Resenha: Estereótipos sobre idosos: uma representação gerontofóbica

Elisa Maria Araújo

O artigo “Estereótipos sobre idosos: uma representação gerontofóbica” aborda a discussão sobre o uso primordial dos estereótipos para a percepção de outros seres humanos. Define os estereótipos como uma percepção extremamente simplificada, que se caracteriza por ser um modelo lógico para resolver uma contradição da vida cotidiana. Martins e Rodrigues (2004) introduzem, no entanto, que os estereótipos contribuem para o não reconhecimento da unicidade do indivíduo, e conseqüentemente, para o despotismo em determinadas situações. Por se tratar de um constructo categorial, generalizador, estável e definidor de um grupo social, o artigo apresenta que a literatura científica sobre os estereótipos é prolixa.

Dentro dos estudos apresentados neste presente trabalho, há a vertente que entende que os estereótipos são pré-concepções rígidas, podendo ser falsas e irracionais. Dentre os diversos domínios da vida social em que os estereótipos são utilizados, este artigo se volta a analisar os estereótipos que envolvem os idosos. Neste caso, a valorização dos estereótipos sobre a velhice gera uma representação social gerontofóbica. Isso acontece quando o fenômeno de envelhecer passa a ser tratado como prejudicial, de menor utilidade ou associado à incapacidade funcional. De acordo com Nogueira (1996, apud Martins e Rodrigues, 2004), os preconceitos envolvem geralmente crenças, de que o envelhecimento torna as pessoas senis, inativas, fracas e inúteis. O desenvolvimento de rejeição e rotulagem de um grupo, em particular de indivíduos, ocorre porque as características individuais com traços negativos são atribuídas a todos os indivíduos desse grupo.

O artigo utiliza a palavra “velhote”, que descreve os sentimentos ou preconceitos resultantes de micro-concepções e dos “mitos” acerca dos idosos, como forma de exemplificar os estereótipos que se referem aos idosos. Da mesma maneira, a velhice remete a uma representação de uma doença incurável, como um declínio inevitável, que está votado ao fracasso. Este estereótipo tornou-se tão socialmente aceito que Louise Berger (1995, apud Martins e Rodrigues, 2004) afirma que abundam hoje “idéias feitas e preconceitos relativamente à velhice. Os ‘velhos’ de hoje, os ‘gastos’, os ‘enrugados’ cometeram a asneira de envelhecer numa cultura que deifica a juventude”.

Em seguida, as autoras reservam um espaço do trabalho para fazer esclarecimentos específicos sobre os conceitos de atitudes, crenças e estereótipos. De forma sucinta, objetiva e pouco embasada em autores e estudos anteriores, elas definem atitude como sendo “conjunto de juízos que se desenvolvem a partir das nossas experiências e da informação que possuímos das pessoas ou grupos”, podendo ser favorável ou desfavorável, além de exercer influência nos comportamentos. Além disso, definem crença como “um conjunto de informações sobre um assunto ou pessoas, determinante das nossas intenções e comportamentos, formando-se a partir das informações que recebemos”. Como exemplo, as autoras se utilizam da “idéia” de que todos os idosos são sensatos, dóceis e nunca se zangam. E por fim, conceitualizam estereótipo como sendo uma imagem mental muito simplificada que é partilhada, nas suas características essenciais por um grande número de pessoas. Seria um “chavão”, uma opinião feita, uma generalização e simplificação de crenças, podendo ser de natureza positiva ou negativa. A idéia de que todos os idosos são prudentes seria um exemplo de um estereótipo positivo, na qual são atribuídas características positivas ao grupo; e ao contrário, a crença de que os idosos são senis, representa uma forma de estereótipo negativo.

Baseando-se em estudo da Universidade de Montreal por Champagne e Frennet (cit. por DINIS, 1997, apud Martins e Rodrigues, 2004), o artigo identifica quatorze estereótipos considerados como os mais freqüentes relativos aos idosos. Importante ressaltar, que o artigo não faz nenhum comentário sobre como se deu este estudo, com quem foi realizado e quando aconteceu, e isso se mostra uma grande limitação do artigo em discussão. Simplesmente apresenta os resultados, analisando-os superficialmente.

Dentre os estereótipos mais freqüentes, a maioria destes não tem relação a características específicas do envelhecimento, mas sim a traços da personalidade e a fatores socioeconômicos. Como estereótipos mais freqüentes, foram encontrados que: os idosos não são sociáveis e não gostam de se reunir; temem o futuro; são pessoas doentes que tomam muita medicação; fazem raciocínios senis; são muito sensíveis e inseguros; não se interessam pela sexualidade; divertem-se e gostam de rir; gostam de jogar às cartas e outros jogos; gostam de conversar e contar as suas recordações; gostam do apoio dos filhos; não se preocupam com a sua aparência; são muito religiosos e praticantes; são frágeis para fazer exercício físico; são na grande maioria pobres.

