Notícia publicada no site da BBC News relata a situação de jovens treinados pela Speaker Bank, uma organização destinada a facilitar a expressão dos jovens mediante ações discursivas, que escolheram tornar pública a entre associação entre o crescente número de crimes cometidos com armas brancas e os estereótipos a respeito dos jovens. Clique aqui para ler a matéria.
Categoria: Estereótipos
Definição de estereótipos
Os estereótipos são crenças socialmente compartilhadas a respeito dos membros de uma categoria social, que se referem a suposições sobre a homogeneidade grupal e aos padrões comuns de comportamento dos indivíduos que pertencem a um mesmo grupo social. Sustentam-se em teorias implícitas sobre os fatores que determinam os padrões de conduta dos indivíduos, cuja expressão mais evidente encontra-se na aplicação de julgamentos categóricos, que usualmente se fundamentam em suposições sobre a existência de essências ou traços psicológicos intercambiáveis entre os membros de uma mesma categoria social.
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Estereótipos e cinema: se for árabe, tem de ser terrorista
Adotando como ponto de partida as dificuldades de atores árabes radicados em Holywood conseguirem trabalhar que não seja fazendo o trabalho de vilão de folhetim, o jornalista Andre Gumpel conduz uma cuidadosa reflexão sobre os estereótipos sobre os árabes na cultura ocidental. Clique aqui para ler a notícia publicada no jornal The National, da República Árabe Unida.
Notícia do dia: estereótipos sobre os alemães
Matéria publicada pelo correspondente do Newsweek em Berlim, Andrew Nagorski, relata com o os germânicos cotidianamente se defrontam com o próprio passado e indica como estes confrontos podem ajudar a entender os estereótipos amplamente compartilhadas em muitos países ocidentais sobre os alemães. Clique aqui para ler a notícia
Artigo publicado: Effects of Race on Responses and Response Latencies in the Weapon Identification Task
Título: Effects of Race on Responses and Response Latencies in the Weapon Identification Task: A Test of Six Models
Autores: Karl Christoph Klauer e Andreas Voss
Periódico: Personaliatyu and Social Psychology Bulletin, 34, 1124-1140, 2008
Resumo: clique aqui
Notícia do dia: estereótipos sobre idosos
Reportagem do Science Alert, da Austrália, relata uma pesquisa na qual 73% dos entrevistados acima dos 65 anos pensam na possibilidade de utilizar aparelhos auditivos, mas ficam em dúvidas devido aos estereótipos associados aos idosos. Clique aqui para ler a matéria e aqui para ler um artigo publicado pela Australian Hearing sobre atitudes a respeito da perda da audição.
Notícia do dia: estereótipos e discriminação na Índia
Editorial do The Times of India discute um conjunto de atitudes preconceituosos e estereótipos persistentes na moderna Índia que oferece suporte para a expressão da discriminação racial e étnica. Clique aqui para ler a notícia
Resenha – Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo
Camila Leão
O artigo “Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo” aborda um tema bastante interessante e presente no cotidiano de todos nós. Afinal, quem nunca escolheu o destino das viagens de férias tomando como referência as belas imagens postadas nos folhetos de turismo?As imagens atraentes e os dizeres encantadores presentes nesses folders das agências de turismo foram o foco do trabalho do professor Marcos Emanoel Pereira (Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Bahia. Coordenador do Programa de Pós- Graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia.) e da pesquisadora Tula Ornelas (Bacharel em Turismo. Aluna especial do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Da Universidade Federal da Bahia. Coordenadora do Curso de Bacharel em Turismo da Faculdade Olga Mettig, Salvador, Bahia).Eles realizaram uma pesquisa analisando de forma descritiva trinta e cinco folders da agência de turismo Bahiatursa, a agência de fomento ao turismo do Estado da Bahia. Após