Resenha: crenças de senso comum sobre medicamentos genéricos vs medicamentos de marca

Maria Madalena R. de M. da S. Neta

Medicamentos genéricos são medicamentos que possuem a mesma substância ativa dos de marca, sendo também mais baratos. No Brasil, este tipo de medicamento foi introduzido em 1999, através da Lei 9.787 e avaliação da manutenção da qualidade é realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária em parcerias.
Contando com a amostra de 144 voluntários, maiores de 18 anos, o estudo objeto desta resenha buscou investigar “em que medida o nome da doença pode influenciar a crença sobre o uso de medicamentos (genéricos e de marca) em indivíduos saudáveis, e a existência de eventuais diferenças de gênero associadas às crenças sobre a medicação para doenças específicas” Filgueiras, M.J.; Marcelino, D.; Cortes, M.A.; Horne, R.; Weinman, J. (2007). Através deste estudo realizado em Portugal, os participantes responderam a três questões para avaliar as crenças de senso comum sobre a medicação prescrita para as doenças gripe, amigdalite, asma e angina de peito.
Segundo os autores o aumento do consumo de medicamentos genéricos em Portugal pode demonstrar tanto um aumento da aceitação, como uma menor percepção de risco associado a sua utilização. Estes citam uma pesquisa de Carrol, Wolfgang, Kotzan & Perri (1988), onde os resultados indicam que mesmo os pacientes que tiveram experiências positivas com o uso de medicamentos genéricos, considerando-os com a mesma qualidade dos medicamentos de marca, apresentavam menos probabilidade de fazer a uso destes para tratamento de doenças crônicas ou graves, levando a crer ser a percepção da doença e não a percepção acerca do medicamento em si que determina o seu uso. O possível risco de uso do medicamento genérico parece estar associado à gravidade da doença, no entanto a mesma pesquisa mostra que seja sua bioequivalência atestada por um profissional habilitado, os consumidores assumem um comportamento mais confiante no uso destes medicamentos.
Os autores trazem também a ideia de que os consumidores ainda estão mais habituados a receberem prescrição de um medicamento de marca, cujo nome pode já ser conhecido, em contrapartida ao aumento da oferta de informações acerca dos medicamentos genéricos e sua bioequivalência. E assinalam as crenças individuais sobre a medicação referenciando-se a um estudo de Macedo, Moital Santos, Nunes, Baños, & Farré (2007) onde caso esses nomes comerciais façam alusão aos efeitos ou indicações do fármaco, os efeitos placebo podem ser potenciados.
Em relação às diferenças de gênero, os autores citam diversos estudos mencionando que as mulheres apresentam queixas sintomáticas com mais frequência, intensidade e diversidade do que os homens, além de procurarem cuidados médicos, em média, mais vezes também. Contudo fazem alusão a um estudo recente de Figueiras, Marcelino, & Cortes (2007) onde se verifica que em relação às crenças gerais e específicas sobre medicamentos genéricos, apesar de haverem diferenças em termos de nível de escolaridade e grupo etário, não existem diferenças de gênero.
A partir da análise dos dados coletados em Portugal, os autores identificaram que os resultados obtidos indicam que existe de fato uma correlação entre a doença e o tipo de medicamento, onde a crença na eficácia do medicamento genérico diminui consideravelmente quando associadas a doenças consideradas no senso comum como mais graves, corroborando com a literatura. As mulheres apresentam uma crença mais forte na eficácia dos medicamentos de marca do que nos medicamentos genéricos para asma e angina de peito (doenças consideradas mais graves). Em relação ao alívio dos sintomas, a crença na eficácia dos medicamentos genéricos diminui com o aumento da gravidade da doença, assim como a crença na utilização de um medicamento de marca é mais forte para doenças consideradas mais graves. Nesse quesito fica clara uma diferença de gênero, onde os homens apresentam uma crença mais forte nos medicamentos genéricos no alívio de sintomas da gripe, enquanto as mulheres apresentam uma crença mais forte nos medicamentos de marca para alívio dos sintomas desta doença.
Contudo os autores analisaram que apesar da recente inserção dos medicamentos genéricos no país, os indivíduos têm uma atitude positiva em relação a este tipo de fármacos. Isso pode ser resultado da já citada crescente oferta de informações acerca dos aspectos relativos à equivalência destes, através dos meios de comunicação, propiciando um nível de conhecimento satisfatório por parte dos consumidores. Finalizando, quanto aos efeitos de gênero na pesquisa, fazem alusão a Macintyre et al. (1996) que argumentam a origem das diferenças de gênero nos papéis sociais.

Referência bibliográfica: Filgueiras, M.J.; Marcelino, D.; Cortes, M.A.; Horne, R.; Weinman, J. Crenças de senso comum sobre medicamentos genéricos VS. Medicamentos de marca: Um estudo piloto sobre diferenças de gênero. Análise Psicológica (2007), 3 (XXV): 427-437

Resenha: Crenças de senso comum sobre medicamentos genéricos vs. medicamentos de marca: um estudo piloto sobre diferenças de gênero.

