Resenha – Trajetórias escolares, corpo negro e cabelo crespo: reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural?

Marta Silva Dantas de Matos

O artigo fonte dessa resenha é produto da tese de doutorado em antropologia “Corpo e cabelo como ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte” (Gomes, 2002). A autora embasa sua discussão nos depoimentos de mulheres negras frequentadoras de salões de beleza étnicos. Destaca o papel da escola como um ambiente de reprodução dos estereótipos sociais dirigidos ao corpo e ao cabelo e como o racismo, presente também na trajetória escolar, pode deixar marcas que ficam visíveis até a vida adulta. Os depoimentos coletados apontam a escola como um ambiente onde acriança negra entra em contato com o racismo e com a discriminação. O segundo ambiente de socialização é também o lugar no qual a criança conhece o outro, a diferença e a desigualdade. Essa é uma discussão relevante, pois, desvincula a imagem da escola de um lugar livre de desigualdades, colocando-a como um ambiente social de produção e reprodução de preconceitos e discriminação. Altera também a imagem das crianças, apresentando-as como reprodutoras de estereótipos já
cristalizados na sociedade. Se o negro está fisicamente na sala de aula ele também precisa está representado nos livros didáticos, nas disciplinas, na cultura escolar, nos murais e em tudo que envolva as atividades pedagógicas, curriculares e extracurriculares da escola. É preciso repensar o local destinado aos negros no processo de ensino com o intuito de construir imagens positivas de identificação durante o processo de
escolarização. Na escola, além de português, matemática, geografia e história, as crianças aprendem e diferenciam o “bom” e o “belo”. A autora propõe que para que as experiências dos negros sejam articuladas com as experiências escolares é preciso que os primeiro sejam ouvidos atentamente. Assim, a relação da negra com o cabelo é aqui apresentada como um dos temas norteadores da resignificação das práticas pedagógicas e dos conteúdos tratados no universo escolar. É uma tentativa de aprofundamento e valorização. A escola enquanto um
ambiente de formação de pessoas e de Identidades precisa contemplar todas as formas de existir que formam a cultura brasileira.
O corpo é um objeto de expressão. É o meio que usamos para mostrar ao outro os nossos gostos e a nossa trajetória. É sabido que o corpo e o cabelo do negro são elementos de denuncia, luta, resistência e marcas.
Porém, a escola precisa está atenta ao apresentar isso. Não se pode anunciar apenas um lado da história e subtrair da fala e das práticas a história de um povo que usou o corpo como mecanismo de resistência e o cabelo como denúncia da sua inconformidade (ou conformidade) com o ideal de beleza pré-estabelecido.
A história e a biologia sempre apresentaram as especificidades do corpo negro que serviram como justificadoras da escravidão. Agora, o que precisa ser apresentada são as modificações, as artes, os enfeites
e as alegorias usadas e feitas no corpo como forma de identidade e pertencimento grupal. Nos depoimentos utilizados, a trança surge como técnica de opressão capilar e o alisamento como uma forma de sanar a dor causada pela produção da trança. Não se pode esquecer, porém, que optar pelo cabelo liso não é somente escapar da dor, mas também corresponder ao padrão desejado de beleza.
A escola impõe um modelo higienista e a trança surge como um modo de cuidar e arrumar do cabelo na tentativa de romper com os estereótipos do negro descabelado e sujo. Além disso, a trança é resignificada e passa a ser um estilo negro de penteado e adorno diferente dos usados pelas crianças brancas. Na escola além de ocorrer o primeiro contato com a alteridade, com a discriminação e com o que é normativo, estabelecem-se tensões entre a
vida privada e a vida pública e as crianças aprendem que o cabelo bom é o liso e que o crespo é ruim e indesejável. Na escola a criança vive as primeiras experiências públicas de rejeição do corpo. Se no
ambiente escolar há a possibilidade da discriminação gerar uma baixa autoestima e sentimentos de inferioridade, com os iguais, existe a possibilidade de construção de uma autoimagem positiva de si e do seu
grupo e a criação de estratégias para lidar, por exemplo, com o cabelo. A autora sugere que por estar ligada ao contexto cultural, histórico e político, a subjetividade e a construção da identidade negra passam
por processos coletivos e individuais e que por isso cada sujeito encontra uma forma de lidar com as questões que envolvem sua raça. Nesse contexto, a informação é umO artigo fonte dessa resenha é produto da tese de doutorado em antropologia “Corpo e cabelo como ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte” (Gomes, 2002). A autora embasa sua discussão nos depoimentos de mulheres negras frequentadoras de salões de beleza étnicos. Destaca o papel da escola como um ambiente de reprodução dos estereótipos sociais dirigidos ao corpo e ao cabelo e como o racismo, presente também na trajetória
