Matéria do website PublicTechnology.net relata uma campanha desencadeada pelo governo escocês, que tem por objetivo combater os estereótipos contra os idosos. Leia o texto aqui.
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Resenha: Os estereótipos e o viés lingüístico intergrupal
Diogo Araújo
Muitos estudos revelam que o tipo de linguagem utilizada para descrever o comportamento de membros do ingroup e do outgroup contribui para a transmissão e persistência dos estereótipos. Pereira e cols. (2003) conduziram um estudo experimental que buscou verificar os efeitos do viés lingüístico intergrupal nas avaliações realizadas por participantes de etnias branca e negra, na cidade de Salvador, Bahia.
Viés Lingüístico Intergrupal
A hipótese do viés lingüístico intergrupal é de que uma mesma ação pode ser codificada em diferentes níveis de abstração, variando de acordo da pertença do protagonista da ação ao in ou ao outgroup de quem julga, e da dimensão axiológica da ação, sendo ela considerada desejável ou indesejável. Semin e Fiedler (1988 ) desenvolveram um modelo de categorias lingüísticas que distinguem quatro níveis de abstração:
1) os verbos descritivos;
2) os verbos interpretativos;
3) os verbos referentes a estados duradouros;
4) os adjetivos.
Os verbos descritivos referem-se objetivamente ao comportamento observado, delimitando claramente o inicio e o fim da ação, não dando espaço para avaliações de positividade ou negatividade (ex: correr, fechar, pegar). Os verbos interpretativos já trazem um componente semântico positivo ou negativo na avaliação do comportamento, mas também delimitam temporalmente a ação (ex: ofender, matar, aplaudir). Os verbos de estado duradouro atribuem estados internos bastante permanentes, sendo muito difícil visualizar um início e um fim deste estado (ex: desejar, amar, odiar). Os adjetivos se caracterizam pela forte atribuição disposicional dos comportamentos, e que estas tendências são de grande estabilidade, pouco sensíveis às contingências externas.
O viés lingüístico intergrupal possui atualmente duas explicações: uma baseada em aspectos motivacionais e outra em aspectos cognitivos. Na perspectiva motivacional, o viés contribui para a proteção do ingroup, avaliando de forma abstrata os comportamentos positivos do ingroup e de forma concreta os comportamentos negativos, elevando a auto-estima em relação ao outgroup. Na perspectiva cognitiva, o que influencia nas respostas são as expectativas do individuo sobre a ação executada, avaliando abstratamente o que é esperado e concretamente a ação que contraria as expectativas.
O estudo realizado por Pereira e cols. (2003) baseou-se na perspectiva motivacional do viés lingüístico intergrupal, realizando quatro experimentos.
Experimento 1
Participaram deste experimento 87 pessoas, escolhidas por critério de conveniência em locais de grande circulação. Foram aproveitados 83 questionários. A avaliação da etnia dos participantes foi realizada pelas quatro entrevistadoras. 59,0% dos participantes foram do sexo masculino, 39,8% do sexo feminino e não foi possível identificar o sexo de um dos participantes. 21,7% dos participantes possuíam o primeiro grau, 47,0% o segundo grau e 33,8% o terceiro grau.
As entrevistadoras apresentaram um caderno com o desenho de seis cenas, representando uma criança realizando ações socialmente positivas (devolver a carteira perdida de um transeunte; participar de uma roda de capoeira; ajudar uma senhora idosa a atravessar a rua) e negativas (dirigir-se a um grupo sentado em uma mesa de bar; ficar à espreita em uma praia, esperando uma oportunidade para cometer um furto; atingir com um tapa uma outra criança de menor estatura e idade), para serem avaliados de acordo com as quatro categorias lingüísticas integrupais propostas por Semin e Fiedler (1988 ) selecionando uma entre quatro frases relacionadas com a cena observada. Dois conjuntos de desenhos foram utilizados, um com a criança de etnia branca e outro com a criança de etnia negra. Foram formados, então, quatro grupos experimentais:
1) participantes de etnia branca, avaliando personagens de etnia branca, em cenas socialmente positivas e negativas;
2) participantes de etnia branca, avaliando personagens de etnia negra, em cenas socialmente positivas e negativas;
3) participantes de etnia negra, avaliando personagens de etnia branca, em cenas socialmente positivas e negativas;
4) participantes de etnia negra, avaliando personagens de etnia negra, em cenas socialmente positivas e negativas.
