Estereótipos e publicidade: O aquecimento global irá te derreter

Fonte: Lá Fora

Resenha: Cues that Matter: How Political Ads Prime Racial Attitudes During Campaigns

Thiago Falcão

O artigo examina o efeito de como as pistas raciais podem ativar um pensamento racial/racista na avaliação de um certo candidato, pelo público. Os autores vão apresentando suas hipóteses no decorrer do texto: (1) apelos que tenham pistas raciais vão aumentar o poder de justificativa de atitudes raciais nas avaliações de certos candidatos; (2) entrevistados levariam menos tempo para identificar deixas raciais quando esse conteúdo já tiver sido ativado; Os autores ainda executam a extensão de um estudo anterior (Nelson et al, 1997; Miller e Krosnick, 2001), sobre a importância das questões raciais nos processos de ativação, e (3) testam se há um processo psicológico sofisticado o suficiente, na avaliação dos candidatos pelo público, para que a importância que tal candidato dá a certos grupos seja um fator relevante.
Os autores começam o artigo discutindo um fato emergente na América: no decorrer dos últimos 40 anos, atitudes públicas relacionadas à raça foram radicalmente diminuídas, mas algumas pesquisas ainda indicam que formas midiáticas ainda reforçam os estereótipos de minorias. Valentino e seus colegas, então, se utilizam de um modelo desenvolvido por Mendelberg para se referir ao assunto, mas adiantam que enquanto o modelo é muito convincente e seus resultados muito persuasivos, mais testes precisam ser executados sobre o problema. A premissa básica do estudo, então, é a de que mesmo velados, os componentes raciais no discurso midiático ainda são uma força potente na política americana.
A aproximação teórica de Mendelberg tem quatro componentes: (1) americanos brancos são divididos entre a “norma de igualdade” e seu ressentimento com relação aos negros em falhar ao aderir à crença americana no individualismo e no trabalho duro; (2) o priming racial funciona porque certas deixas tornam alguns esquemas racionais mais acessíveis pela memória, daí eles serem usados nos processos de tomada de decisão imediatamente posteriores; (3) estar ciente de conteúdo racial numa mensagem faz com que a maioria dos americanos a rejeitem, por causa da “norma de igualdade” e (4) apelos raciais só são efetivos se não forem reconhecidos como tal pela audiência.
Os autores vão, então, se focar em três questões que pra eles estão relacionadas, para tentar jogar alguma luz sobre o problema: (1) pistas raciais em apelos políticos normais realmente ativam atitudes raciais? (2) que tipos de deixas ativam atitudes raciais? (3) afinal, qual o mecanismo psicológico que está associado à ativação racial? Seguindo esse viés argumentativo, os autores finalmente chegam à teoria que dá suporte (com base em várias pesquisas) ao artigo: para a maioria das pessoas, atitudes raciais negativas afetam o pensamento político automaticamente – ou simplesmente não o fazem mais.
O estudo, então, foi realizado com 346 adultos não-estudantes, na Universidade de Michigan, com os entrevistados tendo sido informados via panfletos. A amostra não era perfeitamente representativa da nação como um todo por conter muitos graduados e poucos republicanos, além de os autores apontarem o problema de não poder isolar as respostas por grupos étnicos, porque a amostra não continha um número suficiente de pessoas enquadradas nesse grupo. Os entrevistados foram expostos a um questionário demográfico e três comerciais, tendo sido levados a realizar uma atividade de cunho léxico desenhada para medir a acessibilidade de atitudes raciais na memória.
Os resultados mostram que uma variedade de pistas raciais implícitas pode, sim, ativar questões raciais, especialmente aquelas que implicam que os negros não seriam merecedores dos gastos do governo. Com relação à segunda hipótese, os autores percebem que os resultados corroboram com a idéia anterior de que as pistas raciais ativam questões nas memórias dos espectadores, mas mais importante que isso, embora a narrativa já o fizesse por si só, quando as deixas visuais foram apresentadas, o efeito detectado foi maior – o que dá pistas de como os processos de ativação funcionariam.
Os autores ainda executam a extensão de dois estudos (Nelson et al, 1997; e Miller e Krosnick, 2001), sobre os níveis de importância que os expectadores dariam às representações de grupos na avaliação de certos candidatos. Segundo Valentino e seus colegas, o nível de importância que os expectadores dão ao problema seria uma variável tão importante quando a ativação das informações na memória, pelas pistas raciais. Os resultados sugerem que a hipótese é sustentada – pistas raciais implícitas, especialmente aquelas sobre os negros não serem merecedores da ajuda do governo, ativam atitudes com relação ao problema e tornam a questão de grupos mais importante no cálculo de votos.
Por fim, os autores testam a última hipótese, e chegam à conclusão de que deixas raciais ativam as questões referentes à raça causando impacto sobre a avaliação dos candidatos. Os autores ainda especulam que deixas anti-estereotípicas não ativam tais questões, mas podem levar a uma reflexão sobre a questão dos grupos étnicos na avaliação de um candidato.
Os autores encerram o artigo sugerindo que um maior debate sobre questões raciais precisa ser travado nos Estados Unidos, e que, em suma, quando os americanos estão cientes do assunto – quando o assunto da raça é explícito – eles suprimem o pensamento racial/racista.

