Resenha: A Legitimação da Discriminação em Diferentes Contextos Normativos

Nilton Pedrett

Neste artigo os autores intentaram contribuir para literatura sobre os processos psicossociais da discriminação objetiva contra grupos minoritários. O questionamento que norteia o artigo é: como, em sociedades altamente normatizadas, democráticas e jucicializadas, onde a expressão preconceito é alvo dos rigores da lei, as minorias continuam sendo discriminadas? quais mecanismos estão atuando nos agentes, mesmo que a emissão de comportamentos preconceituosos sejam antinormativos?

Os autores analisam o problema sob o prisma dos autores que versam sobre as chamadas “novas expressões do preconceito”, assim como a hipótese da “legitimação da desigualdade”. Procedem desenvolvendo um modelo teórico sobre os mecanismos de legitimação em diferentes contextos normativos.

Chegam a conclusão que o preconceito “não estaria a diminuir” mas a emissão de comportamentos discriminatórios estaria sendo influenciada pela normatização antipreconceito. Logo, haveria uma espécie de migração de comportamentos explícitos por formas mais sutis de discriminação.

Ao analisarem as pesquisas com medidas explícitas e implícitas de preconceito, perceberam que as pessoas avaliam negativamente grupos minoritários, mesmo não emitindo comportamentos discriminatórios. Concluem que a persistência da discriminação não pode ser reduzida às medidas de atitude preconceituosa.

Ao citar o estudo de Tyler (2006), afirmam que os processos de legitimação do preconceito são “especialmente relevantes nas sociedades democráticas, na medida em que os comportamentos antinormativos […] necessitam ser legitimados.”. Os atores sociais precisam encontrar justificativas para seus atos, segundo Berger & Luckmann (1967). Em tais culturas, as pessoas integraram conceitos de liberdade e igualitarismo, que funcionam como supressores de pensamentos e comportamentos preconceituosos. Para diminuir o desconforto de se perceber como alguém francamente preconceituoso, buscam justificativas para seus preconceitos que não as faça senti-ser como tal e para não serem publicamente censuradas por agir como tal. Tal hipótese carece ainda de amplos testes empiricos, porém, apontam, são importantes para a compreensão dos mecanismos de funcionamento da pessoa.

Citam também a “teoria da dominancia social” de Sidanius e Pratto (1999), sobre os consensos sociais que legitimam as desigualdades e a hegemonia de um grupo sobre o outro.

À seguir exploram duas hipóteses: “O papel mediador de Fatores Justificadores” (H1) e “o papel moderador das normas sociais” (H2).

Na H1, há a idéia de que a relação entre preconceito e a discriminação é mediada por fatores justificadores da discriminação. QUanto mais forte for o preconceito, maior será a motivação para as pessoas encontraram justificadores para ele.

na H2: Propõe que nos contextos onde as normas antipreconceitos são salientes, a discriminação seria resultado de um “processo psicossocial” no qual o preconceito ativa ou facilita o uso de justificações que fazem com que a discriminação seja percebida como legitima e justa.

O artigo termina com um teste empírico realizado pelos autores, numa situação hipotética de contratação de um candidato negro a uma vaga numa loja e apresenta dados testando as duas hipóteses, em um estudo sobre a discriminação contra pessoas de cor negra. A conclusão foi de que a relação entre o preconceito e a discriminação do candidato negro foi mediada pela percepção de que sua contratação seria uma ameaça para os negócios da loja. Quanto maior o preconceito, maior a percepção da ameaça e, consequentemente, maior a discriminação contra o candidato negro.

Pereira, C. R.; Vala, J. (2011). A Legitimação da Discriminação em Diferentes Contextos Normativos. In Cultura e Produção das Diferenças: Estereotipos e Preconceito (pp. 363–404). Brasília: TechnoPolitik.

Resenha: Valores psicossociais e orientação à dominância social: um estudo acerca do preconceito.