escolar, pode deixar marcas que ficam visíveis até a vida adulta. Os depoimentos coletados apontam a escola como um ambiente onde a criança negra entra em contato com o racismo e com a discriminação. O
segundo ambiente de socialização é também o lugar no qual a criança conhece o outro, a diferença e a desigualdade. Essa é uma discussão relevante, pois, desvincula a imagem da escola de um lugar livre de
desigualdades, colocando-a como um ambiente social de produção e reprodução de preconceitos e discriminação. Altera também a imagem das crianças, apresentando-as como reprodutoras de estereótipos já
cristalizados na sociedade. Se o negro está fisicamente na sala de aula ele também precisa está representado nos livros didáticos, nas disciplinas, na cultura escolar, nos murais e em tudo que envolva as atividades pedagógicas, curriculares e extracurriculares da escola. É preciso repensar o local destinado aos negros no processo de ensino com o intuito de construir imagens positivas de identificação durante o processo de escolarização. Na escola, além de português, matemática, geografia e história, as crianças aprendem e diferenciam o “bom” e o “belo”. A autora propõe que para que as experiências dos negros sejam
articuladas com as experiências escolares é preciso que os primeiro sejam ouvidos atentamente. Assim, a relação da negra com o cabelo é aqui apresentada como um dos temas norteadores da resignificação das
práticas pedagógicas e dos conteúdos tratados no universo escolar. É uma tentativa de aprofundamento e valorização. A escola enquanto um ambiente de formação de pessoas e de Identidades precisa contemplar todas as formas de existir que formam a cultura brasileira. O corpo é um objeto de expressão. É o meio que usamos para mostrar ao outro os nossos gostos e a nossa trajetória. É sabido que o corpo e o cabelo do negro são elementos de denuncia, luta, resistência e marcas. Porém, a escola precisa está atenta ao apresentar isso. Não se pode anunciar apenas um lado da história e subtrair da fala e das práticas a história de um povo que usou o corpo como mecanismo de resistência e o cabelo como denúncia da sua inconformidade (ou conformidade) com o ideal de beleza pré-estabelecido. A história e a biologia sempre apresentaram as especificidades do
corpo negro que serviram como justificadoras da escravidão. Agora, o que precisa ser apresentada são as modificações, as artes, os enfeites e as alegorias usadas e feitas no corpo como forma de identidade e
pertencimento grupal. Nos depoimentos utilizados, a trança surge como técnica de opressão
capilar e o alisamento como uma forma de sanar a dor causada pela produção da trança. Não se pode esquecer, porém, que optar pelo cabelo liso não é somente escapar da dor, mas também corresponder ao padrão
desejado de beleza. A escola impõe um modelo higienista e a trança surge como um modo de cuidar e arrumar do cabelo na tentativa de romper com os estereótipos do negro descabelado e sujo. Além disso, a trança é resignificada e passa a ser um estilo negro de penteado e adorno diferente dos usados pelas crianças brancas. Na escola além de ocorrer o primeiro contato com a alteridade, com a discriminação e com o que é normativo, estabelecem-se tensões entre a vida privada e a vida pública e as crianças aprendem que o cabelo bom
é o liso e que o crespo é ruim e indesejável. Na escola a criança vive as primeiras experiências públicas de rejeição do corpo. Se no ambiente escolar há a possibilidade da discriminação gerar uma baixa autoestima e sentimentos de inferioridade, com os iguais, existe a possibilidade de construção de uma autoimagem positiva de si e do seu grupo e a criação de estratégias para lidar, por exemplo, com o
cabelo.
A autora sugere que por estar ligada ao contexto cultural, histórico e político, a subjetividade e a construção da identidade negra passam por processos coletivos e individuais e que por isso cada sujeito
encontra uma forma de lidar com as questões que envolvem sua raça. Nesse contexto, a informação é um elemento importante para a autoaceitação. A conclusão do artigo é esperançosa ao afirmar que a escola pode atuar tanto na reprodução de estereótipos sobre o negro, o corpo e o cabelo, quanto na superação dos mesmos. Para isso, elas terão que ser consideradas temáticas merecedoras de um lugar nos currículos e em nas discussões pedagógicas. É necessário também entender a construção da questão racial na subjetividade e no cotidiano dos indivíduos e o peso da educação escolar nesse processo. O cabelo e a cor da pele podem – e devem – sair do lugar da inferioridade e ocupar o lugar da beleza negra, assumindo uma significação política. O cabelo compõe um estilo político, de moda e de vida.

