Resenha: O brasileiro, o racismo silencioso e emancipação do afrodescendente

Viviane Martins

O Ensaio “O brasileiro, o racismo silencioso e emancipação do afrodescendente”, escrito em 2002 pelo psicólogo, doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento, Ricardo Ferreira trata sobre como o racismo sutil foi estabelecido no Brasil e como se constitui a identidade do negro em nosso país. O autor utiliza a história de uma família constituída por pessoas negras a fim de ilustrar o texto. Ferreira inicia seu Ensaio trazendo a questão da democracia racial brasileira como sendo uma farsa e um entrave para o combate ao racismo
e ao preconceito racial no Brasil. Algumas pesquisas apontam que 90% dos brasileiros acreditam que o racismo existe e conhecem pessoas racistas, porém apenas 10% das pessoas pesquisadas afirmaram ter preconceito racial, ou seja, ele é atribuído, na maioria dos casos, ao outro. Dessa forma, dificulta-se o enfrentamento, já que as pessoas não admitem possuir esse tipo de atitude.

O autor cita o “gradiente de cor” existente na população negra, usando o exemplo da família citada; as três mulheres da família não se autoafirmavam negras – uma se dizia branca, a outra morena e a última, mulata. Apenas a partir das experiências de discriminação racial e do contato com a militância, todas passaram a se reconhecerem como negras. O preconceito racial, de um modo geral, não é tratado abertamente nas famílias. Pelo contrário, denominar o negro de moreno parece ser politicamente correto. O autor relembra que a identidade é construída a partir das interações sociais, então o silenciar sobre o preconceito racial vivenciado pelo afrodescendente contribui para a introjeção de valores negativos em relação a si mesmo e ao seu próprio grupo.

Posteriormente, o autor apresenta aspectos históricos, os quais ele acredita ter contribuído com a instalação do preconceito no Brasil. O primeiro deles é a própria Modernidade, tendo como marco inicial o período das Grandes Navegações e a descoberta do Novo Mundo. A Modernidade trouxe a necessidade de ordem e progresso e para isso, foi adotada, de forma exacerbada, a estratégia de classificar que, para o
autor, significa “incluir o semelhante no padrão desejável e excluir o diferente”. Consequentemente, a intolerância torna-se característica básica das práticas modernas, tornando possível o genocídio. O holocausto judaico é apresentado como exemplo. Ele traz também a escravidão no Brasil como exemplo de um genocídio que ele chama de silencioso: “a experiência da escravidão no Brasil transformou o africano em escravo, o escravo em negro, e o negro numa pessoa destinada a ‘desaparecer’, em nome da constituição de um povo cordial e moreno.”

O segundo aspecto histórico foram as ideias de branqueamento defendidas no início do século XX por intelectuais e cientistas, legitimando a ideia de inferioridade do negro. Estas ideias previam a extinção do negro no Brasil e a imigração do branco europeu a fim de favorecer essa extinção.

O autor delimita três condições que tornaram possível o desenvolvimento do preconceito e sua forma de expressão no referido país: a primeira é a desvalorização e eliminação do diferente em nome da busca pela ordem; a segunda, o processo histórico de escravização do negro africano, reduzindo-o a um mero objeto de uso; a terceira e última consistiu na disseminação de ideias, legitimadas pela ciência, que afirmavam a inferioridade do negro e previam a sua extinção. Na década de 1930, Gilberto Freyre formula o mito da democracia racial, contribuindo com a forma de expressão do preconceito racial à brasileira.

Ferreira coloca ainda em seu Ensaio que o mundo utiliza como referência o padrão branco, o negro acaba por utilizar a referência desse padrão branco na constituição de sua identidade, desvalorizando o “mundo negro” e, consequentemente, desvalorizando a si próprio. A escola acaba sendo conivente e até servindo como espaço para que essa suposta inferioridade do negro seja ratificada. Além disso, o negro é responsabilizado pelos problemas etnorraciais, ou seja, os problemas socioeconômicos enfrentados pelos negros é de responsabilidade apenas deles, esquecendo-se o processo histórico e as questões sociais que ocasionaram esses problemas, de fato. O autor considera também que o padrão de beleza que impera na sociedade é o padrão branco. Dessa forma, o indivíduo negro tem a sensação de não pertencer a nenhum grupo, portanto se sente desvalorizado socialmente. O texto afirma que pesquisas apontam que pessoas submetidas à discriminação tendem a apresentar baixa autoestima, autoconceito pobre, ansiedade e depressão. Porém, se o negro toma consciência dessa desvalorização, ele pode iniciar um processo de enfrentamento, valorizando-se por suas
características raciais. A partir das experiências discriminatórias, o negro é obrigado a pensar sobre as questões raciais, o que acaba proporcionando a desarticulação com o mundo simbólico e uma série de sentimentos “negativos”, que o movem para a ação. Nesse momento, o negro pode vir a praticar o preconceito contra o branco. Ele ainda enxerga a identidade negra como algo externo e acaba por se comportar de forma estereotipada, ou seja, como acha que o negro deve agir. O indivíduo se apega exageradamente a símbolos da cultura negra e acaba por excluir o diferente. Segundo o autor, nesse momento, o negro ainda não está constituindo a nova identidade a partir dos valores negros, mas a partir da desvalorização e exclusão dos padrões brancos. Com o passar do tempo, o indivíduo torna-se menos radical e abandona a visão idealizada e romântica em relação à negritude. Ferreira afirma que “a ‘nova identidade’ construída possui três funções dinâmicas: defender e proteger a pessoa de agressões psicológicas; prover um sentido de pertença e ancoradouro social; e prover uma fundação, ou ponto de partida, para transações com pessoas de culturas diferentes daquelas referenciadas em matrizes africanas.”
Na última sessão do texto, o autor coloca algumas propostas em pauta: a realização de um debate no contexto escolar sobre o preconceito e as páticas discriminatórias, já que a escola é responsável pela formação e educação; a participação do negro em grupos de militância, com o fim de que a vergonha de ser negro, se transforma em orgulho de ser negro; a ampliação do debate na academia e a contribuição da Psicologia no
combate à discriminação; por fim o autor propõe “que a pessoa branca deixe de negar suas raízes culturais africanas e indígenas, assim como o negro brasileiro, sua raízes culturais europeias e também indígenas.”

