Resenha: Victoria’s Dirty Secret: how sociocultural norms influence adolescent girls and women

Vanessa Carvalho

O artigo teve base numa pesquisa realizada por Erin J. Strahan e Anne E. Wilson da Universidade Wilfrid Laurier, Adéle Lafrance da Universidade de Toronto, Nicole Ethler, Steven J. Spencer e Mark P. Zanna da Universidade de Waterloo. O intuito foi de estudar as influências das normas socioculturais para mulheres adolescentes e adultas, tendo como foco de interesse os padrões de beleza.
Os autores iniciam o texto fazendo um levantamento de algumas pesquisas envolvendo o tema. Dentre dados obtidos em estudos anteriores é dito que a insatisfação das mulheres com seu corpo é conseqüência das normas socioculturais de aparência ideal. Essas normas trariam a noção de que a valorização da mulher estaria atrelada a sua aparência física.
No primeiro tópico “Papel das mensagens da mídia na imagem corporal das mulheres”, Strahan et al. tratam da influência da mídia na divulgação dos quase inatingíveis padrões de beleza e peso ideais o que vem gerando diversas críticas. Citando, Hofschire e Greenberg (2002), os autores mostram que as imagens expostas pela mídia estão negativamente relacionadas a satisfação com o próprio corpo e diretamente ligadas com a internalização de corpo ideal. Apesar de muitas pesquisas trazerem essas evidências, os autores também apontam que outros pesquisadores têm opiniões opostas. São destacados como riscos da influencia da mídia: aparecimento de distúrbios alimentares e comparação a padrões irreais.
Strahan et al. se voltam para a proposição de que as normas socioculturais podem afetar a auto-imagem das mulheres pelo aumento do nível no qual baseiam sua auto-estima em aparência física. Reforçando a relevância desse estudo, é feita uma referência a Crocker (2002) que considera arriscado quando a auto-valorização se baseia em contingências externas, porque gera busca por aprovação dos outros.
Os autores apresentam como uma peculiaridade de seu estudo, a investigação de uma contingência externa específica para auto-valorização: a aparência física. Eles propõem que normas socioculturais de aparência levam as mulheres a crer que seu valor depende de sua aparência.
Segundo Strahan et al. a modelo criado para a pesquisa se baseou em estudos anteriores que demonstraram que imagens refletindo padrões de beleza, comumente levam as mulheres a sentir-se insatisfeitas com seu corpo. Eles fazem uma interessante referência a Fredrickson e Roberts (1987) que afirmaram que as mulheres aprendem socialmente que seu valor se deve à aparência física, dando importância à perspectiva de uma terceira pessoa. A partir dessa base teórica, a hipótese de Strahan et al. é de que as imagens da mídia refletindo normas socioculturais de aparência, podem gerar nas mulheres a preocupação se estão suficientemente magras ou atraentes aos olhos de outras pessoas. Outra justificativa dada pelos autores para a relevância de estudos como este é que se confirmadas as hipóteses, o fato pode representar arriscadas implicações para as mulheres.
O processo da pesquisa, segundo apresentado pelos autores, foi dividido em duas etapas principais: “Estudo 1” e “Estudo 2”. Durante o “Estudo 1”, Strahan et al. apontam como objetivo, realizar o exame do impacto que a apresentação de imagens com padrões típicos de aparência ideal poderiam gerar com relação a satisfação das mulheres quanto a seu corpo, bem como quanto a sua preocupação com a percepção dos outros. De acordo com os autores, a pesquisa teve foco nas mulheres por considerá-las mais susceptíveis aos efeitos negativos dos padrões de beleza.
Ao descrever o método utilizado, os pesquisadores reataram que o verdadeiro objetivo da pesquisa era ocultado com o pedido de que os participantes tentassem lembrar ao máximo possível os detalhes das imagens exibidas. Essa estratégia parece válida considerando que permite evitar a interferência de algumas variáveis. Além disso, é um meio de garantir a atenção dos participantes.