Neste experimento, os resultados não condizeram com o que se encontra na literatura, pois não foi alcançada uma significância estatística suficiente para se afirmar o efeito da etnia na avaliação das cenas negativas ou positivas. Porém, se observarmos apenas as médias, vemos que os brancos avaliaram positivamente sua etnia de forma mais abstrata (dentro do que se espera na literatura), enquanto os negros não fizeram distinção de etnia nas cenas positivas. Nas cenas negativas, os brancos que não apresentaram diferença de avaliação entre as etnias, e os negros, contrariando totalmente o esperado, avaliaram as cenas negativas com a criança negra de forma mais abstrata do que as cenas com a criança branca.
Experimento 2
A amostra consistiu em 88 participantes. 47,4% homens e 52,3% mulheres. Média de idade de 29,6 anos. 11,4% com o primeiro grau, 46,5% com o segundo grau, e 42,1% com o terceiro grau. Os critérios de seleção e categorização da amostra foram os mesmos utilizados no experimento 1.
O procedimento utilizado foi semelhante ao do experimento 1, diferindo em que a avaliação foi feita por frases formuladas pelos próprios participantes. As frases foram codificadas por três juízes de acordo com os graus de abstração do modelo de categorização lingüística de Semin e Fiedler, e avaliadas quanto ao grau de positividade e negatividade das frases, considerando-se também frases neutras.
Como no primeiro experimento, não se estabeleceu significância estatística que corroborasem completamente as hipóteses, mas grosso modo, analisando apenas as médias, tanto brancos e negros fizeram avaliações positivas condizentes com a literatura: mais abstratas para o ingroup e menos para o outgroup. Porém, nas avaliações negativas, houve uma total inversão em relação ao esperado, pois tanto brancos como negros avaliaram o ingroup de forma mais abstrata e o outgroup de forma menos abstrata.
Experimento 3
Este experimento difere dos anteriores quanto a amostra, pois os participantes são crianças de uma escola particular. Também houve mudanças no procedimento, sendo utilizado um instrumento computadorizado para a exibição das cenas e coleta de dados. Participaram do experimento 40 crianças. 52,5% participantes do sexo masculino, 47,5% do sexo feminino. A média de idade foi de 9,9 anos.
Novamente não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre as médias das avaliações. Deixando de lado este critério, as médias mostraram uma avaliação positiva mais abstrata do ingroup por parte dos brancos, acontecendo o contrário na avaliação feita pelos participantes de etnia negra. Na avaliação das cenas negativas, a avaliação dos brancos que contrariou a hipótese, sendo mais abstrata para o ingroup, enquanto os negros avaliaram o outgroup de forma mais abstrata.
Experimento 4
Neste experimento, participaram 21 crianças com média de idade de 10,8 anos, sendo selecionados e categorizados da mesma forma que no experimento 3. Os equipamentos e procedimentos utilizados foram semelhantes ao do experimento 3, diferindo na forma de coleta da avaliação das cenas, sendo através de um relato livre.
Observou-se neste experimento uma diferença significativa na avaliação das cenas positivas, havendo interação entre a etnia do participante e do personagem. Nas cenas negativas, a influencia da etnia foi apenas marginal. A análise das médias revela que a avaliação feita por brancos e negros a esperada pela hipótese do viés lingüístico intergrupal. Na avaliação negativa, só os participantes de etnia negra avaliaram de forma congruente à hipótese.
Conclusão
Apesar deste estudo não ter encontrado resultados compatíveis com a hipótese do viés lingüístico intergrupal, ele permite algumas reflexões, principalmente quanto as peculiaridades da população brasileira e baiana. Além de possíveis problemas metodológicos na condução do estudo, deve-se também esclarecer se a população investigada difere de forma saliente quanto aos valores considerados importantes e identidade social e étnica em relação a populações de outros países onde foram realizadas outras pesquisas. Estudos sobre a linguagem e as relações intergrupais são de grande relevância, porém devem contemplar a grande complexidade do fenômeno, acentuando-se ainda mais a importância do acumulo de conhecimento pela comunidade cientifica.
