Categorização, essencialismo e estereótipos

O tópico da categorização tem sido objeto de interesse por parte dos psicólogos sociais há algum tempo, especialmente após Gordon Allport ter apontado o enorme impacto deste processo na expressão dos estereótipos e dos preconceitos. Um conjunto de teorias clássicas e contemporâneas tem acentuado algumas dimensões do fenômeno, embora nos últimos anos o papel das teorias implícitas disponíveis pelo agente cognitivo tenha passado a desempenhar um papel decisivo no estudo da categorização social.
A concepção essencialista da categorização tem se firmado, nos últimos anos, como uma das vertentes teóricas heuristicamente mais ricas neste campo de estudo e o interesse pelo estudo das diferentes formas de essencialismo no processo de ativação e aplicação dos rótulos verbais aos membros dos vários grupos sociais tem sido um objetivo constante de investigação entre muitos psicólogos sociais. Em suas linhas gerais, o essencialismo procura compreender como as pessoas habitualmente elaboram as suas percepções sobre os membros dos diversos grupos sociais, incluindo a si mesmo, aos membros do seu grupo e a dos outros grupos. O foco central de análise das teorias essencialistas da categorização reside no entendimento de que a categorização social depende tanto das similaridades que se manifestam no plano das aparências, quanto na crença, expressa por quem categoriza, de que os membros de um mesmo grupo compartilham uma estrutura profunda que permite que sejam diferenciados dos membros dos outros grupos.

Fonte: M. E. Pereira. El esencialismo y las explicaciones de los estereotipos. Manuscrito não-publicado.

Anedotas étnicas: técnicas de elaboração

Uma técnica comum de elaboração de anedotas étnicas é conceber um cruzamento entre os membros de duas categorias sociais. O resultado deste cruzamento reflete o estereótipo das categorias, como se observa na anedota abaixo, registrada nos Estados Unidos

O que acontece se você cruzar um porto-riquenho com um chinês ?
– Nasce um ladrão de carros que não sabe dirigir.

Babel

Dopo un quarto di secolo di studi scientifici per giungere all’elaborazione di un’autentica lingua internazionale ausiliare, la I.A.L.A. (International Auxiliary Language Association), presentava nel 1951 il risultato: una lingua basata sugli elementi comuni dell’inglese, francese, spagnolo e italiano, le lingue più usate oggi nelle comunicazioni internazionali.
Questa lingua veniva chiamata “Interlingua”, cioè lingua internazionale, sovra-nazionale, lingua ponte. “Le progressos technic del vintesime seculo aperiva toto nove perspectivas pro le communication international, viste que cata uno de nos obtene semper plus grande contacto con quasi qualcunque parte del terra, sia personalmente o per le crescente fluxo de informationes con que nos cata die es bombardate. Proportionalmente con iste evolution, se augmenta intertanto le difficultates lingual e, pro isto, es urgente le necessitate de un commun lingua de contacto, practicabile e comprensibile sin multe annos de studio”.
Già nel secolo passato l’idea della necessità di una lingua internazionale neutrale, facile e pratica, era nel cuore di molti. Molti, così, avevano intrapreso l’elaborazione di progetti linguistici, tanto che erano venute alla luce diverse “lingue artificiali”.

Anedotas étnicas: a desumanização do grupo alvo

Origem: Estados Unidos
Grupo alvo: irlandeses

Um judeu, um hindu e um irlandês viajavam juntos, mas caiu a noite e eles não puderam prosseguir com a viagem. Eles então dirigiram-se a uma pensão onde o dono se desculpou por só ter duas camas disponíveis, mas sugeriu que um deles poderia dormir no celeiro, pois lá era um lugar bem quente e confortável. Os viajantes tiraram a sorte e coube ao judeu ir dormir no celeiro.
Poucos minutos depois o dono da pensão ouve algumas batidas na porta e ao abri-la encontra o judeu que exclama:
– O senhor me desculpe, mas encontra-se um porco no celeiro e a minha religião não me permite pernoitar sob o mesmo teto que esse animal.
Coube ao hindu ir para o celeiro. Alguns minutos depois nova batida na porta da dono da pensão. O dono ao abrir a porta se depara com o hindu:
– O senhor me desculpe, mas tem uma vaca no celeiro e a minha religião não me permite pernoitar sob o mesmo teto que esse animal.
Dessa vez coube ao irlandês ocupar o celeiro. Minutos depois nova batida na porta. Dessa vez o dono da pensão abre a porta para a vaca e o porco:
– O senhor nos desculpe, mas não da para dormir com o irlandês que está lá no celeiro.