Ferreira conclui o texto afirmando que aceitação da alteridade é condição fundamental para que haja a reversão do preconceito. Quando o autor coloca os aspectos históricos, a interpretação possível é que o ato de classificar e a necessidade de ordem surgiram junto com a Modernidade, sendo esta responsável até mesmo por genocídios. Sabe-se que o ato de classificar é inevitável ao ser humano e é necessário, pois simplifica nossa vida no mundo. A estratégia de classificar é tão antiga quanto a própria vida em sociedade ou em grupo, assim como a necessidade de ordem. Desde o princípio da humanidade existe a necessidade de se ordenar, como por exemplo, é o caso da divisão de papeis desde a Pré-história que, provavelmente, tinha a função de manter certa ordem. Na Idade Média, os romanos classificavam como “bárbaros” todos os estrangeiros. Certamente, essa nomenclatura era carregada de preconceitos em relação aos estrangeiros, o que significa que a intolerância não é característica restrita à Idade Moderna. Outro aspecto a ser considerado é questão da possibilidade do genocídio que, segundo Ferreira, foi proporcionada pela Modernidade. Sabe-se que as Cruzadas promovidas pela Igreja em nome de Deus foram verdadeiros genocídios. Centenas de pessoas foram mortas nas Cruzadas em nome também de uma ordem, da evitação e combate ao “caos”. Uma verdadeira eliminação do diferente, daquele que não estava de acordo com os padrões delimitados pela Igreja. Ferreira trata da escravidão no Brasil como um genocídio silencioso; provavelmente ele não considerou, neste Ensaio, as inúmeras e frequentes mortes de negros africanos, sobretudo, nos navios negreiros que transportavam os africanos de forma bastante precária e até desumana. Foi um genocídio nada silencioso. O autor descreve um processo de construção identitária do negro brasileiro (que ele chama de afrodescendente) sem deixar claro uma
fundamentação teórica e empírica consistente. Além disso, a forma de construção dessa identidade descrita no texto parece uma ideia generalizada e, o que é mais grave, padronizada. Os movimentos negros mais incisivos e radicais são tratados no texto como românticos e idealizadores da negritude, possuidores de atitudes preconceituosas em relação aos brancos. Para o autor, os militantes desse tipo de movimento estão em fase de transição no processo constituinte de sua identidade. Essas afirmações podem ser facilmente negadas: a supervalorização da cultura negra afrobrasileira não constitui uma forma de desvalorizar a cultura branca, pois esta já está supervalorizada. Não pode se utilizar as mesmas estratégias para grupos socialmente e historicamente diferentes. Faz-se necessária uma forma de reparação do grupo oprimido social, economica e historicamente. As possíveis soluções para o combate ao preconceito e discriminação racial apresentadas pelo autor possuem eficácia duvidosa. Atualmente, sabe-se que a melhor forma de diluição do preconceito é tratá-lo de forma indireta, utilizando-se a estratégia grupal da aprendizagem colaborativa.
Apesar de apresentar algumas lacunas, este Ensaio traz ideias bem estruturadas, e os argumentos usados para explicar o motivo da forma de expressão do preconceito racial no Brasil estão bem colocados, de forma a convencer o leitor; ele parece atingir o objetivo ao qual se propõe.

Ferreira, R. F., O Brasileiro, O Racismo Silencioso e Emancipação do Afrodescendente. Psicologia & Sociedade; 14 (1): 69-86; jan/jun. 2002.

Resenha – Trajetórias escolares, corpo negro e cabelo crespo: reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural?

Marta Silva Dantas de Matos

O artigo fonte dessa resenha é produto da tese de doutorado em antropologia “Corpo e cabelo como ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte” (Gomes, 2002). A autora embasa sua discussão nos depoimentos de mulheres negras frequentadoras de salões de beleza étnicos. Destaca o papel da escola como um ambiente de reprodução dos estereótipos sociais dirigidos ao corpo e ao cabelo e como o racismo, presente também na trajetória escolar, pode deixar marcas que ficam visíveis até a vida adulta. Os depoimentos coletados apontam a escola como um ambiente onde acriança negra entra em contato com o racismo e com a discriminação. O segundo ambiente de socialização é também o lugar no qual a criança conhece o outro, a diferença e a desigualdade. Essa é uma discussão relevante, pois, desvincula a imagem da escola de um lugar livre de desigualdades, colocando-a como um ambiente social de produção e reprodução de preconceitos e discriminação. Altera também a imagem das crianças, apresentando-as como reprodutoras de estereótipos já
cristalizados na sociedade. Se o negro está fisicamente na sala de aula ele também precisa está representado nos livros didáticos, nas disciplinas, na cultura escolar, nos murais e em tudo que envolva as atividades pedagógicas, curriculares e extracurriculares da escola. É preciso repensar o local destinado aos negros no processo de ensino com o intuito de construir imagens positivas de identificação durante o processo de
escolarização. Na escola, além de português, matemática, geografia e história, as crianças aprendem e diferenciam o “bom” e o “belo”. A autora propõe que para que as experiências dos negros sejam articuladas com as experiências escolares é preciso que os primeiro sejam ouvidos atentamente. Assim, a relação da negra com o cabelo é aqui apresentada como um dos temas norteadores da resignificação das práticas pedagógicas e dos conteúdos tratados no universo escolar. É uma tentativa de aprofundamento e valorização. A escola enquanto um
ambiente de formação de pessoas e de Identidades precisa contemplar todas as formas de existir que formam a cultura brasileira.
O corpo é um objeto de expressão. É o meio que usamos para mostrar ao outro os nossos gostos e a nossa trajetória. É sabido que o corpo e o cabelo do negro são elementos de denuncia, luta, resistência e marcas.
Porém, a escola precisa está atenta ao apresentar isso. Não se pode anunciar apenas um lado da história e subtrair da fala e das práticas a história de um povo que usou o corpo como mecanismo de resistência e o cabelo como denúncia da sua inconformidade (ou conformidade) com o ideal de beleza pré-estabelecido.
A história e a biologia sempre apresentaram as especificidades do corpo negro que serviram como justificadoras da escravidão. Agora, o que precisa ser apresentada são as modificações, as artes, os enfeites