Gomes, N. L. (2000). Trajetórias Escolares, Corpo Negro e Cabelo Crespo: Reprodução de Estereótipos ou Ressignificação Cultural? Revista Brasileira de Educação, Set-Dez, nº 21, São Paulo, Brasil, pp.40-51.

Artigo publicado: gendered Bodies in motorsport

Título:Something Less than a Driver: Toward an Understanding of Gendered Bodies in Motorsport

Autor: Ehren Helmut Pflugfelder

Periódico: Journal of Sport and Social Issues 2009;33 411-426

Resumo: clique aqui para obter

Artigo publicado: Undocumented bodies, burned identities

Título: Undocumented bodies, burned identities: refugees, sans papiers, harraga — when things fall apart

Autor: Roberto Beneduce

Periódico: Social Science Information 2008;47 505-527

Resumo: clique aqui para obter

Artigo publicado: Ethics of Bodily Integrity

Título: Intimate Violations: Intersex and the Ethics of Bodily Integrity

Autora: Iain Morland

Periódico: Feminism Psychology, 2008,18,425-430

Resumo: clique aqui para obter

Resenha – trajetórias escolares, corpo negro e cabelo crespo: reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural?

chamada

Andréia da Cruz Oliveira

1. A Escola

“Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
é também criar laços de amizade,
é criar ambiente de camaradagem,
é conviver, é se ‘amarrar nela’!
Ora, é lógico…
Numa escola assim vai ser fácil
estudar, trabalhar, crescer,
fazer amigos, educar-se,
ser feliz.”.
Paulo Freire

Para Gomes (2002), a escola é uma instituição formadora de saberes sociais, escolares e culturais. O processo de construção da identidade social é profundamente marcado pela cultura escolar, por este motivo, muitos estudiosos vêm se debruçando sobre este assunto no intuito de compreender como a escola se constitui num espaço importante na construção do complexo processo de humanização. O interesse de alguns educadores nas relações raciais articulados à cultura e educação é crescente. Muitos temas como: a representação do negro nos livros didáticos, o silêncio das questões raciais, etc. antes ignorados, começam a fazer parte da produção teórica educacional. Uma das formas de compreender as relações raciais e sua ligação com o universo simbólico, seria através de um olhar mais amplo sobre a educação no processo de humanização, sem esquecer dos processos educativos não escolares.
A autora propõe um caminho para poder captar as impressões e representações do negro sobre o próprio corpo articulados com as experiências escolares: através do desenvolvimento de uma escuta atenta pelos educadores à fala dos negros sobre suas vivências corpóreas dentro e fora da escola. Este enfoque corrobora com os achados da sua tese de Doutorado: Corpo e cabelo com ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte. (Gomes, 2002), por meio de 28 entrevistas com mulheres e homens negros, verificou-se no discurso de todos os participantes a importância da trajetória escolar na construção da identidade negra, reforços dos estereótipos e representação negativa sobre este grupo étnico/racial e do seu padrão estético.