essa análise, os pesquisadores encontraram algumas categorias de estereótipos que se repetiam em vários folders, com o intuito de atrair turistas para a Bahia. Os pesquisadores conseguiram encontrar cinco classes de poderosos estereótipos utilizados pela Bahiatursa referentes à Bahia e ao seu povo. São eles: “Terra da felicidade”; “Povo festeiro”; “Povo Hospitaleiro”; “Povo Mestiço”; “Povo religioso”.Pode-se notar, a partir da leitura desse artigo, o grande poder dos estereótipos para a economia turística. Uma concepção positiva sobre um povo que se torne amplamente compartilhada atrai lucros e investimentos. Por isso, cria-se todo um fetiche mercadológico que seja capaz de despertar a vontade de “estar lá” e de “ser como eles”. Os turistas buscam por experiências diferentes daquelas presentes no seu cotidiano (como o contato com belezas naturais, fugindo de um cotidiano urbano turbulento), e buscam o contato com pessoas agradáveis, receptivas, alegres. Assim como tudo presente no nosso habitat Capitalista, a Cultura e as características de um povo, juntamente com as belezas naturais de um local, passaram a ser um “acessório” que valoriza a venda de viagens.A teoria que alicerça a Psicologia Behaviorista, a qual afirma que um estímulo neutro, quando associado com um estímulo agradável e reforçador, imediatamente tornar-se-á um estímulo também reforçador, é bastante utilizada na construção desses folders de turismo. Um lugar como a Bahia, que pode ser visto como um estímulo neutro para muitas pessoas, quando associado às frases e às imagens positivas, torna-se um estímulo altamente reforçador. O emparelhamento de um lugar como a Bahia com sensações agradáveis, com pessoas receptivas e alegres, enfim, com estímulos positivos, valoriza a imagem do lugar.Um dos processos básicos do comportamento é a motivação, segundo Maslow e McGregor, teóricos da Psicologia. A motivação á um fator que impulsiona uma pessoa a consumir algo presente no mercado. Os donos de negócios juntamente com as empresas de marketing criam necessidades internas e externas e as incutem no psicológico das pessoas, que procurarão suprir tais “necessidades”. Eles criam também necessidades secundárias, que são aquelas que interferem na escolha de um produto, diferente das nossas necessidades primárias (como a sede, o sono, a fome, a proteção do corpo contra frio, calor e outros). Essas necessidades secundárias são aquelas que determinam qual marca de alimento, bebida ou roupa uma pessoa irá consumir. É a partir da criação dessas necessidades secundárias que uma pessoa atualmente escolhe um destino turístico.A imaginação do consumidor o faz acreditar que ele realmente necessita daquele produto, e ele vai agir de tal forma que consiga obter tal produto. O que leva uma pessoa a escolher o destino de sua viagem a partir do conteúdo dos folders de turismo, são também fatores motivacionais de cunho secundário, ou seja, não são essenciais para a sua sobrevivência, mas fazem parte de uma necessidade criada. Uma atitude positiva para um lugar, juntamente com estereótipos positivos para as pessoas nativas daquele lugar é essencial para a escolha de um destino turístico.O presente estudo do artigo foi importante na medida em que revela a força e o poder mercadológico dos estereótipos na valorização dos destinos turísticos. Vê-se a importância também do cuidado com o uso desses estereótipos, já que os mesmos influenciam no modo de ver tanto dos turistas quanto do povo nativo. Tanto os turistas como os nativos passam a compartilhar de tal maneira esses estereótipos, que acabam por assimilar as características atribuídas ao seu grupo social. E essas características acabam se cristalizando. Desse modo, a Psicologia deve não somente contribuir para ajudar a fomentar o turismo na Bahia, mas também aplicar-se mais intensamente no plano social e tentar levantar os possíveis impactos de todos esses estereótipos construídos que fazem parte do imaginário popular em relação à Bahia e ao seu povo.