Referência: Pereira, M. E. ; Fagundes, A. ; Silva, J. e Takei, R. Os estereótipos] e o viés lingüístico intergrupal. Interação (Curitiba), 7, 1, 127-140, 2003.
Tipos e figuras: vovó Arlinda
Contribuição: Vanessa Carvalho
Resenha: Victoria’s Dirty Secret: how sociocultural norms influence adolescent girls and women
Vanessa Carvalho
O artigo teve base numa pesquisa realizada por Erin J. Strahan e Anne E. Wilson da Universidade Wilfrid Laurier, Adéle Lafrance da Universidade de Toronto, Nicole Ethler, Steven J. Spencer e Mark P. Zanna da Universidade de Waterloo. O intuito foi de estudar as influências das normas socioculturais para mulheres adolescentes e adultas, tendo como foco de interesse os padrões de beleza.
Os autores iniciam o texto fazendo um levantamento de algumas pesquisas envolvendo o tema. Dentre dados obtidos em estudos anteriores é dito que a insatisfação das mulheres com seu corpo é conseqüência das normas socioculturais de aparência ideal. Essas normas trariam a noção de que a valorização da mulher estaria atrelada a sua aparência física.
No primeiro tópico “Papel das mensagens da mídia na imagem corporal das mulheres”, Strahan et al. tratam da influência da mídia na divulgação dos quase inatingíveis padrões de beleza e peso ideais o que vem gerando diversas críticas. Citando, Hofschire e Greenberg (2002), os autores mostram que as imagens expostas pela mídia estão negativamente relacionadas a satisfação com o próprio corpo e diretamente ligadas com a internalização de corpo ideal. Apesar de muitas pesquisas trazerem essas evidências, os autores também apontam que outros pesquisadores têm opiniões opostas. São destacados como riscos da influencia da mídia: aparecimento de distúrbios alimentares e comparação a padrões irreais.
Strahan et al. se voltam para a proposição de que as normas socioculturais podem afetar a auto-imagem das mulheres pelo aumento do nível no qual baseiam sua auto-estima em aparência física. Reforçando a relevância desse estudo, é feita uma referência a Crocker (2002) que considera arriscado quando a auto-valorização se baseia em contingências externas, porque gera busca por aprovação dos outros.
Os autores apresentam como uma peculiaridade de seu estudo, a investigação de uma contingência externa específica para auto-valorização: a aparência física. Eles propõem que normas socioculturais de aparência levam as mulheres a crer que seu valor depende de sua aparência.
Segundo Strahan et al. a modelo criado para a pesquisa se baseou em estudos anteriores que demonstraram que imagens refletindo padrões de beleza, comumente levam as mulheres a sentir-se insatisfeitas com seu corpo. Eles fazem uma interessante referência a Fredrickson e Roberts (1987) que afirmaram que as mulheres aprendem socialmente que seu valor se deve à aparência física, dando importância à perspectiva de uma terceira pessoa. A partir dessa base teórica, a hipótese de Strahan et al. é de que as imagens da mídia refletindo normas socioculturais de aparência, podem gerar nas mulheres a preocupação se estão suficientemente magras ou atraentes aos olhos de outras pessoas. Outra justificativa dada pelos autores para a relevância de estudos como este é que se confirmadas as hipóteses, o fato pode representar arriscadas implicações para as mulheres.
O processo da pesquisa, segundo apresentado pelos autores, foi dividido em duas etapas principais: “Estudo 1” e “Estudo 2”. Durante o “Estudo 1”, Strahan et al. apontam como objetivo, realizar o exame do impacto que a apresentação de imagens com padrões típicos de aparência ideal poderiam gerar com relação a satisfação das mulheres quanto a seu corpo, bem como quanto a sua preocupação com a percepção dos outros. De acordo com os autores, a pesquisa teve foco nas mulheres por considerá-las mais susceptíveis aos efeitos negativos dos padrões de beleza.
