Anedotas étnicas: a desumanização do grupo alvo

Origem: Estados Unidos
Grupo alvo: irlandeses

Um judeu, um hindu e um irlandês viajavam juntos, mas caiu a noite e eles não puderam prosseguir com a viagem. Eles então dirigiram-se a uma pensão onde o dono se desculpou por só ter duas camas disponíveis, mas sugeriu que um deles poderia dormir no celeiro, pois lá era um lugar bem quente e confortável. Os viajantes tiraram a sorte e coube ao judeu ir dormir no celeiro.
Poucos minutos depois o dono da pensão ouve algumas batidas na porta e ao abri-la encontra o judeu que exclama:
– O senhor me desculpe, mas encontra-se um porco no celeiro e a minha religião não me permite pernoitar sob o mesmo teto que esse animal.
Coube ao hindu ir para o celeiro. Alguns minutos depois nova batida na porta da dono da pensão. O dono ao abrir a porta se depara com o hindu:
– O senhor me desculpe, mas tem uma vaca no celeiro e a minha religião não me permite pernoitar sob o mesmo teto que esse animal.
Dessa vez coube ao irlandês ocupar o celeiro. Minutos depois nova batida na porta. Dessa vez o dono da pensão abre a porta para a vaca e o porco:
– O senhor nos desculpe, mas não da para dormir com o irlandês que está lá no celeiro.

Anedotas étnicas: crítica social

Origem: Polônia
Categoria alvo: ditadores/opressores

O General Jaruzelski resolveu ir a Virgem Negra (especie de Nossa Senhora de Fatima Polaca).
– Ó Virgem ! – lamentava-se o General – estou muito triste e magoado, porque desde que chefiei o golpe de estado que todo o povo me odeia, o que e injusto porque sempre fui um grande patriota e sempre fiz o melhor para o meu pais…
– E o que sugeres que eu faca ? – respondeu-lhe a Virgem
Ao ouvir a voz da virgem o general quase caiu sentado.
– O Virgem ! Se fizesses, por exemplo, com que eu podesse caminhar sobre a agua como Jesus. Os polacos, como sabes, sao muito religiosos e se me vissem a caminhar sobre a agua interpretariam isso como um sinal divino de apoio as medidas que tomei.
– OK. Amanha de manha levanta-te e dirige-te ao rio. Farei com que caminhes sobre a agua.
Bom, o General no outro dia levanta-se e comeca a ter duvidas: será que nao sonhou ter falado com a Virgem ?
– Pelo sim pelo nao vou mais cedo, enquanto ainda nao esta muita gente, senao ainda faço figura de urso, pensou ele.
Quando chegou ao rio, ainda so havia 2 pescadores na margem oposta. O General aproximou-se da agua, pos cuidadosamente um pe em cima… e conseguiu… a agua aguentou o seu peso. A seguir deu um passo, mais outro e mais outro e comecou a atravessar o rio.
Na outra margem um dos pescadores diz para o outro:
– Olha la, aquelo gajo ali a caminhar sobre a agua nao e’ o General Jaruselski ?
– Pois e’.
– Olha so para o filho da puta, nem sequer nadar sabe.

Anedotas étnicas: técnicas de elaboração

Uma das técnicas mais utilizadas na composição das anedotas étnicas envolve a colocação de pessoas de etnias diferentes em uma mesma situação. A maneira pela qual cada grupo enfrenta a situação corresponde aos estereótipos acerca dos membros daquele grupo. Eis o exemplo de uma anedota, relatada na Espanha em 1969 e registrada por Alan Dundes, que relata o comentário feito por mulheres de alguns países logo após o sexo:

A mulher russa:
– Romanov, esta noite criamos um ser perfeito para o partido.
A mulher alemã:
– Hans, esta noite criamos um ser perfeito.
A mulher francesa:
– René, você é um excelente amante, mas ainda têm muito o que aprender.
A mulher inglesa:
– Qual é mesmo o seu nome ?
A mulher espanhola:
– Pepe, levanta-te. Temos que ir à missa das duas da manhã.

Anedotas étnicas: exaltação das qualidades do endogrupo

Embora a alusão depreciativa aos estrangeiros seja uma estratégia bastante comum nas anedotas, umas poucas são elaboradas com a finalidade de representar de forma positiva, ainda que estereotipada, a própria categoria social. A anedota abaixo se origina, evidentemente, em Portugal.