Marinês Oliveira

O presente artigo faz um estudo pautado nas crenças do senso comum sobre Medicamentos Genéricos vs. Medicamentos de Marca na perspectiva de Gêneros. Segundo Figueiras, Marcelino & Cortes (2007), em termos da população em geral, existem crenças de senso comum acerca da eficácia e segurança dos genéricos, que poderão condicionar a escolha do medicamento no momento da compra, na medida em que esta é influenciada pelas características individuais, crenças subjetivas sobre o tratamento e representações da doença do consumidor. Tal fato se concretiza, quando as pesquisas percebem que o uso do genérico está associado a percepção do individuo a respeito da gravidade de sua doença, ou seja, a percepção de doença e não a percepção acerca do medicamento que determina o seu uso. Assim, quando a percepção acerca da doença não é tão grave o uso dos genéricos dispõe a aumentar. Os autores também atribuem esta crença ao fato de que nos últimos anos, embora a população tenha recebido grandes informações sobre medicamentos genéricos, os indivíduos estão mais habituados a receberem uma prescrição de um medicamento de marca, cujo nome é mais conhecido, ou por experiências anteriores, ou por indicação de terceiros. Acrescenta ainda que, um estudo recente mostrou a importância do nome do fármaco em termos dos significados implícitos e explícitos dos nomes de marca.
Tal fato tem subsídio nas abordagens dos sistemas de crenças de Bem (1973) e Rockeach (1981), quando colocam que as origens das crenças podem advir de experiências, vivencias, meios de comunicações, autoridades, e outros. Percebe-se o bombardeio da mídia farmacêutica no que diz respeito às medicações, tornando estas mensagens de maneira tão organizadas e imperativas que, ao passar, do tempo, elas vão adquirindo a forma de doutrinas, verdades absolutas e sistema de opiniões e pensamentos.
O presente estudo avaliou em que medida o nome da doença pode influenciar a crença sobre o uso de medicamentos (genéricos e de marca) em indivíduos saudáveis, e (2) a existência de eventuais diferenças de gênero associadas às crenças sobre a medicação. Os resultados indicam que existem efeitos de interação entre tipo de medicamento e doença. Os participantes concordam com a prescrição do medicamento genérico para todas as doenças, no entanto esta concordância diminui significativamente à medida que a gravidade da doença aumenta. Verificaram-se ainda diferenças de gênero em relação à crença na eficácia dos medicamentos genéricos para as diferentes doenças. Os homens associam o uso do medicamento genérico a doenças que consideram menos graves, enquanto as mulheres associam a utilização do medicamento de marca a doenças percepcionadas como mais graves. Sendo importante salientar que a gravidade de cada doença dentro da percepção masculina/feminina é o que diferenciou este resultado. Ou seja, para a doença gripe, os resultados foram diferentes, pois homens e mulheres tiveram percepções de gravidade distintas. Este estudo levanta questões importantes no que se refere a aspectos subjetivos relacionados com a escolha e uso de medicamentos, o que pode ter implicações para a saúde em geral e para a adesão a regimes terapêuticos.
Neste caso, é visível o quanto as crenças manifestam os seus efeitos nos processos cognitivos de uma forma importante que são capazes de influenciar a maneira através da qual as pessoas percebem e interpretam os fatos. No artigo, elas não só delimitam as proposições que os indivíduos tem a respeito do objeto, como foram capazes de ditar suas escolhas e comportamentos.
Referência: Figueiras, Marcelin, Cortes, Horne & Weinman (2004), Crenças de senso comum sobre medicamentos genéricos vs. medicamentos de marca: Um estudo piloto sobre diferenças de gênero.

Resenha: Crenças de senso comum sobre medicamentos genéricos vs.medicamentos de marca: Um estudo piloto sobre diferenças de género

Contribuição: Laís Marques

O estudo conduzido por Figueiras e cols.(2007) acerca das crenças de senso comum sobre medicamentos genéricos na população portuguesa reflete um aumento da divulgação e comercialização dos mesmos no país, o que é uma realidade correlata ao Brasil.

O aspecto econômico atrelado aos medicamentos genéricos é de alta relevância, entretanto, os autores do artigo apontam para estudos que demonstram insegurança para com esses e maior confiança na eficácia dos medicamentos de marca. Contudo, os genéricos vêm se popularizando, e vêm mostrando uma aceitação crescente.

Segundo Figueiras e cols.(2007), as crenças de senso comum atreladas aos medicamentos genéricos são permeadas pelas “… características individuais, crenças subjectivas sobre o tratamento e representações da doença do consumidor…” (Figueiras, Marcelino e Cortes, 2007, p.427).

Ao incluir as representações da doença, os autores atribuem um valor também à gravidade da mesma, que será uma das variáveis do presente estudo. Dessa maneira, quanto mais grave for a enfermidade em questão, menor será a confiança num tratamento à base de medicamentos genéricos.

