturais e seus interesses políticos e sociais. Além disso, os padrões de beleza derivados da estética branca são usados como referência correta e positiva em contraposição a uma estética negra considerada primitiva, menor e exótica.

Uma das mulheres entrevistadas afirma que se esfregava muito quando começou a tomar banho sozinha pois achava que a cor da sua pele era sujeira. Outra disse que na época da escola foi ridicularizada por seus amigos e seu namorado. Assim, essas mulheres buscavam se aproximar ao máximo dos padrões de indivíduos considerados brancos. Neste contexto, as pessoas negras tendem a internalizar valores desqualificados sobre si mesmas e nunca se sentindo satisfeitas com os seus êxitos, pois jamais conseguirão atingir o ideal branco.

De todo modo, essa pessoa tomando consciência da desvalorização a qual esta submetida, ela pode fazer um movimento contrário ao que está estabelecido assumindo uma postura de valorização de suas características culturais e raciais. Essas experiências são, normalmente, conflitivas, pois afrontam uma maneira de ver o mundo e a si mesma levando-a a um questionamento sobre uma realidade de rejeição difícil de ser negada e que, por sua vez, a leva a uma ruptura com todo um mundo simbólico. Após essa ruptura, o individuo passa a desenvolver uma nova estrutura com referenciais em matrizes africanas, voltando-se ao engajamento em organizações que buscam estratégias de combate ao racismo e em movimentos que valorizam a cultura negra.

O autor chama à atenção ao fato de as pessoas que adotam a militância como modo de vida tenderem a desenvolver uma identidade apoiada em procedimentos de vedamento e exclusão que resultam na repetição do terreno que elas mesmas se decidiram modificar. De qualquer forma, ele considera importante a presença de pessoas negras em movimentos de militância

Mas é importante estar atento também à importância de reivindicações de especificidades á comunidade negra exatamente por conta da exclusão em esferas da sociedade aonde os brancos são a maioria ou, até mesmo, a totalidade. Nestes contextos, quando se tenta delimitar um espaço no intuito de que a presença e o direito dessas pessoas sejam garantidos, muitos costumam dizer que está havendo racismo ao revés. Na verdade, não é disso que se trata, mas sim de uma necessidade de garantir que coisas se concretizem em um espaço aonde os negros sofrem de uma imensa desvantagem. De toda sorte, não existem subsídios políticos, financeiros e ideológicos para se reproduzirem um terreno tal qual ele se encontra, sendo que forma contrária, por parte dos negros.

Para o autor, o afro-descendente passa a abandonar ideologias simplificadoras, reconhecendo as impressões anteriores sobre negritude como românticas e idealizadas, havendo uma decepção com os grupos radicais e passando a participar de grupos mais envolvidos seriamente com o combate à discriminação e de valorização das matrizes africanas. Neste sentido, a pessoa passaria a ter atitudes mais abertas e menos defensivas nas quais, além de manter relações com outras pessoas negras, construiria relacionamentos significativos com outros indivíduos não-negros respeitando as auto-definições destes. Poderá, também, participar de coalizões com outros membros de grupos organizados a respeito de outros pontos de vista. A partir de então, referências de raça e africanidade passam a ser questões de grande importância na vida dessa pessoa. Uma das mulheres entrevistadas, nesse sentido, afirma que agora é negra, não precisa mais lutar contra isso e que, não nasceu negra, se tornou negra.

Para Ferreira, um processo histórico, no Brasil, articulado a um projeto de modernidade apoiado cientificamente desenvolveu meios que acabam por deslegitimar o africano, juntamente com o mito da democracia racial que tende a negar esse fato. Mas, de qualquer forma o que foi apresentado no então trabalho também apresenta mecanismos que tornam possíveis uma reversão desse quadro. Sendo assim, se fazem necessários o debate sobre preconceito e discriminação na escola sob uma ótica mais abrangente, a participação em grupos de militância com objetivos políticos e culturais e fomentos dessa discussão na academia através de estudos voltados à questão do afro-descendente.

Por fim, o autor conclui ser importante que a pessoa branca não negue as sua raízes culturais africanas e indígenas, assim como o negro não negue as sua raízes européias e indígenas, pois esta é uma luta do brasileiro que é culturalmente negro, branco e indígena.

Isso é, de fato, relevante, mas é necessário se ter a sensibilidade para o foco num referencial ancestral o qual o indivíduo negro possa se sentir pertencente, ter um passado do qual deva se orgulhar e construir a sua identidade para não cair em um discurso que afirma que todos são miscigenados e que, por sua vez, não faz sentido reivindicar direitos a um grupo racial específico.

Referência: Ferreira, R. F. (2002). O brasileiro, o racismo silencioso e a emancipação do afro-descendente. Vol. 14 (1): 69-86.

