Estereótipos, gênero e esporte: um erro sem maiores conseqüências!

Dancas ciganas

Placas e cartazes: cada um no seu quadrado

Fonte: Time

Estereótipos e música: O resto do mundo

Contribuição: André Faro

Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
O meu sonho é morar numa favela
Eu me chamo de excluido como alguém me chamou
Mas pode me chamar do que quiser seu dotô
Eu num tenho nome
Eu num tenho identidade
Eu num tenho nem certeza se eu sou gente de verdade
Eu num tenho nada
Mas gostaria de ter
Aproveita seu dotô e dá um trocado pra eu comer…
Eu gostaria de ter um pingo de orgulho
Mas isso é impossivel pra quem come o entulho
Misturado com os ratos e com as baratas
E com o papel higiênico usado
Nas latas de lixo
Eu vivo como um bicho ou pior que isso

Eu sou o resto
O resto do mundo
Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou… Eu num sou ninguém

Eu tô com fome
Tenho que me alimentar
Eu posso num ter nome mas o estômago tá lá
Por isso eu tenho que ser cara-de-pau
Ou eu peço dinheiro ou fico aqui passando mal
Tenho que me rebaixar a esse ponto porque a necessidade é maiordo que a moral
Eu sou sujo eu sou feio eu sou anti-social
Eu num posso aparecer na foto do cartão postal
Porque pro rico e pro turista eu sou poluição
Sei que sou um brasileiro
Mas eu não sou cidadão
Eu não tenho dignidade ou um teto pra morar
E o meu banheiro é a rua
E sem papel pra me limpar
Honra?
Não tenho
Eu já nasci sem ela
E o meu sonho é morar numa favela
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
O meu sonho é morar numa favela
A minha vida é um pesadelo e eu não consigo acordar
E eu não tenho perspectivas de sair do lugar
A minha sina é suportar viver abaixo do chão
E ser um resto solitário esquecido na multidão

Eu sou o resto
O resto do mundo
Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o resto do mundo
Eu num sou ninguém
Eu num sou nada
Eu num sou gente
Eu sou o resto do mundo
u sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o resto
Eu num sou ninguém

Frustração
É o resumo do meu ser
Eu sou filho da miséria e o meu castigo é viver
Eu vejo gente nascendo com a vida ganha e eu não tenho umachance
Deus! Me diga por quê?
Eu sei que a maioria do Brasil é pobre
Mas eu num chego a ser pobre eu sou podre!
Um fracassado
Mas não fui eu que fracassei
Porque eu num pude tentar
Então que culpa eu terei
Quando eu me revoltar quebrar queimar matar
Não tenho nada a perder
Meu dia vai chegar
Será que vai chagar?
Mas por enquanto

Eu sou o resto
O resto do mundo
Eu sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o resto do mundo
Eu num sou ninguém
Eu num sou nada
Eu num sou gente
Eu sou o resto do mundo
u sou mendigo um indigente um indigesto um vagabundo
Eu sou o resto
Eu num sou ninguém

Eu num sou registrado
Eu num sou batizado
Eu num sou civilizado
Eu num sou filho do Senhor
Eu num sou computado
Eu num sou consultado
Eu num sou vacinado
Contribuinte eu num sou
Eu num sou comemorado
Eu num sou considerado
Eu num sou empregado
Eu num sou consumidor
Eu num sou amado
Eu num sou respeitado
Eu num sou perdoado
E também sou pecador
Eu num sou representado por ninguém
Eu num sou apresentado pra ninguém
Eu num sou convidado de ninguém
E eu num posso ser visitado por ninguém
Além da minha triste sobrevivência eu tento entender a razão daminha existência
Por quê que eu nasci?
Por quê tô aqui?
Um penetra no inferno sem lugar pra fugir
Vivo na solidão mas não tenho privacidade
E não conheço a sensação de ter um lar de verdade
Eu sei que eu não tenho ninguém pra dividir o barraco comigo
Mas eu queria morar numa favela amigo
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
Eu queria morar numa favela
O meu sonho é morar numa favela.

Notícia do dia: Estado crítico – vozes da guerra

Continua feroz a guerra entre as tropas do governo Joseph Kabila e os rebeldes tutsis chefiados por Laurent Nkunda na República Democrática do Congo. Clique aqui para assistir ao documentário sobre as vítimas deste conflito, em um website criado pela organização Médicos sem Fronteiras.

Artigo publicado: Clandestine migration

Título: Clandestine migration in Europe

Autor: Franck Düvell

Periódico: Social Science Information 2008;47 479-497

Resumo: clique aqui para obter

Isto é que é fair play!