Jaime Naupuile Dala

O artigo de autoria de Sheyla Fernandes; Joseli da Costa; Leoncio Camino e Roberto Mendoza, tem por objetivo explorar as relações existentes entre o preconceito, através da orientação à dominância social, e os valores psicossociais, a partir de quatro sistemas: o religioso, o materialista e o pós materialista e o hedonista.
O preconceito e as áreas afins têm sido estudos em psicologia social quase desde que o campo começou, por causa da forte influencia que exercem sobre o comportamento dos indivíduos. O preconceito é estudado de várias formas como étnico, racial, de género, dentre outros, e fazem parte de processos mais amplos e se manifestam também de várias formas. É importante assinar que os preconceitos se perpetuam devidos os processos relativos às lutas sociais pelo poder onde se utiliza a avaliação negativa contra outras pessoas ou grupos sociais. Os autores entendem o preconceito, como um sentimento de antipatia que tem base numa generalização errada e inflexível, podendo ser só sentido ou abertamente expresso, e que pode ser dirigido a um grupo como um todo ou a um individuo por ser membro de tal grupo. São comportamentos distorcidos e negativos associados a crenças, assimiladas através de processos de socialização com objetivos pré-determinados, de desqualificar e discriminar membros pertencentes a grupos externos. Partindo de uma visão dialética, os autores consideram que os preconceitos se desenvolvem no interior dos processos de exclusão social e se modificam junto com estes, podendo ser definidos como uma forma de relação intergrupal onde, no quadro das relações de dominação entre grupos, desenvolvem-se e expressam-se atitudes negativas e depreciatórias, bem como comportamentos hostis e discriminatórios em relação a membros de um grupo pelo fato de pertencerem a esse grupo.
Para justificar como o processo de exclusão se desenvolve e se institucionaliza, e a forma como as classes sociais se posicionam nas sociedades, seus autores buscam a teoria da dominância social (Pratto, Sidanius, Stalworth & Malle, 1994; Sidanius & Pratto, 1999), elaborada na década de 1990, que visa fazer uma intercessão entre os aspectos individuais, cognitivos, de personalidade e os aspectos sociais pertencentes à natureza do preconceito, com o objetivo central de oferecer uma visão holística sobre o desenvolvimento dos sistemas de desigualdades sociais e da manutenção desses sistemas nas sociedades. Essa teoria enfatiza que todas as sociedades humanas tendem a se estruturar em sistemas de grupos baseados em hierarquias sociais, consistindo em um pequeno número de grupos dominantes e hegemônicos no topo da pirâmide social e grupos subordinados na parte inferior. Esses sistemas de hierarquias grupais são muito difíceis de se modificar, possuem um alto grau de estabilidade, embora existam sistemas paralelos que lutem contra as hierarquias sociais e que, em alguns casos, observam-se algumas mudanças no sentido de moderar as desigualdades sociais. Entretanto, apesar dos princípios democráticos e as normas das organizações internacionais que apelam as sociedades para adoção de leis que visam a dissolução ou moderação das desigualdades sociais entre seres humanos, essas normas não se relevam bem-sucedidas, pelo contrário o que está a modificar são as formas pelas quais as pessoas expressam o preconceito, de maneira mais subjetiva e sutil.
Tal como observado pelos autores o preconceito não atua sozinho, uma série de variáveis aparecem interligadas com provável direcionamento à dominância social ou igualdade social onde os valores sociais como princípios guias de comportamentos dos indivíduos. Rokeach (1968, 1973), surgem como um dos primeiros autores a estudar esse tema, e apresenta valores como crenças que o individuo possui sobre as formas de comportamento ou os estados finais de existência que são preferíveis numa dada situação, quando comparados com outras possíveis formas de comportamento ou estados finais de existência. Este conceito remete-nos a existência de um sistema funcional ou hierarquia de valores individuais devidamente organizados em função de continuo de importância, orientam as atitudes e comportamentos dos indivíduos para satisfação das diversas necessidades ou motivações. Schwartz (1996) como impulsionador das pesquisas sobre valores, define-os como concepções que o individuo possui sobre o desejável, concepções que por serem transituacionais, guiam a forma como os atores sociais selecionam seu comportamento, avaliam pessoas e explicam suas ações, na buca do desejável. Schwartz analisa os valores com base nos dez construtos motivacionais de segunda ordem (poder, realização, hedonismo, estimulação, autodermição, universalismo, benevolência, tradição, conformidade e segurança) e quatro construtos motivacionais da primeira ordem, (abertura à mudança, conservação, autotranscendência e autopromoção), que estabelecem relações de compatibilidade quando situados próximos e relações de conflito quando estão situados distantes. Esses valores respondem a três necessidades básicas e universais na natureza humana: biológicas de sobrevivência dos grupos e interação social estável.
Considerando que as sociedades incitam a competir para sobreviver, Inglehart (1977), numa perspectiva sociológica analisou as mudanças ocorridas nas condições de produção de algumas sociedades europeias, e constatou que essas mudanças eram acompanhadas por uma modificação na hierarquia dos valores dessas sociedades. Do mesmo modo, as mudanças culturais, indicadas pela criação de novos valores acompanhavam igualmente, as modificações nas condições de produção dessas sociedades. Denominou esse processo de feedback económico-cultural, por nele se emergirem dois conjuntos de valores como seus indicadores: valores materialistas e valores pós-materialistas. Os estudos têm demostrado que os valores materialistas representados por lucro, riqueza, status e autoridade, estão diretamente relacionados à ideia de dominância social. Por outro lado os valores pós-materialistas, (liberdade de expressão, sociedade menos impessoal, maior influência da opinião pessoal sobre o governo etc) ou seja realização profissional, responsabilidade, competência e dedicação ao trabalho, se opõem à noção de dominância. Segundo esse autor as condições de produção no começo do capitalismo deram primazia a construção dos valores materialistas e a prioridade dada a esses valores, facilitou o desenvolvimento do capitalismo nas sociedades industriais.
Na pesquisa o objetivo central foi avaliar as relações entre as dimensões de valores psicossociais e os níveis individuais de predisposição ao preconceito numa amostra composta por 205 participantes, sendo 77,6% de mulheres e 22,4% de homens, com idade variando entre 16 e 30 anos. Estudantes universitários da cidade de João Pessoa capital do estado do Paraíba situado no nordeste brasileiro.
Método, no momento de coleta de dados, os sujeitos foram escolhidos em função da sua presença nas salas de aula. Assim, para coleta de dados, além de questões sócio-demográficas, dois instrumentos foram utilizados: (1) a escala de orientação à dominância social (Sidanius & Pratto, 1999), destinada a avaliar níveis individuais de orientação à dominância social e (2) o questionário de valores psicossociais (QVP-24), este instrumento foi abundantemente aplicado a amostras de estudantes universitários e se mostrou apto a analisar os valores psicossociais (Lima, 1997; Pereira & Camino, 1999).
Resultados, para verificar a estruturação dos sistemas de valores psicossociais foi realizado um escalonamento multidimensional (Multidimensional Scaling – MDS), técnica capaz de produzir, através de distâncias euclidianas, uma interpretação da variáveis em termos de agrupamentos. Para analisar a escala de orientação à dominância social foi realizada uma analise fatorial dos componentes principais com rotação varimax.
Analisar as relações existentes entre os valores psicossociais e o preconceito, em função de quatro indicadores (os sistemas de valores religioso, pós-materialista, hedonista e materialista) e o preconceito a partir da orientação à dominância social, foi o motivo central da presente pesquisa. Para tal, os resultados indicam que todos os sistemas de valores se apresentaram importantes para a construção de uma sociedade ideal. No que tange a dominância social foi fortemente rejeitada pelos participantes do estudo. A investigação sobre as relações existentes entre valores e preconceitos, foi encontrado pelos autores, que os valores materialistas explicam a orientação à dominância social, variável indicadora de favorabilidade às hierarquias grupais ou preconceito e possui relação com valores psicossociais, enquanto os valores pós-materialistas inversamente explicam a orientação a dominância social, ou seja rejeitam grupos dominantes que praticam a exclusão social, pois que os valores pós-materialistas avaliam a importância do bem-estar social, da realização profissional e do bem-estar individual.
O estudo mostrou-se importante no presente momento em que as pessoas buscam por todos os meios normas de justiça social e de igualdade de oportunidades para todos os seres humanos independentemente da sua raça ou género. O estudo trouxe a tona várias contribuições para explicar o fenómeno de exclusão social, marginalização e discriminação através da prática de preconceito um mal consubstanciado no pré-julgamento, aprendido principalmente nos ambientes familiares, prevalecentes em várias sociedades. Apesar da pesquisa ser clara e consistente e objetiva, deixou duas pontuações pertinentes: a primeira relaciona-se às formas modernas de expressão das emoções negativas frente os grupos minoritários, as chamadas formas sutis e veladas de preconceito e a segunda indica que os valores considerados importantes para uma sociedade adequadamente justa seguem o mesmo padrão imposto pelas ideologias politicas elaboradas socialmente. Finalmente os autores aludem que a esfera psicossociológica se apresenta intrinsecamente complexa e em constante mudança, para tal aconselham mais estudos, inclusive consideram que o presente estudo foi limitado por ter sido realizado com uma amostra homogênea. É o artigo que vale apena ser lido.
Referência: Fernandes, S., Costa, J., Camino, L., & Mendoza R. Valores psicossociais e orientação à dominância social: um estudo acerca do preconceito. Psicologia: reflexão e crítica, 03, 20, 490 – 498, 2007.

