Artigo publicado: Effects of Social Exclusion and Inclusion Are Enhanced by the Perceived Essentialism of Ingroups and Outgroups

Título: Being “In” With the In-Crowd: The Effects of Social Exclusion and Inclusion Are Enhanced by the Perceived Essentialism of Ingroups and Outgroups

Autores: Michael J. Bernstein, Donald F. Sacco, Steven G. Young, Kurt Hugenberg, and Eric Cook

Periódico: Personality and Social Psychology Bulletin 2010;36 999-1009

Resumo: http://psp.sagepub.com/cgi/content/abstract/36/8/999

O estrangeiro: a um passo da humanidade

Embora as pessoas disponham de rotinas automáticas que as habilitam a se relacionar socialmente de forma tranqüila, elas usualmente encontram dificuldades durante a interação com indivíduos de outros grupos ou de outras culturas. Tais dificuldades são tão generalizadas que não podem ser inteiramente atribuídas ao efeito de diferenças de ordem lingüística ou cultural. As pessoas estranhas ao grupo social tendem a ser tratadas com indiferença ou menosprezo. Parece existir um certo acordo na admissão de que esta tendência a tratar de forma depreciativa aos indivíduos do grupo externo reveste-se de um certo grau de universalidade. A listagem abaixo representa um breve apanhado de algumas referências encontradas na literatura psicossocial a respeito das crenças compartilhadas sobre os  estrangeiros.

Biesanz & Biesanz (1972) relembra a advertência de Cícero a Ático:

– “Não consigas os teus escravos na Bretanha, pois eles são tão estúpidos e tão absolutamente incapazes de aprender que não estão aptos a fazer parte do lar ateniense”.

Comentário de um intelectual árabe do século XI:

– “As raças ao norte dos Pirineus são de temperamento frio e nunca atingem a maturidade, são de grande estatura e de cor branca, mas não possuem agudeza de espírito e de penetração intelectual” .

Algumas características dos povos que habitavam a Germânia, de acordo com o historiador Cornélio Tácito (1952):

– os catos chamavam a atenção pelo costume de deixar crescer a barba e os cabelos até que tivessem matado a um inimigo;

– os cheruscos seriam covardes e estultos; os suevos, sujos e preguiçosos;

– os fenos, salteadores, selvagens e miseráveis,

– os helúsios e oxiômes eram portadores da estranha característica de terem a cabeça e o rosto humanos e o corpo e os membros de feras.

No século XVI, o poeta e filósofo escocês James Beattie (1735-1803) ao comentar a situação política de sua época, sustentou que todas as nações européias, e talvez do mundo, seja nas questões de traje ou de conduta, ridicularizavam-se mutuamente.

– Em pleno século XVII, no início da idade moderna, os escoceses eram tidos na Inglaterra como grosseiros, cruéis e brutais, embora esses mesmos traços, já no século XIX, fossem atribuídos aos irlandeses.

– Segundo Rose (1972), os alemães representam outros povos de uma maneira bastante estereotipada:

– os franceses seriam imorais e degenerados;

– os britânicos, estúpidos e pretensiosos; os americanos, dissipadores e limitados;

– os russos, ignorantes, pesados e estúpidos;

– os judeus, pervertidos e intrigantes.

Ainda de acordo com Rose, até 1940, a imagem dos japoneses presentes na cultura ocidental era a de um povo astuto, mas fraco, inflexível e desprovido de imaginação.

– durante a Segunda Guerra permaneceu a astúcia, mas os outros estereótipos foram substituídos pela tenacidade e pela engenhosidade;

– após o término das beligerâncias, o estereótipo astúcia foi finalmente substituído pelo da credulidade.

Concepções de alguns grupos sobre os seus vizinhos nacionais, de acordo com Gordon Allport (1962)

– Os poloneses retratavam os ucranianos como répteis, acusando-os de serem ingratos, vingativos, astutos e traiçoeiros

– Os ingleses durante a Segunda Grande Guerra acusavam os americanos de ganharem e fornicarem demais.

