Resenha – Investigações psicológicas no ciberespaço: O impacto do interesse, filiação grupal e conhecimento na adesão às crenças ufológicas.

Graciara Oliveira Silva

Nesse estudo, os autores apresentam uma breve introdução sobre o sistema de crenças, explicando que umas podem ser mais justificadas e, por isso, mais endossadas do que outras. Isso acontece quando a decisão de crer ou não crer é objeto de uma reflexão e crítica aprofundadas, diferente das crenças constitutivas do sujeito que crê, uma vez que a justificação não é tão importante.
Para adentrar nas crenças ufológicas, os autores pontuaram que a princípio nós não duvidamos que somos seres humanos com atributos que nos identificam como tal e diferenciam-nos dos demais seres vivos que se evoluíram no planeta Terra. Nessa perspectiva evolucionista que nos afasta do criacionismo, e também do antropocentrismo, os autores refletem:

Ao mesmo tempo em que temos certeza de que pertencemos a uma espécie que se desenvolveu no planeta Terra, consideramos como justificada a crença que o nosso pequeno planeta ocupa uma posição quase irrisória face à imensidão do universo. Seríamos, então, os únicos entes pensantes nesse imenso universo ou seria mais sensato supor que talvez em uns poucos dentre os milhões de astros celestes tivessem surgido formas de vida e civilizações diferentes das modalidades que conhecemos? (Pereira; Silva; Silva, 2006, p.376).

Nesse sentido, os autores afirmam que as crenças sobre a existência de extraterrestres e civilizações em outros planetas são plausíveis, porém, duvidosas por causa da falta de comprovação, visto que elas são justificadas por “argumentos construídos com base em evidências sobre a presença de objetos voadores não-identificados” (Idem, p.376). Em seguida, refletem mais:

As crenças se referem a entes reais ou elas fazem alusões apenas a potencialidades derivadas dos arrazoados desenvolvidos por mentes humanas? O que possibilita tantas pessoas acreditarem que tais seres existam, que são mais civilizados e nos visitam com freqüência? Por outro lado, como duvidar de que não somos únicos no universo, sem acreditar que eles se encontram entre nós? (Idem, p.376).

Segundo os autores, a justificação para as crenças ufológicas são construídas a partir de observações por meio de registros visuais e audiovisuais dos discos voadores. Por isso, o objetivo desse estudo foi o de “investigar as crenças a respeito de dois entes: extraterrestres e objetos voadores não-identificados” (Idem, p. 376)
Os autores afirmam que as crenças são sustentadas e compartilhadas muito mais pelo “endossamento subjetivo” do que pelo “estatuto epistemológico”e, por isso, a adesão ou o endosso geram repercussões em vários segmentos.
Nessa perspectiva de crenças compartilhadas, os autores optaram por ampliar o número de participantes da pesquisa para a coleta de dados através da internet. Eles defendem que há uma tendência cada vez mais fortalecida de pesquisas reais em ambientes virtuais. Destaco que muitos estudiosos questionam essa divisão entre o real e o virtual, e o conceito de virtualização do pensador francês Pierre Lévy em sua obra O Que é o Virtual (1996), promovendo uma abertura ainda maior para a práticas de tais pesquisas.
A partir do problema de pesquisa de “identificar as diferenças nos padrões de crenças compartilhadas por pessoas envolvidas ou não com grupos de pesquisas ufológicas sobre temas relacionados com a presença de extraterrestres e de objetos voadores não-identificados” (Idem, p.376), os autores conceituaram de uma forma geral as crenças, pontuaram sua importância na psicologia social e apresentaram suas hipóteses.
A primeira hipótese foi a de que o nível de conhecimento sobre os eventos ufológicos seria diretamente proporcional à adesão à crença. Em seguida, apresentaram hipóteses adicionais que desdobraram nas seguintes variáveis: interesse pelo assunto e filiação em grupos de estudo e pesquisa ufológica.
Em resumo, o instrumento de pesquisa utilizado abordou as seguintes categorias: 1) crenças sobre os extraterrestres e a humanidade; 2) crenças sobre as interferências dos extraterrestres no planeta Terra; 3) crenças sobre as relações entre extraterrestres e humanos; 4) crenças sobre os extraterrestres, a ciência e os cientistas; 5) crenças sobre os extraterrestres e as teorias conspiratórias. Segundo os autores, uma interpretação geral dos resultados sugere que:

[…] dentre as cinco modalidades de crenças consideradas, as relativas aos extraterrestres e a humanidade obtiveram um maior grau de adesão, seguida pelas crenças relativas aos extraterrestres, a ciência e aos cientistas. As crenças a respeito das interferências dos extraterrestres no planeta Terra obtiveram um baixo grau de adesão. Os resultados também sugerem que, globalmente, os participantes não aderem ou rejeitam as suposições relativas às teorias conspiratórias ou às crenças acerca das relações entre extraterrestres e humanos (Idem, p. 379).

Os resultados desse estudo apresentaram padrões diferenciados de adesão às crenças. Foi verificado que a primeira hipótese era verdadeira. Porém, “o interesse pelo assunto e, em menor grau, a filiação aos grupos de pesquisa ufológicos, exerceram uma influência mais significativa na adesão às crenças ufológicas que o grau de conhecimento” (Idem, p. 383). Por fim, concluiram que os resultados desse estudo apontam para a possibilidade de “desenvolver modelos preditivos a respeito do grau de adesão às crenças ufológicas” (Idem, p.383) e de continuação em outro estudo.

Pereira, M. E. ; Silva, J. e Silva, P. Investigações psicológicas no ciberespaço: O impacto do interesse, filiação grupal e conhecimento na adesão às crenças ufológicas. Interação (Curitiba), 10, 375-384, 2006.

Resenha: A imagem das enfermeiras frente aos estereótipos: uma revisão bibliográfica

Cecília Spínla


As autoras iniciam o texto explicitando a relevância dos profissionais de enfermagem manterem uma comunicação eficiente com os pacientes, mas revela que esta é dificultada pelo estereótipo da profissão que faz com que os pacientes possuam preconceitos com os profissionais.

As autoras afirmam que a profissão sofre estereótipo com relação ao gênero e explica que este sofre contribuição da tradição judaico-cristã que define uma dominação do homem sobre a mulher. Corrobora com este fato o papel da mulher na idade Média que era responsável por atividades de menor complexidade. Nesta ocasião o cuidar médico era reservado aos homens e ás mulheres restava o cuidado e a manutenção da higiene dos doentes e da ordem do ambiente, trabalho considerado sujo para os médicos que na sua maioria eram de famílias abastadas.

