Contribuição: Laís Marques
O estudo conduzido por Figueiras e cols.(2007) acerca das crenças de senso comum sobre medicamentos genéricos na população portuguesa reflete um aumento da divulgação e comercialização dos mesmos no país, o que é uma realidade correlata ao Brasil.
O aspecto econômico atrelado aos medicamentos genéricos é de alta relevância, entretanto, os autores do artigo apontam para estudos que demonstram insegurança para com esses e maior confiança na eficácia dos medicamentos de marca. Contudo, os genéricos vêm se popularizando, e vêm mostrando uma aceitação crescente.
Segundo Figueiras e cols.(2007), as crenças de senso comum atreladas aos medicamentos genéricos são permeadas pelas “… características individuais, crenças subjectivas sobre o tratamento e representações da doença do consumidor…” (Figueiras, Marcelino e Cortes, 2007, p.427).
Ao incluir as representações da doença, os autores atribuem um valor também à gravidade da mesma, que será uma das variáveis do presente estudo. Dessa maneira, quanto mais grave for a enfermidade em questão, menor será a confiança num tratamento à base de medicamentos genéricos.
Um dado interessante, trazido por Figueiras e cols (2007), aponta que, em estudos anteriores (Carroll, Wolgang, Kotzan e Perri, 1988 ) doentes que embora tivessem passado por experiência bem-sucedida com medicamento genérico, tinham uma menor probabilidade de voltar a usar este tipo de remédio em casos de doenças mais graves ou crônicas.
A adesão aos medicamentos genéricos perpassa, então, o meio social, através do qual os indivíduos irão adquirir experiências, vivências, que estão nas origens das crenças. Somado a isso, as representações sociais das doenças, e sua gravidade, também são veiculadas nesse âmbito (social).
É possível que, com o aumento crescente de informações acerca dos genéricos, algumas especulações quanto à sua eficácia ou efeitos colaterais sejam modificadas, contudo estamos ainda muito presos à prescrição médica, a qual se dá acentuadamente a favor dos medicamentos de marca. A contribuição dos profissionais de saúde, sobretudo dos médicos, na divulgação dos genéricos, é, dessa maneira, imprescindível, uma vez que, a margem de influência de um profissional como esse é bastante alta, sobretudo em setores mais carentes da população.
Corroborando com essa hipótese, um dado trazido da leitura de Figueiras, Marcelino e Cortes, (2007), pelos autores do artigo, indica que indivíduos com menos escolaridade têm crenças mais negativas quanto aos genéricos. Essa freqüência maior de crenças negativas também é encontrada em pessoas mais velhas.
Na leitura de outros estudos, os autores identificaram também diferenças quanto ao gênero envolvendo queixas somáticas e preocupação com a saúde. Por conta disso, decidiram por investigar, no estudo em questão, as diferenças de gênero associadas
às crenças sobre a medicação (genérica e de marca) para quatro doenças específicas, com graus de gravidade distintos.
Como resultados, eles obtiveram que: a concordância com a prescrição de medicamentos genéricos é inversamente proporcional à gravidade da doença; que os homens tendem a concordar mais com o uso de genéricos para doenças leves e que as mulheres associam mais fortemente o uso de medicamentos de marca às doenças mais graves.
A concordância com a prescrição de genéricos de uma forma geral, entretanto, chamou a atenção dos pesquisadores. Isto, por conta da implementação desses medicamentos ser recente em Portugal. Dentre as possíveis explicações, Figueiras e colaboradores elencaram: o fato de um participante da pesquisa poder dar respostas que ele acredita que são as esperadas; a disponibilidade de informação acerca dos genéricos e o custo menor, que é um fator bastante atrativo.
Quanto às diferenças de gênero encontradas no estudo, Figueiras e cols.(2007), sugerem a influência das diferentes formas de avaliação da saúde nessa esfera.
As mulheres, por apresentarem mais queixas e recorrerem mais aos cuidados médicos que os homens, acabam tendo uma percepção de gravidade das doenças diferenciada. Como a gravidade é um fator central na decisão entre um medicamento genérico e um de marca, e este fator tem conotações distintas para os dois gêneros, pode-se atribuir certa influência deste aspecto (gênero) nos resultados. Contudo, os pesquisadores marcam que, por se tratar de um estudo piloto, essas relações devem ser interpretadas com certo cuidado.
O estudo sobre as crenças acerca dos medicamentos genéricos reflete uma preocupação atual envolvendo a repercussão desses remédios na população. Na realidade portuguesa, os índices encontrados foram positivos, o que reflete a popularização desses fármacos devido à informação disponibilizada, sobretudo na mídia, e a redução de custos com a saúde.
Os medicamentos genéricos também vêm se popularizando no cenário brasileiro devido à sua divulgação e baixo custo. Contudo, por conta das diferenças entre as populações brasileira e portuguesa, esses resultados não podem ser generalizados para a nossa realidade.
Dessa forma, a leitura do artigo deixa uma enorme curiosidade a respeito do que poderia ser encontrado no Brasil, sobretudo, por conta de uma série de representações negativas do sistema de saúde. Esse cenário envolve, além de outros fatores, as implicações que o custo dos tratamentos traz para pessoas de renda mais baixa, para as quais o impacto econômico da utilização de remédios genéricos ou de marca é bastante acentuado.
Referência: Figueiras, M. J., Marcelino, D., Cortes, M. A., Horne, R. e Weinman, J. Crenças de senso comum sobre medicamentos genéricos vs.medicamentos de marca: Um estudo piloto sobre diferenças de género. Análise Psicológica, 25, 3, 427-437, 2007