Ao descrever o método utilizado, os pesquisadores reataram que o verdadeiro objetivo da pesquisa era ocultado com o pedido de que os participantes tentassem lembrar ao máximo possível os detalhes das imagens exibidas. Essa estratégia parece válida considerando que permite evitar a interferência de algumas variáveis. Além disso, é um meio de garantir a atenção dos participantes.
Conforme apresentado no artigo, foram escolhidas como participantes apenas mulheres da graduação de psicologia. Estas foram distribuídas entre grupo experimental e grupo controle. Na condição controle, foram exibidos comerciais neutros e que não continham pessoas, seguindo o modelo de pesquisas anteriores. Por sua vez, na condição experimental, foram mostrados comerciais neutros intercalados com comerciais que segundo autores, apresentavam normas socioculturais relacionadas a aparência. Um deles se relaciona com o título do texto e consiste numa peça publicitária da grife de lingeries Victoria’s Secret. Após assistir aos comerciais, as participantes eram informadas de que haveria um intervalo antes de testar sua memória. Neste intervalo, é que ocorria a verdadeira coleta de dados por meio de questionários.
No artigo, os resultados foram agrupados em “Aparência como base para auto-valorização”, “Satisfação com o corpo” e “Preocupação com a percepção dos outros”. De acordo com relato de Strahan et al. os resultados corroboraram com sua hipótese, porque as participantes do grupo experimental basearam mais sua auto-estima na aparência que aquelas do grupo controle. Eles também apontam que um teste sobre a influência para outras dimensões da auto-valorização (além da aparência), mostrou que outros fatores como desempenho acadêmico e apoio familiar não foram afetados, embora o domínio “aprovação dos outros” o tenha. Com relação a essa observação dos autores, é importante lembrar a particularidades de cada situação e sujeito, pois questões relacionadas a baixa auto-estima quanto a aparência, em alguns casos podem ter proporções a ponto de interferir em outras dimensões da valorização pessoal.
A respeito da “satisfação com o corpo”, os autores também apresentam um resultado conforme esperado, porque as participantes do grupo experimental demonstraram menos satisfação com seu corpo. Além disso, também foi mais saliente nesse grupo a preocupação com a opinião dos outros. Sendo assim, pode-se dizer que o resultado geral, foi consistente com as formulações prévias dos pesquisadores, a partir da observação de que a auto-valorização estava mais relacionada a aparência quando normas socioculturais estavam em destaque.
A segunda etapa do estudo, “Estudo 2”, foi realizada com estudantes de escolas públicas. Neste caso, os autores apresentaram como objetivo, a investigação da possibilidade de reduzir os impactos da veiculação de padrões de beleza, por meio de uma intervenção nesse intento. A partir dessa intervenção, Strahan et al. esperavam que os participantes se sentissem desafiados a reduzir legitimidade das normas socioculturais de aparência, contestando a idéia de que seguir esses padrões traria aceitação social.
Durante essa etapa, os pesquisadores relatam ter utilizado como participantes homens e mulheres adolescentes, sem deixar muito claro o motivo para a mudança de perfil comparando-se com as participantes do “Estudo 1”, principalmente no que diz respeito a mudança de faixa etária e inclusão dos homens (no “estudo 1” apresentados como dispensáveis para essa pesquisa). Não se sabe até que ponto, essa mudança pode ter interferido nos resultados.
A descrição do método demonstra que neste caso, também houve tentativa de ocultar os objetivos da pesquisa. Na condição de controle, a intervenção se voltava para questões de incentivo ao voluntariado. Na condição experimental, era esperado que a intervenção levasse os participantes a se basear menos na aparência em sua auto-avaliação, além de que se mostrassem mais satisfeitos com seu corpo e menos preocupação com a percepção dos outros.