Resenha: Sobreviver ao medo da violação – constrangimentos enfrentados pelas mulheres.

Pérola Cavalcante Dourado


O artigo em questão retrata a realidade social que nos obriga a um estado de vigília permanente. Por questões sociais diversas, na maioria das cenas cotidianas é quase concreta a probabilidade da iminência de, de modo geral, sofrermos algum tipo de violência derivante de ato criminoso. Porém às mulheres cabe especialmente o temor do medo da violação. Senão a violação em si, ações derivantes, como assédio moral, constrangimentos diversos, e a consequente evitação de toda e qualquer situação de possível risco. É privilégio exclusivo das mulheres? Não, porém os dados apresentados no artigo reiteram que a prevalência dos casos de violência sexual nos cabe. Seria a famigerada vulnerabilidade do sexo feminino, o suposto “sexo frágil”? Ou o reflexo de uma realidade que ainda não nos encara de forma minimamente igualitária, nos tornando inevitavelmente vítimas em algum grau de padrões sexistas, patriarcais e paternalistas?
Esse temor é algo com que as mulheres convivem efetivamente, pois essa ameaça de fato existe. Em sociedades que encaram de forma mais branda tais ações sexualmente criminosas, infelizmente é comum tais atos serem tratados com viés absolutamente machista e complacente, tornando-se inclusive a vítima passível de penalidade, incrivelmente. E em tantas outras culturas, (inclusive a nossa) são retratados inúmeros casos de abusos, “míni-violações”, como são chamados no texto os atos de serem molestadas em vias ou transporte públicos, e mesmo o estupro, advindos de pessoas próximas, familiares e mesmo cônjuges, sem que as vítimas relatem esses casos, e os denunciem criminalmente. Ou seja, o medo nesses casos torna-se um ciclo vicioso, que possivelmente antecede sua incidência, e após a concretização, inibe uma ação de combate e/ou responsabilização penal.
No artigo é relatada a vivência do grupo pesquisado, composto de dezoito jovens estudantes, para verificação do impacto causado em suas rotinas por esse temor. Foi verificado que mesmo a sua liberdade, direito assegurado Constitucionalmente a todos, é cerceada. São inúmeras as situações consideradas de risco, como atividades noturnas, transitar por vias mal iluminadas, andar desacompanhada em ambientes inóspitos ou desertos, e mesmo lidar com pessoas/situações desconhecidas. Ou seja, é grande o impacto no bem estar, qualidade de vida, segurança e independência, aspectos fundamentais, e direitos que deveriam ser assegurados a todo cidadão.
Os meios considerados como vias de resolução, ou mesmo amenização dessa opressiva realidade é a revisão sistemática da formação dos indivíduos, no sentido de imiscuir-lhes o respeito e igualdade entre os sexos/gêneros, e assegurar legislação mais eficaz, que de fato iniba e puna rigorosamente seus autores. Como agente dessa transformação, a Psicologia tem papel fundamental, por seu caráter de permanente transformação social.
Referência: Berta, M., Ornelas, J. H., & Maria, S. G. (25 de Janeiro de 2007). Sobreviver ao medo da violação: Constrangimentos enfrentado pelas mulheres. Análise Psicológica , pp. 135-147.