e as alegorias usadas e feitas no corpo como forma de identidade e pertencimento grupal. Nos depoimentos utilizados, a trança surge como técnica de opressão capilar e o alisamento como uma forma de sanar a dor causada pela produção da trança. Não se pode esquecer, porém, que optar pelo cabelo liso não é somente escapar da dor, mas também corresponder ao padrão desejado de beleza.
A escola impõe um modelo higienista e a trança surge como um modo de cuidar e arrumar do cabelo na tentativa de romper com os estereótipos do negro descabelado e sujo. Além disso, a trança é resignificada e passa a ser um estilo negro de penteado e adorno diferente dos usados pelas crianças brancas. Na escola além de ocorrer o primeiro contato com a alteridade, com a discriminação e com o que é normativo, estabelecem-se tensões entre a
vida privada e a vida pública e as crianças aprendem que o cabelo bom é o liso e que o crespo é ruim e indesejável. Na escola a criança vive as primeiras experiências públicas de rejeição do corpo. Se no
ambiente escolar há a possibilidade da discriminação gerar uma baixa autoestima e sentimentos de inferioridade, com os iguais, existe a possibilidade de construção de uma autoimagem positiva de si e do seu
grupo e a criação de estratégias para lidar, por exemplo, com o cabelo. A autora sugere que por estar ligada ao contexto cultural, histórico e político, a subjetividade e a construção da identidade negra passam
por processos coletivos e individuais e que por isso cada sujeito encontra uma forma de lidar com as questões que envolvem sua raça. Nesse contexto, a informação é umO artigo fonte dessa resenha é produto da tese de doutorado em antropologia “Corpo e cabelo como ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte” (Gomes, 2002). A autora embasa sua discussão nos depoimentos de mulheres negras frequentadoras de salões de beleza étnicos. Destaca o papel da escola como um ambiente de reprodução dos estereótipos sociais dirigidos ao corpo e ao cabelo e como o racismo, presente também na trajetória
escolar, pode deixar marcas que ficam visíveis até a vida adulta. Os depoimentos coletados apontam a escola como um ambiente onde a criança negra entra em contato com o racismo e com a discriminação. O
segundo ambiente de socialização é também o lugar no qual a criança conhece o outro, a diferença e a desigualdade. Essa é uma discussão relevante, pois, desvincula a imagem da escola de um lugar livre de
desigualdades, colocando-a como um ambiente social de produção e reprodução de preconceitos e discriminação. Altera também a imagem das crianças, apresentando-as como reprodutoras de estereótipos já
cristalizados na sociedade. Se o negro está fisicamente na sala de aula ele também precisa está representado nos livros didáticos, nas disciplinas, na cultura escolar, nos murais e em tudo que envolva as atividades pedagógicas, curriculares e extracurriculares da escola. É preciso repensar o local destinado aos negros no processo de ensino com o intuito de construir imagens positivas de identificação durante o processo de escolarização. Na escola, além de português, matemática, geografia e história, as crianças aprendem e diferenciam o “bom” e o “belo”. A autora propõe que para que as experiências dos negros sejam
articuladas com as experiências escolares é preciso que os primeiro sejam ouvidos atentamente. Assim, a relação da negra com o cabelo é aqui apresentada como um dos temas norteadores da resignificação das
práticas pedagógicas e dos conteúdos tratados no universo escolar. É uma tentativa de aprofundamento e valorização. A escola enquanto um ambiente de formação de pessoas e de Identidades precisa contemplar todas as formas de existir que formam a cultura brasileira. O corpo é um objeto de expressão. É o meio que usamos para mostrar ao outro os nossos gostos e a nossa trajetória. É sabido que o corpo e o cabelo do negro são elementos de denuncia, luta, resistência e marcas. Porém, a escola precisa está atenta ao apresentar isso. Não se pode anunciar apenas um lado da história e subtrair da fala e das práticas a história de um povo que usou o corpo como mecanismo de resistência e o cabelo como denúncia da sua inconformidade (ou conformidade) com o ideal de beleza pré-estabelecido. A história e a biologia sempre apresentaram as especificidades do
corpo negro que serviram como justificadoras da escravidão. Agora, o que precisa ser apresentada são as modificações, as artes, os enfeites e as alegorias usadas e feitas no corpo como forma de identidade e
pertencimento grupal. Nos depoimentos utilizados, a trança surge como técnica de opressão
capilar e o alisamento como uma forma de sanar a dor causada pela produção da trança. Não se pode esquecer, porém, que optar pelo cabelo liso não é somente escapar da dor, mas também corresponder ao padrão
desejado de beleza. A escola impõe um modelo higienista e a trança surge como um modo de cuidar e arrumar do cabelo na tentativa de romper com os estereótipos do negro descabelado e sujo. Além disso, a trança é resignificada e passa a ser um estilo negro de penteado e adorno diferente dos usados pelas crianças brancas. Na escola além de ocorrer o primeiro contato com a alteridade, com a discriminação e com o que é normativo, estabelecem-se tensões entre a vida privada e a vida pública e as crianças aprendem que o cabelo bom
é o liso e que o crespo é ruim e indesejável. Na escola a criança vive as primeiras experiências públicas de rejeição do corpo. Se no ambiente escolar há a possibilidade da discriminação gerar uma baixa autoestima e sentimentos de inferioridade, com os iguais, existe a possibilidade de construção de uma autoimagem positiva de si e do seu grupo e a criação de estratégias para lidar, por exemplo, com o
cabelo.
A autora sugere que por estar ligada ao contexto cultural, histórico e político, a subjetividade e a construção da identidade negra passam por processos coletivos e individuais e que por isso cada sujeito
encontra uma forma de lidar com as questões que envolvem sua raça. Nesse contexto, a informação é um elemento importante para a autoaceitação. A conclusão do artigo é esperançosa ao afirmar que a escola pode atuar tanto na reprodução de estereótipos sobre o negro, o corpo e o cabelo, quanto na superação dos mesmos. Para isso, elas terão que ser consideradas temáticas merecedoras de um lugar nos currículos e em nas discussões pedagógicas. É necessário também entender a construção da questão racial na subjetividade e no cotidiano dos indivíduos e o peso da educação escolar nesse processo. O cabelo e a cor da pele podem – e devem – sair do lugar da inferioridade e ocupar o lugar da beleza negra, assumindo uma significação política. O cabelo compõe um estilo político, de moda e de vida.