Referência: Pereira, M. E. ; Ornelas, T. Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo. Caderno Virtual de Turismo, 17, 2005
Resenha – A face oculta do racismo no Brasil: uma análise psicossociológica
Sheila Lima
O texto versa sobre as novas formas de expressão do racismo, uma vez que os seus atos explícitos são proibidos por lei. Os autores sugerem que existe na sociedade moderna um discurso contraditório, onde se reconhece a existência do racismo, mas individualmente não se assume a responsabilidade pelo mesmo. Para os referidos autores, os atos explícitos de discriminação racial e étnica estariam acabando, o que não significaria, contudo, que o preconceito racial o esteja. O que ocorre é uma mudança nas formas de expressão e conteúdo do preconceito, alterando, por conseguinte, a expressão de um racismo aberto e agressivo para outro que não desafia as normas sociais.
Muitas abordagens teóricas vêm tentar explicar essa nova modalidade de preconceito que não desafia as normas anti-racistas. Para os autores que abordam essa problemática (Katz, Wackenhut e Hass, 1986; MMcConahay, 1986; Pettigrew e Meertens, 1995; Meertens e Pettigrew, 1999; Vala, 1999), nos últimos 30 ou 40 anos as sociedades vêm desenvolvendo restrições institucionais à pratica discriminatória baseada nas diferenças de raça. Tais abordagens consideram que a diminuição do racismo é um fenômeno aparente, uma vez que as atitudes preconceituosas permaneceriam presentes em cada individuo. O que ocorreria é que a discriminação manifesta estaria sendo substituída por outras formas mais sutis.
Autores como Sears e Kinder (1971, apud Camino et al ,2001) propõem a teoria do racismo simbólico, cujo núcleo seria a afirmação de valores igualitários (de acordo com o Pós Modernismo) e, simultaneamente, a oposição às políticas que estariam de acordo com esses referidos valores. Um exemplo disso seria a política de cotas para ingresso na universidade, cujo ataque teria por base o argumento de uma igualdade de direitos para todas as pessoas, independente de sua origem.
Essa nova abordagem apresenta problemas metodológicos, uma vez que essas novas formas de preconceito se manifestam a partir de crenças e práticas distintas do racismo clássico. Para os autores, o foco dessa abordagem engloba a compreensão das características próprias de cada ambiente social a fim de construir em cada um desses contextos medidas adequadas, ou seja, não englobaria a construção de escalas a priori.
No que se refere ao aspecto conceitual, essa nova abordagem significa que as pessoas experimentam, consciente ou inconscientemente, “um conflito psicológico devido ao confronto entre suas atitudes íntimas preconceituosas e as normas sociais contra o preconceito” (Camino et al, 2001), o que levaria à construção de formas adequadas e capciosas de preconceito. Entretanto, esse conflito pode ter tido sua origem a partir dos argumentos que circulam na própria sociedade e não nos processos psicológicos individuais. Todavia, as concepções atuais sobre o preconceito utilizam uma abordagem individualista e processual, não adaptada aos fenômenos sociais ligados aos processos de exclusão, o que se configura como um elemento dificultador para a elucidação da referida problemática.
Os autores ressaltam que o processo de globalização e a conseqüente intensificação das relações entre diferentes culturas e etnias produz um fenômeno ambíguo: por um lado um maior respeito à diversidade dos valores culturais, e, por outro lado, o crescimento dos movimentos nacionalistas, provocando fenômenos de fanatismo e discriminação contra etnias e grupos minoritários. Além disso, o desenvolvimento econômico e tecnológico do capitalismo acentua a diferença entre ricos e pobres no âmbito individual e político.
Estudos atuais sobre grupos demonstram que nos países ocidentais o preconceito se expressa pela negação de traços positivos ao grupo-alvo, ao invés de atribuição de traços negativos ao mesmo. Isso sugere que as práticas discriminatórias estão adquirindo expressões cada vez mais tênues, a fim de preservar o ideal de não-discriminação dos grupos sociais a partir dos critérios de raça.
Numa pesquisa que atingiu todo o território nacional, Venturi e Paulino (1995, apud Camino et al ,2001)) constataram que 89% dos brasileiros reconheciam a existência de preconceito racial no Brasil, contudo, apesar dessa consciência, só 10% admitia ser pessoalmente preconceituoso. O fato do individuo não se reconhecer preconceituoso, por outro lado, não exclui a demonstração desse mesmo preconceito. Martiniano Silva (1995, apud Camino et al ,2001) argumenta que esse racismo seria muito mais engenhoso e mascarado, e, por conseguinte, mais eficiente em sua função de discriminar e mais difícil de erradicar.