O texto identifica também o preconceito social que reserva aos profissionais da área o estigma de indivíduos que não tiveram uma melhor oportunidade de formação profissional.

Segundo o texto, o trabalho de enfermagem foi por muito tempo desenvolvido por mulheres religiosas que se dedicavam aos doentes, realidade que durou até o início do século XVI, quando ocorreu a revolta Luterana e a ascenção do anglicanismo.

Com a queda do catolicismo e a expulsão das religiosas dos hospitais, a Enfermagem, sem mão-de-obra qualificada, passou a ser exercida por mulheres de moral duvidosa que eram submetidas a péssimas condições de trabalho.

É neste cenário que se constrói a imagem da profissão. Doentes que preferem tratar-se em casa para não sofrerem maus tratos, comerem péssimas comidas ou terem que ceder a suborno por parte dos “profissionais” de Enfermagem.

Outro estereótipos relacionando a profissão diz respeito a desvalorização do serviço prestado e a visão da enfermagem como mão de obra barata. Essa visão, segundo Padilha (1998) advém da prática da Enfermagem no Brasil por religiosas, criando o entendimento de que esta prática deveria ser prestados apenas pelo amor de Deus e que a remuneração a esses serviços constituiria-se em ato impuro e mercenário.

É discutido pelas autoras também o papel da mídia na formação da imagem do profissional de Enfermagem. Para as autoras este veículo dissemina a idéia da Enfermeira como símbolo sexual, prejudicando ainda mais a desmistificação desses falsos conceitos perante a da sociedade.

Encontramos também no texto uma reflexão sobre o estereótipo de submissão no âmbito de valor da profissão da Enfermagem com relação a Medicina, o que advém de uma tradição militar que prezava pelo treinamento da enfermeira para agir com fiel observância às ordens médica e atenta ás relações de autoridade.

Com os dados acima apresentados podemos entender o preconceito que sofre a profissão de enfermagem e compreender o porque das autoras do texto trazerem neste artigo a preocupação com a capacidade de escuta e confiança do paciente/doente com esses profissionais. Tendo em vista que as relações estabelecidas sofrem influência de todos os estereótipos acima citados, que são muitas vezes reforçados pela nossa sociedade atual, é esperado que estes profissionais sofram o estigma de inferiores e menos competentes e com isso encontrem dificuldade de ascender profissional e socialmente.

Reforçando esses preconceitos, a nossa sociedade atual tende a reconhecer no médico o único profissional capaz de atender integralmente no âmbito da saúde, ficando todos os demais profissionais a cargo de implementar as ações descritas. Exemplo claro temos na Lei do Ato Médico que busca legitimar a soberania deste profissional em detrimento às outras profissões da área de saúde.

Perde-se com isso a noção da relevância do serviço de enfermagem, que atua no ambiente hospitalar cuidando da evolução dos pacientes, supervisionando e controlando rotinas e suportando os serviços médicos e multidisciplinares dispensados aos pacientes.

As autoras concluem que o combate a este preconceito formado sobre a profissão de Enfermagem pode ser feito primeiramente através da identificação e conhecimento destes na população e posteriormente com a criação de estratégias de enfrentamento e divulgação da verdadeira profissão, revertendo assim ao profissional, a valorização da sociedade pelo
seu trabalho.

Referência: Santos, C. e Luchesi, L. A imagem das enfermeiras frente aos estereótipos: uma revisão bibliográfica.Proceedings of the Brazilian Nursing Communication Symposium, 2002, São Paulo, Brasil

Resenha: Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica

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Cecília Spínla

As autoras iniciam o texto incentivando uma reflexão sobre estereótipos e trazem alguns conceitos que clarificam o tema para os leitores. Entendido por Ayesteran e Pãez (1987) como “uma representação social sobre os traços típicos de um grupo, categoria ou classe social”, atualmente os estereótipos mais estudados são os étnicos, sendo também muito presente em nosso convívio social os estereótipos de gênero, profissão, classe social e o de ciclo de vida, objeto deste artigo.

As autoras alertam para a complexidade da literatura sobre o tema já que se trata de um “conceito multiunívoco – constructo categorial, generalizador, estável e definidor de um grupo social”.

No caso dos idosos, preconceito oriundo do ciclo de vida do indivíduo, a autora defende que este se caracteriza como uma representação social da gerontofobia, que se define como o “processo de estereotipia e de discriminação sistemática, contra as pessoas porque são velhas” (Staab e Hodges, 1998).

Neste processo se associam ao idoso conceitos e traços negativos associados à incapacidade, fraqueza e inutilidade, percepções pejorativas do fenômeno de envelhecer.

Vale ressaltar que o estereótipo sofre influência direta do contexto cultural em que está inserido, e na nossa atual sociedade vemos reforçado a visão da “velhice como uma doença incurável, como um declínio inevitável, que está votado ao fracasso”.

As autoras apresentam no artigo um estudo realizado na Université de Montreal por Champagne e Frennet que identifica catorze estereótipos mais frequentes em idosos, são eles:

* Os idosos não são sociáveis e não gostam de se reunir;
* Divertem-se e gostam de rir;
* Temem o futuro;
* Gostam de jogar às cartas e outros jogos;
* Gostam de conversar e contar as suas recordações;
* Gostam do apoio dos filhos;
* São pessoas doentes que tomam muita medicação;
* Fazem raciocínios senis;
* Não se preocupam com a sua aparência;
* São muito religiosos e praticantes;
* São muito sensíveis e inseguros;
* Não se interessam pela sexualidade;
* São frágeis para fazer exercício físico;
* São na grande maioria pobres.

A análise da pesquisa chama a atenção para a confusão de conceitos existentes que faz com que os pesquisados destaquem como características da velhice traços de personalidade e fatores socioeconômicos ao invés de características específicas do envelhecimento.

A partir deste ponto podemos refletir sobre a possível existência de mitos sobre o envelhecimento que impedem o estabelecimento de contatos e conhecimento verdadeiros sobre os idosos.

E com base nessa análise a autora conclui o artigo alertando aos leitores a necessidade de atentarmos para os mitos e estereótipos criados sobre a velhice, pois eles estão muitas vezes ligados ao desconhecimento do processo de envelhecimento mas mesmo assim geram enorme sofrimento nos idosos e influenciam fortemente na nossa interação com os idosos.