Gomes, N. L. (2000). Trajetórias Escolares, Corpo Negro e Cabelo Crespo: Reprodução de Estereótipos ou Ressignificação Cultural? Revista Brasileira de Educação, Set-Dez, nº 21, São Paulo, Brasil, pp.40-51.

Resenha – Desvendando mitos: os computadores e o desempenho no sistema escolar

Jonatan Santana Batista

Os temas tecnologia da informação e educação usualmente costumam ser associados e em duas décadas, poucos puderam ousar a colocar tal crença em dúvida. Os autores ao realizarem um estudo com crianças predominantemente de 4° e 8° série do ensino fundamental, engendram uma forma de pesquisar a relação entre informática e rendimento escolar, primeiro tentando definir os dois fenômenos, e em seguida estabelecendo o contexto no qual as relações entre estes ficam situadas. Através deste estudo, os autores colocam mais interrogações nesta questão; É correto o fomento de novas políticas públicas de educação voltadas para a inserção tecnológica especialmente no que tange a informática? Este investimento tem repercutido em melhoria no desempenho dos alunos? Segundo os autores, embora simples, estas perguntas não vem recebendo devida atenção, carecendo de mais cuidado.
De início os autores sustentam que embora o objetivo da escola seja a integração, de modo a igualar o acesso as oportunidades, na prática à instituição escolar tem refletido as desigualdades, e o Estado ao tentar reduzir tal efeito, a partir do final do século 20, começou a investir de forma massiva em informática, no que se refere a partir das Leis de Diretrizes (LDB). Tal lei precisou a informatização nas escolas públicas no intuito de preparar os estudantes para uma dinâmica emergente e já presente nos países industrializados. A constante mudança tecnológica e os impactos destes não deveriam de forma alguma passar despercebidos pelos estudantes. Aliado a este propósito, o Mapa da Exclusão Digital, fomento da Fundação Getúlio Vargas (2003), afirma uma melhoria no desempenho escolar de alunos que possuem acesso à internet. O Mapa da Exclusão digital fora utilizado para mapear os locais onde se faria obrigatória à inclusão digital, enquanto dados do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (surgiu em 1990, consistia em uma prova a ser aplicada em todos os estados), fornece uma conclusão que serviu de apoio as políticas governamentais: investir em computadores e internet para melhorar a qualidade de ensino.
De acordo com a revisão bibliográfica internacional feita pelos autores, há uma ênfase sobre o papel positivo da tecnologia nos diversos âmbitos, inclusive sobre seus impactos na juventude. Mas, ao compilar os artigos que tratam está temática, percebe-se que as conclusões que defendem esta máxima praticamente inquestionável, carecem de dados concretos (sem contar a existência de artigos na mesma condição, mas que afirmam o contrário), não sendo nada além de dados específicos resultante de estudos segmentados, em disciplinas específicas, que sendo generalizadas transpõem a imagem em foco abrangente de um progresso educacional proporcional à inserção tecnológica. O que no Brasil, dados do SAEB expuseram uma intrigante conclusão: dentre todos os fatores de impacto estatisticamente significantes, o único não contemplado é o uso do computador em classe. Outros estudos feitos com alunos da 4° e 8° série, confirmam que o uso do computador foi positivo para as ultimas, mas não para as primeiras. Um estudo feito nos EUA comprovou que o uso de ferramentas virtuais, não gerou melhora na produtividade dos estudantes, mas sim da estilização da apresentação dos trabalhos, não influindo de forma alguma no conteúdo destes.
Os autores ressaltam que mesmo que existam estudos que comprovem que nem sempre a inserção tecnológica está associada ao ganho, mas muitas vezes, tem contribuído para a redução no desempenho (Dwyer, 1997), o uso de tecnologias da informação tem servido de base para altas expectativas em torno do consumo. Como explicar a permanência desta crença? Os autores sugerem que a educação pode ser vista de duas formas: através dos dados objetivos ou através de uma perspectiva ideológica, esta ultima baseada numa visão de mundo que reflete as expectativas referindo-se ao uso de informática nas escolas. Visando se voltar à primeira forma e reduzir os impactos da segunda, foram criados e padronizados testes, dentre os quais o SAEB se constitui exemplo.
As pesquisas do SAEB tentam de um lado, mostrar as influências do neoliberalismo, e por outro focar-se apenas nos dados obtidos, buscando fotografar o ensino básico. Os autores sustentam que uma ênfase predominante no segundo foco, tende a desconsiderar que os dados e suas interpretações podem confirmar ou contestar uma ideologia. Como exemplo, ressaltam o Mapa da Inclusão Digital (FGV, 2003), construído a partir de um estudo feito com alunos da 4° série evidenciando que alunos ao possuírem computadores em suas residências, demonstram melhor desempenho em matemática. O que se torna visível para os autores neste argumento é a ocultação do fato de que a classe social de cada aluno interferia diretamente neste “desempenho”.
A análise dos dados do SAEB demonstra que usar o computador raramente é associado a um melhor desempenho escolar; a literatura internacional também parece ir em direção contrária à evidência de que o computador é um total benefício para os estudantes do ensino fundamental e médio, o que contrasta com a crença da maioria das pessoas; tal crença, não sendo sustentada através dos estudos científicos, passa a ser mantida ideologicamente através de um discurso político, direcionado as politicas públicas. Os autores concluem que: se o uso do computador no cotidiano dos estudantes não resulta em ganho geral de desempenho e produtividade, não será a ausência do uso do mesmo, a solução. Os autores sustentam que estudos corroboram a tese de que a ausência de uso do computador além de não gerar ganho específico em disciplina alguma, resulta em pior desempenho geral do que aqueles que pouco o utilizam. Seria então sensato sugerir o uso moderado do computador, mas caberia a tarefa de definir o que seria “uso moderado” nos dias atuais, o que não é colocado como foco de estudo pelos autores, mas, é necessário para gerar reflexão acerca do uso do computador no cotidiano. Sobre isto, recentemente uma matéria do site UNIVERSIA.COM abordou o mesmo tema, ressaltando um estudo feito pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), alegando o uso de tecnologia em sala de aula como necessário para aumentar o rendimento dos alunos. No entanto, como fora ressaltado no início deste texto, grande parte dos estudos que confirmam tal máxima, referem-se a habilidades específicas, que neste caso, referia-se a matemática e a física. Mas na divulgação do trabalho, apresentava a tecnologia em classe como critério para melhoria do desenvolvimento geral dos discentes. Este dado é importante para que o leitor atento perceba o papel que a escrita e a divulgação tem, tornando-se nestes casos capaz de afirmar o que esta além do escopo dos dados obtidos.

Referência: Dwyer, T., Wainer, J., Dutra, R., Covic, A., Magalhães, V. Ferreira, L., Pimenta, V. e Kleucio, C. Desvendando mitos: os computadores e o desempenho no sistema escolar. Educação & Sociedade, 28, 101, 1303-1328, 2007.

Resenha: Estilo de vida como indicador de saúde na velhice.

Juliana Amorim de Souza

O artigo inicia falando sobre um novo fenômeno social: a saída do indivíduo produtivo para a aposentadoria, que o torna ao mesmo tempo idoso. Esse fenômeno possui diversas implicações, tendo como principal a imagem preconceituosa e estereotipada que se faz do velho, como um sujeito inútil a sociedade que não produz e tem que ser mantido pelos mais jovens. Além das implicações sociais, existem as implicações psicológicas que vão desde uso deficitário das funções cognitivas até a redução de trocas relacionais e com o meio. Com isso, o idoso é um ser indesejável na sociedade.
Trazendo um aparato histórico, o artigo abortará a história da Geriatria e suas evoluções. O conceito de velhice irá se modificar ao longo das décadas e hoje é relacionada com longevidade. Com os avanços dessa ciência, a expectativa de vida tem aumentado gradualmente, e nos últimos anos, elevado rapidamente. Segundo dados de Paschoal (apud Papaleo Netto, 1996), a expectativa média de vida da população mundial está em torno de oitenta e cinco anos. Viver com saúde tornou um desafio para a Organização Mundial de Saúde (OMS). O que o artigo traz, no entanto, é que as diferenças individuais sofrem dificuldades para se conceituar de modo homogênio, diferentemente do que acontecem nos conceitos de idoso, velhice e produção do envelhecimento humano. Essa afirmação é confirmada quando se avalia os eventos de origem psicológica e social, onde a história pessoal do indivíduo é um definidor para os suas atitudes e o seu encorajamento para essa nova fase da vida: a velhice. Surge assim, na Geriatria o conceito de ‘Envelhecimento Ativo’ que é o processo de aperfeiçoar oportunidades para a saúde, aliando bem estar físico com bem estar psicossocial. Essa aliança da saúde corporal com a saúde mental promove uma participação ativa do idoso na sua vida, promovendo também uma qualidade de vida elevada.
Conceitos de senescência e senilidade são apresentados no texto. A senilidade é o envelhecimento patológico, que leva a doenças crônicas e quadro neurodegenerativos graves, como a demência. Essas doenças do envelhecimento e o início de doenças crônicas podem ser prevenidos ou retardados (WHO,2002:35). Um dos fatores precipitantes da incapacidade funcional está relacionado com a área cognitiva. Estudos tentam traçar o perfil cognitivo do envelhecimento. A dificuldade de classificar os déficits cognitivos está principalmente quando se pesquisa a memória. As falhas mnêmicas, ou falhas de memória, são definidas como alterações funcionais genéricas quando não comprometem a autonomia e a independência de indivíduos idosos. No entanto, o artigo peca ao abordar os malefícios da perda de memória e como ela afeta a vida do indivíduo que com o tempo esquece até mesmo nome de pessoas próximas, como nos casos de pré-morbidez demencial.
O texto segue relacionando as falhas mnêmicas com o estilo da vida do idoso. Descartada a hipótese inicial de demência como causa da falha de memória, percebe que aspectos psicossociais e comunicionais (relação eu-mundo) podem ser a causa para a perda de memória. Observa-se, então, que os declínios no funcionamento cognitivo são disparados pelo desuso, enfermidades, fatores psicológicos e sociais mais do que o envelhecimento em si (Smits e colaboradores (1999)). Isso leva ao autor a uma conclusão oportuna: estilo de vida e cognição compartilham uma estreita relação: a redução da qualidade de um afeta diretamente a qualidade do outro.
O texto chega as suas conclusões finais trazendo que a qualidade de vida e promoção da saúde do idoso devem ser focalizadas na gerontologia. O geriatra precisa aliar o estilo de vida do idoso para ajudá-lo a enfrenta esse novo ciclo vital, onde há o envelhecimento do corpo, mas que a mente não precisa seguir o meu caminho. O que o autor não mencionou foi à ajuda também de outros profissionais para ajudar o idoso, como fisioterapeutas, enfermeiros e psicológico para que o idoso viva mais e melhor.