Um dado interessante, trazido por Figueiras e cols (2007), aponta que, em estudos anteriores (Carroll, Wolgang, Kotzan e Perri, 1988 ) doentes que embora tivessem passado por experiência bem-sucedida com medicamento genérico, tinham uma menor probabilidade de voltar a usar este tipo de remédio em casos de doenças mais graves ou crônicas.

A adesão aos medicamentos genéricos perpassa, então, o meio social, através do qual os indivíduos irão adquirir experiências, vivências, que estão nas origens das crenças. Somado a isso, as representações sociais das doenças, e sua gravidade, também são veiculadas nesse âmbito (social).

É possível que, com o aumento crescente de informações acerca dos genéricos, algumas especulações quanto à sua eficácia ou efeitos colaterais sejam modificadas, contudo estamos ainda muito presos à prescrição médica, a qual se dá acentuadamente a favor dos medicamentos de marca. A contribuição dos profissionais de saúde, sobretudo dos médicos, na divulgação dos genéricos, é, dessa maneira, imprescindível, uma vez que, a margem de influência de um profissional como esse é bastante alta, sobretudo em setores mais carentes da população.

Corroborando com essa hipótese, um dado trazido da leitura de Figueiras, Marcelino e Cortes, (2007), pelos autores do artigo, indica que indivíduos com menos escolaridade têm crenças mais negativas quanto aos genéricos. Essa freqüência maior de crenças negativas também é encontrada em pessoas mais velhas.

Na leitura de outros estudos, os autores identificaram também diferenças quanto ao gênero envolvendo queixas somáticas e preocupação com a saúde. Por conta disso, decidiram por investigar, no estudo em questão, as diferenças de gênero associadas
às crenças sobre a medicação (genérica e de marca) para quatro doenças específicas, com graus de gravidade distintos.

Como resultados, eles obtiveram que: a concordância com a prescrição de medicamentos genéricos é inversamente proporcional à gravidade da doença; que os homens tendem a concordar mais com o uso de genéricos para doenças leves e que as mulheres associam mais fortemente o uso de medicamentos de marca às doenças mais graves.

A concordância com a prescrição de genéricos de uma forma geral, entretanto, chamou a atenção dos pesquisadores. Isto, por conta da implementação desses medicamentos ser recente em Portugal. Dentre as possíveis explicações, Figueiras e colaboradores elencaram: o fato de um participante da pesquisa poder dar respostas que ele acredita que são as esperadas; a disponibilidade de informação acerca dos genéricos e o custo menor, que é um fator bastante atrativo.

Quanto às diferenças de gênero encontradas no estudo, Figueiras e cols.(2007), sugerem a influência das diferentes formas de avaliação da saúde nessa esfera.

As mulheres, por apresentarem mais queixas e recorrerem mais aos cuidados médicos que os homens, acabam tendo uma percepção de gravidade das doenças diferenciada. Como a gravidade é um fator central na decisão entre um medicamento genérico e um de marca, e este fator tem conotações distintas para os dois gêneros, pode-se atribuir certa influência deste aspecto (gênero) nos resultados. Contudo, os pesquisadores marcam que, por se tratar de um estudo piloto, essas relações devem ser interpretadas com certo cuidado.

O estudo sobre as crenças acerca dos medicamentos genéricos reflete uma preocupação atual envolvendo a repercussão desses remédios na população. Na realidade portuguesa, os índices encontrados foram positivos, o que reflete a popularização desses fármacos devido à informação disponibilizada, sobretudo na mídia, e a redução de custos com a saúde.

Os medicamentos genéricos também vêm se popularizando no cenário brasileiro devido à sua divulgação e baixo custo. Contudo, por conta das diferenças entre as populações brasileira e portuguesa, esses resultados não podem ser generalizados para a nossa realidade.

Dessa forma, a leitura do artigo deixa uma enorme curiosidade a respeito do que poderia ser encontrado no Brasil, sobretudo, por conta de uma série de representações negativas do sistema de saúde. Esse cenário envolve, além de outros fatores, as implicações que o custo dos tratamentos traz para pessoas de renda mais baixa, para as quais o impacto econômico da utilização de remédios genéricos ou de marca é bastante acentuado.

Referência: Figueiras, M. J., Marcelino, D., Cortes, M. A., Horne, R. e Weinman, J. Crenças de senso comum sobre medicamentos genéricos vs.medicamentos de marca: Um estudo piloto sobre diferenças de género. Análise Psicológica, 25, 3, 427-437, 2007

Biblioteca: inclusão de conteúdo

Acrescentado à biblioteca o artigo Crenças de senso comum sobre medicamentos genéricos vs.medicamentos de marca: Um estudo piloto sobre diferenças de género, de Maria João Figueiras, Dália Marcelino, Dália, Maria Armanda Cortes, Rob Horne e John Weinman

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