Notícia do dia: 15 mulheres são queimadas vivas no Quênia acusadas de bruxaria

Contribuição: Leiza Torres

Desta vez foi no Quênia, mas o teor da notícia é sempre o mesmo: acusação de bruxaria + mulheres = carnificina. Clique aqui para ler a matéria.

Resenha – Normas, justiça, atribuição e poder: uma revisão e agenda de pesquisa sobre filas de espera

Rafael Oliveira

Adotando a premissa de que a fila de espera é um sistema social e que do ponto de vista psicológico expõe os usuários a uma série de fenômenos do comportamento, o artigo faz uma síntese dos estudos e pesquisas em psicologia social sobre o tema e aponta suas principais lacunas. Para tanto, utiliza o nível de análise individual, o que se convencionou chamar de psicologia social psicológica. Deste modo, a situação da fila de espera é analisada do ponto de vista de temáticas como normas, justiça, atribuição e poder.

Natureza das filas de espera e seus tipos
As filas podem ser divididas em presenciais e não-presenciais, únicas e múltiplas. Essa divisão, no entanto, se refere à organização espacial da fila. Por detrás desses tipos jaz uma natureza comum regida pelo princípio igualitário, qual seja, o de que quem chega antes deve ser atendido antes. As relações e irrupções deste princípio vão dar substrato empírico para as análises teóricas.

Normas e influência social
São definidas genericamente como conjunto de regras compartilhadas que guiam o comportamento dos indivíduos de forma implícita. Podem ser descritivas (exemplo a ser seguido) ou injuntivas (sansões informais, implícitas). As intrusões nas filas são vistas como quebra do principio igualitário (norma) gerando perda individual (tempo) e/ou ultraje moral. Outros componentes são analisados neste tópico, como o efeito da normalização (justificativa para explicar o comportamento do infrator) e os processos internos que envolvem a apatia diante da situação inesperada.

Justiça
A percepção de justiça se dá em três níveis: o modo como as pessoas avaliam a eqüidade da distribuição dos bens (distributiva); avaliação do processo adotado para distribuir os recursos (processual); como a decisão sobre a alocação de recursos é implementada (interacional). Na relação com os dois primeiros níveis os estudos mostram relatos de que as filas preferenciais (idosos, gestantes) podem ser vistas como injustas. O terceiro nível aponta para dois tipos de espera: a funcional e a cerimonial, esta última causando mais desconforto. Para a psicologia não importa se a justiça ocorreu ou não de fato, mas sim a percepção de justiça pelos envolvidos.

Atribuição de causalidade
Conceito bastante difundido em psicologia social fundamenta que as pessoas usam teorias para explicar os acontecimentos em causas internas ou externas. No caso específico das filas, a atribuição de demora aparece como fator fundamental de insatisfação de usuários nas filas e influenciam emoções, atitudes e comportamentos em três dimensões: se o provedor pode prevenir os problemas nas filas e controlar os efeitos (controlabilidade); quem ou o quê é responsável pelo problema (lócus); probabilidade de que os problemas se repitam (estabilidade). Quando o usuário considera o problema como controlável, estável e com lócus externo as reações são geralmente mais negativas.

Poder e status
As questões de poder estão relacionadas às avaliações de justiça e determinam quem pode esperar mais ou menos e o quanto é possível reclamar da espera. O tópico ainda discute a crença compartilhada (principalmente no Brasil) de que se atribui mais poder a quem se faz esperar, e como situações de espera podem definir relações de poder decidindo quem deve esperar e quem deve ser esperado. Deste modo o cidadão em fila é tratado na maioria das vezes pelo sistema de atendimento como mero passageiro de uma linha humana, sentindo-se humilhado, enganado e desamparado. Apesar disso, a fila é entendida como uma forma democrática de organização social.

Questões e Lacunas
Existe algum tempo máximo ou uma posição limite na fila em que se permite guardar lugar? Os estudos sobre intrusão devem levar em consideração o tipo de ambiente, vestimenta do intruso, idade e justificativa adotada para intrusão. Como os usuários reagem a situações percebidas como injustas? Devem ser feitos estudos que avaliem a distância social entre os atores (atendentes e usuários). Qual o efeito de caixas inoperantes na atribuição às causas de demora? Esses são apenas alguns dos direcionamentos apontados no artigo.