Conforme apresentado no artigo, foram escolhidas como participantes apenas mulheres da graduação de psicologia. Estas foram distribuídas entre grupo experimental e grupo controle. Na condição controle, foram exibidos comerciais neutros e que não continham pessoas, seguindo o modelo de pesquisas anteriores. Por sua vez, na condição experimental, foram mostrados comerciais neutros intercalados com comerciais que segundo autores, apresentavam normas socioculturais relacionadas a aparência. Um deles se relaciona com o título do texto e consiste numa peça publicitária da grife de lingeries Victoria’s Secret. Após assistir aos comerciais, as participantes eram informadas de que haveria um intervalo antes de testar sua memória. Neste intervalo, é que ocorria a verdadeira coleta de dados por meio de questionários.
No artigo, os resultados foram agrupados em “Aparência como base para auto-valorização”, “Satisfação com o corpo” e “Preocupação com a percepção dos outros”. De acordo com relato de Strahan et al. os resultados corroboraram com sua hipótese, porque as participantes do grupo experimental basearam mais sua auto-estima na aparência que aquelas do grupo controle. Eles também apontam que um teste sobre a influência para outras dimensões da auto-valorização (além da aparência), mostrou que outros fatores como desempenho acadêmico e apoio familiar não foram afetados, embora o domínio “aprovação dos outros” o tenha. Com relação a essa observação dos autores, é importante lembrar a particularidades de cada situação e sujeito, pois questões relacionadas a baixa auto-estima quanto a aparência, em alguns casos podem ter proporções a ponto de interferir em outras dimensões da valorização pessoal.
A respeito da “satisfação com o corpo”, os autores também apresentam um resultado conforme esperado, porque as participantes do grupo experimental demonstraram menos satisfação com seu corpo. Além disso, também foi mais saliente nesse grupo a preocupação com a opinião dos outros. Sendo assim, pode-se dizer que o resultado geral, foi consistente com as formulações prévias dos pesquisadores, a partir da observação de que a auto-valorização estava mais relacionada a aparência quando normas socioculturais estavam em destaque.
A segunda etapa do estudo, “Estudo 2”, foi realizada com estudantes de escolas públicas. Neste caso, os autores apresentaram como objetivo, a investigação da possibilidade de reduzir os impactos da veiculação de padrões de beleza, por meio de uma intervenção nesse intento. A partir dessa intervenção, Strahan et al. esperavam que os participantes se sentissem desafiados a reduzir legitimidade das normas socioculturais de aparência, contestando a idéia de que seguir esses padrões traria aceitação social.
Durante essa etapa, os pesquisadores relatam ter utilizado como participantes homens e mulheres adolescentes, sem deixar muito claro o motivo para a mudança de perfil comparando-se com as participantes do “Estudo 1”, principalmente no que diz respeito a mudança de faixa etária e inclusão dos homens (no “estudo 1” apresentados como dispensáveis para essa pesquisa). Não se sabe até que ponto, essa mudança pode ter interferido nos resultados.
A descrição do método demonstra que neste caso, também houve tentativa de ocultar os objetivos da pesquisa. Na condição de controle, a intervenção se voltava para questões de incentivo ao voluntariado. Na condição experimental, era esperado que a intervenção levasse os participantes a se basear menos na aparência em sua auto-avaliação, além de que se mostrassem mais satisfeitos com seu corpo e menos preocupação com a percepção dos outros.
Segundo Strahan et al., a intervenção foi formulada em duas etapas: “sessão 1” e “sessão 2”. Durante a “sessão 1” foi realizada um discussão sobre o ideal de beleza para homens e mulheres, nesta discussão os facilitadores apresentavam exemplos e enfatizavam o quanto certos padrões são irreais, além dos riscos que a tentativa de atingi-los pode significar. Na “sessão 2”, os participantes eram estimulados aplicar os conhecimentos expostos e incitados ao debate sobre o tema. É importante considerar que a eficiência desse formato de intervenção depende da predisposição e perfil de cada um, mas de um modo geral, parece ter sido bem formulado.
Os autores apontam que o teste dos efeitos da intervenção foi feito uma semana depois. Esse procedimento por um lado permite avaliar a consistência da intervenção, mas talvez possa reduzir a garantia da correlação com dados obtidos. Durante essa etapa da pesquisa Strahan et al., relatam que aos participantes era dito que iriam avaliar campanhas publicitárias, utilizando modelos. Os resultados esperados a partir dos instrumentos eram: rejeição às normas socioculturais de aparência e menos internalização da forma física ideal.