Referência: VALENTINO, N., HUTCHINGS, V. E WHITE, I. (2002) Cues that Matter: How Political Ads Prime Racial Attitudes During Campaigns. In: American Political Science Review, Vol. 95, N. 1, p. 75-90.

Artigo publicado: How the Press Framed the Role of the News Media

Título: Metacoverage of Mediated Wars: How the Press Framed the Role of the News Media and of Military News Management in the Iraq Wars of 1991 and 2003

Autores: Piers Robinson, Peter Goddard, and Katy Parry

Periódico: American Behavioral Scientist 2009;52 709-734

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Resenha: Confirming gender stereotypes: a social role perspective

Aline Campos

Na nossa cultura popular, é prevalente a idéia de que homens e mulheres são diferentes em muitos aspectos relevantes para seus relacionamentos amorosos. Já na literatura científica, as diferenças não parecem ser tão grandes assim. Relatórios de meta-análise, por exemplo, indicam que homens e mulheres se comportam de foram semelhante em 98% das vezes (Canary e Hause, 1993; Wilkins e Anderson, 1991).
A questão é que quando as diferenças aparecem, elas tendem a confirmar os estereótipos de gênero: as mulheres se comportam de um modo esperado para o feminino, como expressar suas emoções com facilidade; e os homens, de um modo esperado para o masculino, como buscar mais autonomia. E estas diferenças são mais evidentes em certas circunstâncias, como em situações difíceis ou aversivas.
Na presente pesquisa, os autores examinam se homens e mulheres em relações íntimas tendem a se comportar de acordo com os estereótipos de gênero, quando em situações de vulnerabilidade emocional. A vulnerabilidade emocional é definida como um estado no qual uma pessoa está aberta para que seus sentimentos sejam feridos, ou para experienciar a rejeição.
Para entender esta confirmação dos estereótipos de gênero, os autores buscaram explicação na teoria do papel social de Eagly (1987). Esta propõe que, quando em situações delicadas, homens e mulheres recorrem a comportamentos compatíveis com seus papéis sociais.
Os papéis sociais são expectativas de comportamento segregadas em torno das questões de gênero; são aprendidos através da socialização, e exigem habilidades especificas para cada sexo. Por exemplo, as mulheres, como exercem socialmente o papel de cuidadoras, desenvolvem habilidades relacionais; os homens, como provedores, desenvolvem habilidades de liderança no trabalho.
Estes papéis são normativos, e quando as pessoas estão em situações ambíguas ou difíceis, tendem a deixar as expectativas normativas guiar seu comportamento (Crick e Dodge, 1994; e outros). Assim, em momentos de pressão, homens e mulheres tenderiam a agir de acordo com as normas sociais e seus papéis, ativando os estereótipos de gênero; em situações mais tranqüilas, minimizariam estas diferenças. Os autores consideram que os homens e mulheres agem assim porque é mais fácil e menos arriscado.
A presente pesquisa investigou trinta e nove casais heterossexuais, em relacionamentos de duração em torno de 18.5 meses. Eram estudantes universitários norte-americanos, em idades variando de 17 a 27 anos, predominantemente europeu-americanos (96%), e também afro-americanos (2%), asiático-americanos (1%), outros (1%).