Referência: Figueiredo, V. L. M., Estilo de vida como indicador de saúde na velhice. Life style as health indicator on ageing. Programa Interdisciplinar de Geriatria e Gerontologia, Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), Universidade Federal Fluminense (UFF), 2007, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.

Resenha: Representação Social e Estereótipo: A Zona Muda das Representações Sociais.

chamada

Poliana Neres Costa

O texto apresentado é um artigo científico que aborda a temática das representações sociais e estereótipos em um contexto específico que é a universidade de Aix-en-Provence, localizada em Provence na França.
A autora inicia o artigo apontando uma dificuldade nos dados encontrados em pesquisas sobre representações sociais. Este problema é questionado, também, por outros investigadores, como Abric e outros. Assim a autora insere o termo de “zona muda” que surgem das representações disfarçadas por certos elementos em determinadas situações, ou seja, em determinados contextos e momentos existe uma “zona muda” composta por certos elementos da representação que não são verbalizados pelos indivíduos. Estes elementos relacionam-se com os valores, normas e crenças sociais que acabam influenciando na expressão das representações. E mesmo que estes elementos façam parte de representações centrais eles são omitidos para evitar conflitos morais ou que desviem da norma social.
Desta forma, objetivando-se conseguir revelar os elementos da “zona muda” de representação Menin (2006) destaca que é necessário elaborar métodos específicos de verificação. E para tal é preciso amenizar a pressão normativa sobre o sujeito que representa. Para alcançar este propósito a autora expõe duas técnicas: uma de substituição que “visa reduzir a pressão normativa, reduzindo o nível de implicação pessoal do sujeito com relação à representação do objeto”, ou seja, o participante responde como se estivesse falando por outra pessoa que seja de seu grupo de referência; e a outra técnica é a de descontextualização normativa que “visa reduzir a pressão normativa colocando o sujeito num contexto mais distante de seu próprio grupo de referência”.
Menin (2006) apresenta algumas pesquisas realizadas pela Escola de Aix sobre as “zonas mudas” das representações. E ressalta, apoiando em alguns outros pesquisadores, aspectos sobre o núcleo central das representações e sua estabilidade. Além disso, realiza um ensaio ao trabalhar com os estudos de diversos autores sobre a temática da “zona muda das representações”.
Das pesquisas realizadas concluiu-se que os dados obtidos eram quase, totalmente, reflexos complexos dos modelos normativos pertinentes para o objeto de representação. Diante disso, a autora coloca que as técnicas de substituição e descontextualização já tinham sido utilizadas em outros contextos externos aos da representação, no entanto foi usada pela primeira vez na pesquisa em representações sociais por Deschamps e Guimelli (2000).
A autora apresenta também pesquisas relacionadas com outros temas como estereótipos e preconceito, visando compreender se a ativação de estereótipos e o preconceito em situações distintas de investigação (usando a técnica de substituição e a técnica de descontextualização normativa) influenciam na “zona muda” de representação. Para tal desígnio foram usados grupos considerados alvos do racismo e estereótipos como os maghrebinos, os ciganos e os muçulmanos. Destas pesquisas ultimou-se que as representações sociais apresentam certa plasticidade e variabilidade a depender de que posição da qual se fala e para quem se fala.
Menin (2006) expõe as hipóteses da “zona muda”, destacada por outros autores como, por exemplo, Guimelli e Deschamps (2000), Abric (2003), Deschamps e Guimelli (2004), em que as respostas dos sujeitos se adequariam as normas sociais ao temerem ser “mal vistos” pelos seus grupos de referência, outra hipótese seria a da “transparência das representações” em que um sujeito falaria de um grupo por meio de conhecimentos, de um mesmo objeto, adquiridos através das representações e estereótipos dos membros do outro grupo. Uma outra hipótese é a da influência social efetivada por meio de relações de interdependência e de trocas de informações (a partir de crenças, opiniões, atitudes e guias de comportamento) entre diversas entidades sociais.
Finalizando a autora traz um questionamento, considerado um problema de investigação no campo da psicologia, associado com as “zonas muda das representações” que consisti em “até que ponto o que as pessoas respondem nos questionários correspondem ao que realmente pensam?” sendo que os discursos se alteram a depender de para quem os sujeitos falam e a partir de quem fala, se por si ou por outros.
Desta forma, Menin (2006) destaca a relevância e presença das normas sociais frequente nas representações podendo surtir alterações ao orientar que representação seria mais adequada, produzindo até mesmo modificações centrais.
Assim o modo como a coleta de dados é feita interfere nas representações obtidas. Diante disso a autora sugere o uso de técnicas mais qualitativas de investigação como entrevistas e observação de práticas, fundamentadas na concepção de Jodelet (2003). Desta forma, Schulze e Camargo (2000) em um artigo sobre psicologia social, representações sociais e seus métodos afirmam que “deve-se considerar o nível de complexidade dos fenômenos investigados pela teoria das representações sociais” de modo que, conforme exposto por Jodelet (1989) (citada em Schulze & Camargo, 2000) as escolhas metodológicas deve apresentar-se em consonância com as situações em que as representações surgem e funcionam.

 

Referência: Menin, M. S. S.; (2006). Representação Social e Estereótipo: A Zona Muda das Representações Sociais. Psicologia: Teoria e PesquisaJan-Abr 2006, Vol. 22 n. 1, pp. 043-052.

 

Resenha: estilo de vida como indicador de saúde na velhice

 

Cláudia Marinho

A autora começa o artigo falando do paradoxo entre marginalização do velho e aumento da longevidade na contemporaneidade, consoante com a falta de reengajamento funcional dos idosos, proporcionado pela sociedade – apesar de longevidade ser sinalizada como sinal de saúde pela OMS e sinalizada como um fenômeno mundial. Neste sentido, o sujeito idoso perde aos poucos seu sentimento de pertencimento ao mundo, por intermédio da estereotipização do idoso – não como sujeito, mas como objeto obsoleto.

Este isolamento social, segundo a autora, pode dar-se de forma consciente ou inconsciente por parte do sujeito; Pode ser imposto por uma sociedade não adaptada ao envelhecimento ou auto-imposto pelo sujeito que se sente inadequado aos ditames sociais de juventude e produção. Muitas vezes, para verem-se e sentirem-se inseridos no contexto, sujeitam-se a uma rotina predita como saudável, com atividades tantas que o impedem de viver esta etapa da vida sob seu próprio ritmo; doutro modo, podem apresentar desajustamentos psicológicos diversos por não sentirem-se fazendo parte do papel social que lhe é imposto por esta sociedade.