– Na África do Sul colonial os ingleses menosprezavam os africanos brancos

– Os africanos brancos menosprezavam os judeus

– Os judeus menosprezavam os hindus

– E todos estes grupos desdenhavam dos negros nativos

Fonte: Marcos E. Pereira. Psicologia Social dos Estereótipos. São Paulo: EPU Editora Pedagógica e Universitária, 2002

Post atualizado para a aula do dia 21/05/2009 (PSI684)

Artigo publicado: When Outgroup Members Express Common Identity

Título: The Other Side of We: When Outgroup Members Express Common Identity

Autores: Ángel Gómez, John F. Dovidio, Carmen Huici, Samuel L. Gaertner, and Isabel Cuadrado

Periódico: Personality and Social Psychology Bulletin 2008;34 1613-1626

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Artigo publicado: Reactions to Outgroup Authorities’ Decisions

Título: Reactions to Outgroup Authorities’ Decisions: The Role of Expected Bias, Procedural Fairness and Outcome Favorability

Autor: Tomas Ståhl, Riël Vermunt, and Naomi Ellemers

Periódico: Group Processes & Intergroup Relations, 11, 281-299, 2008

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Artigo publicado: Us and Them: Conflict, Collaboration, and the Discursive Negotiation

Título: Us and Them: Us and Them: Conflict, Collaboration, and the Discursive Negotiation of Multishareholder Roles in School District Reform

Autores: Jesse Gillispie e Janet H. Chrispeels

Periódico: Small Group Research, 39, 397-437, 2008

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Os estereótipos e o viés linguístico intergrupal

Um programa sistemático de investigação das relações entre os estereótipos e a linguagem se fundamenta no modelo das categorias lingüísticas intergrupais de G. Semin e K. Fiedler. Tais estudos diferenciam quatro categorias lingüísticas predominantemente utilizadas na descrição de pessoas e eventos: 1) os verbos que descrevem ações; 2) os verbos que interpretam ação; 3) os verbos que fazem referências a estados duradouros, e 4) os adjetivos.
Os verbos descritivos, como o próprio termo indica, descrevem objetivamente comportamentos específicos e observáveis com começo e fim claro delimitados, referindo-se a situações e objetos específicos, sendo muito difícil atribuir qualquer conotação positiva ou negativa. Verbos, como, por exemplo, beijar, olhar ou chutar, geralmente indicam ações com um nível de abstração muito baixa, sendo utilizados para fazer referências a eventos e situações que se manifestam em uma dimensão concreta. No plano fenomenológico, um forte indicador de um uso adequado dessa categoria lingüística é a presença de pelo menos uma característica física invariante (chutar, por exemplo, envolve necessariamente a utilização dos pés que atinge, com uma certa intensidade, a um outro objeto).
Os verbos que interpretam uma ação vão além da mera descrição do evento ou da situação, pois neles se encontra subjacente uma interpretação, que, por sua vez, introduz um certo componente semântico negativo ou positivo em relação à situação que está sendo submetida à avaliação. De forma semelhante aos verbos descritivos, os verbos interpretativos também podem fazer referências a ações específicas, que temporalmente diferenciam o início e o fim do evento. Alguns verbos característicos dessa categoria incluem aqueles como ajudar, ofender, inibir ou ameaçar.
Os verbos que se referem a estados duradouros indicam a existência de estados emocionais, afetivos ou mentais relativamente permanentes e claramente discerníveis. Podemos assinalar, também, que embora eles se refiram a comportamentos, situações ou objetos claramente especificados, é impossível identificar, no plano temporal, o início ou fim daquele estado. Verbos tais como acreditar, odiar, admirar ou desejar podem ser incluídos nessa categoria.
Os adjetivos, por sua vez, podem ser considerados como a categoria que proporciona o grau mais alto de abstração. O seu aspecto mais característico é que eles se referem às características disposicionais do indivíduo, o que, em certa medida, impõe uma certa interpretação de estabilidade do padrão de comportamento, que se manifestaria de forma independente dos contextos históricos, geográficos e culturais no qual ele se manifesta.
O argumento central da hipótese do viés lingüístico intergrupal é a de que um mesmo comportamento pode ser codificado de acordo com diferentes níveis de abstração, a depender da dimensão axiológica, dado que ele pode ser positiva ou negativamente avaliado, e a depender da afiliação do protagonista da ação, pois ele pode pertencer ao in ou ao outgroup. Os psicólogos sociais certamente reconhecem que tal linha de argumentação se assemelha aos arrazoados apresentados pelos teóricos atribuicionais, pois parecem evidentes as semelhanças entre o viés lingüístico intergrupal e o conceito de erro atribuicional fundamental, característico das teorias atribuicionais da causalidade. Esta última noção sugere uma tendência a avaliar ao comportamento dos outros de uma forma diferenciada, pois se a ação for uma ação positiva dos membros do próprio grupo, a causa do comportamento é a atribuída a fatores de natureza pessoal ou interna, enquanto o mesmo tipo de ação, quando encetada por membros do outgroup, tende a ser interpretada como produzida por fatores de natureza externa ou situacional. No caso dos comportamentos negativos observa-se o oposto, uma vez que as ações negativas dos membros do ingroup tendem a ser explicados por meio de referências a causas externas, enquanto o mesmo tipo de ação, quando se trata dos membros do ingroup tendem a ser explicados através de referências características situacionais.
Ampliando o alcance do modelo do viés lingüístico intergrupal, podemos dizer que a linguagem pode ser utilizada como meio de facilitar ou dificultar as confirmações das idéias previamente existentes a respeito do in e do outgroup. A linguagem abstrata, evidentemente, oferece mais informações sobre o protagonista, dado que os elementos retratados indicam características inerentes ao indivíduo, denotando algo que é estável e típico do ator (ele é honesto ou ele é agressivo). Pode-se esperar, portanto, que ela seja tipicamente utilizada para descrever comportamentos negativos dos membros do outgroup e comportamentos desejáveis dos membros do ingroup. Quanto menos abstrata for a linguagem, mais se manifesta uma certa dissociação entre o ator a e cena, pois o foco passa a ser, evidentemente, a situação na qual a ação se manifesta. Esta modalidade de linguagem, conseqüentemente, deve ser prioritariamente utilizada para comunicar os comportamentos negativos, inesperados ou indesejáveis dos membros do ingroup e positivos ou desejáveis dos membros do outgroup. Nesse sentido, pode-se afirmar que o viés lingüístico intergrupal ajuda a promover o próprio grupo, retratando-o de forma favorável, o que, em certo sentido, contribui para que o indivíduo, concomitantemente, desenvolva ou mantenha uma imagem favorável de si mesmo.
Afora isso, o viés lingüístico intergrupal pode ser interpretado como um indicador implícito de preconceito . As conseqüências práticas do viés lingüístico intergrupal são bastante evidentes, pois, se os comportamentos estereotipados dos membros do outgroup são geralmente retratados como negativos, eles tendem a ser codificados de uma forma mais abstrata, o que certamente torna a mudança ou mesmo a supressão dos estereótipos e preconceitos uma tarefa bastante difícil.