Como resultados do grupo experimental, os autores apontam que homens e mulheres pareceram rejeitar mais a legitimidade dos padrões de beleza em comparação com os participantes do grupo controle.
Sobre a investigação da “aparência como base para auto-valorização”, Strahan et al. relevam que era esperado na condição experimental, que os participantes utilizassem menos a aparência como base de sua valorização. Os resultados foram de acordo com essa hipótese para as mulheres, embora os garotos pareçam não ter sido afetados pela intervenção. No entanto, os autores lembram que no grupo controle a comparação entre homens e mulheres, mostrou que as garotas baseavam mais sua auto-estima em aparência que os garotos.
Com relação a “satisfação com o corpo”, a hipótese formulada pelos pesquisadores era de que os participantes se apresentariam mais satisfeitos com seu corpo na condição experimental e que esse resultado seria mais saliente para as garotas. Novamente, o apresentado coincidia com o esperado e os garotos demonstravam ter sido menos afetados pela intervenção.
As expectativas dos autores sobre “preocupação com a percepção dos outros” seguiam raciocínio semelhante aos itens anteriores. Deste modo, foi relatado por eles que o esperado era que os participantes, principalmente as mulheres, na condição experimental demonstrariam menos preocupação com a opinião dos outros. Neste caso, a hipótese sobre as garotas também foi corroborada pelos resultados e entre os garotos não houve diferença significativa entre o grupo experimental e o grupo controle.
De modo geral, a partir do exposto por Strahan et al., comparando os resultados entre homens e mulheres do grupo controle foi observado que os garotos aceitavam menos as normas socioculturais de beleza. Esse dado é apresentado como justificativa para o fato da intervenção não ter gerado resultados significativos para os homens. Segundo autores, a intervenção pode não ter afetado os garotos pelo fato destes, serem mais imunes as normas socioculturais. Entretanto, é válido flexibilizar as causas dos resultados, pois conforme afirmado pelos próprios autores podem haver inúmeras outras explicações, inclusive de que o modelo utilizado não se adequou a participantes masculinos.
Ao realizar um auto-questionamento sobre a aplicabilidade dos resultados, Strahan et al. reconhecem que a depender de características particulares nem todas as mulheres reagem da mesma forma a exposição de padrões socioculturais de aparência física. A proposta é de que ainda assim, a maioria das mulheres legitimam os padrões de aparência ideal. Esse elemento, pode estar relacionado ao fato já citado pela referência a Fredrickson e Roberts (1987) de que as mulheres são socializadas aprendendo que devem buscar a adequação aos padrões de beleza. Além disso, ocorre a ainda vigente percepção da mulher como objeto sexual que desconsidera fatores como carreira e inteligência como atributos valoráveis.
A partir dos resultados obtidos, os autores apontam possíveis implicações para as mulheres. Dentre elas, é afirmado que a exposição a mensagens de normas de beleza podem levar as mulheres a basear mais sua auto-estima em aparência e como a maioria não se encaixa nos padrões, a tendência é que se auto-avaliem negativamente. Citando Crocker (2002), os autores reforçam os riscos para o bem-estar, além dos comportamentos auto-destrutivos que podem ser adotados por conta desses padrões.
Strahan et al. ressaltam que poucas opções são deixadas as mulheres porque se não se submetem aos riscos de tentar seguir os padrões, por outro lado, correm o risco da rejeição social. Os autores concluem o artigo, afirmando que embora os resultados do “Estudo 1”, apontem a tendência feminina a se auto-valorizar pela aparência e legitimar normas socioculturais de beleza, após a exposição a imagens que apresentam tais padrões, ainda pode haver esperança. Essa seria justificada pelos resultados do “Estudo 2” que mostram que um trabalho de intervenção pode trazer mudanças de comportamento.