Referência: Martins, R. M. e Rodrigues, M. L. Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica. Millenium. Revista do ISPV, 29, 249-254, 2004

Resenha: Aparência física e amizade íntima na adolescência: Estudo num contexto pré-universitário

Apohena Noroya

O artigo se configura como uma pesquisa que aborda a associação entre a percepção sobre a aparência física e a amizade intima, considerando-os como um fator de importante valor preditivo no desenvolvimento psicossocial de adolescentes. Na introdução o autor caracteriza intimidade como uma relação emocional marcada pela concessão mútua de bem-estar, pelo consentimento explicito para revelação dos assuntos privados, podendo envolver a esfera dos sentidos e pela partilha de interesses e atividades em comum, favorecendo o crescimento e a auto-revelação do adolescente.
Segundo o autor, alguns estudos estabelecem que o conceito de intimidade/amizade intima na adolescência e pré-adolescência, pode ser estruturado em oito dimensões: sinceridade e espontaneidade; sensibilidade e conhecimento; vinculação; exclusividade; dádiva e partilha; imposição;atividades comuns; confiança e lealdade. Sendo que a intimidade deve ser avaliada numa esfera dual, onde se conhece a si mesmo e ao outro ao mesmo tempo. O conceito de intimidade corporal passa primeiro pela percepção que se tem de si próprio, o auto-conceito, que pode ser positivo ou negativo e a depender de como os adolescentes vêem o próprio corpo isso vai ser determinante para sua relação com o outro, pois o corpo físico e aparência são o meio por excelência de acesso ao mundo e a toda experiência de vida.
Na adolescência emergem as verdadeiras relações de amizade baseadas na intimidade e o favorecimento de novas formas protegidas de intimidade através das redes sociais da internet favorece a propagação da amizade entre eles. Junto a outros adolescentes eles se sentem mais seguros para compartilhar interesse, valores, credos atitudes sem o medo de se sentirem julgados. Outro aspecto que o autor destaca como determinante nas mudanças dos relacionamentos íntimos entre adolescentes são os aspectos da puberdade e as transformações dos impulsos sexuais.
O auto-reconhecimento, o ser reconhecido pelo outro, construir, partilhar relações de intimidade e interagir socialmente constitui-se como um exercício de equilíbrio para o adolescente e as falhas deste equilíbrio podem determinar falhas na construção da identidade e isolamento social no futuro. Existem ainda segundo o autor, diferenças de gênero na forma pela qual meninas e meninos lidam com estas experiências, ocorrendo segundo alguns autores uma maior destreza entre as meninas no estabelecimento de relações com base na intimidade e no entendimento interpessoal.
Para analisar a relação entre a percepção sobre a aparência física e as relações de amizade intima na adolescência, o autor optou por realizar uma pesquisa com alunos pré-universitários de duas Escolas Secundárias de Portugal entre alunos do sexo feminino e masculino. Foi utilizado um questionário contendo as: Escala de Amizade Intima, Escala de Percepção de Auto-conceito(adaptada para a população portuguesa) e Notação Social Familiar – Graffar Adaptado que investiga o nível socioeconômico, além de dados de identificação sobre os adolescentes.
Os resultados mostraram diferenças entre gêneros onde os valores de amizade intima são mais elevados no sexo feminino e os valores de percepção sobre a aparência física, mais elevados no sexo masculino, o que sugere uma valorização diferente, entre sexos, dos aspectos do auto-conceito físico e da amizade intima na adaptação social e pessoal de adolescentes. As meninas apresentam mais maturidade do que os meninos para lidar com uma relação de amizade intima, sendo que, entre os indivíduos do sexo feminino e do masculino existe uma predileção por amizades do sexo feminino por motivações diferentes, pois as meninas buscam pares aos quais se identificam e os meninos buscam o sexo oposto numa perspectiva de auto afirmação da sua masculinidade.
Os valores de percepção sobre a aparência física revelam-se mais influentes num baixo auto conceito feminino, acredita-se pela própria cobrança, muito maior entre os indivíduos do sexo feminino pela beleza física e a necessidade de ser aceita por pares de ambos os sexos.

Referência:
Cordeiro, Raul A. Aparência física e amizade intima na adolescência: Estudo num contexto pré-universitário. Análise Psicológica, 24, 3, 509-517, 2006.

Resenha: Imagens e estereótipos do Brasil em reportagens de correspondentes internacionais.

Zélia Fernandez

O artigo traz uma importante articulação entre a produção dos textos de correspondentes internacionais e os seus efeitos na manutenção dos estereótipos relacionados a imagem do Brasil no exterior. O artigo está dividido nas suas 15 páginas, em quatro partes : na primeira parte o artigo traz o resumo e uma introdução com uma revisão histórica das atividades de correspondências de notícia no Brasil e uma pequena revisão teórica sobre os estereótipos, na segunda parte ele apresenta sua metodologia de pesquisa descrevendo também seu referencial teórico para análise metodológica e que serve de referência para confirmação da sua hipótese de pesquisa. Na terceira parte o autor discute os seus resultados fazendo uma articulação rica entre o quanto a manutenção dos estereótipos é reforçada nessas produções jornalísticas, o papel do profissional nas suas escolhas e as repercussões sócio econômicas da manutenção desses estereótipos. E ao final, as referências bibliográficas.
O autor é I.Paganotti, jornalista freelancer formado pela Universidade de São Paulo, professor de Jornalismo do Colégio Stockler.

Na primeira parte do artigo o autor apresenta o resumo e os primeiros exemplos do tratamento que a imagem do Brasil recebe pela mídia e os instrumentos que serão utilizados para aprofundar o tema, assim como uma revisão histórica das impressões estrangeiras como fonte da identidade nacional.

Ele descreve como historicamente a imagem do Brasil foi sendo construída e a formação de uma idéia de Brasil a partir da perspectiva do olhar estrangeiro, mais especificamente da visão dos correspondentes internacionais, que ele chama dos novos jesuítas, que com seus relatos de viagem são responsáveis por levar as noticias do Brasil para fora.

As reportagens feitas por esses profissionais chega a casa dos milhares anualmente e portanto a construção de uma imagem brasileira, onde se reproduz muitos estereótipos não consegue estar fora da pauta. Nesse sentido são dois brasis que são normalmente descritos nesses relatos: o do paraíso e o do inferno.