Essa disparidade produz uma dissonância cognitiva que permite aceitar a existência social dos estereótipos negativos sobre os negros e, ao mesmo tempo, negar que a própria pessoa endossa tais crenças. Dessa forma, uma visão racial estereotipada tenderá a se manifestar mais facilmente quando essa mesma visão for atribuída a outros.
Os resultados da pesquisa realizada pelos autores apontam que estudantes atribuíram aos negros adjetivos como alegres e simpáticos, entretanto, esses mesmos estudantes acreditam que o povo brasileiro considera os negros como desonestos, agressivos e pouco inteligentes. Os resultados do estudo refletem o conflito no qual o brasileiro vive: a consciência da discriminação que o negro sofre e os laços criados pela miscigenação e as pressões politicamente corretas que impedem que o papel de cada um nesse processo de discriminação seja elucidado.
Mesmo existindo a manutenção de uma postura politicamente correta, fica claro o consenso de que a discriminação existe e que a mesma passa a ter novas justificativas mais aceitáveis socialmente. Um ponto relevante destacado é a formação de uma nova categorização social que vai substituir o conceito de raça e que seria fruto desse processo dissociativo: a adaptação aos valores modernos e progressistas. A ideologia neoliberal, portanto, nega a existência de uma hierarquia de raças, mas pressupõe a existência de diferenças no sentido do progresso econômico e social.
A cor da pele estaria associada a esse progresso: a cor branca estaria ligada aos valores progressistas do primeiro mundo e a cor negra aos valores tradicionais e menos avançados do terceiro mundo. Da mesma forma os negros teriam aptidões naturais relacionadas ao esporte ou às artes, enquanto que os brancos teriam aptidões intelectuais e para atividades ligadas ao poder. Essa nova forma de categorizar estaria de acordo com as normas anti-racistas, culminando na facilitação dos processos de exclusão, na preservação da discriminação racial e na retirada do sentimento de responsabilidade individual.
Embora possamos concordar que as manifestações públicas de racismo são severamente criticadas no espaço social, o mesmo se faz muito presente e se mostra cada dia mais forte, sendo preciso apenas analisar as estatísticas brasileiras para fins de constatação: os negros são aqueles que moram em situações menos favoráveis, os que possuem empregos com menor remuneração, que dependem de um sistema de saúde que, embora bem elaborado, não consegue atender a toda a demanda da população, além disso, estudos recentes apontam que epidemias como o HIV/AIDS têm sofrido uma pauperização, o que significa que esses índices têm crescido entre em negros e pobres.
Em outubro de 2005, Carlos Lopes, representante do Programa das Nações Unidades para o Desenvolvimento (PNUD) afirmou em entrevista quando indagado sobre a forma como o racismo se expressa no Brasil: “Quando se analisa a distribuição de recursos em termos raciais, desde que as estatísticas permitam essa desagregação, chega-se facilmente à conclusão de que há uma diferença entre brancos e negros. Se há melhora social no país, a situação dos brancos melhora mais. Quanto menos negros você tem em determinada zona, melhores os indicadores”. No mesmo mês, o relator especial das Nações Unidas sobre formas contemporâneas de racismo e discriminação racial, Doudou Diène, considera em seu relatório de visita ao Brasil: “toda a sociedade está organizada a partir de uma perspectiva racista: os negros são excluídos de todos os setores da sociedade e confinados aos trabalhos difíceis, com baixos salários, e seus direitos básicos, incluindo o direito à vida, sendo violados”.