Este resultado revela que se de um lado os estereótipos simplificam a realidade, por outro, minimizam as diferenças individuais entre os membros de um determinado grupo, o que revela um desconhecimento do processo de envelhecimento. Além disso, a utilização de estereótipos é causa de enorme perturbação nos idosos, uma vez que estes negam o seu processo de crescimento e os impedem de reconhecer as suas potencialidades, de procurar soluções precisas para os seus problemas e de encontrar medidas adequadas.

Por fim, a visão global e generalizada, que caracteriza os estereótipos gerontológicos, distorce a realidade. O artigo conclui sua análise com a reflexão de que investigações diversas sobre esta temática têm demonstrado que a distorção causada pelos estereótipos “cegam” os indivíduos, impedindo-os de se precaverem das diferenças que existem entre os vários membros, não lhe reconhecendo deste modo, qualquer virtude, objeto ou qualidade.

Além disso, o artigo apresenta influências que a enfermagem sofre e que são determinantes para a prática de comportamentos positivos e negativos desses profissionais. De acordo Berger (1995, apud Martins e Rodrigues, 2004), respeito, a reciprocidade e a confiança são exemplos de atitudes positivas que os profissionais de enfermagem podem ter diante das influências do meio e do social; e “automorfirmo social”, “gerontofobia”, “âgismé” e a infantilização ou “bebeísme” são exemplos de atitudes negativas quanto aos idosos. Estas atitudes negativas são respectivamente: o não reconhecimento da unicidade do idoso; o medo irracional de tudo quanto se relaciona com o envelhecimento e com a velhice; todas as formas de discriminação, com base na idade; e simplificação demasiada das atividades sociais e/ou recreativas e pela organização de programas de atividades, que não correspondem às necessidades dos indivíduos.

O artigo termina com a mesma análise superficial com a que começou. Apresenta uma visão geral de como os estereótipos referente aos idosos geram influências na vida dos idosos, e no comportamento das pessoas frente a estas pessoas. Faz reflexões sobre o quanto se perde e se ganha com a utilização dos estereótipos, porém não aprofunda em nenhuma discussão. Durante toda a discussão, faz-se pouca referência a estudos e pesquisas anteriores sobre o tema, o que mostra grande limitação do texto em questão.

Resenha: Martins, R. M. e Rodrigues, M. L. Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica. Millenium. Revista do ISPV, 29, 249-254, 2004.

Autor: Marcos E. Pereira

Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal da Bahia. O currículo Lattes pode ser acessado no site http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4799492A6

Uma consideração sobre “Resenha: Estereótipos sobre idosos: uma representação gerontofóbica”

  1. Para quem tem mais de 65 anos

    Ivone Boechat (autora)

    1 – Tome posse da maturidade. A longevidade é uma bênção! Comemore! Ser maduro é um privilégio; é a última etapa da sua vida e se você acha que não soube viver as outras, não perca tempo, viva muito bem esta. Não fique falando toda hora: “estou velho”. Velho é coisa enguiçada. Idade não é pretexto para ninguém ficar velho. Engane a você mesmo sobre a sua idade, porque os psicólogos dizem que se vive de acordo com a idade declarada!

    2 – Perdoe a você antes de perdoar os outros. Se você falhou, pediu perdão? Deus já o perdoou e não se lembra mais. Mas você fica remoendo o passado… Não se importe com o julgamento dos outros. Só há dois times no Universo: o do Salvador e o do acusador. Neste último você sabe quem é goleiro. Continue no time do Salvador.

    3 – Viva com inteligência todo o seu tempo. Viva a sua vida, não a do seu marido, dos filhos, dos netos, dos parentes, dos vizinhos… Nem viva só pra eles, viva pra você também. Isto se chama amor próprio, aquilo que você sacrificou sempre! Nunca viva em função dos outros. Faça o seu projeto de vida!

    4 – Coma muito menos; durma o suficiente; não fique o dia inteiro, dormindo, dando desculpa de velhice. Tenha disciplina. Fale com muita sabedoria. Discipline sua voz: nem metálica, nem baixinha; seja agradável!

    5 – Poupe seus familiares e amigos das memórias do passado. Valorize o que foi bom. Experiências caóticas, traumas, fobias, neuroses, devem ser tratadas com o psicoterapeuta. Não transforme poltrona em divã, ouvido em descarga.