O autor faz uma pequena revisão teórica do conceito de estereótipo, citando autores como Lippman e Maisonneuve. Segundo o autor é a partir dos estereótipos presentes nos muitos relatos dos estrangeiros sobre o Brasil, que vão se sustentar a imagem do pais lá fora e ajudar a construir o imaginário coletivo estrangeiro sobre o Brasil.

Na segunda parte do texto ao autor apresenta o método da sua pesquisa. Ele usou como fontes o The New York Times dos EUA, El Mundo da Espanha, Diário de Notícias de Portugal, The Guardian e The Observer da Inglaterra, Página/12 e El Clarín da Argentina.

Analisando 1244 textos e usando como referencial teórico para análise dos textos a análise crítica do discurso, definida por Fairclough como “o exame das conexões implícitas entre as características textuais e os processos sociais (Fairclough, 1997: 97)”, ele procurou aprofundar o quanto havia de reprodução ou transformação dos estereótipos. De acordo com Fairclough se pode utilizar uma estratégia mais normativa, reproduzindo uma idéia por meio da repetição ou mais criativa transformando pela contestação, discussão ou até mesmo negação “os pressupostos e estereótipos apresentados”. Segundo o teórico as manifestações criativas mantidas em longo prazo “podem também alterar permanentemente as próprias imagens, pressupostos ou estereótipos que a opinião pública tem sobre certos temas (idem, 1992: 165)”. O autor se preocupou em procurar detectar sinais de desconstrução da imagem estereotípica que os estrangeiros têm sobre o Brasil, nas suas narrativas.

Na terceira parte do texto o autor discute os seus resultados fazendo uma classificação muita rica dos relatos levantados em quatro grupos temáticos estereotipados. São eles: O Brasil “verde”: concentra-se na exaltação da beleza natural do país, o Brasil “de lama”: que foca a corrupção política, o subdesenvolvimento e a pobreza endêmica e freqüentemente inter-relacionados a o terceiro grupo temático, o Brasil “de sangue”: que é o Brasil da violência, incluindo o tráfico de drogas, que leva a um cenário de insegurança. E finalmente no quarto grupo o Brasil “de plástico”: que é um Brasil muito publicitário, “é a nação das festividades carnavalescas, da liberdade sexual (seja qual for a orientação), dos negócios, da alta sociedade e seus caprichos”.

No artigo há uma tabela onde as quatro categorias temáticas são apresentadas e a freqüência em que cada sub tipo relacionados a elas aparece. Uma conclusão muito interessante do autor é sobre a freqüência de estruturas representativas simplificadoras que aparecem em cada três reportagens, deixando claro que a repetição de estereótipos é mais comum do que a transformação. Uma categoria no entanto, chama mais a atenção como aquela que possui o maior percentual de transformação, com 88, 9% , é o da miscigenação, superando o mito da democracia racial. No entanto a maioria ainda é o da reprodução de estereótipos, com uma predominância do Brasil “sangrento” nas ligações com o tráfico de drogas e em segundo lugar o Brasil “de lama” com grande repetições de estereótipos como a corrupção e a pobreza. Aqui o autor faz uma análise muito apropriada de como a escolha do vocabulário pode influenciar a representação e conseqüentemente pode colaborar com os processos de estereotipia onde se passa a idéia por exemplo de que: “é em meio à pobreza que cresce o banditismo”.

Os estereótipos oferecem uma possibilidade de ajuda aos correspondentes no sentido de dar a eles um caminho simplificador, onde eles possam apenas aprofundar, a sua narrativa.O problema apontado pelo é autor é a permanência ou insistência no uso de certas representações que não dizem respeito mais a realidade e que carece de questionamento e transformação, levando a um déjà vu de pré-conceitos e conceitos ideologicamente enviesados. O autor aponta ainda poucos esforços no sentido do que seria uma prática interessante, que a discussão sobre a utilização de estereótipos, tornando esse mecanismo mais consciente, tanto por parte do jornalista quanto do leitor.

A superação ao longo dos anos de uma narrativa transformadora da imagem de um Brasil exclusivamente sensual, festivo e exótico, portanto reducionista, para uma mais crítico, acabou criando novos estereótipos, onde se enfatiza demais certos aspectos negativos. Nesse ponto do artigo e para finalizar, o autor faz uma interessante articulação entre as repercussões ideológicas e sócio econômicas da utilização desses estereótipos. Ele coloca que a expressão desses estereótipos nas narrativas desses profissionais, os alterando ou os mantendo, tem o efeito de servir a interesses, seja intencionalmente ou não.

Referência: Paganotti, I. Imagens e estereótipos do Brasil em reportagens de correspondentes internacionais. RUMORES – Revista Online de Comunicação, Linguagem e Mídias 1, 1, 2007

Resenha: Teorias Implícitas e Essencialismo Psicológico – Ferramentas Conceituais Para o Estudo das Relações Entre e Dentro dos Grupos