Resenha: pensamento, crenças e complexidade humana

Adriana Araújo

O artigo apresenta as relações da influência cultural no pensamento humano, mostrando a partir de teorias e de uma pesquisa bem fundamentada que o funcionamento mental não se limita a cognição, lógica e racionalidade.

Ao iniciar a discussão a autora usou a teoria da complexidade que explica a complexidade do mundo real, onde os objetos e fenômenos da natureza só podem ser compreendidos através de uma visão multidimensional e de que todo conhecimento precisará de complementos e apresentará incertezas. O funcionamento do psiquismo humano segundo o autor Araújo, citado no artigo, de maneira complexa recebe influência tanto de fatores internos quanto dos externos. Ele afirma também que todos os aspectos constituintes do sujeito, que sejam eles biológico, afetivo, sociocultural (crença) ou cognitivo atuam simultaneamente influenciando-o totalmente desde sua maneira de ser até o pensar. Ao relacionar cultura e pensamento humano a autora também busca embasar-se na perspectiva de autores como Morin, Vygotsky, Martins e Branco. E na elaboração e fundamentação da pesquisa foi usada a teoria dos modelos organizadores do pensamento criado por Moreno e colabores. Os modelos organizadores do pensamento relata que o ser humano constrói modelos de realidade na sua interação com o mundo e consigo mesmo, como também esses modelos o influência tanto internamente na construção do conhecimento, quanto externamente nos conteúdos da sua realidade. Esses modelos permitem relacionar claramente pensamento e crença quando em sua abordagem defende, que a organização do pensamento está relacionada a sentimentos, emoções, desejos, fantasias, representações sociais, crenças além da cognição, lógica de racionalidade.
Na pesquisa o objetivo foi verificar a influência das crenças na organização do pensamento, as perguntas realizadas com as pessoas entrevistadas foi com relação a crença religiosa e o conteúdo foi a sexualidade. Duas questões foram respondidas por grupo de pessoas religiosas de diversas denominações e um grupo de estudantes. Ao fazer a análise foi verificado que os entrevistados mudam a forma de pensar de acordo com a natureza da crença, a subjetividade não anula a dinâmica do pensamento psíquico, algo que é muito interessante também é que os modelos organizadores com relação a temática sexualidade tiveram associados a significados, conteúdos que envolvem crenças religiosas, mesmo que implícitos no contexto da pergunta que foi aplicada. A pesquisa confirmou as teorias apresentadas pela autora, tornando o artigo coerente e bem contextualizado.

Houveram muitas repetições de informações, tornando as vezes a leitura cansativa, apesar de ser um texto muito enriquecedor. Geralmente alguns autores radicalizam e concluem pesquisas através de uma análise fragmentada do objeto de estudo em seus artigos, isso pode ser muito perigoso a depender da temática. Pátaro fez diferente ,reconheceu que não pode tirar respostas conclusivas com relação a pesquisa, e informou ter surgido novos questionamentos e hipóteses. A pesquisa foi clara , consistente e verdadeira ao colocar diante do leitor as incertezas e fragilidades do pensamento humano que é comumente influenciado pela cultura.

Referência: Pátaro, C. O. Pensamento, crenças e complexidade humana. Ciência & Cognição, 04, 12,134-149, 2007.

Resenha: o brasileiro, o racismo silencioso e a emancipação do afrodescendente

Ominlandê Onawale Lima

O artigo mostra de forma explícita a concepção do racismo no Brasil. Na visão do especialista Nelson Rodrigues, o preconceito racial existente no nosso país é velado, e isso acaba “cegando a população”, a qual acredita veementemente que o país vive uma democracia racial.
O preconceito no Brasil, justamente por ser tão mascarado, revela-se capaz de alienar as pessoas a pensarem de modo conformista, de modo em que se não é percebido, não há o que ser combatido. Dessa forma, na visão do autor Ricardo Ferreira, cria-se uma dificuldade inclusive no estabelecimento de leis para coibir tais ações racialmente preconceituosas.
A grande questão é que o racismo presente na sociedade brasileira esconde-se atrás de termos como “moreno”, “denegrir”, entre outros. A forma com que ele é acobertado é algo repugnante, e ainda mais desastroso é perceber que a população parece inerte em meio a tanta ilusão.
É importante enfatizar que o passado de escravidão torna-se causa direta do que acontece atualmente, no sentido de estabelecer uma visão eurocêntrica como dominante nos mais sutis aspectos do nosso dia-a-dia. Aspectos estes, que parecem se tonar invisível aos olhos da maioria da população, exceção feita a determinadas organizações raciais que lutam para reverter tal situação.
Portanto, o artigo gira em torno de nos conscientizar quanto à existência do racismo no Brasil. Muitas vezes manipulado, ele acaba por se esconder em diversas faces, as quais são veladas pelos setores mais influentes da nossa sociedade. Cabem a nós, cidadãos, compreendermos a real existência de tal problema e percebermos maneiras de enfrentá-lo, sem nos deixar influenciar pelas camadas mais altas, que persistem em ocultá-lo.