Segundo Strahan et al., a intervenção foi formulada em duas etapas: “sessão 1” e “sessão 2”. Durante a “sessão 1” foi realizada um discussão sobre o ideal de beleza para homens e mulheres, nesta discussão os facilitadores apresentavam exemplos e enfatizavam o quanto certos padrões são irreais, além dos riscos que a tentativa de atingi-los pode significar. Na “sessão 2”, os participantes eram estimulados aplicar os conhecimentos expostos e incitados ao debate sobre o tema. É importante considerar que a eficiência desse formato de intervenção depende da predisposição e perfil de cada um, mas de um modo geral, parece ter sido bem formulado.
Os autores apontam que o teste dos efeitos da intervenção foi feito uma semana depois. Esse procedimento por um lado permite avaliar a consistência da intervenção, mas talvez possa reduzir a garantia da correlação com dados obtidos. Durante essa etapa da pesquisa Strahan et al., relatam que aos participantes era dito que iriam avaliar campanhas publicitárias, utilizando modelos. Os resultados esperados a partir dos instrumentos eram: rejeição às normas socioculturais de aparência e menos internalização da forma física ideal.
Como resultados do grupo experimental, os autores apontam que homens e mulheres pareceram rejeitar mais a legitimidade dos padrões de beleza em comparação com os participantes do grupo controle.
Sobre a investigação da “aparência como base para auto-valorização”, Strahan et al. relevam que era esperado na condição experimental, que os participantes utilizassem menos a aparência como base de sua valorização. Os resultados foram de acordo com essa hipótese para as mulheres, embora os garotos pareçam não ter sido afetados pela intervenção. No entanto, os autores lembram que no grupo controle a comparação entre homens e mulheres, mostrou que as garotas baseavam mais sua auto-estima em aparência que os garotos.
Com relação a “satisfação com o corpo”, a hipótese formulada pelos pesquisadores era de que os participantes se apresentariam mais satisfeitos com seu corpo na condição experimental e que esse resultado seria mais saliente para as garotas. Novamente, o apresentado coincidia com o esperado e os garotos demonstravam ter sido menos afetados pela intervenção.
As expectativas dos autores sobre “preocupação com a percepção dos outros” seguiam raciocínio semelhante aos itens anteriores. Deste modo, foi relatado por eles que o esperado era que os participantes, principalmente as mulheres, na condição experimental demonstrariam menos preocupação com a opinião dos outros. Neste caso, a hipótese sobre as garotas também foi corroborada pelos resultados e entre os garotos não houve diferença significativa entre o grupo experimental e o grupo controle.
De modo geral, a partir do exposto por Strahan et al., comparando os resultados entre homens e mulheres do grupo controle foi observado que os garotos aceitavam menos as normas socioculturais de beleza. Esse dado é apresentado como justificativa para o fato da intervenção não ter gerado resultados significativos para os homens. Segundo autores, a intervenção pode não ter afetado os garotos pelo fato destes, serem mais imunes as normas socioculturais. Entretanto, é válido flexibilizar as causas dos resultados, pois conforme afirmado pelos próprios autores podem haver inúmeras outras explicações, inclusive de que o modelo utilizado não se adequou a participantes masculinos.
Ao realizar um auto-questionamento sobre a aplicabilidade dos resultados, Strahan et al. reconhecem que a depender de características particulares nem todas as mulheres reagem da mesma forma a exposição de padrões socioculturais de aparência física. A proposta é de que ainda assim, a maioria das mulheres legitimam os padrões de aparência ideal. Esse elemento, pode estar relacionado ao fato já citado pela referência a Fredrickson e Roberts (1987) de que as mulheres são socializadas aprendendo que devem buscar a adequação aos padrões de beleza. Além disso, ocorre a ainda vigente percepção da mulher como objeto sexual que desconsidera fatores como carreira e inteligência como atributos valoráveis.
A partir dos resultados obtidos, os autores apontam possíveis implicações para as mulheres. Dentre elas, é afirmado que a exposição a mensagens de normas de beleza podem levar as mulheres a basear mais sua auto-estima em aparência e como a maioria não se encaixa nos padrões, a tendência é que se auto-avaliem negativamente. Citando Crocker (2002), os autores reforçam os riscos para o bem-estar, além dos comportamentos auto-destrutivos que podem ser adotados por conta desses padrões.