Fontes:
Maass, A. Salvi, D. Arcuri, L. e Semin, G. (1989) Language use in intergroup contexts: The linguistic intergroup bias. Journal of Personality and Social Psychology, 57, 981-993.
Pereira, M., Fagundes, A. e Takei, R. (2003). os estereótipos e o viés linguístico intergrupal. Interação em Psicologia, 7, (1),127-140
Semin, G.R. e Fiedler, K. (1988) The cognitive functions of linguistic categories in describing persons: social cognition and language. Journal of Personality and Social Psychology, 54, 558-568.
Von Hippel, W., Sekaquaptewa, D. e Vargas, P. (1997). The linguistic intergroup bias as an implicit indicator of prejudice. Journal of Experimental Social Psychology. 33, 490-509

 

Endo e exogrupo

chamada

A diferenciação entre endogrupo e exogrupo não apenas contribui para a promoção do preconceito, como também é um elemento decisivo na eclosão de comportamentos discriminatórios. As pessoas tendem a se identificar com os grupos aos quais pertencem, incorporando-os ao seu auto-conceito. Desta forma, elas geralmente avaliam o próprio grupo de uma forma mais positiva, aderindo a uma estratégia que favorece à preservação do auto-conceito. Esta avaliação positiva do próprio grupo é correlata à avaliação negativa dos grupos externos. Esse viés na avaliação do endogrupo e do exogrupo parece ser um componente fundamental na constituição da identidade social e tende a se manifestar quando ocorre qualquer diferenciação, por mínima que seja, entre o endogrupo e o exogrupo. A explicação para este fenômeno assenta-se na suposição de que as pessoas em geral mantém contatos bem mais intensos com os membros do próprio grupo, o que faz com que desenvolvam uma visão bem mais complexa a respeito dos que grupos em que transitam do que sobre os grupos externos. Assim, quando é requerido um julgamento de uma situação em que estejam envolvidos membros dos próprio grupo, ele tende a ser bem mais moderado, pois as informações novas porventura presentes são consideradas apenas após uma cuidadosa comparação com os aspectos positivos e negativos do comportamento inerentes aos membros do próprio grupo. No caso dos grupos externos, os contatos são bem mais reduzidos e, conseqüentemente, a representação disponível sobre o grupo ou sobre os membros do grupo tende a ser menos complexa, o que propicia a formulação de julgamentos mais extremados. Nesse caso, as informações novas exercem um efeito bem mais poderoso, uma vez que as informações anteriores a respeito do grupo externo são menos circunstanciadas e a avaliação tende a ser realizada de acordo com a representação estereotipada que se possui do exogrupo.

Fonte: Stephen, Walter (1985). Intergroup relations. Em G. Lindzey & E. Aronson. Handbook of social psychology. New York: Randon House.

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