Zélia Fernandez

O artigo traz um aprofundamento nas teorias implícitas e no essencialismo psicológico e o seu efeito nas relações intergrupais. Em doze páginas, os autores fazem uma revisão histórica dos conceitos, percorrendo as contribuições dos vários estudiosos dos temas. Eles não só conceituam mas também descrevem os tipos, as causas e conseqüências dos fenômenos. O artigo esta dividido em duas partes, sendo que cada uma com três tópicos: na primeira parte o artigo mostra uma revisão histórica das teorias implícitas e seu conceito, depois as funções e os tipos, na segunda parte com mais três tópicos, eles abordam o conceito de essencialismo psicológico, também apresentando a contribuição dos diversos autores sobre o tema, as causas e resumidamente seus efeitos. E ao final, as referências bibliográficas.
Os autores são Claudia Estrada Goic da Faculdade de Humanidades, Ciências Sociais e Ciências da Saúde, Miriam Oyarzún Jara da Direção de Assuntos Estudantis, ambas da Universidade de Magallanes no Chile e Vincent Yzerbyt do Departamento de Psicologia Social e Organizacional da Universidade Católica de Louvain na Bélgica,
Na primeira parte do artigo, os autores procuram situar a importância das teorias implícitas e do essencialismo como área de investigação crescente nos últimos anos na psicologia social e a sua participação nos processos psicossociais, destacando a contribuição desses estudos na formação de impressão e nas estratégias cognitivas na apreensão da realidade social. Eles primeiro se utilizam dos usos dos termos para aprofundar o conceito que define as teorias implícitas como um conjunto de crenças sob as quais o sujeito se sustenta para definir como são as pessoas, a natureza humana e os processos sociais. Ele reforça essa conceituação a partir da análise dos próprios termos, teoria e implícita, teoria como um conjunto de crenças consistentes para explicar fenômenos e implícitas porque na verdade aquelas se baseiam em teorias pouco formais, indutivas e pouco consistentes, não tendo portanto, nenhuma relação com as teorias científicas. Ele termina essa primeira parte fazendo uma rápida correlação entre dois conceitos: o das representações sócias e das TI (teorias ingênuas) como ambas tendo cargas motivacionais e afetivas que incitam a ação (Rodrigo, 1994)
Na segunda e terceira partes do artigo os autores tratam das funções e dos tipos de teorias ingênuas. Segundo Levy e colaboradores as TI servem para organizar, compreender e simplificar a realidade social e compartilhar e estabelecer um marco justificativo para as nossas ações e do outro. De forma bem didática, os autores descrevem os tipos de teorias que servem as funções descritas acima. As teorias podem ser: sobre a personalidade, sobre a natureza humana e as que fazem referência a natureza humana mais a origem dos grupos.
A teoria que toma como base a personalidade, se referencia no conhecimento que temos sobre alguém e a forma como utilizamos esse conhecimento para fazer inferências sobre a sua personalidade. Uma das principais contribuições dos autores no entanto é marcar o caráter não particular desse tipo de teoria, isto é, ela pode ser compartilhada, pois possuem elementos comuns e gerais, como por exemplo, todas as pessoas extrovertidas são mais acolhedoras que as introvertidas.
Todas as teorias sobre a bondade, a maldade e a raça humana, por exemplo, fazem parte das teorias ingênuas sobre a natureza humana, esse é um segundo tipo, que seriam crenças gerais mas que podem ainda ser classificadas em dois subtipos: a do locus de controle e as teorias sobre a natureza humana propriamente dita. A teoria do locus de controle é uma das primeiras teorias explicativas da atribuição social, que postula que uma pessoa pode estimar que seu comportamento é provocado, ou por fatores internos (locus de controle interno) ou por fatores externos (locus de controle externo). Ela faz parte dos estudos de alguns fenômenos como por exemplo: a ansiedade como reação ao fracasso (Lefcourt, 1973) e os comportamentos de risco (Hunter, 2002; Miller & Mulligan, 2002),
Dweck e colaboradores propuseram um modelo que explica em quais aspectos da natureza humana as pessoas concentram as suas teorias ingênuas, são elas: a inteligência, o caráter moral, a personalidade e a concepção de mundo. Aí os autores falam das formas como essa aplicação das TI é feita: de uma forma entitativa ou incrementalista, a primeira mais parcial e estabelecendo diagnósticos a partir de inferências, tendem a ver o outro com características mais fixas e menos maleáveis e o segundo, menos parcial, leva em conta fatores situacionais. Duas das várias contribuições importantes do artigo é a correlação entre essas duas formas, das quais um mesmo individuo pode se valer, ora de uma, ora de outra teoria (Dweck e col, 1995) e a confirmação da idéia de que aqueles com maior tendência entitativa recorrem mais aos estereótipos.
Finalmente o último tipo de TI sobre a natureza dos grupos sociais são as que colocam nossas crenças e conhecimentos gerais sobre alguém a partir de sua pertença a um determinado grupo social
No primeiro tópico da segunda parte do artigo, os autores fazem um breve histórico do conceito de essencialismo nas diversas disciplinas como na filosofia, genética e biologia e aprofundam esse histórico mais especificamente na psicologia e mostram as contribuições dos diversos autores nessa área. O termo, primeiro utilizado por Alport(1954) relacionando-o com o preconceito, foi reentroduzido por Medin(1989), que conceitua o essencialismo como a tendência a pensar que há a existência de uma essência ou uma natureza subjacente que fazem com que as coisas ou pessoas sejam como são. Rothbart e Taylor (1992) estudaram e tipificaram o essencialismo e sua influência nas definições de categorizações sociais, ou melhor, a tendência dos observadores, a compreender as categorias sociais como algo natural que comporta uma essência e que tem características estáveis e de pouca maleabilidade, além do seu potencial indutivo, isto é, a possibilidade de prever novas características a partir das conhecidas.
Os autores descrevem as características do essencialismo diante de um grupo, propostas pelo próprio Yzerbyt e Schadron(1996) a partir das proposições teóricas de Rothbart e Taylor(1992), quais são: o grupo como uma unidade, com um destino comum, a inalterabilidade, o caráter indutivo, a existência de una relação causal entre uma essência e todas as características do grupo social e a exclusão de outras formas de conhecimento e apreensão do indivíduo. As características propostas por Estrada(2003) se assemelham as descritas acima e acrescentam que a essência preexiste ao grupo, ela é inferida, imutável, exclusiva e é coerente.

No segundo tópico os autores descrevem as causas do essencialismo, usando como base os trabalhos de Rothbart e Taylor (1992) e Hirschfeld (1995, 1998, 1999). Os primeiros pensavam que o essencialismo se origina em um “erro ontológico”, que é compreender as categorias sociais como categorias naturais, por exemplo a diferença entre ser judeu e cristão é a mesma entre um mineral e um vegetal.
Para Hirschfeld (1995, 1998 e 1999) as pessoas são capazes de organizar uma espécie de reino humano que ajuda a classificar os seres humanos tomando como base diferenças superficiais, por isso algumas categorias tendem a ser mais essencializadas, como raça por exemplo.
No terceiro e último tópico da segunda parte do artigo os autores aprofundam os efeitos do essencialismo nas relações endo e intergrupais . O essencialismo é uma teoría implícita que serve para explicar as diferenças entre os grupos . Estrada e cols. (2004) mostraram como o essencialismo modula o uso de fatores explicativos biológicos e culturais e Martín e Parker (1995) incluíram nesses, os fatores sociais. Leyens e cols (2000-2002) estudaram o fenômeno da infrahumanização, que significa que ao dar ao seu grupo de pertencimento uma característica própria, essencial, humana e superior então para o exogrupo essa essência seria menos humana ou infrahumana e inferior.
Outros aspectos apontados nessa parte do artigo são os efeitos do essencialismo sob os estereótipos e o preconceito como por exemplo no estudo de Bastían e Haslam (2006) que confirmam que as pessoas essencialistas usam mais os estereótipos. A avaliação e o enfrentamento do membro desviante no endogrupo, o fenômeno da projeção social e o efeito do falso consenso são outros aspectos tratados nessa parte do artigo.
Os autores reconhecem que ainda há muito estudo empírico a ser realizado na busca de respostas no que podem ser ferramentas conceituais poderosas, no sentido de aprofundar o estudo e o entendimento das relações intergrupais. As TI representariam um grande potencial explicativo dos fenômenos associados ao pensamento e a dinâmica da interação social, segundo os autores.
Eles apontam caminhos futuros de investigação como o papel que estas crenças desempenham em questões sociais, mais específicas, tais como: a resistência à mudança de jovens com comportamento marginal (em gangues, por exemplo) e a busca de formas de diálogo entre os grupos com idéias radicais (políticas ou religiosas, por exemplo).
O artigo é bastante objetivo e didático no sentido de traçar um panorama geral sobre as principais contribuições dos diversos autores aos conceitos propostos e é de fácil leitura.Ele aborda de forma organizada e detalhada os conceitos e é uma boa referência para aqueles interessados na abordagem de conceituações relacionadas a expressão dos estereótipos e nas relações intergrupais, sobre as quais ele incita a um aprofundamento maior por parte dos investigadores.