Strahan et al. ressaltam que poucas opções são deixadas as mulheres porque se não se submetem aos riscos de tentar seguir os padrões, por outro lado, correm o risco da rejeição social. Os autores concluem o artigo, afirmando que embora os resultados do “Estudo 1”, apontem a tendência feminina a se auto-valorizar pela aparência e legitimar normas socioculturais de beleza, após a exposição a imagens que apresentam tais padrões, ainda pode haver esperança. Essa seria justificada pelos resultados do “Estudo 2” que mostram que um trabalho de intervenção pode trazer mudanças de comportamento.
Conclusão
Os resultados apresentados nesta e em pesquisas anteriores reforçam a necessidade de contestação da veiculação de peças publicitárias, dentre outros veículos da mídia, que refletem normas socioculturais de aparência física. Mostra-se necessário que o próprio consumidor pressione uma mudança de postura da indústria.
Vale ressaltar que algumas empresas começam a utilizar-se da quebra de padrões como uma estratégia de marketing. Mesmo que se trate de mera estratégia para atrair simpatia dos consumidores, e não um valor real da empresa pode-se considerar que se tratam de iniciativas positivas. Os resultados especificamente do “Estudo 2”, mostram que é válido valer-se de campanhas utilizando contra-estereótipos no intuito de sensibilizar quanto as fantasiosas noções de padrões de beleza.
Referência: Strahan, E. J., Lafrance, A., Wilson, A. E., Ethler, N., Spencer, S. J. & Zanna, M. P. Victoria’s Dirty Secret: How Sociocultural Norms Influence Adolescent Girls and Women. Personality and Social Psychology Bulletin, 34, 288-301, 2008.
Biblioteca: inclusão de conteúdo
Acrescentado à biblioteca o artigo Estilo de vida como indicador de saúde na velhice, de Vera Lygia Menezes Figueiredo.
Resenha: representação social de crianças acerca do velho e do envelhecimento
Pamela Pitágoras
As autoras começam a dialogar com as diversas concepções e os conhecimentos teóricos diversificados que se construiu sobre o envelhecimento. Elas ressaltam que as formas de se tratar a velhice possuem interferência das circunstâncias sociais, econômicas, culturais e valorativas de cada grupamento humano. É possível traçar uma linha histórica que identifique as modificações e permanências de visões acerca do envelhecimento. Esses conceitos podem ser resumidos como a identificação da velhice como decrepitude; a velhice como sinônimo de sabedoria e por fim a velhice como a conservação física devido aos avanços científicos.
Outro fator que foi apontado pelas autoras refere-se à mudança dos estereótipos de velhice, principalmente no âmbito da sociedade ocidental contemporânea. No lugar das perdas e da decrepitude do organismo, passa-se a uma supervalorização do “manter-se” jovem. Acompanhando essa tendência, a velhice torna-se comercializável, já que se passou a valorizar a busca da eterna juventude, ao conceito de envelhecer com bem estar, apontando para uma preocupação social das conseqüências dessa nova visão de envelhecimento.
O estudo utilizou como base de análise de sua investigação a Teoria da Representação Social, que se constitui como um espaço de construção social de concepções partilhadas dentro de um grupo. A teoria desenvolvida por Serge Moscovici tem seu foco principal nos fenômenos cognitivos e lingüísticos dos humanos. A preocupação dessa vertente da ciência psicológica reflete na tentativa de amenizar o então distanciamento entre as perspectivas do estudo de uma psicologia coletiva e uma psicologia do individuo. Dessa forma, o papel composto por Moscovici através da elaboração da Teoria da Representação Social é de produzir uma coexistência construtiva dentro dessa relação conflituosa entre individuo e sociedade. A representação social é uma modalidade de conhecimentos particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos, com objetivo de identificar práticas simbólicas difundidas coletivamente.
Quanto ao método utilizado, optou-se por investigar a representação social das crianças por meio de desenhos expressivos, entrevistas semi-estruturadas e brincadeiras (“faz-de-conta”), ampliando o leque de significações e expressões dos infantes. Dessa forma, pretendeu-se associar a manifestação pictórica com a verbalização dos participantes. Foram divididos os sujeitos em dois grupos, sendo que os de maior idade tiveram contato mais freqüente com idosos dois anos antes da pesquisa, e as crianças menores tiverem contato com idosos um ano antes da pesquisa. Todas pertenciam à mesma comunidade de origem popular de uma cidade no interior de São Paulo.