2. O Corpo
O corpo é um dos meios de comunicação do homem na sociedade. É constituído biologicamente e simbolicamente na história e na cultura. Ao corpo são aplicados os fundamentos da vida social, diferentes crenças e sentimentos. Ele seria uma junção da natureza (a fome, o sono, a fadiga, o sexo, etc.) e do mundo das representações (a cultura) coexistindo de maneira simultânea e separada. As motivações orgânicas que se fazem presente em todos os seres humanos são ressignificados, inibidos ou exaltados pela cultura.
Para a autora, o processo de escravização dos africanos no Brasil, remete a coisificação e materialização do corpo negro nas relações sociais. O negro era visto pelos brancos como mero objeto, inclusive existiam leis que regulamentavam os senhores como proprietários dos escravos que poderiam aplicar “medidas disciplinares”: abusos sexuais e castigos corporais naqueles que não aceitavam tal imposição. Trata-los como mercadorias: comprar, vender ou trocar. E a sua liberdade oficial estava atrelada à carta de alforria.
A relação histórica do escravo com o corpo expressava as formas de rebelião, resistência e luta pela liberdade. Através da dança, dos cultos, dos penteados, no uso de ervas medicinais na cura e na cicatrização das feridas provocada pelos castigos e açoites foram maneiras específicas e libertadoras de trabalhar o corpo, ao contrário da idéia difundida da nossa sociedade do escravo submisso. O regime escravista cristalizou a forma do corpo negro ser visto e tratado, as diferenças fenotipicas entre negros escravizados e os brancos colonizadores serviram de argumento para a formação de um padrão de beleza e fealdade que perdura até hoje.
Através dessas reflexões Gomes (2000) se questiona: “Será que as escolas têm dado uma outra leitura a essa relação? Ou as crianças negras e brancas, quando estudam a questão racial, ainda participam da representação do corpo negro apenas como um corpo açoitado e acorrentado?”. O olhar do corpo negro nas escolas é fundamental para entender como os professores e alunos lidam com a cor da pele e o cabelo, dois elementos construídos na sociedade brasileira como definidores do pertencimento étnico/racial. A trajetória escolar tem um importante papel na formação da identidade negra, muitas vezes o discurso pedagógico, ao privilegiar a questão racial, pode reproduzi-lo de forma estereotipada e preconceituosa.

3. O Cabelo Crespo


“Respeitem meus cabelos, branco
Se eu quero pixaim, deixa;
Se eu quero enrolar, deixa;
Se eu quero colorir, deixa;
Se eu quero assanhar, deixa;
Deixa, deixa a madeixa balançar”
Chico César

O negro vivência sua experiência com o cabelo a partir da infância. As meninas, por exemplo, desde muito cedo são submetidas a rituais de manipulação do cabelo e geralmente a primeira técnica utilizada é a trança, mas nem sempre estas meninas elegem as tranças como penteado preferido. Este pode ser um dos motivos de algumas mulheres negras adultas adotarem alisamentos com produtos químicos ou com pente e ferro quente, pois a sensação de ter os cabelos desembaraçados sem sofrer com as pressões do pente e puxões é visto com alívio.
Na África as tranças também são utilizadas, contudo seu significado foi alterado ao chegar ao Brasil. Algumas famílias utilizam as tranças com o intuito de quebrar o estereótipo do negro sujo e despenteado, porém outras famílias o fazem como uma prática cultural. É notável a variedade de tranças e adereços coloridos nas crianças negras, diferentemente das técnicas utilizadas nos cabelos de crianças brancas. Quando adultas muitas mulheres negras reconciliam-se com as tranças, mas dessa vez estilizadas. Isto expressa a existência do estilo negro de pentear-se e adorna-se, configurando-se em uma estreita relação entre o cabelo e a identidade negra.
O processo de manipulação dos cabelos para os negros brasileiros é bastante conflituoso, neste momento crítico não é rara a expressão de sentimentos de rejeição, aceitação, ressignificação ou negação do pertencimento étnico/racial. É possível imaginar como o negro ou a negra podem representar simbolicamente o seu cabelo crespo em uma sociedade predominantemente racista, influenciada pela ditadura da beleza euro-americana que atua diretamente no comportamento individual. Na escola, por ser um espaço público, estas representações podem reforçar estereótipos e intensificar as experiências do negro com seu cabelo e o corpo.