Considerações finais
O artigo se destaca por conseguir conjugar de forma sintética elementos teóricos com um problema prático da vida urbana. Constitui-se de fato numa agenda que pode ser usada por professores de graduação tanto para ensinar os conceitos de psicologia social como para incentivar os alunos a observação prática dos mesmos, seja testando os resultados já encontrados ou investigando as lacunas existentes. De todo modo, depois da leitura do artigo esperar numa fila nunca mais será a mesma experiência.

Referência: Iglesias, F. e Günther, H. Normas, justiça, atribuição e poder: uma revisão e agenda de pesquisa sobre filas de espera. Estudos de psicologia (Natal), 12, 1, 3-11, 2007

Estereótipos e música: vai que é mole

Resenha – trajetórias escolares, corpo negro e cabelo crespo: reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural?

chamada

Andréia da Cruz Oliveira

1. A Escola

“Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar,
é também criar laços de amizade,
é criar ambiente de camaradagem,
é conviver, é se ‘amarrar nela’!
Ora, é lógico…
Numa escola assim vai ser fácil
estudar, trabalhar, crescer,
fazer amigos, educar-se,
ser feliz.”.
Paulo Freire

Para Gomes (2002), a escola é uma instituição formadora de saberes sociais, escolares e culturais. O processo de construção da identidade social é profundamente marcado pela cultura escolar, por este motivo, muitos estudiosos vêm se debruçando sobre este assunto no intuito de compreender como a escola se constitui num espaço importante na construção do complexo processo de humanização. O interesse de alguns educadores nas relações raciais articulados à cultura e educação é crescente. Muitos temas como: a representação do negro nos livros didáticos, o silêncio das questões raciais, etc. antes ignorados, começam a fazer parte da produção teórica educacional. Uma das formas de compreender as relações raciais e sua ligação com o universo simbólico, seria através de um olhar mais amplo sobre a educação no processo de humanização, sem esquecer dos processos educativos não escolares.
A autora propõe um caminho para poder captar as impressões e representações do negro sobre o próprio corpo articulados com as experiências escolares: através do desenvolvimento de uma escuta atenta pelos educadores à fala dos negros sobre suas vivências corpóreas dentro e fora da escola. Este enfoque corrobora com os achados da sua tese de Doutorado: Corpo e cabelo com ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte. (Gomes, 2002), por meio de 28 entrevistas com mulheres e homens negros, verificou-se no discurso de todos os participantes a importância da trajetória escolar na construção da identidade negra, reforços dos estereótipos e representação negativa sobre este grupo étnico/racial e do seu padrão estético.

2. O Corpo
O corpo é um dos meios de comunicação do homem na sociedade. É constituído biologicamente e simbolicamente na história e na cultura. Ao corpo são aplicados os fundamentos da vida social, diferentes crenças e sentimentos. Ele seria uma junção da natureza (a fome, o sono, a fadiga, o sexo, etc.) e do mundo das representações (a cultura) coexistindo de maneira simultânea e separada. As motivações orgânicas que se fazem presente em todos os seres humanos são ressignificados, inibidos ou exaltados pela cultura.
Para a autora, o processo de escravização dos africanos no Brasil, remete a coisificação e materialização do corpo negro nas relações sociais. O negro era visto pelos brancos como mero objeto, inclusive existiam leis que regulamentavam os senhores como proprietários dos escravos que poderiam aplicar “medidas disciplinares”: abusos sexuais e castigos corporais naqueles que não aceitavam tal imposição. Trata-los como mercadorias: comprar, vender ou trocar. E a sua liberdade oficial estava atrelada à carta de alforria.
A relação histórica do escravo com o corpo expressava as formas de rebelião, resistência e luta pela liberdade. Através da dança, dos cultos, dos penteados, no uso de ervas medicinais na cura e na cicatrização das feridas provocada pelos castigos e açoites foram maneiras específicas e libertadoras de trabalhar o corpo, ao contrário da idéia difundida da nossa sociedade do escravo submisso. O regime escravista cristalizou a forma do corpo negro ser visto e tratado, as diferenças fenotipicas entre negros escravizados e os brancos colonizadores serviram de argumento para a formação de um padrão de beleza e fealdade que perdura até hoje.
Através dessas reflexões Gomes (2000) se questiona: “Será que as escolas têm dado uma outra leitura a essa relação? Ou as crianças negras e brancas, quando estudam a questão racial, ainda participam da representação do corpo negro apenas como um corpo açoitado e acorrentado?”. O olhar do corpo negro nas escolas é fundamental para entender como os professores e alunos lidam com a cor da pele e o cabelo, dois elementos construídos na sociedade brasileira como definidores do pertencimento étnico/racial. A trajetória escolar tem um importante papel na formação da identidade negra, muitas vezes o discurso pedagógico, ao privilegiar a questão racial, pode reproduzi-lo de forma estereotipada e preconceituosa.

