Resenha: Música, comportamento social e relações interpessoais

Aílton Alves de Souza

Muitos teóricos se debruçam sobre a questão da música em busca de saber os seus reais efeitos social e fatores relacionais sobre os indivíduos. Apesar de o lingüista Steven Pinker promover suas declarações que poderiam contrariar alguns efeitos benéficos da música, isto veio a suscitar maiores reflexões envolvendo multidisciplinarmente categorias de especialistas num objetivo específico, “a música e seus efeitos”.
Não se pode acreditar que por uma razão geneticista-determinista existisse um gene determinado para a música, assim como também não existe um gene determinado para a homossexualidade e ou a violência, entretanto, elas existem e numa escala acentuada. E como as outras situações, a música existe e continua a exercer o seu papel nas sociedades e nas culturas.
Platão, a alguns séculos antes da era cristã, em sua magnânima sabedoria já dizia: “a música é valiosa não apenas por que cria requintes de sentimento e caráter, mas também por que preserva e restaura a saúde”.
Na antiguidade, nas grandes civilizações, a música era utilizada como uma forma de terapia para cura de enfermidade alem de está presente nos encontros sociais e religiosos. Era extensamente empregado para cura de distúrbios emocionais o que nos trás na contemporaneidade uma clara demonstração de seus efeitos sobre os indivíduos.
Segundo Huron (1999) dentro de uma característica filogenética, a música incrementa uma ambiência e proporciona todo um clima para a aproximação das pessoas em seus encontros amorosos e baseado no mesmo autor, a música exerce alguns efeitos sobre a atração e sobre o desenvolvimento subseqüente das relações interpessoais. Assim, a música, conforme Gregory (1997), é um fenômeno social que vem mantendo suas funções tradicionais e sentidos próprios em diferentes sociedades no decorrer da história.
É sabido que para ocorrer uma relação interpessoal precisa do aparecimento de um atrativo que empurre os indivíduos para um ponto comum de união e que possivelmente deve está extremamente entrelaçado com os processos cognitivos. Não se pode desprezar neste contexto, os valores das atitudes e crenças como forças que podem mover as pessoas para a atração interpessoal. Isto nos trás a idéia de que a atração interpessoal depende do contexto social o que pode ocorrer também com a formação do gosto musical. Por mais díspare que pareça esta comparação, ela trás um ponto de interseção que é a indução e o aflorar de sentimentos.
Diante de seus efeitos, podemos dizer que a música tem a possibilidade de levar o indivíduo a dois extremos diferentes; visualizemos o trio do chiclete com bananas tocando em pleno carnaval na avenida, a música “Cabelo raspadinho” que pode suscitar aos ouvintes num determinado contexto, a adotar comportamentos desviantes que a emoção te solicita. Por outro lado, se ouvirmos a música “Com te Partiró” na interpretação de Andrea Bocelli, certamente teremos outras emoções que não aquelas(e também precisa ser analisado o contexto). Diante disso, dá para se perceber que os sentimentos induzidos pela música têm implicações significativas para o comportamento social (Crozier, 1997), em partes por que gêneros musicais diferentes eliciam graus diferentes de excitação.
Baseado nisso, entende-se que não se devem levantar bandeiras quanto ao gosto musical do indivíduo, pois o senso de “música apropriada” depende de fatores culturais e situacionais, uma vez que as respostas, as percepções e os usos da música são comportamentos aprendidos e previamente determinados por membros de um grupo social (Abeles, Hoffer & Klotman, 1995).
Diante de estudos desenvolvidos para testar a veracidade dos efeitos da música sobre o indivíduo, eles trazem uma revelação de que, de fato, a música exerce um papel importante nas relações interpessoais, muito embora não comprovadamente os seus efeitos sobre a atração e a escolha de parceiro. Porém, deixou claro que de forma indireta e generalizada também seus efeitos repercutem sobre a relação interpessoal.
Assim podemos concluir que “conforme a sugestão de Pinker (1997) de que nossas vidas permaneceriam praticamente inalteradas na ausência da música, não é inteiramente verdade, primeiramente, devido ao seu caráter”, outrossim, a sua idéia se esbarra na questão da definição de música, uma vez que existem muitas definições possíveis, que ultrapassam as fronteiras do Mundo Ocidental, bem como o que as pessoas definem como música.

Referência: Ilari, B. Música, comportamento social e relações interpessoais. Psicologia em Estudo, 11,1, 191-198

Autor: Marcos E. Pereira

Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal da Bahia. O currículo Lattes pode ser acessado no site http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4799492A6

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