    6 – Não aborreça ninguém com o relatório das suas viagens. Elas são interessantes só pra quem viaja. Ninguém aguenta ouvir os relatórios e ver fotografias horas e horas. Comente apenas o destino e a duração da viagem, se alguém perguntar. Aprenda a fazer uma síntese de tudo, a não ser que seus amigos peçam mais detalhes. Se alguém perguntar mais alguma coisa, seja breve.

    7 – Escolha bons médicos. Não se automedique. Não há nada mais irritante do que um idoso metido a receitar remédio pra tudo o que o outro sente. Faça uma faxina na sua farmácia doméstica.

    8 – Não arrisque cirurgias plásticas rejuvenescedoras. Elas têm prazo curto de duração. A chance de você ficar mais feio é altíssima e a de ficar mais jovem é fugaz. Faça exercícios faciais. Socorra os músculos da sua face. Tome no mínimo oito copos de água por dia e o sol da manhã é indispensável. O crime não compensa, mas o creme compensa!

    9 – Use seu dinheiro com critério. Gaste em coisas importantes e evite economizar tanto com você. Tudo o que se economizar com você será para quem? No dia em que você morrer, vai ser uma feira de Caruaru na sua casa. Vão carregar tudo. Não darão valor a nada daquilo que você valorizou tanto: enfeites, penduricalhos, livros antigos, roupas usadas, bijuterias cafonas, ouro velho… prataria preta, troféus encardidos, placas de homenagens. Por que não doar as roupas, abrir um brechó ou vender todas as suas bugigangas, apurar um bom dinheiro e viajar?

    10 – A maturidade não lhe dá o direito de ser mal educado. Nada de encher o prato na casa dos outros ou no self-service (com os outros pagando); falar de boca cheia, ou palitar os dentes na mesa de refeições (insuportável).

    11 – Só masque chiclete sem testemunhas. Não corra o risco de acharem que você já está ruminando ou falando sozinho.

    12 – Aposentadoria não significa ociosidade. Você deve arranjar alguma ocupação interessante e que lhe dê prazer. Trabalhar traz muitas vantagens para a saúde mental, além do dinheiro extra para gastar, também com você.

    13 – Cuidado com a nostalgia e o otimismo. Pessoas amargas e tristes são chatíssimas, as alegres demais, também. Elogie os amigos, não fique exigindo explicações de tudo. Amigo é amigo.

    14 – Leia. Ainda há tempo para gostar de aprender. A maturidade pode lhe trazer sabedoria. Coloque-se no grupo sempre pronto para aprender. Não se apresente em lugar nenhum dizendo: sou muito experiente!

    15 – Não acredite nas pessoas que dizem que não tem nada demais o idoso usar roupas de jovens, cuidado. Vista-se bem, mas com discrição. Cuidado com a maquiagem, se for pesada, você vai ficar horrível.

    16 – Seja avó do seus netos, não a mãe nem a babá. Por isso nem pense em educá-los ou comprometer todo o seu tempo com as tarefas chatas de ir buscar na escola, levar a festinhas, natação, inglês, vôlei… Só nas emergências. Cuidado com aquela disponibilidade que torna os outros irresponsáveis.

    17 – Se alguém perguntar como vão seus netos, não precisa contar tuuuuuuuudo! Evite discorrer sobre a beleza rara e a inteligência excepcional deles. Cuidado com a idolatria de neto e o abandono dos filhos casados…

    18 – Não seja uma sogra chata. Nunca peça relatório de nada. Seu filho tem a família dele. Você agora é parente! Nunca, nunca, nunca mesmo, visite seus filhos sem que seja convidado. Se o filho ligar pra você, não diga: ah! lembrou finalmente da sua mãe? É melhor dizer: Deus o abençoe meu filho.

    19 – Cuidado em atender ao telefone: se a pessoa perguntar como você vai e você responder “estou levando a vida como Deus quer”; “a vida é dura”; “estou preparando a partida”; “estou vencendo a dureza”; você vai ver que as ligações dos amigos e dos parentes vão rarear, cada vez mais.

    20 – A maturidade é o auge da vida, porque você tem idade, juízo, experiência, tempo e capacidade para se relacionar melhor com as pessoas. Então delete do seu computador mental o vírus da inveja, do orgulho, da vaidade, promiscuidades, cobranças, coisas pequenas e frustrantes para tomar posse de tudo o que você sempre sonhou: a felicidade.

    Extraído do livro Educação-a força mágica de Ivone Boechat

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