4. O Negro na Escola
A escola estabelece padrões curriculares, de conhecimento, comportamento e de estética. É preciso pertencer a um padrão uniforme. Mais uma vez é exigido do aluno o cuidado com a aparência, sendo que por trás de um teor higienista podemos encontrar discursos com conteúdos racistas implícitos. Uma dessas exigências é “arrumar o cabelo”, sendo que esta é passada de forma distorcida para as famílias negras. Mesmo penteando os cabelos de seus filhos, estas crianças são alvos de apelidos pejorativos e piadas no ambiente escolar. Esses apelidos marcam a trajetória escolar e geralmente são as primeiras experiências de rejeição pública do corpo, pois o cabelo crespo é símbolo de inferioridade. “Uma coisa é nascer negra, ter cabelo crespo e viver dentro da comunidade negra; outra coisa é ser criança negra, ter cabelo crespo e estar entre brancos” (Gomes, 2000 p. 45).
As estratégias de enfrentamento do negro contra o racismo é bastante particular e está intimamente ligada à construção da identidade, possibilidade de socialização e informação. Para compreender melhor o processo de construção da identidade negra no Brasil deve-se levar em consideração a história, a sociedade, a cultura e a subjetividade. A adolescência é um dos momentos chaves na construção dessa subjetividade, pois além da insatisfação com a imagem, comum entre muitos adolescentes, é acrescentado o aspecto racial. Durante a vida escolar, muitas experiências de rejeição ao cabelo ou a cor da pele podem levar a baixa auto-estima ou sensação de inferioridade, por isso a escola pode atuar como favorecedora na superação dos estereótipos negativos em relação aos negros ou na sua reprodução.
Embora homens e mulheres negras de diversas partes do mundo sejam culturalmente diferentes, existe algo que os une: a cor da pele, a mesma ancestralidade africana e a forma de manipular o cabelo é uma expressão cultural. Em muitas sociedades em que a questão racial é um dos aspectos estruturantes de poder, as significações negativas em relação ao corpo negro trazem grande impacto na vida social e subjetiva do negro. Neste ponto os movimentos negros de resistência lutam pela valorização da beleza negra, sem adotar aos padrões Europeus de estética, superando o preconceito e desocupando o lugar de inferioridade.

5. Conclusão
Através da leitura desse artigo, podemos identificar a importância da Escola na construção da identidade do negro. Para o negro a ida a escola pode significar um choque inter-étnico, pois muitas vezes é na escola que se têm o primeiro contato com pessoas de outras etnias e classes sociais. É neste momento que educadores precisam ter uma escuta mais atenta em relação à fala do negro (antes ignorada!), além disso, promover uma discussão mais ampla e adequada sobre a participação do negro na história. Os livros didáticos evidenciam a coisificação do corpo negro, apenas como mera mercadoria. A participação efetiva do negro na luta pelo fim da escravidão e o cuidado com o corpo, expressada através das danças, dos penteados, etc. não são citados, a escola precisa rever e alterar esse tipo de leitura o quanto antes.
A cor da pele e o cabelo são, no Brasil, as principais fontes de classificação étnica/racial. Mesmo vivendo em uma sociedade marcada pelas relações sociais de poder baseadas na cor da pele, a identidade negra através da utilização de técnicas de manipulação dos cabelos, por meio de tranças e adereços, podem levar a construção de uma identidade negra positiva. Fica evidente a estreita relação do corpo e do cabelo ao pertencimento racial. A escola possui a função de desconstruir a inferioridade simbólica do negro na sociedade, a criança e o adolescente passam o maior tempo da vida no ambiente escolar, saindo do núcleo familiar e passando a ocupar um papel social. Por isso não se deve mais silenciar as questões raciais na escola, é exatamente lá que precisa ser discutido, que precisa ser falado. Assim o estudo sobre a representação do corpo negro possibilitará a construção de estratégias pedagógicas que possam compreender o valor do corpo negro na construção da identidade negra e na formação dos futuros cidadãos da sociedade brasileira.

6. Referência
Gomes, N.L. Trajetórias escolares, corpo negro e cabelo crespo: reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural?.Revista Brasileira de Educação. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, São Paulo, 2000.

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