Em comum para esses estilos vivenciais humanos descritos, pode-se então destacar: uso deficitário das funções cognitivas, retração da expressividade emocional, e redução das trocas relacionais e com o meio.”

FIGUEIREDO, V.L.M.

Apesar de não encontrar respaldo científico para tal empobrecimento emocional, especialmente no primeiro terço da velhice.

A Geriatria, como uma disciplina médica, surge em meados da década de 30, dedicando-se ao estudo das patologias compreendidas como senis e dos seus aspectos curativos (Debert,1999).A partir da década de 50, surge a Gerontologia – numa interface com outras tantas disciplinas- com um enfoque maior para uma visão do envelhecimento como fato normal do ciclo vital, a prevenção de doenças e a qualidade de vida nesta fase, como fala Néri (1995: 27), sobre as características consoantes com esta etapa e como a não prevenção das patologias podem ser onerosas a sociedade. Deve-se levar em consideração o crescimento de quase oito milhões de idosos por ano, no mundo. Segundo Paschoal (apud Papaleo Netto, 1996). Envelhecer com saúde é uma preocupação que abrange não só a Organização Mundial de Saúde (OMS), mas também a sociedade como um todo.

A autora suscita o questionamento da pesquisa científica quanto ao que é ser idoso, o que é a velhice e o que produz o envelhecimento humano, no sentido da sistematização de abordagem da dinâmica social, quando os fatores idiossincráticos permeiam estes estudos. O próprio conceito ampliado de Saúde, revisto pela OMS, e o conceito de “Envelhecimento ativo”, confere à esta dinâmica o papel de englobar fatores biopsicossociais ao estado saudável deste sujeito contemporâneo e sua posição no mundo, conferindo ao sujeito idoso muito mais seus direitos que suas necessidades, como legítimo sujeito de participação ativa nas políticas públicas sociais e comunitárias.

O ‘Plano de Ação Governamental’ (MPAS, 1996), no Brasil, destaca a profilaxia como forma de maior custo-benefício.

Os estudos de Freitas e colaboradores (2001) apontam para a necessidade de uma inserção social do idoso como forma de prevenção de debilidades, que não só se dariam como degenerações próprias da idade, mas também, como resultado de uma marginalização do sujeito nesta etapa da vida.

A autora apresenta os conceitos e diferenças entre Senescência e Senilidade, onde a primeira é uma condição humana de quem está envelhecendo e a segunda é a presença de patologias e limitações decorrentes de degenerações decorrentes da longevidade, que afetam a autonomia do sujeito. Segundo a OMS (2002), a velhice patológica pode ser retardada ou revertida a partir de medidas de inclusão social do idoso, com estímulos individuais e políticas píblicas associadas a este propósito.

FIGUEIREDO, V.L.M. fala do perfil cognitivo do envelhecimento e as dificuldades de homogeneização deste perfil, perante a ciência, principalmente no que concerne à memória. Os dados de pesquisas efetivadas com idosos normais de idades até avançadas mostram-se inconclusos (Rubin et al., 1998).

A depressão parece apresentar contexto para alguns sinais de degenerescência, quando o que promove a depressão é exatamente o comportamento social aversivo diante do estado de envelhecimento inerente a todo e qualquer ser da raça humana. Apontam-se os sintomas e esquecem-se as causas. O velho assim, é culpado por uma contingência de que é paciente, e não agente. A mesma coisa parece se dar quanto ao aparecimento da doença de Alzheimer. A conexão direta entre memórias e emocionalidade é levantada por Izquièrdo (2004: 46), que também ressalta o papel das emoções e estados de ânimo, como “(…) os maiores reguladores da aquisição, na formação e da evocação das memórias”(2002: 12). Estudos mostram que a experiência muda preferências neuronais, a partir de novas aprendizagens; um desses estudos é o de Sheinberg e Logothetis (2001).

A condição de envelhecer é esperada, mas pode ser experenciada de forma mais positiva, se políticas públicas e esvanecimento de estereótipos forem favorecidos, como forma inteligente de vida num mundo onde a condição do homem como ser de relação é fato, não circunstância irrelevante.

Promover a autonomia e a liberdade de existir, com respeito ao ritmo de cada um, é condição de preexistência de uma sociedade saudável.

Consoante a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2002:13), autonomia: “(…) é a capacidade percebida para controlar, lidar com e tomar decisões pessoais sobre como se vive em uma base do dia-a-dia, de acordo com as próprias regras e preferências”. Independência, por sua vez, “(…) é comumente entendido como a capacidade de executar funções relacionadas com a vida diária – ou seja, a capacidade de viver independentemente na Comunidade com nenhuma ou pouca ajuda dos outros.”

A autora ressalta que as falhas mnêmicas apresentadas e relatadas pelos idosos ou seus familiares – resguardada as possibilidades patológicas deste estado – podem corresponder a um comportamento esperado pelo seu entorno. A falta de estímulo, acolhimento e a crescente exclusão do ciclo social, ocasionando um retraimento social por parte do idoso, podem concorrer para a apresentação deste estado funcional, segundo Figueiredo (2003).

Talvez, a morte em vida (Canongia e colaboradores, 2004)seja uma possibilidade de auto-asilar-se inconscientemente promovida por este idoso que é “posto à parte” da vida social por seus pares e demais cidadãos, em um desengajamento social apontado por Bassuk e colaboradores (1999).

Estudos apontam para a importância da qualidade de vida no processo de senescência, contribuindo não só para uma nova visão social e funcional do sujeito idoso, mas para sua autoimagem inserida neste contexto e seu Bem-estar subjetivo, onde ele é agente de mudanças objetivas e subjetivas, cônscio de suas atitudes: “Os seres humanos, ao mudarem as atitudes internas de suas mentes, podem mudar os aspectos externos de suas vidas”(Wood, 1994: 271).

A vida é um constante desafio, e estabelecer com estes desafios uma relação de flexibilidade e adaptação, transforma homens em possibilidades constantes, independente da faixa etária em que se encontre.

A ‘vida plena’ é um processo, não um estado de ser. É uma direção, não um destino. A direção representada pela ‘vida plena’ é aquela que é escolhida pelo organismo total, quando existe liberdade psicológica para se mover em qualquer direção.”

E. Rogers (1991: 166).

 

Referência: Figueiredo, V. L. M., Estilo de vida como indicador de saúde na velhice. Life style as health indicator on ageing. Programa Interdisciplinar de Geriatria e Gerontologia, Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), Universidade Federal Fluminense (UFF), 2007, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.

Resenha – Sobreviver ao medo da violação: Constrangimentos enfrentados pelas mulheres


Tainã Veloso

Traz um conjunto de idéias inicias abordando o medo do crime como um problema social no qual não somente atinge aqueles que sobreviveram, mas também aquelas que sofrem por antecipação a vitimização, sendo às mulheres o seu foco.
As primeiras páginas do artigo tem foco principal nas mulheres como o gênero que apresentam uma maior ansiedade em relação a segurança oferecendo diversos autores como embasamento teórico, mas refletindo sobre a mesma idéia: “… duas características principais podem explicar o fato da ansiedade pelas mulheres, primeiro calcada nas características sociais inerentes as mesmas; a segunda referindo-se a um tipo de violência que afeta majoritariamente as mulheres, a violação (Clemente & Kleiman, 1977 cit. por Stanko 1993; Maxfield, 1984, cit. por Stanko, 1993; Roger et al., 1978). Segundo (Griffin, 1971) citado por Softas-Nall et al., 1995, o crime de violação e o medo de violação fazem parte da consciência de todas as mulheres.

