Resenha: da marginalidade à inclusão

Erlane Bárbara F. Nascimento

Estar à margem em sociedades capitalistas, não é para poucos ao contrário do que se pode pensar, o desenvolvimento econômico, tecnológico, social e cultural escolhe seletivamente os seus beneficiários, sendo assim, é muito restrito associar a marginalidade apenas aos indivíduos que cometeram algum ato criminoso, transgredido as leis instituídas. Entretanto, é justamente nessa dimensão da marginalidade, associada aos que transgrediram a lei, nesse caso presidiários que se encontram em cumprimento de pena no presídio de Araguaína (To) que o artigo irá se pautar, buscando refletir de modo crítico a real possibilidade de ressocialização dos seus detentos tendo como instrumento principal a educação.

O artigo nasce como resultado de uma pesquisa promovida por Luisa Helena O. da Silva (doutora em Estudos da linguagem), Francisco Neto P. Pinto (mestre em engenharia de produção que atua como docente no curso de Pedagogia e no curso de especialização em leitura e produção escrita) e Kátia Cristina C. F. Brito (graduanda em letras). É importante situar a formação dos pesquisadores para compreender melhor o prisma de análise por eles estabelecido.

Utilizando a análise de discurso francesa que percebe a linguagem como um processo que se constitui em uma relação dialética de base histórico-cultural, é que os pesquisadores analisaram as representações sociais dos presidiários sobre educação mediante redações que lhes foram solicitadas construir pelos seus professores. Os presidiários estudam na instituição através da modalidade EJA (Educação para Jovens e Adultos) e nessas redações lhes foi pedido que expusessem a concepção que possuem do que é educação e sua importância para a ressocialização.

Problematizando a qualidade da formação dos professores para que eles tenham um efetivo preparo a fim de propiciar uma educação inclusiva em ambientes convencionais e atípicos, capaz de dialogar com a realidade dos seus estudantes. Questionando o conteúdo programático dos módulos trabalhados na unidade prisional, bem como a distância entre o que é preconizado na LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e também pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) é que os autores traçam um paralelo entre ideal e prática.

Questionando a validade de termos como reeducação, embasando sua análise em teóricos como Orlandi e Forcault os autores percebem nas falas trazidas (e exemplificadas no corpo do artigo) pelos presidiários, a apropriação do discurso institucional algumas vezes em contradição com a sua própria opinião. A partir dos dados obtidos emergem algumas perguntas: A educação oferecida estaria ligada à construção da autonomia dos presidiários ou a um processo de assujeitamento com vistas unicamente a evitar a reincidência e torná-lo um ser producente? Para tirar as suas próprias conclusões, “Da marginalidade à inclusão: A socialização através da educação no Presídio de Araguaína (TO)” é um artigo que vale a pena ser lido do início ao fim.

Silva O.H.L; Pinto P.N.F; Brito F.C.C.K. (2008). Da marginalidade à inclusão: a socialização através da educação no Presídio de Araguaína (TO). Vol 13 (3): 214-230. Recuperado em 24 de Março de 2013 de http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v13_3/m318257.pdf

Resenha: diferenças e igualdades nas relações de gênero

Renata Bárbara da Silva

O artigo traz uma discussão acerca da questão da diferença e da igualdade nas relações de gênero e a influência do movimento feminista, discorre sobre a crise da masculinidade e de mudanças socioculturais sobre essa temática. Inicialmente, a autora se respalda nas concepções da historiadora estadunidense Joan Scott para analisar o conceito de gênero e sua aplicabilidade enquanto categoria analítica. O termo “gênero”, no sentido gramatical, designa indivíduos de sexos diferentes, masculino/feminino. Para a literatura feminista, no entanto, gênero é um construto sociocultural, diferentemente do conceito de sexo, que se refere a diferenças biológicas. Segundo Scott (1995, apud ARAÚJO), “gênero” é utilizado para designar as relações sociais entre os sexos e rejeitar de forma radical explicações biológicas que deixam implícitas diversas formas de subordinação feminina.
“Gênero é um elemento constitutivo das relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos e também um modo primordial de dar significado às relações de poder” (SCOTT, 1995, apud ARÁUJO). Nesse sentido, gênero seria a primeira forma de articular o poder.
A utilização desse conceito enquanto categoria analítica incide em visões antagônicas entre diversos autores, principalmente no que se refere ao estatuto cognitivo do conceito. A autora , no entanto, defende o uso do conceito de gênero como categoria de análise, apoiando-se em Scott (1995), Tilly (1994) e Saffiotti (1997), que fazem crítica ao caráter descritivo dos estudos sobre a história da mulher. Concebe gênero como uma categoria empírica e histórica, portanto, empreende valor de categoria analítica. Emergente de uma realidade empírica, o conceito de gênero, expressa as relações históricas e as formas de existência da realidade social.
De acordo ao artigo, o conceito de gênero pode ser ademais empregado em uma categoria política, que permite a análise da questão da igualdade e da diferença, apontando para uma nova perspectiva de interpretação e transformação da realidade social. A autora aponta três perspectivas principais sob as quais o debate acerca da diferença entre os sexos se desenvolveu: a essencialista, na qual há uma exaltação da “diferença sexual”, psicologizando e biologizando as constatações sociológicas e culturais historicamente produzidas; o discurso culturalista, onde as diferenças sexuais provêm da socialização e da cultura; e por último, a perspectiva da feminista Françoise Collin (1992), na qual propõe um dialogo contínuo, que incorpora a igualdade e as diferenças sem negá-las, num constante jogo dialético em que a pluralidade e o diálogo são os princípios fundamentais. Esses argumentos são reforçados pelas propostas desconstrutivistas de Scott (1995) da oposição igualdade/diferença. Para ela, com a desconstrução dessa antítese será possível não só dizer que os seres humanos nascem iguais mas diferentes, como também sustentar que a igualdade reside na diferença.
O debate sobre a igualdade versus diferença, entretanto, só foi introduzido no movimento feminista entre a década de 70 e 80, quando atribuindo uma valência positiva à diferença, direcionou-se a luta em favor da igualdade na diferença. Essa revisão no feminismo surge a partir do momento em que se percebeu uma ambiguidade nos discursos, em que as mulheres se esforçavam para assimilar os modelos considerados masculinos em detrimento dos femininos.
A autora considera que a grande conquista do projeto feminista igualdade na diferença foi a possibilidade de mudança nas relações de gênero, na medida em que as mulheres (e os homens) puderam se libertar dos velhos estereótipos e construir novas formas de se relacionar, agir e se comportar.
Outro reflexo provocado pelo movimento feminista foi a crise da masculinidade, uma vez que esse movimento foi responsável por mudanças radicais nos valores, nos costumes e nas relações de trabalho e família, e de transformações socioeconômicas e culturais num contexto amplo caracterizado pela ascensão do capitalismo. Por consequência, observa-se hoje, pelo menos nas sociedades ocidentais, um distanciando dos modelos estereotipados de gênero, permitindo que homens e mulheres possam desenvolver novas formas de subjetividade.

Referência: Araújo, M. F. Diferença e igualdade nas relações de gênero: revisitando o debate. Psicologia clínica, 2005, 17, 2,41-52.

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