Referência: Estrada, C., Oyarzún, M e Yzerbyt, V. Teorías Implícitas y Esencialismo Psicológico: Herramientas Conceptuales Para el Estudio de las Relaciones Entre y Dentro de los Grupos. Psykhe, 16, 2, 2008, 139-149

Resenha: Dizer não aos estereótipos sociais: as ironias do controle mental.

Wilma Ribeiro

Quem consegue escapar dos estereótipos? Portugueses, brasileiros, italianos, taxistas, garçonetes, políticos, todos os grupos existentes possuem seus esquemas categóricos e, portanto, seus estereótipos. Todos nos encontramos em categorias sociais que por sua vez são estereotipadas. Estereótipos são, sem dúvida, estruturas cognitivas úteis no nosso cotidiano. Rápidos, automáticos, espontâneos, naturais, nos fazem economizar recursos cognitivos e simplificar nossa realidade. Em contrapartida, nossos preconceitos se encontram em maior ou menor medida associados a um estereótipo. Seria possível controlar o pensamento estereotípico com eficácia? O artigo de Bernardes (2003) trata do suporte teórico dos mecanismos de supressão do estereótipo e das conseqüências da utilização do mesmo.
O estereótipo refere-se a crenças e conhecimentos a respeito de determinado grupo, que podem influenciar as percepções e os comportamentos relacionados ao mesmo e aos seus membros. Um problema pode surgir quando os estereótipos fazem com que um indivíduo afaste ou rejeite outro por este pertencer a determinada categoria, sem que este último tenha a chance de se fazer conhecer efetivamente com suas qualidades e limitações. Por exemplo, você pode desconsiderar Karla em uma entrevista de emprego de uma empresa, por ser mulher, e perder uma fiel e competente funcionária. Os estereótipos levaram a tomar esta decisão.
Será que uma supressão do estereótipo resolveria este problema? De acordo com o artigo de Bernardes (2003), a tentativa de inibir os pensamentos estereotípicos de acederem à consciência (supressão) pode resultar em efeitos indesejados. Se reiteradas vezes um pensamento é detectado conscientemente a fim de que se possa suprimi-lo, o resultado pode ser a hiperacessibilidade do mesmo, fazendo com que se torne mais acessível do que se não tentasse suprimi-lo. Este é o chamado efeito de ricochete (ERE). Este efeito foi observado nos experimentos realizados em que havia uma supressão explícita (Pedia-se ao participante para não pensarem em estereótipos) e em situações em que a supressão era induzida pela situação (Avaliador pertencia ao grupo a ser estereotipado pelo participante).
A autora também aponta alguns estudos que relacionam estereotipização e memória, citando dentre eles o de Macrae et al (1996). Tais estudos sugerem que a supressão do estereótipo requer recursos atencionais da parte dos indivíduos. Em situações de supressão em que informações estereotípicas e não estereotípicas estavam disponíveis, os participantes posteriormente lembravam-se mais daquelas estereotípicas. O ato de suprimir o estereótipo pode impedir o processamento e retenção da informação não-estereotípica.
Somos, portanto escravos dos estereótipos? Não. A autora aponta alguns autores dentre eles Monteith et al. (1998) que advogam que nem sempre a supressão leva a efeitos irônicos. Um fator moderador relaciona-se a atitude pessoal relacionada a que tipos de grupos estão sendo estereotipados. Por exemplo, estereotipar pedófilos é diferente de estereotipar mulheres, uma vez que para esses últimos há normas pessoais e sociais contra a aplicação de estereótipos. Assim, “quando os indivíduos são instruídos a suprimir os estereótipos dos grupos para os quais não têm preocupações sociais e pessoais acerca da estereotipização, o subsequente ERE poderá não ocorrer.” Ademais, foi verificado que entre os indivíduos com um baixo nível de preconceito havia uma grande probabilidade da ativação dos estereótipos não chegar a se concretizar. E mesmo que esta ocorra, a motivação dos mesmos e o sentimento de culpa subjacente, leva-os a evitar reações estereotípicas. O processo de supressão de pensamentos estereotípicos pode se tornar automático através da prática. Além disso, a negação das associações estereotípicas também facilita a inibição da ativação do estereótipo após a categoria social ter sido apresentada.
A autora também aponta para outras estratégias que podem ser utilizadas de maneira eficaz no momento em que se deseja evitar um estereótipo: a substituição dos pensamentos estereotípicos por outros (por crenças igualitárias, por ex.) e a individuação do alvo (formar impressões com base em informações individuais sobre o alvo). Verifica-se também que aqueles indivíduos que estabelecem o objetivo de não serem preconceituosos, podem viabilizar a não ativação dos estereótipos.
Ao considerar os efeitos negativos das crenças estereotípicas surge a necessidade de evitá-las. Estas vão de encontro às normas de igualdade e de justiça, em especial em uma sociedade dita democrática. Além disto, estas crenças conduzem a um sentimento de culpa em pessoas que possuem senso de justiça e uma visão aberta da realidade. Seria, portanto muito interessante se pudéssemos simplesmente dizer a nós mesmos para não sermos preconceituosos e automaticamente todos os nossos estereótipos negativos desaparecerem. Desta forma especificamente não. Mas a depender das condições, motivações e objetivos podemos fazer uso não apenas da supressão como também das outras estratégias para evitar o impacto dos estereótipos sociais.