Os participantes eram convidados a completar um questionário que avaliava sua dificuldade percebida em discutir tópicos emocionais em um relacionamento –o Questionário de Dificuldades de Questões de Relacionamento, DRIQ, (Vogel, Wester et al.1999 e Vogel, Tucker et al. 1999). Deste questionário foram escolhidos tópicos considerados fáceis e difíceis pelos casais e dados aos mesmos para discussão, que era então filmada e observada por avaliadores. Estes últimos utilizavam o sistema de marcação global e registravam o desempenho do casal em relação a quatro variáveis dependentes: expressividade emocional, restrição emocional, comportamentos de retirada, comportamentos de demanda. As médias das avaliações dos observadores foram identificadas para se obter escores por participantes e por casal.
Estes foram os resultados para cada variável dependente:
1 – Expressão emocional: Refere-se a falar sobre sentimentos positivos ou negativos. Os casais se mostraram menos expressivos emocionalmente ao discutirem um assunto que consideravam difícil, do que quando consideravam o tópico fácil. Os homens exibiram menor expressão emocional do que as mulheres na discussão de assuntos difíceis, confirmando o estereótipo. Na discussão de tópicos fáceis, homens e mulheres convergiam em comportamento.
2 – Restrição de afeto: Refere-se a evitar falar sobre os próprios sentimentos ou recusar a lidar com os sentimentos dos outros. Os casais mostraram mais restrição no afeto ao discutirem temas difíceis, do que quando os temas eram fáceis. Aqui também houve confirmação do estereótipo de gênero: os homens mostravam mais restrição de afeto do que as mulheres quando envolvidos em temas difíceis. Não havia diferenças significativas entre os gêneros quando os temas eram fáceis.
3 – Comportamentos de retirada: Refere-se a uma evitação de discutir alguma questão. Neste item, casais exibiram níveis semelhantes de retirada com tópicos fáceis ou difíceis. Os homens, ao discutirem um tópico difícil, exibiram mais comportamentos de retirada do que as mulheres, enquanto não houve diferenças para tópicos fáceis.
4 – Comportamentos de demanda: Refere-se a tentar mudar o comportamento do outro ou entrar em uma discussão para pedir uma mudança de comportamento. Os casais discutindo tópicos fáceis mostraram menos comportamentos de demanda do que ao discutirem tópicos difíceis. Para esta variável, contrariando as expectativas, não houve diferença na exibição de comportamento de demanda entre homens e mulheres através das condições do experimento.
Em resumo, a pesquisa confirmou a hipótese de que há uma mudança comportamental na direção dos estereótipos quando homens e mulheres discutem tópicos relacionais que consideram difíceis. Num exame das médias, foi demonstrado que as mudanças de comportamento foram mais evidentes nos comportamentos dos homens do que no das mulheres. Isso indica que as diferenças encontradas em cada casal se deveram mais ao comportamento masculino.
Os autores consideram provável que isto tenha ocorrido porque a expressão verbal de emoções, usada no estudo, é uma área mais associada aos papéis femininos do que masculinos. Assim, as mulheres teriam mais facilidade em manter este comportamento estável em situações aversivas.
O presente estudo teve suas limitações: a média do tempo de relacionamento dos casais, a predominância de casais europeus americanos, o uso exclusivo de observações na medição dos resultados. Apesar das limitações, o estudo indica que homens e mulheres comportam-se de modo semelhante na maioria do tempo, mas em tempos críticos, de vulnerabilidade emocional, divergem, confirmando alguns estereótipos de gênero.

Fonte: Vogel, D.L., Weser, S.R., Heesacker, M. e Madon, S. (2003). Confirming Gender Sterotypes: A Social Role Perspective. Sex Roles, Vol.48, nos. 11/12.