Conclusão

Os resultados apresentados nesta e em pesquisas anteriores reforçam a necessidade de contestação da veiculação de peças publicitárias, dentre outros veículos da mídia, que refletem normas socioculturais de aparência física. Mostra-se necessário que o próprio consumidor pressione uma mudança de postura da indústria.
Vale ressaltar que algumas empresas começam a utilizar-se da quebra de padrões como uma estratégia de marketing. Mesmo que se trate de mera estratégia para atrair simpatia dos consumidores, e não um valor real da empresa pode-se considerar que se tratam de iniciativas positivas. Os resultados especificamente do “Estudo 2”, mostram que é válido valer-se de campanhas utilizando contra-estereótipos no intuito de sensibilizar quanto as fantasiosas noções de padrões de beleza.

Referência: Strahan, E. J., Lafrance, A., Wilson, A. E., Ethler, N., Spencer, S. J. & Zanna, M. P. Victoria’s Dirty Secret: How Sociocultural Norms Influence Adolescent Girls and Women. Personality and Social Psychology Bulletin, 34, 288-301, 2008.

Artigo publicado: Reasoning about Foods

Título: Children’s Gender- and Ethnicity-based Reasoning about Foods

Autores: Virginia Lam and Patrick Leman

Periódico: Social Development, doi:10.1111/j.1467-9507.2008.00493.x

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Resenha: Representação social de crianças acerca do velho e do envelhecimento

Greice Santos

O estudo buscou descrever as representações sociais de dois grupos de crianças residentes em um dos bairros afastados do centro comercial da cidade de Janiru/SP.
A autora toma por base a teoria das representações sociais proposta por Serge Moscovici e cita estudos que as apresentam como norteadoras dos comportamentos dos indivíduos na sociedade.
Ela traz a idéia de que as representações sociais resultam tanto de circunstâncias materiais de cada sociedade quanto de seus sistemas de valores e crenças e que podem mudar de uma sociedade para outra e dentro de uma mesma sociedade através do tempo, auxiliadas muitas vezes pelas descobertas científicas que são divulgadas pela mídia e incorporadas pelo senso comum e que passam a integrá-las.
Os estudos apresentados evidenciam que as representações sociais do velho e do envelhecimento predominantes são formadas principalmente por aspectos negativos relacionados às perdas biológicas, de laços sociais e de desempenho no trabalho; acompanhadas dos aspectos positivos da sabedoria e da experiência, numa aparente compensação pelas perdas citadas. A autora destaca, no entanto, que coexistem em nossa sociedade diferentes imagens de velhos como, por exemplo, aqueles que procuram manter-se ativos e jovens, aproveitando a vida dentro de suas limitações; em oposição àqueles doentes, solitários, pobres e abandonados.
Segundo a autora, as representações sociais estruturam o mundo em que estamos inseridos e sua presença na vida dos indivíduos se faz desde a primeira infância. Sendo assim, elas seriam responsáveis pela forma como as crianças vêem o mundo e se posicionam nele com repercussões para toda a vida do indivíduo.
Os resultados do estudo apontaram uma diversidade de conteúdos aparentemente incoerentes nas representações que as crianças investigadas têm dos velhos e do envelhecimento. A autora atribuiu esse fato às diferentes fontes de informações que dispõe essas crianças, devido à realidade em que estão inseridas e sugere que, se essa heterogeneidade for reforçada, talvez essas crianças cresçam vendo o velho e o envelhecimento de formas menos preconceituosas e estereotipadas.
Ela destaca ainda que sua intenção nesse estudo não foi comparar as representações dos dois grupos de crianças mas sim descreve-las; e incentiva novos estudos nesse sentido, pois acredita que eles permitem obter pistas sobre o modo como os indivíduos atuam e se relacionam com os velhos e com sua própria velhice.
Referência: Lopes, E. e Park, M. Representação social de crianças acerca do velho e do envelhecimento. Estudos de psicologia (Natal), 12, 141-148, 2007

Tipos e figuras: susto do próprio susto

Artigo publicado: Children’s Biased Beliefs about the Stability of Traits

Título: Self-protective Optimism: Children’s Biased Beliefs about the Stability of Traits

Autores: Virginia Lam and Patrick Leman

Periódico: Social Development, doi:10.1111/j.1467-9507.2008.00494.x

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Tipos e figuras: Dança do ventre para a terceira idade

Contribuição: Greice Santos

Estereótipos e publicidade: propaganda sublimonada

Placas e cartazes: Basta esta altura para ir à guerra

Fonte: Lá fora. O site da Mídia Exterior

Notícia do dia: publicidade infantil fora do ar

O blog Diga não à erotização infantil reproduz matéria publicado no Diário do Nordeste sobre as dificuldades enfrentadas pelas indústrias que insistem em divulgar publicidade abusiva dirigida ao público infantil. Clique aqui para ler a matéria

Notícia do dia: o domínio televisivo permanece

Matéria publicada pelo website BizCommunity, da África do Sul, relata os resultados de uma pesquisa conduzidas em três continentes na qual se relata os hábitos de jovens frente à mídia. Clique aqui para ler a reportagem