Dois de Julho, 2008: instantâneos (4)

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Dois de julho, 2008: instantâneos (3)

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Dois de Julho, 2008: instantâneos (3)

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Dois de Julho, 2008: instantâneos (2)

Dois de Julho, 2008

Dois de julho, 2008: instantâneos

Dois de Julho, 2008

FAPESB

Depois de um atraso considerável, publicou-se hoje o resultado da chamada de projetos de pesquisa da FAPESB, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia. O nosso projeto foi apenas qualificado, não contemplado. Fazer o que? De resto, parabéns aos contemplados e  votos que a FAPESB continue lançando e apoiando projetos de pesquisa, pois ainda que não venhamos a ser contemplados, pelo menos este processo oferece uma boa oportunidade para que possamos nos deparar com os nossos próprios limites.

Estereótipos e expressões populares: o brau

chamada

Contribuição: Greice Santos

Eu estava trabalhando quando uma amiga chegou, esbaforida, querendo me arrastar até um canto, pra me mostrar alguma coisa. ‘É um brau amigo, igual como você falou!! É um brau!!!’

Quando chego lá, lá estava, sentadinho no sofá, um brau. Com bermuda de surfista, cofrinho aparecendo, um bonezinho encardido com um piercing na aba, pulseirinhas de plástico no braço e camiseta machão (aquelas sem manga), de linha. Um brau, tipicamente. O alvoroço da minha amiga é que ela viu se materializar na sua frente o conceito da palavrinha que eu uso, volta e meia: BRAU.

Ser Brau não tem a ver com cor, sexo, raça ou classe social. É estilo.

Estilo Brau. Está no jeito de vestir, falar, andar e dançar. O típico brau se veste exatamente como descrevi acima. A mulher brau geralmente usa blusas de lycra com sutiã com alça de silicone, saia ou short sempre muito apertado. Antigamente ensopavam o cabelo com Kolene, mas pela evolução da espécie a maioria já aderiu à chapinha. Gostam de tudo que é moda, principalmente as ditadas pelas novelas. Andam pelas lojas pedindo o colar da Safira, a argola da Leona, a minissaia com legging do Lacraia. E usam isso mesmo décadas depois, vide sandálias com saltinho de cristal com as quais nos deparamos na rua a todo momento. E quando insistem em usar faixa no cabelo, a usam na testa.

Público fiel de shows tipo pagodão baixaria e arrocha. Adoram festa de camisa (É festa de camisa e colorida!!). Sabem todas as coreografias. Os homens, quando não sabem as coreografias, dançam fingindo que estão brigando, empurrando os outros, dando socos no ar. Na praia, gostam de dar saltos mortais por minuto, carregam o oléo de urucum na cintura da bermuda ou na pochete (Desconjuro!). Alguns passam água oxigenada. Gostam de óculos espelhados, imitação da HB, Mormmai ou Arnnete. E quando não estão usando os óculos, eles colocam a parte das lentes viradas pro pescoço, apoiando as hastes nas orelhas, e fica aquela coisa de que, de costas, ele parece que está de frente. No ônibus, adoram um batuque, ou um tumulto.

Mas para mim, o mais interessante de um Brau é o dialeto. Eu sou da teoria que todos nós temos um lado brau, e é no dialeto que reside o meu. Até já entrei na comunidade do orkut ‘Eu falo Braulês.’ Com um jeito de falar meio ameaçador, meio marrento, meio gozador, eles utilizam um vocabulário próprio. Cito então algumas das expressões mais utilizadas pelo Brau baiano:

Na tora- À força, contra sua vontade. Exemplo:

– ‘Ó mermão, você me dê essa porra logo, senão eu vou tomar na tora, vu!!’.

Pelo uso, já surgiu o advérbio de modo Natoralmente, utilizado da mesma forma: ‘Você me dê essa porra desse dinheiro logo, senão eu vou tomar natoralmente, vu?’

Eu quero é prova! – O brau não está botando muita fé no que você disse, ele não acredita que algo que foi dito irá se concretizar.
Exemplo:

– ‘Fulano disse que vai lhe picar a porra se você der em cima da mulé dele!’
– ‘Eu quero é prova que ele vai picá-la a disgraça na minha cara!!’

O Brau também poderia responder com a variante ‘Eu quero é prova e um real de Big Big!!’. Ou ainda: ‘Eu quero é prova, um real de Big Big e o troco de Paçoquita!’. Ou ainda, simplesmente responder o já famoso e conhecido ‘Aooooooonde!’, que já foi citado até na propaganda do HSBC, onde o carinha pedia a mulher em casamento e ela respondia Aoooooonde, querendo dizer, simplesmente: Não, tá louco, bebeu xampu???