Estereotipos y variabilidad categorial: contraste entre modelos de representación

Diogo Araújo

O conceito de variabilidade categorial tem despertado considerável interesse, dada as implicações que tem para a compreensão dos estereótipos e do processamento de informação social em geral. Dolores Morera Bello e Armando Rodríguez Pérez, da Universidade de La Laguna, Espanha, apresentam neste artigo um estudo experimental que investigou se a variabilidade categorial se armazena como informação abstrata ou se elabora a partir da recuperação de exemplares.
Tradicionalmente, entende-se que os conteúdos dos estereótipos são uma generalização de determinados atributos a todos os membros e uma categoria social. Porém, investigações recentes têm encontrado que as pessoas não são sensíveis apenas a tendência de homogeneização, mas também apreendem as diferenças entre os indivíduos de um mesmo grupo, dando lugar ao conceito de variabilidade percebida.
Os modelos de memória social assumem que os estereótipos consistem tanto em informações abstratas como em informações episódicas. As pessoas disporiam de informações estereotípicas que incluem informações descritivas e avaliativas sobre os membros de um grupo, e ao mesmo tempo, informações sobre a variabilidade entre eles.
Segundo os autores, não existe ainda um consenso sobre qual tipo de informação é utilizada preferencialmente. Os modelos baseados na abstração entendem que o que se armazena são representações cognitivas abstratas, que resumem o conhecimento sobre os grupos. Os juízos de variabilidade sobre uma categoria se elaboram automaticamente enquanto se processa a informação relativa aos membros de um grupo.
Os modelos baseados em exemplares consideram que a memória armazena certos episódios como unidades simples de informação, e que antes de avaliar uma categoria social, as pessoas recuperam os exemplares acessíveis, realizando inferências para dar conta das demandas do ambiente. O juízo de variabilidade só se elabora quando a tarefa em questão lhe requer, sendo preciso recuperar da memória a informação episódica da categoria.
Para investigar se o conhecimento da variabilidade categorial está armazenado como informação abstrata ou se dá a partir da recuperação de exemplares referentes à categoria, elaborou-se um experimento que utiliza três estratégias: determinar se o juízo de variabilidade de uma categoria social é estável ou se modifica com a apresentação de novos exemplares; comprovar se a latência de tempo do julgamento de variabilidade é similar a de um julgamento espontâneo e menor que a de um julgamento baseado na recuperação; por ultimo, determinar se o juízo de variabilidade é independente das condutas recordadas ou, pelo contrário, se existe uma relação entre ambos.
Participaram do experimento 48 estudantes de graduação em Psicologia, para o qual foram apresentados 24 estímulos que faziam referencia a condutas de eficácia e de ineficácia relativas a categoria “general de exercito”. Baseando-se em estudos anteriores com a mesma população desta pesquisa, sabia-se que o atributo “eficaz” é concebido como compartilhado por 75% dos membros da categoria “general de exercito”, sendo um atributo estereotípico, e, portanto, de baixa variabilidade. O desenho fatorial foi de 2×2, formando-se quatro grupos experimentais: condutas de variabilidade baixa e estereotípicas (75% eficaz/25% ineficaz); variabilidade baixa e contra-estereotípicas (25% eficaz/ 75% ineficaz); variabilidade alta e estereotípicas (55% eficaz/ 45% ineficaz); e variabilidade alta e contra-estereotípicas (45% eficaz/ 55% ineficaz). Os exemplos de condutas apresentadas referiam-se a um grupo específico de generais, identificados pelas iniciais.