Resenha: Effects of exposure to sex-stereotyped video game characters on tolerance of sexual harassment

Thiago Falcão

O artigo em questão se concentra em um ponto no qual, segundo os autores, a literatura que faz convergir o fenômeno dos videogames com os estudos em psicologia social se deparam com um vazio – com uma falta de pesquisas formais sobre a influência dessa nova mídia num “nicho” de violência em específico: a violência contra a mulher.
A pesquisa em questão, então, se concentra em encontrar uma relação entre as ações sexistas representadas nos jogos eletrônicos e dois tipos de atitude ligadas à violência contra as mulheres: julgamentos de assédio sexual e atitudes de tolerância à prática do estupro. De acordo com a revisão feita por Dill e seus colegas, os jogos eletrônicos configuram, hoje, a mídia de massa que mais sustenta os estereótipos relacionados a papéis sexuais: personagens hiper-masculinos e hostis e violência enaltecida fazem dupla com personagens femininos bonitos, de busto farto e tratados geralmente como objeto sexual.
“Adolescentes descreveram personagens femininos como sexualmente promíscuos, vestindo pouca roupa e como sendo magras, com seios fartos. Em contraste, eles viam tipicamente a figura masculina como fisicamente poderosa, com homens dominantes, violentos e cruéis” (DILL et al, 2008, p. 1, tradução livre).
Um ponto de argumentação bastante forte utilizado no artigo é o tratamento dado à figura feminina na série de jogos Grand Theft Auto (GTA). Segundo os autores, o jogo se utiliza de conteúdo depreciativo e lida com situações relacionadas ao sexo que envolvem violência e termos considerados inapropriados.
O escopo do artigo está relacionado à teoria dos Modelos Gerais de Agressão (ANDERSON et al, 2007), que descreve como estruturas de conhecimento relacionadas à agressão são formadas e como elas são ativadas em momentos posteriores. A proposta de Dill e de seus colegas é, então, a de que a exposição a estereótipos negativos de gênero em videogames vai contribuir para a formação de esquemas e scripts para as relações sociais entre homem e mulher.
Os autores se baseiam em algumas teorias que associam a imagem do homem moderno projetada pela mídia como ser dominador e agressivo (Teoria da Masculinidade Hegemônica, Connel 1987, Lull 2003; Teoria do Sexismo Ambivalente, Glick et al, 2004) para fazer assunções a cerca de certos comportamentos – como o caso de mitos relativos ao estupro, por exemplo – que seriam desencadeados – e inerentes – à essência de sociedades patriarcais.
Daí, fazendo uma ponte com outros estudos que relacionam a representação sexista em outras formas midiáticas à atitude violenta, Dill e seus colegas fazem uma ponte para com os videogames, adentrando um universo ainda, segundo os autores, não abordado na literatura em psicologia social.
Os autores então, se debruçaram sobre o seguinte problema: investigar o conteúdo sexista de títulos dos videogames (masculinidade agressiva, feminilidade transformada em objeto) em duas situações: (1) julgamento de assédio sexual e (2) atitudes de apoio a estupro. De posse de quatro hipóteses ([i] Exposição a imagens de conteúdo sexista em personagens de videogames vai resultar num maior grau de tolerância ao assédio sexual; [ii] Exposição a imagens de conteúdo sexista em personagens de videogames vai resultar em um aumento nas atitudes de tolerância ao estupro; [iii] A exposição percebida pelos participantes ao conteúdo dos jogos violentos vai se correlacionar negativamente com os julgamentos progressivos de assédio sexual; [iv] A exposição percebida pelos participantes ao conteúdo dos jogos violentos vai se correlacionar positivamente com as atitudes de tolerância ao estupro), Dill e seus colegas partiram para uma manipulação experimental na qual dois grupos viram duas seqüências independentes de imagens, uma contendo profissionais respeitáveis (grupo de controle) e outra contendo imagens estereotipadas provenientes de alguns jogos eletrônicos. Dill e seus colegas afirmam que, as imagens experimentais funcionam, além de como manipulação, como priming para todo o conteúdo sexista de videogames experimentado pela juventude americana.
Os resultados indicaram suporte para a primeira hipótese, ou seja, a exposição experimental ao conteúdo tendencioso alterou o julgamento sobre aspectos do assédio sexual, mas nenhuma confirmação foi encontrada para a segunda hipótese. Um ponto forte no estudo foi detectar que houve, numa exposição de curto tempo, uma tolerância alta para o assédio de homens velhos a mulheres mais novas (figura do professor e da aluna). Os autores alertam, contudo, para o fato de que modelos mais complexos não mostraram correlação entre videogames e violência num maior espaço de tempo (long term), mas que os estudos de short term associaram os fatos.
A leitura do artigo se faz muito positiva no que diz respeito a entender efeitos de longa exposição e curta exposição, e é um relato inédito de como se dá a relação entre representações estereotipadas no videogame e processos de cognição. O ponto mais positivo do artigo, contudo, está na legitimação do tratamento dos videogames enquanto mídia real, que pode provocar reações – tanto quanto qualquer outra mídia, mediante o tempo de exposição, ou outras variáveis, como envolvimento, temas, etc.

Fonte: Dill, K., Brown, B. e Collins, M. Effects of exposure to sex-stereotyped video game characters on tolerance of sexual harassment. Journal of Experimental Social Psychology 44 (2008). 1402-1408.

Foto do dia: uma poderosa máquina de guerra

Fonte: Life

Seminários abertos sobre Estereótipos, Preconceitos e Exclusão Social – Professor Wilson Senne