Os resultados têm muito a esclarecer sobre a atual percepção dos idosos como categoria social. Ainda é representada a velhice como atributos físicos diferenciados, como adoecimento, morte e limitações locomotoras, ou seja, a velhice como período de decadência e perdas. Entretanto, mesmo as crianças percebendo o processo de envelhecimento como a passagem do tempo, algo da composição biológica humana e natural, onde elas mesmas vivenciaram esse fenômeno, elas demonstram uma produção do conhecimento sobre o envelhecimento de maneira polimorfa.
A velhice percebida pelos infantes perpassa por funções sociais e papel familiar demarcado (velhos na posição de socialmente ativos e como parentes presentes no seio doméstico). Os sujeitos trouxeram dados de uma “velhice bem sucedida”, tirando o idoso do seu status de indivíduo segregado. Essa modificação é possível devido a inúmeras informações que circulam no ambiente social que essas crianças participam, e demonstra a importância de retirar a associação de envelhecimento com estereótipos negativos e preconceito, entretanto, tomado de cautela para não criar a glorificação exacerbada da velhice.
Referência:Lopes, E. e Park, M. Representação social de crianças acerca do velho e do envelhecimento. Estudos de psicologia (Natal), 12, 141-148, 2007
Placa e cartazes: ageism
Crianças!
2007 YouTube Video Awards
Máximas do Groucho: viver é o bastante
Idade não é um assunto interessante. Qualquer um pode ficar velho. Tudo que você precisa fazer é viver o bastante
Cachorro velho
Uma velha senhora foi para um safári na África e levou seu velho vira-lata com ela. Um dia, caçando borboletas, o velho cão, de repente, deu-se conta de que estava perdido. Vagando a esmo, procurando o caminho de volta, o velho cão percebe que um jovem leopardo o viu e caminha em sua direção, com intenção de conseguir um bom almoço. O cachorro velho pensa:
-“Oh, oh! Estou mesmo enrascado !” Olhou à volta e viu ossos espalhados no chão por perto. Em vez de apavorar-se mais ainda, o velho cão ajeita-se junto ao osso mais próximo, e começa a roê-lo, dando as costas ao predador … Quando o leopardo estava a ponto de dar o bote, o velho cachorro exclama bem alto:
– Cara, este leopardo estava delicioso ! Será que há outros por aí?
Ouvindo isso, o jovem leopardo, com um arrepio de terror, suspende seu ataque, já quase começado, e se esgueira na direção das árvores.
– Caramba! pensa o leopardo, essa foi por pouco ! O velho vira-lata quase me pega!
Um macaco, numa árvore ali perto, viu toda a cena e logo imaginou como fazer bom uso do que vira: em troca de proteção para si, informaria ao predador que o vira-lata não havia
comido leopardo algum…
E assim foi, rápido, em direção ao leopardo. Entrementes, o velho cachorro o vê correndo na direção do predador em grande velocidade, e pensa:
-Aí tem coisa!
O macaco logo alcança o felino, cochicha-lhe o que interessa e faz um acordo com o leopardo. O jovem leopardo furioso por ter sido feito de bobo, e diz: -‘Aí, macaco! Suba nas minhas costas para você ver o que acontece com aquele cachorro abusado!’
Agora, o velho cachorro vê um leopardo furioso, vindo em sua direção, com um macaco nas costas, e pensa:
– E agora, o que é que eu posso fazer?
Em vez de correr ( sabe que suas pernas doídas não o levariam longe…) o cachorro senta, mais uma vez dando costas aos agressores, e fazendo de conta que ainda não os viu, e quando estavam perto o bastante para ouvi-lo, o velho cão diz:
– Cadê o filha da puta daquele macaco? Tô morrendo de fome! Ele disse que ia trazer outro leopardo para mim e não chega nunca!