Após a apresentação dos estímulos, pediu-se que os participantes respondessem uma escala com sete pontos (1=nada/7=muito). Três questões eram sobre a informação apresentada sobre o grupo estímulo: um julgamento automático (quanto são simpáticos), um julgamento de memória (o quanto são reflexivos) e um julgamento de variabilidade global (o quanto são parecidos um com os outros), tendo como objetivo avaliar se a latência do julgamento de variabilidade se aproximava mais de um julgamento automático ou de um julgamento recuperado. Estas questões foram novamente apresentadas, mas pedindo-se que os participantes pensassem na categoria “general” como um todo, ao invés dos exemplificados.
Posteriormente, se solicitou que os participantes avaliassem, atribuindo porcentagens, a variabilidade de 12 pares de atributos bipolares da categoria social dos generais, sendo três relacionadas com a informação apresentada (eficazes/ineficazes, eficientes/ineptos, competentes incompetentes) e os outros nove, não (rudes/corteses, honrados/desonestos, arrogantes/humildes), procurando se verificar o grau de similitude vs.variabilidade percebida, tanto em relação a categoria de forma global como em relação a diversos atributos. Por último, os participantes tinham que recordar o mais fielmente possível todas as condutas apresentadas, para se determinar se existe uma relação entre a variabilidade das condutas estímulo lembradas e a estimativa de variabilidade do grupo.
Os resultados encontrados mostraram que o julgamento de variabilidade permanece estável em todas as condições experimentais, levando-se a conclusão que existe uma crença prévia a cerca do nível da variabilidade da categoria social que não se altera, independente dos exemplares concretos apresentados. Porém, quanto à avaliação da variabilidade dos atributos discriminadamente, houve diferenças significativas. A apresentação de informações estereotípicas levam ao julgamento de menor variabilidade dos atributos do grupo, enquanto as informações contra-estereotípicas levam a uma avaliação de maior variabilidade destes atributos. A análise do tempo de latência da resposta das avaliações de simpatia, reflexividade e variabilidade chegou a conclusão que o tempo de resposta para a variabilidade percebida se aproxima da latência para a avaliação que utiliza a memória, e se distancia do julgamento automático.
A partir dos dados apresentados, o estudo conclui que não é possível afirmar que o juízo de variabilidade está baseado na recuperação de exemplares. Entretanto, a latência deste juízo não permite se afirmar que este ocorra automaticamente, sugerindo um modelo que assume a existência de informações sobre a variabilidade preexistentes na memória, e, portanto, certo nível de abstração, mas suscetível de revisões e modificações diante da informação contextual.