Esse relatório apresenta alguns dados estatísticos que nos fazem questionar até que ponto o racismo se apresenta de forma oculta ou mesmo se não seríamos nós, brasileiros, que fechamos os olhos para dados tão gritantes. Somente a titulo de ilustração, no referido relatório consta, por exemplo, que a renda média mensal de mulheres negras no Brasil, em 2003, foi de R$ 279,70, contra R$ 428,30 para os homens negros, R$ 554,60 para as mulheres brancas e R$ 931,10 para os homens brancos. Na Bahia, as mulheres negras recebem 40% do salário de um homem branco que exerce a mesma função. Além disso, a expectativa de vida de negros é menor (67,87) que a dos brancos (73,99). Segundo Diène (2005), isso demonstra a persistência do racismo e discriminação social de forma estrutural e sistêmica.
Quando consideramos tais dados e outros, infelizmente, tão comuns à nossa sociedade, não podemos deixar de considerar que, efetivamente, o povo brasileiro vive um processo dissociativo: todos esses índices nos são velhos conhecidos e, simultaneamente, cada dia fechamos mais os olhos para essa realidade. No final, o que resta é um “faz de conta”: todos nós sabemos que o racismo existe, mas não admitimos nossa contribuição para sua persistência e isso ocorre no mesmo momento em que a questão da desigualdade e, por conseguinte, a problemática do racismo deveria ser o elemento de discussão, reflexão e combate mais importante para cada brasileiro.
Referências
1. Camino, L., Silva, P. Machado, A. e Pereira, C. A face oculta do racismo no Brasil: uma analise psicossociológica. Revista Psicologia Política, 1, 1, 13-36, 2001.
2. Relatório do relator especial sobre formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada, Doudou Diène, em sua missão no Brasil (17-26 de outubro de 2005) disponível em http://www.irohin.org.br/imp/n15/07.htm.
Relatório de Doudou Diène terá impacto no sistema ONU no Brasil? Disponível em http://www.irohin.org.br/imp/n15/07.htm.
Resenha: metodologia para análise de estereótipos em filmes históricos
Vanessa Kelly dos Santos Carvalho
Langer inicia o artigo, com o tópico “História e Imagem”, no qual exalta a importância da imagem no contexto atual e a partir dessa constatação, justifica a necessidade que acadêmicos e profissionais têm de saber interpretar signos visuais. Como um veículo de transmissão de imagens, o autor dá destaque ao cinema, foco de seu estudo que ele propõe como uma ferramenta de pesquisas, em especial para historiadores.
De acordo com o autor, a imagem visual se constitui por narrativas que tanto receptor quanto emissor, interpretam como representações fiéis da realidade, mas que são estruturadas pela cultura. Partindo dessa noção, Langer introduz o conceito de schemata, tendo como referência o historiador da arte Grombrich, que com este termo estaria se referindo a padrões culturais de fundo de inconsciente, que influenciariam o trabalho dos artistas. O autor apresenta como possível ilustração, aquilo que ocorre com a fotografia, através da qual não é possível captar a realidade neutra, embora se trate de uma representação muito semelhante. Apesar dessa argumentação se mostrar válida, não fica evidenciado de que modo se poderia comprovar a existência da schemata, enquanto estrutura de conteúdos culturais padronizados. Em seu lugar, talvez se pudesse falar no conceito de esquema que de acordo com Fiske e Taylor (apud Krüger, 2004) seriam estruturas mentais constituídas por conhecimentos e expectativas em relação ao mundo.
Langer apresenta a definição de estereótipos, a partir do também historiador Elias Thomé Saliba, como tipos específicos de schemata que se constituem em representações da realidade social ou histórica tomadas como verdadeiras, mas que seriam quase sempre fantasias ou produtos da imaginação. Essa definição parece desconsiderar a questão das relações intergrupais na formação dos estereótipos ao tratá-los como “produtos da imaginação”, remetendo-os a condição de formação individual. Um aspecto básico a se destacar, é que os estereótipos vêm de crenças compartilhadas coletivamente embora sua aplicação seja individual. Além disso, também não foi lembrado que se trata de um mecanismo de identificação dos grupos com seus membros e que os distingue de outros. Talvez uma definição mais completa de estereótipo possa ser dada por Krüeger (2004): “crença coletivamente compartilhada acerca de algum atributo, característica ou traço psicológico, moral ou físico atribuído extensivamente a um agrupamento humano, formado mediante a aplicação de um ou mais critérios”. (p. 36). Krüeger também aponta que estes podem ser positivos ou negativos, voltados para o grupo de pertencimento ou grupo distinto.