Referência: Ferreira, R. F. O brasileiro, o racismo silencioso e a emancipação do afro-descendente. Psicologia & Sociedade, 14, 1,69-86, 2002.

Resenha: estilo de vida como indicador de saúde na velhice

Janaína Alvarez

O artigo de Vera Lygia Menezes Figueiredo tem com objetivo explorar o tema envelhecimento saudável e quais fatores podem influenciar na qualidade de vida dos idosos, dentre eles o estilo de vida como importante indicador de saúde.
Para muitos velhice é sinônimo de aposentadoria, na qual os adultos saem do cenário social, principalmente nas sociedades modernas industrializadas que objetivam funcionalidade. Mesmo com o aumento do número de idosos e da expectativa de vida, ainda há um atraso em possibilitar altenativas de ocupação desses idosos, que possuem estereótipos e preconceitos sobre se isso seria possível, o que contribui para que eles sintam-se inativos diante das gerações atuais, e com tempo ele pode se enxegar desvinculado da sociedade, sem compreender-se como pertecente socialmente.
Diante disso, há idosos que se isolam ou permitem que exista um isolamento social, outros vivem bem, mas com uma rotina bem estruturada que não permite muita estimulação cognitiva, e ainda aqueles que por desajustamentos psicológicos diversos vivem sob uma qualidade de vida abaixo do esperado. Em todos esses estilos de vidas citados, existem características comuns como uso deficitário das funções cognitivas, retração da expressividade emocional, e redução das trocas relacionais e com o meio.
Só a partir da virada do século XX que começou o interesse pelo estudo dos fenômenos do envelhecimento, diante da projeção de aumento dessa população específica nos Estados Unidos e outros países da Europa. Após reduzirem taxas como da mortalidade infantil, mortalidade materna, e da mortalidade por doenças crônicas, a expectativa de vida da crescente população idosa requer atenção, até porque é um consenso no meio científico que a expectativa de vida é um dos indicadores mais importantes de saúde. Contudo, disciplinas médicas como geriatria e gerontologia surgem na década de 30 e 50, respectivamente, e seus estudos com outros campos, até mesmo interdisciplinares possibilitam estudos enriquecedores.
O crescimento da população idosa no mundo já é um fenômeno, e com isso, torna-se o maior desafio desse século o envelhecer com saúde. As pesquisam já demonstram possibilidades, mas ainda encontram barreiras nas diferenças individuais cercadas de peculiaridades que dificultam conceituar de modo homogêneo.
A Organização das Nações Unidas (ONU) redefine o conceito de saúde em 1947 como um estado de completo bem-estar físico, psíquico e social, mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1994 traz esse conceito como a busca de uma qualidade de vida. Ampliando-se o conceito de saúde, os idosos deixam de ser passivos para serem chamados a um engajamento ativo pela promoção da saúde, sobretudo acompanhada de direitos.
Com o envelhecimento há a senescência, que é a condição daquele que está envelhecendo, já senelidade para o envelhecimento patológico. Dentre os fatores precipitantes de incapacidade funcional destaca-se a área cognitiva, como por exemplo, perda de memória, que por conta das diferenças individuais novamente há uma dificuldade em classificar os déficits principalmente nesses casos. Diante desses impecilhos, o mais importante não é impedir o declínio funcional biológico, muitas vezes esperado, mas providenciar alternativas que ajude na preservação da capacidade funcional para se ter uma velhice saudável.
Dessa forma, o estilo de vida vai impactar na saúde na velhice, por isso a importância de observar além das demências e patologias típicas dessa fase, mas também a relação desses idosos com o mundo, pois algumas fragilidades dizem respeito ao biológico, mas outras ao ambiente externo. Para promoção e prevenção da saúde o estilo de vida deve ser considerado dentre outros indicadores, pois através dele o indivíduo vai entender suas limitações e enxergar possibilidades de adaptações para responder aos desafios impostos no dia-a-dia.
Referência bibliográfica: Figuereido, V. L. M. Estilo de vida como indicador de saúde na velhice. Ciência & Cognição, 04, 12, 156-164, 2007

Resenha: da marginalidade à inclusão

Erlane Bárbara F. Nascimento

Estar à margem em sociedades capitalistas, não é para poucos ao contrário do que se pode pensar, o desenvolvimento econômico, tecnológico, social e cultural escolhe seletivamente os seus beneficiários, sendo assim, é muito restrito associar a marginalidade apenas aos indivíduos que cometeram algum ato criminoso, transgredido as leis instituídas. Entretanto, é justamente nessa dimensão da marginalidade, associada aos que transgrediram a lei, nesse caso presidiários que se encontram em cumprimento de pena no presídio de Araguaína (To) que o artigo irá se pautar, buscando refletir de modo crítico a real possibilidade de ressocialização dos seus detentos tendo como instrumento principal a educação.

O artigo nasce como resultado de uma pesquisa promovida por Luisa Helena O. da Silva (doutora em Estudos da linguagem), Francisco Neto P. Pinto (mestre em engenharia de produção que atua como docente no curso de Pedagogia e no curso de especialização em leitura e produção escrita) e Kátia Cristina C. F. Brito (graduanda em letras). É importante situar a formação dos pesquisadores para compreender melhor o prisma de análise por eles estabelecido.