Referência: Morera, D. e Rodriguez Perez, A. Estereotipos y variabilidad categorial: contraste entre modelos de representación. Psicothema, 10, 3, 697-707, 1998

Notícia do dia: Hamas chega aos 21

Resenha: The Role of Threat, Evolutionary Psychology, and the Will to Power

Jamyle Reis

No artigo em questão investigou uma serie de mecanismos psicológicos evolutivo, com base na literatura anterior, que é consistente com a forma como o individuo reage à ameaça autoritária. Estabeleceu-se uma ligação teórica entre a conceitualização de Nietzsche em “desejo de poder” (1901/1967) e a operação de autoritarismo num contexto evolucionário e societal. O resultado é uma conceitualização de autoritarismo mais enraizada teoricamente na ciência filosófica, psicológica, sociológica e biológica.
O texto abarca conceitualizações iniciais como a de Adorno, From entre outros e mais recentes como a de Altemeyer acerca de autoritarismo e ameaça. Adorno et al. (1950) defende que autoritarismo foi resultado de ambiente de infância ameaçado e práticas de criação da criança inconsistente. Erich From (1941) sugere que a ameaça de insegurança, manifestação de uma sociedade capitalista, leva a níveis de autoritarismo ainda mais alto. Altemeyer (1988, 1996) integrou teoricamente o papel da ameaça definindo autoritarismo como um “complexo mundo perigoso” e sugeriu que esse complexo é a causa principal da xenofobia e etnocentrismo manifestada na personalidade autoritária.
Para a psicologia evolucionária todos os seres humanos possuem mecanismos psicológicos que são o resultado naturalmente adaptativo de nossa historia evolutiva. Nesse sentido, o autoritarismo como processo evolutivo opera a nível grupal durante períodos muito longo de tempo, enquanto processos psicológicos manifestam a nível individual durante pontos específicos no tempo. De modo que mecanismos psicológicos específicos quando utilizado por indivíduos sob condições de ameaça, ilustra como autoritarismo opera de uma perspectiva evolucionária.
A teoria da seleção parental e formação de coligação defendem que as pessoas normalmente formam grupos cooperativos a fim de obter os benefícios de uma ação coletiva. Ela prediz que os indivíduos são mais propensos a favorecer parentes do que não parentes. Para a teoria seleção parental e formação de coligação autoritarismo pode ser visto como um subproduto da necessidade de sobrevivência do ancestral anterior. Para Altermeyer (1988), a personalidade autoritária representa um aglomerado de três componentes principais: a submissão a autoridade, convencionalismo e agressão a grupos externos. Então, esses indivíduos autoritários buscam um grupo de identificação formando uma parentela “fictícia”. Assim, em termos de ameaça, o individuo utiliza o grupo autoritário como um “refugio” fora do perigo onde os recursos são agrupados em um esforço coletivo contra os perigos colocados por outros.
Na mesma linha da psicologia evolucionária o texto apresenta a teoria do intercambio social e altruísmo recíproco que sugere assim como os seres humanos procuram maximizar os lucros e minimizar perdas, o mesmo é valido para as relações sociais. A premissa fundamental é que o relacionamento com outra pessoa é avaliado de acordo com nossas percepções sobre o equilíbrio entre o que colocamos na relação e o que ganhamos com isso, o tipo de relação que pretendemos atingir e as chances de ter um relacionamento mais produtivo com outra pessoa.  De modo que a teoria do altruísmo recíproco prediz que comportamento altruísta será também uma função da probabilidade de reciprocidade do beneficio.
Um novo modelo de autoritarismo sugere três facetas sobre a conceitualização de autoritarismo. Explica porque a ameaça é fundamental para o entendimento do autoritarismo, através da abordagem evolucionária mostrando como a ameaça elicia características comportamentais da personalidade autoritária. A segunda faceta refere-se ao autoritarismo conceitualizado como uma variável continua que interage com a ameaça ambiental. Finalmente, esse modelo contribui para a conceitualização teórica do autoritarismo como uma resposta ao ambiente ameaçador. Para o presente modelo variáveis como orientação de dominação social, dogmatismo e outras podem ser vistas como adaptativas sob condições de ameaça. Para uma fundamentação filosófica da teoria recorreu-se aos escritos de Friedrich Nietzsche que sugere que para a direção para auto-preservação é abarcada pelo mais fundamental “desejo de poder”.
O artigo apresentado oferece uma perspectiva do autoritarismo como um subproduto de um passado evolucionário sugerindo que ameaça é importante porque o autoritarismo geralmente é uma função adaptativa. Conclui que pesquisas futuras deveriam examinar não apenas conseqüências negativas do autoritarismo, mas também as vantagens de manter uma visão de mundo autoritária.
Fonte: Hastings, B. M. and Shaffer, B. The Role of Threat, Evolutionary Psychology, and the Will to Power. Theory & Psychology, 18, 423-440, 2008.

Estereótipos e publicidade: loira ao volante

Artigo publicado: Alcohol Consumption Decisions

Título: Alcohol Consumption Decisions Among Nonabusing Drinkers Diagnosed with Hepatitis C: An Exploratory Sequential Mixed Methods Study

Autores: Eleanor Palo Stoller, Noah J. Webster, Carol E. Blixen, Richard A. McCormick, Andrew J. Hund, Adam T. Perzynski, Stephanie W. Kanuch, Charles L. Thomas, Kyle Kercher, and Neal V. Dawson

Periódico: Journal of Mixed Methods Research 2009;3 65-86

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Resenha: Dizer não aos estereótipos sociais: As ironias do controle mental