Desta forma, em seguida acaba por apontar como cenário, o espaço social e privado, como um dos potencializadores da perpetuação desta ideia, vindo a provocar tanto nos homens como nas mulheres a internalização e consequente adoção por partes destas de comportamentos preventivos em determinadas situações. O medo da violação é transversal ao gênero feminino, operando num contexto físico e social, produzindo consequências não só neste, mas na comunidade em geral, fazendo deste crime um fenômeno comum e um problema social (Meltz, 1973, cit. por Riger & Gordon, 1981). Apontando que somente uma transformação nas instituições sociais e culturais a partir das quais se origina e tem lugar os problemas é que uma suposta solução poderá vim a ser encontrada.
Para fins de pesquisa, a população investigada para tentativa de resposta aos anseios proporcionados ao fenômeno violação, foi constituída por 18 mulheres com idades compreendidas entre os 19 e os 25 anos, sendo a amostra construída por conveniência na população universitária do Instituto Superior de Psicologia Aplicada. O instrumento utilizado de acordo com a metodologia dos Grupos de Debates foi um guião de discussão elaborado a partir da escala “Fear of Rape Scale” (Fors) validada por Senn e Dzimas (1996). Tendo como objetivo conhecer a realidade do medo da violação e os condicionalismos que a sua existência provoca na vida das mulheres, a partir das experiências das participantes. Para fins de coleta de dados, formaram quatro grupos de debates, variando de 03 (três) a 06 (seis) participantes com uma facilitadora para condução dos debates.
Em seguida apresentaram-se os principais comportamentos que as mulheres realizam frente à ameaça de violação no qual sendo esta a ameaça que mais temem adotando algumas estratégias, que de acordo com a análise dos dados obtida são: Associação frequentemente do perigo aos locais públicos e a pessoas estranhas relacionado com eles o risco de agressão sexual; tomam precauções quanto a pessoas estranhas ou relativamente perigosas como mudar de passeio, trancar a porta do carro, depositando maior confiança em pessoas conhecidas e amigos; à restrição da liberdade das mulheres no qual o medo é fator limitador do movimento delas no ambiente que as envolve; O fenômeno social do medo da violação atuando num contexto envolve alguns fatores como a prevalência do crime de violação, a cultura social que abarca a identidade do gênero e os papeis sociais e sexuais, inclusive a desigualdade entre gêneros. Cabendo a atuação dos Psicólogos e também como cidadãos sensibilizar as mulheres bem como a sociedade em geral a cerca da realidade da violação tomando em consideração os fatores psicológicos e culturais que causam e perpetuam esse fenômeno social: o medo da violação.

Berta, M., Ornelas, J e Maria, S. Sobreviver ao medo da violação: Constrangimentos enfrentados pelas mulheres. Análise Psicológica, 25, 1, 135-147, 2008. Clique aqui para obter o artigo

Resenha: A imagem das enfermeiras frente aos estereótipos: uma revisão bibliográfica

Cecília Spínla


As autoras iniciam o texto explicitando a relevância dos profissionais de enfermagem manterem uma comunicação eficiente com os pacientes, mas revela que esta é dificultada pelo estereótipo da profissão que faz com que os pacientes possuam preconceitos com os profissionais.

As autoras afirmam que a profissão sofre estereótipo com relação ao gênero e explica que este sofre contribuição da tradição judaico-cristã que define uma dominação do homem sobre a mulher. Corrobora com este fato o papel da mulher na idade Média que era responsável por atividades de menor complexidade. Nesta ocasião o cuidar médico era reservado aos homens e ás mulheres restava o cuidado e a manutenção da higiene dos doentes e da ordem do ambiente, trabalho considerado sujo para os médicos que na sua maioria eram de famílias abastadas.

O texto identifica também o preconceito social que reserva aos profissionais da área o estigma de indivíduos que não tiveram uma melhor oportunidade de formação profissional.

Segundo o texto, o trabalho de enfermagem foi por muito tempo desenvolvido por mulheres religiosas que se dedicavam aos doentes, realidade que durou até o início do século XVI, quando ocorreu a revolta Luterana e a ascenção do anglicanismo.

Com a queda do catolicismo e a expulsão das religiosas dos hospitais, a Enfermagem, sem mão-de-obra qualificada, passou a ser exercida por mulheres de moral duvidosa que eram submetidas a péssimas condições de trabalho.

É neste cenário que se constrói a imagem da profissão. Doentes que preferem tratar-se em casa para não sofrerem maus tratos, comerem péssimas comidas ou terem que ceder a suborno por parte dos “profissionais” de Enfermagem.

Outro estereótipos relacionando a profissão diz respeito a desvalorização do serviço prestado e a visão da enfermagem como mão de obra barata. Essa visão, segundo Padilha (1998) advém da prática da Enfermagem no Brasil por religiosas, criando o entendimento de que esta prática deveria ser prestados apenas pelo amor de Deus e que a remuneração a esses serviços constituiria-se em ato impuro e mercenário.

É discutido pelas autoras também o papel da mídia na formação da imagem do profissional de Enfermagem. Para as autoras este veículo dissemina a idéia da Enfermeira como símbolo sexual, prejudicando ainda mais a desmistificação desses falsos conceitos perante a da sociedade.

Encontramos também no texto uma reflexão sobre o estereótipo de submissão no âmbito de valor da profissão da Enfermagem com relação a Medicina, o que advém de uma tradição militar que prezava pelo treinamento da enfermeira para agir com fiel observância às ordens médica e atenta ás relações de autoridade.

Com os dados acima apresentados podemos entender o preconceito que sofre a profissão de enfermagem e compreender o porque das autoras do texto trazerem neste artigo a preocupação com a capacidade de escuta e confiança do paciente/doente com esses profissionais. Tendo em vista que as relações estabelecidas sofrem influência de todos os estereótipos acima citados, que são muitas vezes reforçados pela nossa sociedade atual, é esperado que estes profissionais sofram o estigma de inferiores e menos competentes e com isso encontrem dificuldade de ascender profissional e socialmente.

Reforçando esses preconceitos, a nossa sociedade atual tende a reconhecer no médico o único profissional capaz de atender integralmente no âmbito da saúde, ficando todos os demais profissionais a cargo de implementar as ações descritas. Exemplo claro temos na Lei do Ato Médico que busca legitimar a soberania deste profissional em detrimento às outras profissões da área de saúde.

Perde-se com isso a noção da relevância do serviço de enfermagem, que atua no ambiente hospitalar cuidando da evolução dos pacientes, supervisionando e controlando rotinas e suportando os serviços médicos e multidisciplinares dispensados aos pacientes.

As autoras concluem que o combate a este preconceito formado sobre a profissão de Enfermagem pode ser feito primeiramente através da identificação e conhecimento destes na população e posteriormente com a criação de estratégias de enfrentamento e divulgação da verdadeira profissão, revertendo assim ao profissional, a valorização da sociedade pelo
seu trabalho.