Utilizando a análise de discurso francesa que percebe a linguagem como um processo que se constitui em uma relação dialética de base histórico-cultural, é que os pesquisadores analisaram as representações sociais dos presidiários sobre educação mediante redações que lhes foram solicitadas construir pelos seus professores. Os presidiários estudam na instituição através da modalidade EJA (Educação para Jovens e Adultos) e nessas redações lhes foi pedido que expusessem a concepção que possuem do que é educação e sua importância para a ressocialização.

Problematizando a qualidade da formação dos professores para que eles tenham um efetivo preparo a fim de propiciar uma educação inclusiva em ambientes convencionais e atípicos, capaz de dialogar com a realidade dos seus estudantes. Questionando o conteúdo programático dos módulos trabalhados na unidade prisional, bem como a distância entre o que é preconizado na LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e também pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) é que os autores traçam um paralelo entre ideal e prática.

Questionando a validade de termos como reeducação, embasando sua análise em teóricos como Orlandi e Forcault os autores percebem nas falas trazidas (e exemplificadas no corpo do artigo) pelos presidiários, a apropriação do discurso institucional algumas vezes em contradição com a sua própria opinião. A partir dos dados obtidos emergem algumas perguntas: A educação oferecida estaria ligada à construção da autonomia dos presidiários ou a um processo de assujeitamento com vistas unicamente a evitar a reincidência e torná-lo um ser producente? Para tirar as suas próprias conclusões, “Da marginalidade à inclusão: A socialização através da educação no Presídio de Araguaína (TO)” é um artigo que vale a pena ser lido do início ao fim.

Silva O.H.L; Pinto P.N.F; Brito F.C.C.K. (2008). Da marginalidade à inclusão: a socialização através da educação no Presídio de Araguaína (TO). Vol 13 (3): 214-230. Recuperado em 24 de Março de 2013 de http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v13_3/m318257.pdf

Resenha: cognição, categorização, estereótipos e vida urbana

Leonardo Cardoso de Melo

Nesse artigo, o autor se propõe a explorar alguns aspectos envolvidos no processo de formação de representações categóricas e sua relação com julgamentos estereotipados por parte dos indivíduos que habitam grandes centros urbanos. Em sua opinião, o lócus de estudo se justifica em virtude da alta concentração populacional nas metrópoles elevar o grau de complexidade da compreensão do mundo que nos cerca.
Essa compreensão só é possível, segundo os teóricos da cognição, porque possuímos dois sistemas de aprendizagem: um que permite fazer representações de modelos de mundo relativamente constantes, bem como um segundo sistema que complementa o primeiro tornando-nos aptos a responder às mudanças frequentes e características dos espaços urbanos. Sem essa capacidade de categorização estenderíamos ao extremo os limites cognitivos a cada vez que necessitássemos identificar os esquemas de conhecimento sobre o mundo.
Dessa forma, seguimos enquadrando pessoas que acabamos de conhecer de acordo com “crenças gerais e antigas organizadas e armazenadas na memória”, o que só é possível devido a uma modalidade de pensamento dita categórica (p. 281). Nesse sentido, categoria seria a “totalidade de informações que os percebedores possuem na mente sobre uma classe particular de indivíduos” (Moskowitz, 2006, segundo Pereira, 2008, p. 281). O autor ilustra como esse processo de categorização se dá e é fundamental para a nossa orientação diária dando exemplos do cotidiano como quando vamos supermercado, onde encontramos tudo arrumado em seções que teriam um efeito análogo à categorização em nossa mente.
Logo em seguida, Pereira analisa como o pensamento categórico exerce influência sobre a representação social. Esse pensamento teria o papel de guiar a estrutura de conhecimentos acerca do processo de informação que compõem a representação social. Uma vez ativada, essa estrutura de conhecimentos permitem uma série de inferências que envolvem, principalmente, o julgamento e avaliações acerca dos membros de um grupo. Embora essas inferências sejam inerentes à cognição humana, e muitas vezes apropriadas, em boa parte dos casos, elas carregam julgamentos estereotipados como afirma o autor (p. 282). Entretanto o autor salienta que, a despeito da precisão envolvendo a correspondência entre as categorizações que fazemos e os eventos que realmente ocorrem no mundo físico, nossa espécie tem se adaptado relativamente bem ao ambiente, denotando o papel fundamental da categorização em sua sobrevivência por possibilitar que tratemos um “evento novo e inesperado em termos de crenças mais gerais e antigas” (p. 282).
O autor segue descrevendo como tudo que foi dito até agora pode ocorrer no cotidiano citadino. Situações em que podemos evidenciar tanto a confirmação dos estereótipos, bem como as suas controvérsias (p. 283), a exemplo da faxineira que possui o estereótipo de morar em bairro periférico, assim como uma possível contradição caso ela more no apartamento vizinho ao do patrão. Ele aponta que “podem ser encontradas na literatura indicações de que as representações estereotipadas se manifestam de forma menos intensa nos centros urbanos de maior tamanho” (p. 283). O que estaria por trás disso?
A literatura a respeito do tema indica que a vida urbana cria condições para aquisição de informações que muitas vezes põem em xeque concepções estereotipadas. Além disso, por propiciar a relação com as alteridades, algumas obviamente confirmam os estereótipos compartilhados sobre determinada categoria social, “enquanto outras se contrapõem a tudo que se ouviu falar sobre os membros daquele mesmo grupo social” (p. 284).
Entretanto o autor defende a tese de que não é a simples convivência em meio urbano e exposição a uma grande quantidade de informações que reduzirá os índices de estereotipização por parte dos indivíduos, é necessário que haja qualidade nas informações quem nascem do processo de interação social “nos quais são obtidas as informações necessárias para a realização dos julgamentos sociais” (p. 285). Essa qualidade não é privilégio dos grandes centros como ele bem lembra ao afirmar que “alguém pode habitar a maior metrópole do mundo e ser absolutamente desprovido de valores cosmopolitas, assim como pode viver na região mais inóspita e remota do planeta e acolher valores universais” (p. 285).
Por fim, um ponto crucial mencionado pelo autor acerca do processo de categorização merece destaque: nós construímos os fatos sociais e por isso não há realidade própria, já que toda nossa percepção é aprendida. Nesse sentido devemos tomar o cuidado de não extrapolar impondo princípios de uma “realidade social” para uma realidade física. Embora a formação de estereótipos seja algo inerente à condição humana é preciso atentar para esse fato se quisermos evitar preconceitos. Cabe sempre nos perguntarmos se o que penso sobre a realidade é como ela se apresenta, ou é o que desejo que ela seja.