Jamyle Reis

O artigo tem como objetivo apresentar uma ampla revisão teórica sobre os mecanismos de supressão dos estereótipos e dos contextos que resulta em efeitos não almejados. Começa abordando estereotipização como o conhecimento e as crenças que o individuo tem sobre um grupo social. Segue justificando o processo de estereotipização como um mecanismo que permite simplificar as informações do complexo mundo social. Para a autora é quase consenso acreditar que estamos propensos a pensar com o auxilio de categorias. A principal questão que o artigo busca responder é até que ponto é possível controlar a expressão do pensamento categorical.
O segundo tópico abordado é os mecanismos de controle mental que se caracteriza pela tentativa de controlar as respostas estereotípicas. A autora com base em Macrae e colaborares defende que a tentativa de inibir um pensamento pode contribuir para que ele se torne ainda mais acessível. Cita o modelo teórico de supressão desenvolvido por Wegner (1994, Wegner e Erber, 1992), em que primeiro ocorre um processo de monitorização de pensamentos que tem como meta a vigilância de qualquer pensamento a ser evitado. Ao mesmo tempo, começa um segundo processo operativo cuja meta principal é a reorientação da consciência para repelir o pensamento indesejado e focar sua atenção num pensamento de distração. Entretanto o individuo pode falhar nesse processo caso haja pressões do contexto, distração e se não houver recursos cognitivos e motivação para suprimir os estereótipos, de modo que este processo não apenas falhe, mas também ocorra seu oposto. Esse oposto é o efeito irônico de Ricochete (ERE).
O terceiro tópico refere-se às conseqüências irônicas da supressão dos estereótipos, é citado três experimento relatados por Macrae et al (1994a) em que apresenta um aumento na acessibilidade e de dependência dos estereótipos após a tentativa de inibição de estereótipos de skinhead. Nestes experimentos, num primeiro momento os participantes desempenham uma tarefa em que metade dos participantes tinha que suprimir o estereótipo e a outra metade não recebeu nenhuma instrução para suprimir o estereótipo. No experimento 1, na tarefa subseqüente, os participantes de ambos grupos tiveram como instrução escrever um segundo parágrafo sobre outro skinhead, sem que fosse dada qualquer instrução de supressão. Os resultados demonstraram que participantes que tiveram instrução de suprimir na primeira tarefa tiveram um ERE na segunda tarefa, em relação aos participantes que não tiveram essa instrução. No experimento 2, verificou-se que participantes que tiveram a instrução de supressão sentaram-se mais afastados de uma cadeira que seria supostamente ocupada por skinhead do que os que não tiveram a instrução. No experimento 3, ficou evidenciado que o que o estereótipo fica mais acessível após tentativas de inibição. Achado de Macrae et al.(1998) aponta que um elevado self focus (atenção dirigida) está ligado a tentativa de inibição da utilização de estereótipos. Isso ocorre possivelmente devido à atenção auto-dirigida que aumenta a saliência de crenças pessoais que sugerem que estereotipização não é adequada. No que se refere à memória, a tentativa de supressão pode levar a uma maior acessibilidade e melhor memória para esses pensamentos.
O quarto tópico por um lado apresenta uma serie de influencias que podem moderar o impacto da ERE após a supressão de estereótipos, por outro lado aponta que a inibição de estereótipo pode não resultar na ERE. Entre os fatores de moderação da ERE, a influência do nível de preconceito em que a atitude pessoal frente à esterotipização após a supressão é considerado fator mais importante. Questiona que estereótipo está para ser suprimido. Uma vez que o alvo é um importante aspecto para supressão. Outro questionamento é até que ponto o estereótipo é ativado. Visto que a ativação de estereótipo em indivíduos com baixo nível de preconceito, pode não acontecer. A prática de supressão do estereótipo ocorre de maneira diferente em individuo com baixo e alto nível de preconceito, no primeiro caso essas pessoas são altamente motivadas a suprimir preconceito, devido suas crenças igualitárias. No segundo caso, os indivíduos são motivados a suprimir estereótipos devido a pressões externas.
Entre as estratégias alternativas para supressão de estereótipos é apontado o papel de pensamentos substitutos em que os pensamentos estereótipos podem ser substituídos por crenças igualitárias. Outra estratégia é a individuação do alvo e construir impressões com base nestas informações. Além disso, um aspecto importante de ser mencionado na regulação da vida mental é os objetivos do processamento do individuo. Aqueles que têm como objetivo não estereotipizar, ao invés de suprimir, pode adotar como estratégia pensar de forma igualitária.
Por fim, investigações recentes sobre controle de pensamento consideram que tentar suprimir os pensamentos, crenças e desejos podem ser uma perda de tempo. Expulsos da mente, essas cognições podem retornar, ainda mais forte. Demonstrações do efeito ricochete dos estereótipos apontam que a supressão pode ser uma estratégia ineficaz de controle mental. A literatura também indica que as tentativas de inibir o estereótipo não são igualmente prejudiciais em todos os casos. Devido os inúmeros fatores envolvidos na supressão dos estereótipos é preciso que investigações futuras dediquem-se a estratégias alternativas de controle mental e as compare em termos de eficácia e efeitos negativos.

Fonte: Bernardes, D. Dizer não aos estereótipos sociais: as ironias do controlo mental. Análise Psicológica. 21,3, 307-321, 2003