Referência: Bernardes, D. Dizer não aos estereótipos sociais: as ironias do controle mental. Análise Psicológica. 21,3, 307-321, 2003.

Resenha: as novas formas de expressão do preconceito e do racismo

Wilma Ribeiro

Atualmente encontramos novas formas de expressão do preconceito e do racismo, que corporifica muitos comportamentos cotidianos de discriminação sendo estes ocorridos ao nível institucional, ou ao nível interpessoal como trata o artigo de Lima e Vala (2004). O objetivo do artigo é analisar as várias teorizações produzidas pela Psicologia Social que explicitam as novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Dentre estas pode-se citar: os racismos moderno e simbólico da Austrália e dos EUA; os racismos aversivo e ambivalente dos EUA; o preconceito sutil da Europa; e, finalmente, o racismo cordial do Brasil. O racismo simbólico “se baseia em sentimentos e crenças de que os negros violam os valores tradicionais americanos do individualismo ou da ética protestante”. Já o racismo moderno guarda elementos comuns com o racismo simbólico e envolve a percepção de que os negros violam valores que são considerados importantes para os brancos e ainda recebem mais do que são merecedores. O racismo aversivo é considerado como decorrente da coexistência de um sistema de valores igualitários com sentimentos e crenças negativos direcionados aos negros. Por sua vez, o racismo ambivalente aborda a ambivalência de sentimentos na expressão do racismo. O artigo trata também sobre o preconceito sutil como uma forma mais velada e disfarçada de preconceito, e o racismo cordial como aquele que caracteriza o encontrado na sociedade brasileira. Sobre este último falaremos mais adiante. O artigo de Lima e Vala (9999) estabelece a diferenciação entre dois fenômenos distintos mais relacionados um ao outro: o preconceito e o racismo. O preconceito se refere a uma atitude hostil contra um indivíduo pertencente a um grupo desvalorizado socialmente. Dentre as várias formas de preconceito, encontramos o étnico ou racial “que se dirige a grupos definidos em função de características físicas ou fenotípicas supostamente herdadas”. Já o racismo constitui-se num processo de “exclusão e discriminação contra um indivíduo ou toda uma categoria social que é definida como diferente com base em alguma marca física externa, a qual é re-significada em termos de uma marca cultural interna.” O racismo é apontado como fenômeno que repousa sobre uma crença na distinção natural entre grupos. Mas afinal, quem é preconceituoso no Brasil? Os autores apontam para os dados de uma pesquisa realizada junto a uma amostra nacional indicando que quase 90% dos entrevistados se considera não racista. É bom pensar, entretanto, que não se é racista, uma vez que este termo caminha atrelado a outras características negativas como desumano, frio, etc. Mas a pesquisa continua demonstrando dados interessantes e contraditórios, pois ao passo em que esta alta porcentagem de brasileiros se considera não racista, a mesma quantidade de pessoas acredita que existe racismo no Brasil (Turra & Venturi, 1995). Onde estão os preconceituosos, então? Observa-se que as formas de expressão do preconceito bem como a natureza do mesmo são influenciadas e definidas pelas normas sociais vigentes na contemporaneidade. O artigo aponta para a mudança nos estereótipos relacionados a negros no Brasil com dados coletados na década de 50 e no ano de 2001. O resultado demonstra um decréscimo nos escores dos estereótipos negativos (ex.: preguiçosos e estúpidos) e um aumento nos escores dos positivos (ex.: musicais e alegres). O que poderíamos compreender erroneamente a partir dos dados apresentados é que o preconceito contra os negros diminuiu, e então celebrarmos a igualdade entre raças. Esta inferência não passa de um ingênuo engano. O que se observa hoje são formas sutis e veladas de demonstração do preconceito, enquanto o mesmo continua sendo fortemente vivenciado. Estas demonstrações estão ocorrendo em todo o mundo e no Brasil adquiriu o nome de “racismo cordial”. O Brasil é considerado um país multiracial. A miscigenação encontrada na pele, cultura, religião do povo brasileiro nos fala de um país onde o contato inter-racial, tem sido desde o início da civilização e o é até então, um fenômeno definidor da identidade social. A presença do preconceito neste país difere da dos outros países uma vez que aqui encontramos manifestações polidas de atitudes e comportamentos discriminatórios. Em especial, essas se expressam “ao nível das relações interpessoais através de piadas, ditos populares e brincadeiras de cunho “racial”. Isto é o que podemos chamar de racismo cordial. Assim, em geral, pessoas de cor negra não deixam de ser vítimas do sarcasmo de pessoas que de longe, se consideram preconceituosas. O artigo traz a posição de Guimarães (1999, p. 67), sobre este relevante aspecto: “trata-se de um racismo sem intenção, às vezes de brincadeira, mas sempre com conseqüências sobre os direitos e as oportunidades de vida dos atingidos”. Assim, no lugar de observarmos pessoas sendo xingadas ou agredidas por serem negras, ou sendo expulsas de ambientes restritos, identificamos novas modalidades de discriminação. Embora esteja claro que maneiras mais explícitas de demonstração não tenham deixado de existir por completo. Ademais, algumas expressões como: ‘A coisa tá ficando preta!’, ‘Denegrir a imagem’, ‘Humor negro’, são naturalizadas no vocabulário cotidiano e escondem uma depreciação e desvalorização daquilo que está relacionado com a cor escura, com o negro. Estas formas são mais difíceis de serem identificadas e conseqüentemente mais complexas no que se refere ao seu enfrentamento. Durante décadas o preconceito racial esteve presente na história da humanidade. O questionamento que se instaurou: Como vai a sua manifestação hoje? Pode ser respondido de forma clara. Certamente as leis que obrigam a uma convivência pacífica e penalizam aqueles que manifestam sua aversão a raça do outro tem conseguido uma diminuição dos atos de agressão e exclusão. Mas essas mesmas leis não têm diminuído o preconceito. A literatura aponta para a possibilidade de pessoas preconceituosas mascararem com negação, falseamento ou justificativas seus atos de discriminação. A lei, desta forma, não diminuiu o preconceito e situações discriminatórias ainda continuam perpassando o cotidiano de indivíduos em todo o mundo que nem sempre recorrem aos seus direitos legais. O artigo que faz uma comparação entre os preconceitos existentes no Brasil, Austrália, Europa e EUA, salienta a necessidade de maior ênfase na investigação dessas modernas formas de preconceito no Brasil, a fim de encontrar elementos que diferenciem e assemelhem as maneiras de demonstração preconceituosa existente nesses diferentes países. O anseio pessoal é que as investigações também caminhem para a descoberta de novas e eficazes formas de enfrentamento e diminuição do preconceito.