3. O Cabelo Crespo


“Respeitem meus cabelos, branco
Se eu quero pixaim, deixa;
Se eu quero enrolar, deixa;
Se eu quero colorir, deixa;
Se eu quero assanhar, deixa;
Deixa, deixa a madeixa balançar”
Chico César

O negro vivência sua experiência com o cabelo a partir da infância. As meninas, por exemplo, desde muito cedo são submetidas a rituais de manipulação do cabelo e geralmente a primeira técnica utilizada é a trança, mas nem sempre estas meninas elegem as tranças como penteado preferido. Este pode ser um dos motivos de algumas mulheres negras adultas adotarem alisamentos com produtos químicos ou com pente e ferro quente, pois a sensação de ter os cabelos desembaraçados sem sofrer com as pressões do pente e puxões é visto com alívio.
Na África as tranças também são utilizadas, contudo seu significado foi alterado ao chegar ao Brasil. Algumas famílias utilizam as tranças com o intuito de quebrar o estereótipo do negro sujo e despenteado, porém outras famílias o fazem como uma prática cultural. É notável a variedade de tranças e adereços coloridos nas crianças negras, diferentemente das técnicas utilizadas nos cabelos de crianças brancas. Quando adultas muitas mulheres negras reconciliam-se com as tranças, mas dessa vez estilizadas. Isto expressa a existência do estilo negro de pentear-se e adorna-se, configurando-se em uma estreita relação entre o cabelo e a identidade negra.
O processo de manipulação dos cabelos para os negros brasileiros é bastante conflituoso, neste momento crítico não é rara a expressão de sentimentos de rejeição, aceitação, ressignificação ou negação do pertencimento étnico/racial. É possível imaginar como o negro ou a negra podem representar simbolicamente o seu cabelo crespo em uma sociedade predominantemente racista, influenciada pela ditadura da beleza euro-americana que atua diretamente no comportamento individual. Na escola, por ser um espaço público, estas representações podem reforçar estereótipos e intensificar as experiências do negro com seu cabelo e o corpo.

4. O Negro na Escola
A escola estabelece padrões curriculares, de conhecimento, comportamento e de estética. É preciso pertencer a um padrão uniforme. Mais uma vez é exigido do aluno o cuidado com a aparência, sendo que por trás de um teor higienista podemos encontrar discursos com conteúdos racistas implícitos. Uma dessas exigências é “arrumar o cabelo”, sendo que esta é passada de forma distorcida para as famílias negras. Mesmo penteando os cabelos de seus filhos, estas crianças são alvos de apelidos pejorativos e piadas no ambiente escolar. Esses apelidos marcam a trajetória escolar e geralmente são as primeiras experiências de rejeição pública do corpo, pois o cabelo crespo é símbolo de inferioridade. “Uma coisa é nascer negra, ter cabelo crespo e viver dentro da comunidade negra; outra coisa é ser criança negra, ter cabelo crespo e estar entre brancos” (Gomes, 2000 p. 45).
As estratégias de enfrentamento do negro contra o racismo é bastante particular e está intimamente ligada à construção da identidade, possibilidade de socialização e informação. Para compreender melhor o processo de construção da identidade negra no Brasil deve-se levar em consideração a história, a sociedade, a cultura e a subjetividade. A adolescência é um dos momentos chaves na construção dessa subjetividade, pois além da insatisfação com a imagem, comum entre muitos adolescentes, é acrescentado o aspecto racial. Durante a vida escolar, muitas experiências de rejeição ao cabelo ou a cor da pele podem levar a baixa auto-estima ou sensação de inferioridade, por isso a escola pode atuar como favorecedora na superação dos estereótipos negativos em relação aos negros ou na sua reprodução.
Embora homens e mulheres negras de diversas partes do mundo sejam culturalmente diferentes, existe algo que os une: a cor da pele, a mesma ancestralidade africana e a forma de manipular o cabelo é uma expressão cultural. Em muitas sociedades em que a questão racial é um dos aspectos estruturantes de poder, as significações negativas em relação ao corpo negro trazem grande impacto na vida social e subjetiva do negro. Neste ponto os movimentos negros de resistência lutam pela valorização da beleza negra, sem adotar aos padrões Europeus de estética, superando o preconceito e desocupando o lugar de inferioridade.