Os europeus seleccionavam uma pessoa para ser o primeiro astronauta europeu. Havia candidatos de varios paises e entre outras coisas faziam uma entrevista. Primeiro o ingles: no fim da entrevista perguntaram a ele quanto e que queria ganhar.
– 900 mil libras.
– Ah, mas isso é muito dinheiro. O que é que vai fazer com tanto dinheiro ?
– Bom, 300 mil e para o Fundo de Apoio a Coroa Britanica, 300 mil para mim, e 300 mil para a minha mulher.
– Muito, bem. Aguarde, mais tarde o contactaremos.
A seguir vem o francês. No fim da entrevista fazem a mesma pergunta.
– 900 mil libras – responde o frances
– Oh, é muito ! O que vai fazer com esse dinheiro todo ?
– 300 mil são para mim, 300 mil para a minha amante e 300 mil para a minha mulher.
Finalmente entra o portugues. Fazem-lhe a mesma pergunta
– 900 mil libras.
– Oh. é muito ! Onde vai gastar esse dinheiro ?
– Bom, 300 mil é ja aqui para o meu amigo por me ter escolhido, 300 mil são obviamente para mim, e os outros restantes 300 mil para a pessoa que eu arranjar para ir no meu lugar.

Anedotas com múltiplos alvos

Origem: Estados Unidos
Grupos alvo: irlandeses, poloneses e italianos

Por que você pode dizer que um irlandês está presente numa rinha de galos?
– Porque ele trouxe um pato.
Por que você pode dizer que também um polonês está presente ?
– Porque ele apostou no pato.
Por que você pode dizer que ali também se encontra um italiano ?
– Porque o pato venceu.

Anedota: o alvo como estúpido

Origem: Antiga Tchecoslováquia
Grupo alvo: policiais

Um policial solicitou a dois homens que passavam pela rua que apresentassem a carteira de identidade. Ele pegou uma delas e começou a ler com uma certa dificuldade:
– Car-tei-ra de i-den-ti-da-de .
Em seguida, pegou a do outro e começou a ler:
– Car – tei – ra .. Vocês são irmãos ?

Anedotas: o alvo como avarento

Origem: Estados Unidos
Grupo alvo: Escoceses

Era um escocês tão mesquinho e desconfiado que contava o próprio dinheiro em frente ao espelho para não ser passado para trás

Anedotas: o alvo como avarento

Origem: França
Grupo Alvo: Escoceses:

“É terrível”, comentou um escocês, “mas eu nunca consigo tomar uma xícara de café do jeito que eu gosto. Lá em casa, como a ordem é economizar, eu só coloco uma colher de açúcar. Na caso dos outros, como não sou eu que estou pagando, sirvo-me de três colheres. O que eu gostaria mesmo seria de tomar café com duas colheres de açúcar.”

Anedotas: o alvo como estúpido

Origem: Nova Zelândia
Grupo alvo: os Maoris

A biblioteca de um Maori pegou fogo em um incêndio. Não só o fogo destruiu ambos os livros, mas o que é pior, ele ainda não havia acabado de colorir o segundo deles.

Alusão depreciativa aos estrangeiros: uma anedota étnica como exemplo

Há alguns anos atrás um informante português nos relatou uma curiosa anedota. A estrutura da piada é comum ao estilo de um sem número de outras anedotas étnicas e o humor se fundamenta no contraste entre as concepções estereotipadas a respeito de algumas categorias sociais. Uma das formas mais usuais de construção das anedotas étnicas é introduzir um contexto no qual personagens de duas ou mais etnias, nacionalidades, raças ou gênero etc são colocadas em uma mesma situação e a maneira pela qual cada um se defronta com a mesma sugere os estereótipos subjacentes ao grupo.

Num encontro entre Brejnev e Nixon, nos Estados Unidos, o presidente dos EUA mostra a Brejnev a sua coleção de automóveis. Uma enorme coleção com automóveis de todas as marcas famosas desde os mais antigos ate aos modernos. Brejnev fica impressionado.
– E o Sr. presidente, colecciona alguma coisa ? – pergunta-lhe Nixon.
– Ah, nada de especial, colecciono anedotas
– Anedotas ?
– Sim, anedotas que as pessoas contam sobre mim.
– Oh, interessante ! E quantas é que já coleccionou ?
– Dois campos de concentração.