Referência: Santos, C. e Luchesi, L. A imagem das enfermeiras frente aos estereótipos: uma revisão bibliográfica.Proceedings of the Brazilian Nursing Communication Symposium, 2002, São Paulo, Brasil

Resenha: Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica

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Cecília Spínla

As autoras iniciam o texto incentivando uma reflexão sobre estereótipos e trazem alguns conceitos que clarificam o tema para os leitores. Entendido por Ayesteran e Pãez (1987) como “uma representação social sobre os traços típicos de um grupo, categoria ou classe social”, atualmente os estereótipos mais estudados são os étnicos, sendo também muito presente em nosso convívio social os estereótipos de gênero, profissão, classe social e o de ciclo de vida, objeto deste artigo.

As autoras alertam para a complexidade da literatura sobre o tema já que se trata de um “conceito multiunívoco – constructo categorial, generalizador, estável e definidor de um grupo social”.

No caso dos idosos, preconceito oriundo do ciclo de vida do indivíduo, a autora defende que este se caracteriza como uma representação social da gerontofobia, que se define como o “processo de estereotipia e de discriminação sistemática, contra as pessoas porque são velhas” (Staab e Hodges, 1998).

Neste processo se associam ao idoso conceitos e traços negativos associados à incapacidade, fraqueza e inutilidade, percepções pejorativas do fenômeno de envelhecer.

Vale ressaltar que o estereótipo sofre influência direta do contexto cultural em que está inserido, e na nossa atual sociedade vemos reforçado a visão da “velhice como uma doença incurável, como um declínio inevitável, que está votado ao fracasso”.

As autoras apresentam no artigo um estudo realizado na Université de Montreal por Champagne e Frennet que identifica catorze estereótipos mais frequentes em idosos, são eles:

* Os idosos não são sociáveis e não gostam de se reunir;
* Divertem-se e gostam de rir;
* Temem o futuro;
* Gostam de jogar às cartas e outros jogos;
* Gostam de conversar e contar as suas recordações;
* Gostam do apoio dos filhos;
* São pessoas doentes que tomam muita medicação;
* Fazem raciocínios senis;
* Não se preocupam com a sua aparência;
* São muito religiosos e praticantes;
* São muito sensíveis e inseguros;
* Não se interessam pela sexualidade;
* São frágeis para fazer exercício físico;
* São na grande maioria pobres.

A análise da pesquisa chama a atenção para a confusão de conceitos existentes que faz com que os pesquisados destaquem como características da velhice traços de personalidade e fatores socioeconômicos ao invés de características específicas do envelhecimento.

A partir deste ponto podemos refletir sobre a possível existência de mitos sobre o envelhecimento que impedem o estabelecimento de contatos e conhecimento verdadeiros sobre os idosos.

E com base nessa análise a autora conclui o artigo alertando aos leitores a necessidade de atentarmos para os mitos e estereótipos criados sobre a velhice, pois eles estão muitas vezes ligados ao desconhecimento do processo de envelhecimento mas mesmo assim geram enorme sofrimento nos idosos e influenciam fortemente na nossa interação com os idosos.

Referência: Martins, R. M. e Rodrigues, M. L. Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica. Millenium. Revista do ISPV, 29, 249-254, 2004

Resenha: Aparência física e amizade íntima na adolescência: Estudo num contexto pré-universitário

Apohena Noroya

O artigo se configura como uma pesquisa que aborda a associação entre a percepção sobre a aparência física e a amizade intima, considerando-os como um fator de importante valor preditivo no desenvolvimento psicossocial de adolescentes. Na introdução o autor caracteriza intimidade como uma relação emocional marcada pela concessão mútua de bem-estar, pelo consentimento explicito para revelação dos assuntos privados, podendo envolver a esfera dos sentidos e pela partilha de interesses e atividades em comum, favorecendo o crescimento e a auto-revelação do adolescente.
Segundo o autor, alguns estudos estabelecem que o conceito de intimidade/amizade intima na adolescência e pré-adolescência, pode ser estruturado em oito dimensões: sinceridade e espontaneidade; sensibilidade e conhecimento; vinculação; exclusividade; dádiva e partilha; imposição;atividades comuns; confiança e lealdade. Sendo que a intimidade deve ser avaliada numa esfera dual, onde se conhece a si mesmo e ao outro ao mesmo tempo. O conceito de intimidade corporal passa primeiro pela percepção que se tem de si próprio, o auto-conceito, que pode ser positivo ou negativo e a depender de como os adolescentes vêem o próprio corpo isso vai ser determinante para sua relação com o outro, pois o corpo físico e aparência são o meio por excelência de acesso ao mundo e a toda experiência de vida.
Na adolescência emergem as verdadeiras relações de amizade baseadas na intimidade e o favorecimento de novas formas protegidas de intimidade através das redes sociais da internet favorece a propagação da amizade entre eles. Junto a outros adolescentes eles se sentem mais seguros para compartilhar interesse, valores, credos atitudes sem o medo de se sentirem julgados. Outro aspecto que o autor destaca como determinante nas mudanças dos relacionamentos íntimos entre adolescentes são os aspectos da puberdade e as transformações dos impulsos sexuais.
O auto-reconhecimento, o ser reconhecido pelo outro, construir, partilhar relações de intimidade e interagir socialmente constitui-se como um exercício de equilíbrio para o adolescente e as falhas deste equilíbrio podem determinar falhas na construção da identidade e isolamento social no futuro. Existem ainda segundo o autor, diferenças de gênero na forma pela qual meninas e meninos lidam com estas experiências, ocorrendo segundo alguns autores uma maior destreza entre as meninas no estabelecimento de relações com base na intimidade e no entendimento interpessoal.
Para analisar a relação entre a percepção sobre a aparência física e as relações de amizade intima na adolescência, o autor optou por realizar uma pesquisa com alunos pré-universitários de duas Escolas Secundárias de Portugal entre alunos do sexo feminino e masculino. Foi utilizado um questionário contendo as: Escala de Amizade Intima, Escala de Percepção de Auto-conceito(adaptada para a população portuguesa) e Notação Social Familiar – Graffar Adaptado que investiga o nível socioeconômico, além de dados de identificação sobre os adolescentes.
Os resultados mostraram diferenças entre gêneros onde os valores de amizade intima são mais elevados no sexo feminino e os valores de percepção sobre a aparência física, mais elevados no sexo masculino, o que sugere uma valorização diferente, entre sexos, dos aspectos do auto-conceito físico e da amizade intima na adaptação social e pessoal de adolescentes. As meninas apresentam mais maturidade do que os meninos para lidar com uma relação de amizade intima, sendo que, entre os indivíduos do sexo feminino e do masculino existe uma predileção por amizades do sexo feminino por motivações diferentes, pois as meninas buscam pares aos quais se identificam e os meninos buscam o sexo oposto numa perspectiva de auto afirmação da sua masculinidade.
Os valores de percepção sobre a aparência física revelam-se mais influentes num baixo auto conceito feminino, acredita-se pela própria cobrança, muito maior entre os indivíduos do sexo feminino pela beleza física e a necessidade de ser aceita por pares de ambos os sexos.

Referência:
Cordeiro, Raul A. Aparência física e amizade intima na adolescência: Estudo num contexto pré-universitário. Análise Psicológica, 24, 3, 509-517, 2006.