Partir a milhão – Ir embora rapidamente, se mandar. Exemplo:

– ‘Rapá, quando eu vi que ia sobrar pra mim, eu parti a milhão!’

Também pode ser substituído por Partir a mil, Se sair ou Abrir o Gás.

Se botando – Tirando onda. Geralmente, está procurando confusão. Exemplo:

– ‘Oxe, você tá se botanu pra cima mim, é? Num se bote não, vu, não se bote não que eu pico-lhe a porra, sinha mizera, eu lhe arregaço!! Tá me comediando, eu sou palhaço por acaso??’

Mizera – Meu olhar atento às tendências do futuro me diz que Mizera será o novo Porra da Bahia. Surgiu da palavra Miséria, e é utilizado de diversas formas. Pode ser vocativo: ‘ô sinhá Misera, venha cá!!!’, artigo indefinido ‘Esqueci a mizera do cartão em casa’, Sujeito: ‘A mizera nem me ligou no dia dos namorados’, e por aí vai. Atualmente na Bahia, já surgiu o derivado da palavra, utilizado como adjetivo para alguém que não leva desaforo pra casa: Miseravão, Miseravona.

Queixar – Verbo que pode ser usado no sentido de pedir, usando a cara de pau; ou paquerar. Exemplo:

– ‘Na moral vu, man… vou queixar meu chefe pra me liberar amanhã…
vô chegá lá queixando: Me libere aí vá, na moral, que eu tenho que resolver uns pobrema pessoal…’

– ‘Fulano me queixou na festa de ontem, a gente acabou ficando.’

Também existe a variação, quando queremos incentivar alguém a queixar alguma coisa: ‘Jogue os queixos, velho!!.’ Sem falar na pessoa que está sempre pedindo tudo na maior cara de pau: ‘Ele é muito queixudo/queixão.’ Ou ainda a expressão ‘Que queixo!!’, como por exemplo:

– Porra, você ganhou dois brindes, me dê um, vá, na moral!!
– Oxe!! Que queixo!! Se saia, mermão, vô ficar com os dois.

Barão – Moeda corrente. Exemplo:

– ‘Moço, quanto é esse relógio??’
– ‘Aê, morena, pá você eu faço 10 barão.’

Também não podemos deixar de citar palavras e expressões corriqueiras, utilizadas sempre pelos Braus e simpatizantes (como eu…):

Buzu, buzão, Coletivo ou Carro – É o famoso G.O.L (grande ônibus lotado). Quem dirige é o Motô, e o responsável por receber o pagamento da passagem é o Cobra.

Colé véi, colé de mermo – Qual é, e aí?

Trazerar – Não pagar passagem no ônibus. Antigamente os ônibus em Salvador tinham a entrada pela frente e os coithado que não queriam pagar entravam pela porta traseira.

Água dura – Quando uma festa vai ser ‘Água dura’ significa que vai ter muita cachaça. Você vai ‘Comer água’ e chegar em casa ‘Em águas’.

É nenhuma! – Tudo bem, relaxe, não se esquente, é nenhuma.
– Porra, foi mal não ter te ligado ontem…
– É nenhuma!!

Paletar – Andar demais, andar à pé longas distâncias.

Tirado – Um cara metido, arrogante.

Sem falar nas licenças poéticas: Vidro é vrido, fósforo é froscu, fóscuru, frosfro. Calota vira carlota, ônibus vira ôndibu…

Enfim, ser Brau envolve mais conceitos do que pode abranger nossa vã filosofia. Pode ser tudo isso junto, ou apenas um item isolado. Você pode SER brau, ou ESTAR brau. Mas o mais importante: Estará sempre sendo muito divertido!!

Tá ligado, Bródi?

E você? Quantos braus você conhece??

Fonte: Estado de Espítito

Polícia liberta jovem de cativeiro

Acredite. Leia a notícia de A Tarde.