Referências:

Pereira, M. E. Cognição, categorização, estereótipos e vida urbana. Ciências & Cognição: 13, 5, 280-287, 2008. Disponível em: http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v13_3/m318280.pdf

Resenha: estereótipos sociais de universitários em relação aos ambientalistas

Lucas Gondim Da Silva

Abalizado por Dias (2000), inicialmente, o texto introduz a temática das relações homem-natureza, relatando que, principalmente através da filosofia, das artes, da ciência e da religião, oriente e ocidente preocupam-se com os problemas ambientais desde a antiguidade. Segundo este mesmo autor, a preocupação ambientalista tem sua divulgação aumentada cada vez mais. O artigo também versa sobre o surgimento de movimentos ambientalistas, que, tidos como marco histórico-político internacional, engendrou-se por conta da tomada de consciência sobre a exploração predatória de recursos naturais e da evidente queda na qualidade ambiental, fruto da busca indiscriminada por lucros.
A proliferação de movimentos ambientalistas e de grupos sociais envolvidos com esta questão é tida como conseqüência da preocupação com essa temática. O fortalecimento dos movimentos ambientais atuais, em suas diversas nuances, é apontado como decorrente da percepção do quadro mundial de degradação ambiental. Viola (1987) é citado como diferenciador de três períodos na história deste movimento no Brasil: de 1974 a 1981, de 1982 a 1985 e a partir de 1986. Neste intere, houve uma transição de um movimento inicialmente apolítico para o surgimento da ecopolítica, com a participação ativa do movimento ecológico na cena partidária. A partir de então, surgem os ambientalistas, que, segundo Grisi (200) apesar da forte ligação com o termo ecologista, tem diferenças significativas, sendo o ambientalista associado ao movimento social de mesmo nome, que prega a valorização dos desejos culturais e da natureza, não unicamente dos meios de produção. Já o ecólogo seria o cientista que estuda a ecologia. Em seguida, o termo ambientalista é explicado pela concepção de mais autores. Chega-se, então, à conclusão de pode referir-se tanto ao interessado pelo meio ambiente como ao envolvido na preservação do meio ambiente. Explicita-se que o artigo refere-se ao ambientalista a partir de suas ações, de sua militância preservacionista.
Na seqüencia, o trabalho introduz a noção de que a questão ambiental é de escopo psicossocial, oferecendo uma breve explicação sobre as inter-relações homem-meio e como esta é usada para atrair a atenção de novos adeptos à causa. Em seguida, fala-se sobre a formação de certas crenças influenciadoras na percepção de determinados grupos sobre os ambientalistas, entre os quais se encontra o grupo de estudantes universitários, foco da pesquisa base deste artigo.
É introduzido, então, o conceito de estereótipos, desde o plano etimológico às definições de vários autores como Tajfel, Turner, Braly, Martinez, Morales e Pereira. Também são relatados estudos acerca dos estereótipos e, então, o artigo tem esclarecido o objetivo de realizar uma investigação exploratória descritiva dos estereótipos, acerca de ambientalistas, com a participação de estudantes universitários.
Na seção de métodos, fala-se sobre a amostra, que contou com 325 estudantes universitários, em média com 24 anos, de ambos os sexos e de cursos de ciências humanas, saúde e tecnologia. O instrumento é apresentado, sendo explicado o processo que vai da avaliação preliminar à verificação de necessidade de ajustes nas instruções, uma segunda versão e posterior correção, resultando em uma folha em branco na qual os participantes deveriam relacionar livremente atributos negativos e positivos dos ambientalistas. O procedimento consistiu em os participantes responderem aos questionários individualmente, com posterior processamento e análise dos dados pelo programa estatístico SPSS.
Em resultados e discussões, esclarece-se o intento de procurar através da palavra estímulo “ambientalistas” averiguar os conteúdos definidores deste construto, objetivando –se achar uma visão socialmente compartilhada sobre estes atores sociais. Através de análises de sinonímias e idiossincrasias, houve a categorização geradora de categorias que expressavam tanto a visão positiva como a visão negativa associada aos ambientalistas e uma terceira categoria, que não se encaixava em visões grupais, sendo por isso descartadas. Após a análise das categorias obtidas, constata-se que as mesmas podem ser estruturadas em núcleos de significação, sendo estes a dimensão política, dimensão ecológica e dimensão pessoal. Cada um desses eixos é interpretado como componente de uma dimensão semântica específica. Esta permite, já num nível interpretativo, compreender a estruturação dos significados em cada núcleo de significação. Tais dados permitiram a organização de atributos de estereotipia.
A análise seguinte permite concluir que há indicadores de estereótipos representativos acerca dos ambientalistas e que, considerando que o estereótipo faz parte da dimensão cognitiva da estrutura atitudinal dos indivíduos, supõe-se que essa visão social interfere diretamente no envolvimento afetivo-avaliativo e comportamental com as questões ambientais. Tal conclusão pode ser verificada empiricamente tanto através do comportamento pró-ambiental como das atitudes frente aos ambientalistas e da formação de discursos diferenciados sobre o tema, mas que se relacionam entre si. Pode-se, então, através do enfoque da Psicologia Social, estudar a preocupação ambiental e promover o melhor entendimento da questão e políticas efetivas no escopo socioambiental. Os resultados obtidos através deste estudo podem contribuir efetivamente para o aumento da eficácia das ações dos ambientalistas junto à opinião pública e também através do conhecimento da dinâmica psicossocial envolvida na questão ambiental.