Anedotas étnicas: crítica social

Origem: Polônia
Categoria alvo: ditadores/opressores

O General Jaruzelski resolveu ir a Virgem Negra (especie de Nossa Senhora de Fatima Polaca).
– Ó Virgem ! – lamentava-se o General – estou muito triste e magoado, porque desde que chefiei o golpe de estado que todo o povo me odeia, o que e injusto porque sempre fui um grande patriota e sempre fiz o melhor para o meu pais…
– E o que sugeres que eu faca ? – respondeu-lhe a Virgem
Ao ouvir a voz da virgem o general quase caiu sentado.
– O Virgem ! Se fizesses, por exemplo, com que eu podesse caminhar sobre a agua como Jesus. Os polacos, como sabes, sao muito religiosos e se me vissem a caminhar sobre a agua interpretariam isso como um sinal divino de apoio as medidas que tomei.
– OK. Amanha de manha levanta-te e dirige-te ao rio. Farei com que caminhes sobre a agua.
Bom, o General no outro dia levanta-se e comeca a ter duvidas: será que nao sonhou ter falado com a Virgem ?
– Pelo sim pelo nao vou mais cedo, enquanto ainda nao esta muita gente, senao ainda faço figura de urso, pensou ele.
Quando chegou ao rio, ainda so havia 2 pescadores na margem oposta. O General aproximou-se da agua, pos cuidadosamente um pe em cima… e conseguiu… a agua aguentou o seu peso. A seguir deu um passo, mais outro e mais outro e comecou a atravessar o rio.
Na outra margem um dos pescadores diz para o outro:
– Olha la, aquelo gajo ali a caminhar sobre a agua nao e’ o General Jaruselski ?
– Pois e’.
– Olha so para o filho da puta, nem sequer nadar sabe.

Anedotas étnicas: técnicas de elaboração

Uma das técnicas mais utilizadas na composição das anedotas étnicas envolve a colocação de pessoas de etnias diferentes em uma mesma situação. A maneira pela qual cada grupo enfrenta a situação corresponde aos estereótipos acerca dos membros daquele grupo. Eis o exemplo de uma anedota, relatada na Espanha em 1969 e registrada por Alan Dundes, que relata o comentário feito por mulheres de alguns países logo após o sexo:

A mulher russa:
– Romanov, esta noite criamos um ser perfeito para o partido.
A mulher alemã:
– Hans, esta noite criamos um ser perfeito.
A mulher francesa:
– René, você é um excelente amante, mas ainda têm muito o que aprender.
A mulher inglesa:
– Qual é mesmo o seu nome ?
A mulher espanhola:
– Pepe, levanta-te. Temos que ir à missa das duas da manhã.

Anedotas étnicas: exaltação das qualidades do endogrupo

Embora a alusão depreciativa aos estrangeiros seja uma estratégia bastante comum nas anedotas, umas poucas são elaboradas com a finalidade de representar de forma positiva, ainda que estereotipada, a própria categoria social. A anedota abaixo se origina, evidentemente, em Portugal.

Os europeus seleccionavam uma pessoa para ser o primeiro astronauta europeu. Havia candidatos de varios paises e entre outras coisas faziam uma entrevista. Primeiro o ingles: no fim da entrevista perguntaram a ele quanto e que queria ganhar.
– 900 mil libras.
– Ah, mas isso é muito dinheiro. O que é que vai fazer com tanto dinheiro ?
– Bom, 300 mil e para o Fundo de Apoio a Coroa Britanica, 300 mil para mim, e 300 mil para a minha mulher.
– Muito, bem. Aguarde, mais tarde o contactaremos.
A seguir vem o francês. No fim da entrevista fazem a mesma pergunta.
– 900 mil libras – responde o frances
– Oh, é muito ! O que vai fazer com esse dinheiro todo ?
– 300 mil são para mim, 300 mil para a minha amante e 300 mil para a minha mulher.
Finalmente entra o portugues. Fazem-lhe a mesma pergunta
– 900 mil libras.
– Oh. é muito ! Onde vai gastar esse dinheiro ?
– Bom, 300 mil é ja aqui para o meu amigo por me ter escolhido, 300 mil são obviamente para mim, e os outros restantes 300 mil para a pessoa que eu arranjar para ir no meu lugar.

Anedotas com múltiplos alvos

Origem: Estados Unidos
Grupos alvo: irlandeses, poloneses e italianos

Por que você pode dizer que um irlandês está presente numa rinha de galos?
– Porque ele trouxe um pato.
Por que você pode dizer que também um polonês está presente ?
– Porque ele apostou no pato.
Por que você pode dizer que ali também se encontra um italiano ?
– Porque o pato venceu.

Anedota: o alvo como estúpido

Origem: Antiga Tchecoslováquia
Grupo alvo: policiais

Um policial solicitou a dois homens que passavam pela rua que apresentassem a carteira de identidade. Ele pegou uma delas e começou a ler com uma certa dificuldade:
– Car-tei-ra de i-den-ti-da-de .
Em seguida, pegou a do outro e começou a ler:
– Car – tei – ra .. Vocês são irmãos ?

Anedotas: o alvo como avarento

Origem: Estados Unidos
Grupo alvo: Escoceses

Era um escocês tão mesquinho e desconfiado que contava o próprio dinheiro em frente ao espelho para não ser passado para trás