Resenha: O silêncio como forma de racismo: a ausência de negros na publicidade brasileira

Luzia Mascarenhas de Almeida

Em 2008, a abolição da escravatura completou 120 anos. No entanto, esse marco histórico pouco foi evidenciado na mídia brasileira.
O artigo em questão teve como objetivo discutir brevemente a mídia e as relações raciais, no entanto, ao contrário da maioria dos trabalhos, não pretendeu falar sobre as imagens e formas de representação do negro, e sim sobre o seu silenciamento, buscando analisar o papel dessa invisibilidade como elemento produtor de sentido.
Desde o período da abolição dos escravos, a elite brasileira vem empreendendo uma severa tentativa de branqueamento da sociedade. Porque, segundo Martins, o negro era o símbolo maior do atraso e da degradação. Era uma ameaça para o Brasil que nascia.
Na produção cultural da época, o discurso racial dos grupos políticos era identificado. A literatura nacional romântica, na sua primeira fase, surge exatamente para negar a existência do negro, quer social, quer esteticamente.
Segundo Martins, todas as imagens que eram associadas ao negro insistiam em caracterizá-lo como ser inferior e incompatível com a “civilização”.
Assim, valorizava-se o biótipo europeu (a pessoa branca) enquanto se
“trabalhava”, de modo disfarçado, para o desaparecimento e estigmatização do componente negro da sociedade, fazendo com que o Brasil criasse um registro branco de si mesmo. Esse registro foi um instrumento de dominação que ultrapassou o século XIX e chegou, remodelado, aos nossos dias.
Em meio ao desenvolvimento das novas tecnologias, a mídia ia assumindo o papel de principal veiculadora de modelos e padrões. Para embasar a discussão sobre o papel da mídia como instrumento de dominação, Martins discorre sobre o livro A Cultura da Mídia de Douglas Kellner.
Em seguida, fala do caso específico do Brasil, onde a questão racial vai ser um dos principais, senão o principal foco de conflitos e disputas. Em nossa sociedade, existe uma segregação que não é positivada em lei, mas que pode ser percebida no imenso abismo social que existe entre brancos e negros. Alguns estudos, como os realizados pelo IPEA, comprovam que os negros não têm acesso igualitário a bens e serviços. E ainda, essa dificuldade de acesso também ocorre no “mercado” de bens simbólicos, ou seja, espaços públicos, arte e, em especial, meios de comunicação (um caso-modelo de reprodução das nossas relações raciais).
No tocante à midia, os negros ocupam posições negativas, subalternas e de segundo plano.
Exceções únicas devem ser feitas aos cenários esportivo e musical, onde ganham projeção e valor.
No universo dos meios de comunicação, a publicidade assume relevância que extrapola sua função primeira de estímulo e incentivo ao consumo. Ela é o mais eficiente vetor de discursos e mensagens simbólicas. Assim, ao difundí-los, a publicidade dará eco aos valores da sociedade que a produziu. Como no Brasil os valores são pautados dentro de uma lógica eurocêntrica que deprecia o que não é espelho, nossos anúncios tendem a reproduzir e legitimar as desigualdades raciais.
Com relação à imagem do negro na publicidade, a partir de pesquisas realizadas, Martins afirma que a publicidade, quando não torna o negro “invisível”, apresenta-o, na maioria das vezes, de modo estereotipado. Os quatro estereótipos geralmente relacionados à pessoa negra são: o trabalhador braçal, figura próxima ao ex-escravo, no qual estão inseridos frentistas, carregadores e empregadas domésticas; o negro divertido e performático; o negro atlético, ao qual está ligada tanto a imagem do desempenho esportivo como a do vigor sexual; e o carente social, negro dependente e despossuído. Tais estereótipos têm como função responder aos fatores ambientais, como nas situações de conflitos grupais e nas diferenças no poder e nos papéis sociais.
No tocante a sua participação na publicidade, pesquisas realizadas em 1994 e 1995, além de uma realizada em 2007, apontam para uma notável invisibilidade do negro na esfera da publicidade.
Em seguida, o autor chega ao ponto primordial do artigo, que é analisar a política de silenciamento (afirmação de algo para apagar, necessariamente, outros sentidos possíveis, mas indesejados) com relação ao negro em nosso país.
Para Martins, a elite brasileira define simbolicamente quais são os lugares do negro dentro da sociedade, permitindo que ocupe determinados espaços dentro de uma cadeia de representações, ao passo que o apaga dos demais.
Existem duas consequências relevantes com relação à política de silenciamento imposta aos negros no Brasil. São elas: a questão da construção da identidade e a naturalização do racismo.
Dessa maneira, o artigo discute questões relacionadas ao negro e a sua inserção na mídia e na publicidade, colocando em foco o racismo que vem se propagando desde o século XIX e que hoje é tido como inconstitucional, no entanto, não deixa de existir de um modo sutil e dissimulado, inclusive nos meios de comunicação. Nesse sentido, faz-se necessário questioná-lo e denunciá-lo

Referência: Martins, C. O silêncio como forma de racismo: a ausência de negros na publicidade brasileira. Interscience Place, 2, 200

Biblioteca: inclusão de conteúdo

Acrescido à biblioteca o artigo O silêncio como forma de racismo: a ausência de negros na publicidade brasileira, de Carlos Martins.

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