Resenha – Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo

Camila Leão

O artigo “Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo” aborda um tema bastante interessante e presente no cotidiano de todos nós. Afinal, quem nunca escolheu o destino das viagens de férias tomando como referência as belas imagens postadas nos folhetos de turismo?As imagens atraentes e os dizeres encantadores presentes nesses folders das agências de turismo foram o foco do trabalho do professor Marcos Emanoel Pereira (Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Bahia. Coordenador do Programa de Pós- Graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia.) e da pesquisadora Tula Ornelas (Bacharel em Turismo. Aluna especial do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Da Universidade Federal da Bahia. Coordenadora do Curso de Bacharel em Turismo da Faculdade Olga Mettig, Salvador, Bahia).Eles realizaram uma pesquisa analisando de forma descritiva trinta e cinco folders da agência de turismo Bahiatursa, a agência de fomento ao turismo do Estado da Bahia. Após essa análise, os pesquisadores encontraram algumas categorias de estereótipos que se repetiam em vários folders, com o intuito de atrair turistas para a Bahia. Os pesquisadores conseguiram encontrar cinco classes de poderosos estereótipos utilizados pela Bahiatursa referentes à Bahia e ao seu povo. São eles: “Terra da felicidade”; “Povo festeiro”; “Povo Hospitaleiro”; “Povo Mestiço”; “Povo religioso”.Pode-se notar, a partir da leitura desse artigo, o grande poder dos estereótipos para a economia turística. Uma concepção positiva sobre um povo que se torne amplamente compartilhada atrai lucros e investimentos. Por isso, cria-se todo um fetiche mercadológico que seja capaz de despertar a vontade de “estar lá” e de “ser como eles”. Os turistas buscam por experiências diferentes daquelas presentes no seu cotidiano (como o contato com belezas naturais, fugindo de um cotidiano urbano turbulento), e buscam o contato com pessoas agradáveis, receptivas, alegres. Assim como tudo presente no nosso habitat Capitalista, a Cultura e as características de um povo, juntamente com as belezas naturais de um local, passaram a ser um “acessório” que valoriza a venda de viagens.A teoria que alicerça a Psicologia Behaviorista, a qual afirma que um estímulo neutro, quando associado com um estímulo agradável e reforçador, imediatamente tornar-se-á um estímulo também reforçador, é bastante utilizada na construção desses folders de turismo. Um lugar como a Bahia, que pode ser visto como um estímulo neutro para muitas pessoas, quando associado às frases e às imagens positivas, torna-se um estímulo altamente reforçador. O emparelhamento de um lugar como a Bahia com sensações agradáveis, com pessoas receptivas e alegres, enfim, com estímulos positivos, valoriza a imagem do lugar.Um dos processos básicos do comportamento é a motivação, segundo Maslow e McGregor, teóricos da Psicologia. A motivação á um fator que impulsiona uma pessoa a consumir algo presente no mercado. Os donos de negócios juntamente com as empresas de marketing criam necessidades internas e externas e as incutem no psicológico das pessoas, que procurarão suprir tais “necessidades”. Eles criam também necessidades secundárias, que são aquelas que interferem na escolha de um produto, diferente das nossas necessidades primárias (como a sede, o sono, a fome, a proteção do corpo contra frio, calor e outros). Essas necessidades secundárias são aquelas que determinam qual marca de alimento, bebida ou roupa uma pessoa irá consumir. É a partir da criação dessas necessidades secundárias que uma pessoa atualmente escolhe um destino turístico.A imaginação do consumidor o faz acreditar que ele realmente necessita daquele produto, e ele vai agir de tal forma que consiga obter tal produto. O que leva uma pessoa a escolher o destino de sua viagem a partir do conteúdo dos folders de turismo, são também fatores motivacionais de cunho secundário, ou seja, não são essenciais para a sua sobrevivência, mas fazem parte de uma necessidade criada. Uma atitude positiva para um lugar, juntamente com estereótipos positivos para as pessoas nativas daquele lugar é essencial para a escolha de um destino turístico.O presente estudo do artigo foi importante na medida em que revela a força e o poder mercadológico dos estereótipos na valorização dos destinos turísticos. Vê-se a importância também do cuidado com o uso desses estereótipos, já que os mesmos influenciam no modo de ver tanto dos turistas quanto do povo nativo. Tanto os turistas como os nativos passam a compartilhar de tal maneira esses estereótipos, que acabam por assimilar as características atribuídas ao seu grupo social. E essas características acabam se cristalizando. Desse modo, a Psicologia deve não somente contribuir para ajudar a fomentar o turismo na Bahia, mas também aplicar-se mais intensamente no plano social e tentar levantar os possíveis impactos de todos esses estereótipos construídos que fazem parte do imaginário popular em relação à Bahia e ao seu povo.

Referência: Pereira, M. E. ; Ornelas, T. Estereótipos e destinos turísticos: o uso dos estereótipos nos folders de uma agência de fomento ao turismo. Caderno Virtual de Turismo, 17, 2005

Estereótipos e publicidade: tô ligado

Contribuição: Fernanda de S. Brito