Referência: Moreira, E., Costa, J., Costa, R. e Araújo, L. Estereótipos sociais de universitários em relação aos ambientalistas. Estudos de Psicologia (PUC-Campinas), 21, 2, 117-127, 2002

Resenha: a expressão das formas indiretas de racismo na infância

João Raphael Gomes da Silva Oliveira

O ponto inicial do artigo é uma observação crítica sobre o quanto a expressão do racismo nos adultos se apresentou na sociedade a partir da primeira metade do século XX e de que maneira ele continua se manifestando na contemporaneidade a partir das crianças. As autoras procuram levantar as formas indiretas de racismo na infância, levando em consideração que esse estudo apresenta carência de análises sobre esse tema.
Levando em consideração as novas formas de preconceito e racismo dos adultos, encontra-se no artigo teorias do racismo: ambivalente (resultado do conflito dos americanos brancos em relação aos americanos negros), a teoria do racismo simbólico (que afirma que atitudes contra os negros decorrem de ameaça aos valores do individualismo) e a teoria do preconceito sutil (que distingue duas formas de preconceito: o sutil e o flagrante). Todas as teorias citadas nesse parágrafo analisam aspectos do racismo velado. Porém, a teoria que busca ser enfatizada é a teoria do racismo aversivo. Segundo essa teoria, os contextos de resposta do indivíduo diante de uma possível situação de preconceito são o que determinam as expressões mais abertas ou veladas do racismo.
Através de alguns experimentos, tomando como base os estudos de Dovidio e Gaertner, foi possível chegar a conclusão de que quando a norma anti-racista está amostra a discriminação não se manifesta. De acordo com pesquisas de outro estudioso sobre expressões do Racismo Moderno (McConahay, 1986), a manifestação do racismo depende de quem pergunta e de quem é perguntado como em uma entrevista, por exemplo. Alguns desses estudos foram replicados e os resultados sustentaram que a norma social anti-racista se manifesta hoje de forma indireta ou encoberta.
Observamos que em determinado momento da infância a criança evolui de uma fase egocêntrica, para uma fase de sociocentrismo, em que os julgamentos sociais se baseiam na categorização e percepção de semelhanças e dessemelhanças entre grupos sociais, tudo isso por volta dos 7-8 anos que é quando as crianças, segundos os pesquisadores, reconhecem termos de tolerância e comportamento. No primeiro estudo os resultados indicaram não existir efeito do gênero sobre a discriminação. Foi observado que tanto as crianças mais novas quanto as mais velhas recompensavam mais o branco do que o negro num objetivo que buscava investigar o efeito do contexto de igualdade ou diferenciação sobre a expressão das formas indiretas de racismo levando em consideração a função da idade.
Em um segundo estudo, com a finalidade de verificar a influencia de uma norma anti-racista entre crianças brancas e negras, verificou-se que em um cenário de entrevistas a ausência da entrevistadora negra desativava os conteúdos da norma anti-racista e as crianças brancas acabaram expressando o preconceito apesar de ter relação com as crianças negras. Em outras palavras, o que tem buscado saber é se nas idades em que as crianças apresentam racismo de forma direta elas estão buscando uma análise sob o efeito de se mostrarem igualitárias. Em um terceiro experimento, foi verificado que na faixa etária de 5-7 anos, as crianças ainda não adquiriram ou interiorizaram a norma anti-racista, ao contrario das crianças que tem mais de 7 anos de idade que apresentaram ter o mesmo padrão de preconceito das suas mães.
Portanto, podemos concluir, através desses três estudos e levando em consideração as vertentes teóricas citadas acima que as novas formas de racismo tem-se confirmado como expressões sutis e indiretas por meio de reflexo das pressões das normas sociais anti-racistas sobre o indivíduo. Ficou claro que a partir dos 8 anos, nas crianças brancas, de acordo com o estudo, ocorre uma interiorização da norma anti-racista. O que também foi verificado é que em crianças mais velhas o comportamento discriminatório passa cada vez mais a se expressar de modo indireto e distante da punição social e que o processo de mudança para essa situação merece ter como ponto de início o estudo sobre como isso infere no processo de interiorização desse tipo de normas sociais e como tudo isso se configura a partir dos 8 anos de idade.

Referência Bibliográfica: França, D. e Monteiro, B. A expressão das formas indirectas de racismo na infância. Análise Psicológica, 22, 4, 705-720, 2004.

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