Referência:  Lima, M. E. e Vala, J. As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos em Psicologia (Natal), 9, 3, 2004.

Resenha: Flutuações e diferenças de gênero no desenvolvimento da orientação sexual – Perspectivas teóricas.

Apohena Noroya

O artigo faz uma revisão de pesquisas que abordam as diferenças de gênero e suas flutuações no desenvolvimento da orientação sexual. As autoras são psicólogas clínicas portuguesas e uma delas realiza pós doutorado. Elas fazem um apanhado sobre as conceituações e diferenças entre a identidade de gênero, papéis sexuais e orientação sexual, assim como, de que forma (geralmente numa ótica estereotipada) a sociedade vê as flutuações de orientação sexual – uma hora heterossexual, na outra bissexual, transexual, pansexual, polisexual.
Na introdução as autoras falam da importância da compreensão do que leva as pessoas a relacionarem-se entre si, investigando as relações dos sexos e dos gêneros com a diversidade de comportamentos humanos. Elas afirmam que para uma melhor entendimento psicológico da identidade sexual é preciso definir separadamente os conceitos de sexo- estrutura anatômica e gênero- aspectos psicossociais do sexo. No desenvolvimento da identidade sexual é preciso destacar três componentes que vão se desenvolvendo gradativamente: a identidade de gênero, os papeis sexuais e a orientação sexual.
Durante a fase da identidade de gênero, a criança se reconhece num processo de auto-identificação como menino ou menina, os papeis sociais e sexuais dizem respeito aos estereótipos das características masculinas e femininas, sobre os ditames sociais do que se espera socialmente da aparência,comportamento e aspectos da personalidade destas pessoas. Em relação a orientação sexual, as autoras falam da preferência por parceiros do sexo oposto, do mesmo sexo ou por ambos os sexos, destacando dois aspectos essenciais distintos: a preferência física sexual e a preferência afetiva. Sendo assim, as categorias homossexual, heterossexual e bissexual se caracterizam não como nomes mas sim como adjetivos que se referem ao sexo do parceiro que uma pessoa escolhe para se relacionar afetivamente e sexualmente.
Ao abordar a questão da fluidez no desenvolvimento da orientação sexual, as autoras se detém a exemplificar e explicar este tema através do universo feminino. Através de pesquisas as autoras constataram que a sexualidade da mulher é relativamente fluida, a identidade sexual das mulheres passa por diversas mudanças nas atrações sexuais ao longo do tempo, passam de heterossexuais, a homossexuais ou bissexuais. Embora alguns estudos sobre desenvolvimento afirmem que uma vez se assumindo homossexual para si e para os outros não haja mais alteração da identidade sexual, outros estudos dizem que algumas mulheres se assumem como lésbicas por não se encaixarem ou não se aceitarem como bissexuais.
Apesar das atrações sexuais entre as mulheres parecerem bastante estáveis, as identidades e os comportamentos são bem mais fluidos e diversificados, exemplo disto é o fato das lésbicas geralmente se reportarem a um colega de escola homem entre as suas primeiras atrações sexuais. Elas podem inclusive ficar com homens mais tarde novamente espontaneamente, não por pressão social, embora não se vejam ou não se assumam como bissexuais. Segundo alguns autores, os bissexuais tem uma maior capacidade de experimentar atrações por ambos os sexos o que dará aos seus sentimentos subjetivos uma maior suscetibilidade de serem influenciados pelo ambiente, se afastando assim, da identidade sexual minoritária. As autoras acreditam que há consistência de mudanças na orientação sexual ao longo do tempo, exemplo disto são os bissexuais se tornarem homossexuais em sua orientação sexual, embora se mantenham em sua identidade sexual como bissexuais.
Em relação às diferenças de gênero no desenvolvimento da orientação sexual, as autoras verificaram através de pesquisas que sujeitos do sexo feminino tem maior probabilidade de experienciar relações heterossexuais antes de ter experiências com o mesmo sexo e os rapazes a ter experiências primarias com o mesmo sexo. As diferenças de gênero na orientação sexual podem ser compreendidas através: a)preferências por relações sexuais descomprometidas, assim como no interesse em estímulos visuais, b)importância subjetiva da fidelidade emocional e sexual e c)no valor da percepção de características do parceiro. Sendo que, as diferenças de gênero prevalecem independente da orientação sexual. Em termos de atrações sexuais verificou-se que os sujeitos do sexo masculino apresentam um contexto sexual, de sexo descomprometido e estímulos visuais, enquanto as mulheres seguem um contexto emocional, atribuindo maior importância a fidelidade emocional.
Diferenças de gênero X idade foram encontradas em relação a convicção da identidade sexual mas não em relação aos primeiros comportamento sexuais. Resultados de estudos comprovaram que as mulheres mais jovens afirmavam mais identidades bissexuais que os homens jovens. Verificou-se que as diferenças de gênero tem sido muito importantes em relação as questões de comportamento sexuais, numero de parceiros sexuais e idade de iniciação, mas em relação a orientação sexual não foram encontradas diferenças significativas entre as categorizações gay, heterossexual ou bissexual.
Em sua conclusão as autoras falam do privilégio feminino visto na fluidez, na permissão de uma maior possibilidade de escolhas e de mudanças no ciclo de vida, enquanto o homens ainda são muito cobrados em manter uma maior exclusividade de orientação sexual refletindo numa maior rigidez social. As relações, a sexualidade e os amores são influenciados pelo meio e predispostas biologicamente, na sua subjetividade individual sem ser separados de um contexto social de inserção.

Referência:
Almeida, J. e Carvalheira, A. A. Flutuações e diferenças de género no desenvolvimento da orientação sexual: Perspectivas teóricas. Análise Psicológica, 25, 3, 343-350, 2007

Estereótipos acerca de usuários de smartphones: iphone x android

O website Hunch acaba de publicar um estudo no qual são destacadas algumas características de usuários do iphone do android. Em que pese a base não científica do estudo, vale a pena dar uma olhada para identificar como os estereótipos são apropriados e utilizados para os mais diversos fins. Eis alguns resultados “interessantes”:

Características de personalidade
Android: pessimistas, introvertidos, preferem economizar dinheiro
Iphone: otimistas, extrovertidos, preferem gastar dinheiro

Clique aqui para ler as conclusões do estudo.