5. Conclusão
Através da leitura desse artigo, podemos identificar a importância da Escola na construção da identidade do negro. Para o negro a ida a escola pode significar um choque inter-étnico, pois muitas vezes é na escola que se têm o primeiro contato com pessoas de outras etnias e classes sociais. É neste momento que educadores precisam ter uma escuta mais atenta em relação à fala do negro (antes ignorada!), além disso, promover uma discussão mais ampla e adequada sobre a participação do negro na história. Os livros didáticos evidenciam a coisificação do corpo negro, apenas como mera mercadoria. A participação efetiva do negro na luta pelo fim da escravidão e o cuidado com o corpo, expressada através das danças, dos penteados, etc. não são citados, a escola precisa rever e alterar esse tipo de leitura o quanto antes.
A cor da pele e o cabelo são, no Brasil, as principais fontes de classificação étnica/racial. Mesmo vivendo em uma sociedade marcada pelas relações sociais de poder baseadas na cor da pele, a identidade negra através da utilização de técnicas de manipulação dos cabelos, por meio de tranças e adereços, podem levar a construção de uma identidade negra positiva. Fica evidente a estreita relação do corpo e do cabelo ao pertencimento racial. A escola possui a função de desconstruir a inferioridade simbólica do negro na sociedade, a criança e o adolescente passam o maior tempo da vida no ambiente escolar, saindo do núcleo familiar e passando a ocupar um papel social. Por isso não se deve mais silenciar as questões raciais na escola, é exatamente lá que precisa ser discutido, que precisa ser falado. Assim o estudo sobre a representação do corpo negro possibilitará a construção de estratégias pedagógicas que possam compreender o valor do corpo negro na construção da identidade negra e na formação dos futuros cidadãos da sociedade brasileira.

6. Referência
Gomes, N.L. Trajetórias escolares, corpo negro e cabelo crespo: reprodução de estereótipos ou ressignificação cultural?.Revista Brasileira de Educação. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, São Paulo, 2000.

Notícia do dia: perseguir a los políticos que alimentan el odio racial

Notícia publicada no El País relata a história de um acampamento cigano, localizado na cidade italiana de Nápoles,  atacado, incendiado e reduzido a cinzas pela Camorra. Clique aqui para ler a notícia.

Estereótipos e música: o retrato de um playboy

Contribuição: Rafael Oliveira

Biblioteca: inclusão de conteúdo

Acrescentado à biblioteca o artigo Flutuações e diferenças de género no desenvolvimento da orientação sexual: Perspectivas teóricas, de Joana Almeida e Ana Alexandra Carvalheira

Stop Discrimination

Contribuição: Camila Leão

Fonte: http://www.stop-discrimination.info/

Notícia do dia: ataques racistas no Canadá

Reportagem publicada no London Free Press, de Ontário, Canadá, admoesta sobre a aumento na quantidade de ataques racistas contra pescadores canadenses de origem asiática nas imediações de Toronto. Clique aqui para ler a matéria.

Tipos e figuras: onde é isto? fica no meio do caminho?