É relevante o destaque que Langer atribui ao cinema enquanto meio de divulgação e desenvolvimento dos estereótipos, considerando a força das imagens na veiculação de informações. Entretanto, é questionável apresentar o cinema como uma espécie de etapa final de um processo evolutivo dos veículos de comunicação. O autor traça um esquema no qual os estereótipos teriam se apresentado inicialmente nas artes plásticas, passando para a literatura e histórias em quadrinhos, tomando uma forma definitiva com o cinema. Com relação a essa assertiva, é válido lembrar que a construção dos estereótipos é um processo contínuo que pode ser alterado por diversas variáveis de modo a não ser concebível a idéia de que este chegue a um estado estático e definitivo. Além disso, a influência das fontes de veiculação dos estereótipos pode variar em intensidade também devido a características individuais, e esta intensidade não implica na anulação de outras fontes.
Seguindo a proposta do artigo, Langer enfatiza os estereótipos aplicados a diferentes momentos históricos, ressaltando contribuição do cinema para a divulgação destes.
O segundo tópico é intitulado por “A Imagem Fílmica”. Neste, o autor aponta a partir do historiador Marc Ferro, que o filme deve ser percebido como fonte de imaginação que precisa ser integrado ao contexto social de sua produção. Ele faz essa afirmação numa contraposição às obras escritas, no entanto, também não se pode dizer que estas façam retratos fiéis da realidade, destituídos de estereótipos.
No tópico “Modelo de análise de estereótipos em filmes históricos”, o autor define como filmes históricos e, portanto como objeto de pesquisa, aqueles filmes que contém em sua estrutura narrativa, alguns conteúdos relacionados diretamente à fatos históricos, classificando-os em: obras de reconstrução histórica, biografias, ficção histórica e adaptações literárias com fundo histórico. É importante considerar que toda produção humana tem relação com o contexto histórico no qual se insere. O que parece, a partir dos títulos que lhe serviram de exemplo, é que o autor adotou como característica de relação a fatos históricos, o distanciamento temporal e cultural em relação ao contexto presente.
Langer propõe cinco etapas para análise de estereótipos em filmes históricos: definição do objeto e tema de pesquisa, seleção do filme, crítica externa do filme, crítica interna do filme e comparação e análise de conteúdos. Na primeira etapa é sugerido ao pesquisador que inicialmente escolha o tema, período e contexto histórico que vai ser trabalhado e que detenha de conhecimento bibliográfico sobre o assunto pretendido. É necessário que se busque ao máximo essas condições, no entanto é valido lembrar que o pesquisador nunca vai estar totalmente imune a atribuição de estereótipos. A segunda etapa seria de seleção de obras, na qual se deveriam privilegiar conteúdos temáticos, valor estético, artístico e comercial.
As duas etapas que se seguem são denominadas pelo autor como “critica interna e externa” do filme. Essas denominações são questionáveis, pois ambas referem-se a análise de aspectos sobre o filme. A diferença é que na “crítica externa” o foco se voltaria mais para a produção em si, custos, estilo do filme, fotografia, biografia dos produtores, diretores e roteiristas e publicidade, questões que não se pode supor estar à parte do filme. Já quanto a “crítica interna” a análise teria foco no conteúdo do enredo.
