Judson Rocha Jr.
Vários estudos realizados com adultos têm mostrado que as expressões de racismo estão cada vez mais sutis, indiretas e menos negativas abertamente (Racismo ambivalente, Racismo simbólico, preconceito sutil, Racismo aversivo). Contudo, há uma carência de estudos que analisem as formas mais sutis e indiretas de racismo na infância. A tradicional explicação dada pelos psicólogos desenvolvimentistas cognitivos é que as crianças tornam-se menos preconceituosas após os sete anos de idade, graças a aquisição de novas estruturas cognitivas por parte da criança e pelo amadurecimento das já existentes (vale salientar que tais estudos analisam mais a expressão do preconceito – atitude – do que a discriminação e o racismo – comportamento) . Mas então isso não explicaria presença de atitudes preconceituosas nos adultos.
A pesquisa tem como objetivo demonstrar que, a partir de certa idade, as crianças não reduzem o a expressão do preconceito, mas esta apenas muda em certos contextos a expressão desse preconceito, tornando-se mais indiretas.
Uma explicação alternativa é a de que as crianças não deixariam de exprimir preconceito, mas, graças à interiorização das normas sociais dos adultos em relação à não discriminação aberta dos Negros ou de outras minorias estigmatizadas, se tornariam mais sutis ou veladas na expressão de seu racismo.
Realizaram-se então três estudos com o objetivo de verificar o efeito da idade na expressão das formas indiretas de racismo em crianças brancas. Os resultados então confirmaram a hipótese das autoras: o responsável direto pela mudança no modo de expressão do racismo – e não a sua eliminação – parece ser o processo de interiorização de normas sociais e a capacidade de geri-las em função dos contextos, processos e capacidades já presentes nas crianças mais velhas – a partir dos oito anos – como demonstrado em um dos estudos.
Referência: França, D. e Monteiro, B. A expressão das formas indirectas de racismo na infância. Análise Psicológica, 22, 4, 705-720, 2004