Langer classifica tipos de conteúdo em: objetivo, implícito e inconsciente. O primeiro seria aquele percebido de forma direta por diálogos, figurino, gestos, enredo, arquitetura e cenários. A análise desse conteúdo poderia ser feita, segundo sugestão do autor, por meio de observação do roteiro original e críticas de especialistas do campo cinematográfico. Por sua vez, “conteúdo implícito” diria respeito aquilo que os cineastas gostariam de transmitir como mensagem, mas não o fazem de forma direta. O autor procura exemplificar esse aspecto por meio do filme Invasores de Corpos, não qual seria feita uma alusão ao medo do comunismo, utilizando a imagem de extraterrestres que transformam humanos em zumbis. É fato que as produções cinematográficas muitas vezes carregam conteúdos que por alguma razão não são apresentados explicitamente e que representam opiniões dos cineastas ou informações que se quer divulgar. No entanto, com relação ao exemplo utilizado não fica claro de que modo e através de que fontes o autor chegou a esta constatação. Langer complementa que mesmo produções de alto custo também não fogem as influências de ideologias implícitas e nem há justificativa pela qual fugiriam à regra. O autor acaba incorrendo em atribuição de estereotipização ao analisar que personagens do filme El Cid demonstravam atitudes nazistas, as quais definiu como “gestos e expressões inferindo conquista do mundo”. Se mostra válida sua argumentação de que embora o filme possa se situar em momentos passados, trás informações ligadas ao contexto de sua realização.
Ainda com relação aos “conteúdos implícitos” o autor ressalta outros aspectos a serem observados nos filmes: modelos de representações ideológicas, modelos históricos e patrióticos, público-alvo e receptividade e estereótipos. Sobre “modelos de representações ideológicas” e “modelos históricos e patrióticos”, o autor se refere a tentativa de utilizar o enredo para apresentar certas ideologias como padrões a serem seguidos e para glorificar personagens históricos e seus países de origem.
A respeito do “público-alvo e receptividade” o autor lembra as situações nas quais os filmes fazem mais sucesso em outros países que no próprio local de origem. Langer tenta encontrar uma explicação para tal, podendo-se destacar a aversão das sociedades em verem retratadas suas próprias fragilidades. Essa é uma das possibilidades, mas muitas outras explicações podem existir além das apresentadas pelo autor, a depender de cada contexto.
Sobre a ocorrência de estereótipos, Langer aponta que pode se dar devido a questões ideológicas ou por motivos técnicos. Como exemplos, ele cita os filmes Gladiador e A Lenda de um Guerreiro, cujos figurinos poderiam ter sido elaborados da forma apresentada por uma questão de re-utilização de outros mais antigos, o que é pouco provável. Ele complementa afirmando que nestas produções soldados romanos são apresentados bem reconstruídos enquanto os germanos são estereotipados. Primeiramente, é válido lembrar que o uso de estereótipos é inevitável em produções cinematográficas, e mesmo que fosse possível fazê-lo inviabilizaria o entendimento do público. No caso dos filmes citados, poderia ter ocorrido maior uso de rótulos para um grupo, não significando que o outro fosse apresentado conforme a realidade pura. Neste ponto, o autor pareceu se ater mais aos estereótipos do tipo negativo, o que é confirmado pelos seus exemplos de alvos de estereótipos conforme observados em filmes norte-americanos e europeus sobre África, Ásia e América Latina.
Por fim, Langer define como “conteúdos inconscientes”, aqueles que ultrapassariam as intenções dos cineastas, podendo ser de ordem individual ou coletiva. Sobre esses conteúdos, o autor trás como ilustração os comportamentos tipicamente ocidentais que aparecem em muitos filmes, mas não apresenta como garantir a não-intencionalidade ou mesmo que se trata de algo não percebido de forma “consciente” pelos idealizadores das obras.
A última etapa sugerida por Langer para análise de estereótipos nos filmes históricos é de “comparação e análise de conteúdos”. Nesta fase, o pesquisador deveria comparar os conteúdos com o conhecimento histórico e sociológico que se tem na sociedade na qual foi feita a produção, com o tema retratado e outras produções seguindo a mesma temática.
O autor finaliza o artigo ressaltando o reconhecimento do filme como um documento histórico que precisa ser observado a luz do contexto de sua produção e analisado de forma crítica, tentando desconstruir estereótipos.
Referência: Langer, J. Metodologia para análises de estereótipos em filmes históricos. Revista História Hoje, 2, 5, Nov-2004.

