Notícia do dia: Anistia Internacional terá acesso a CPI das Milícias

Contribuição: Gilcimar Dantas

Notícia publicada pela Agência Estado sugere que a Anistia Intrenacional receberá o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), que pedirá o indiciamento de 226 pessoas, entre elas um deputado estadual, sete vereadores, 67 policiais militares, oito policiais civis, três bombeiros, dois agentes penitenciários e dois militares das Forças Armadas. Clique aqui para ler a notícia.

Notícia do dia: traficantes jogavam corpo de rivais para jacarés

Qual o limite da insensibilidade? É possível acreditar? Clique aqui e leia a notícia publicada no Estadão.

Resenha – Homossexualidade e preconceito: aspectos da subcultura homossexual no Rio de Janeiro

Maria Fernanda Saback

Liberdade ou isolamento?
No artigo “Homossexualidade e preconceito: aspectos da subcultura homossexual no Rio de Janeiro” encontramos importantes reflexões acerca dos preconceitos enfrentados por homossexuais a partir da década de 70 e as construções de espaços urbanos na formação das subculturas, assim como a transição desses locais até os dias atuais. Os autores fazem uma distinção nítida entre a formação dos guetos nas cidades norte-americanas que seriam espaços urbanos maiores, completamente dominados pelos que ali se segregam com seus mercados e toda uma arquitetura socioeconômica voltada para os mesmos. A subcultura seria a formação de espaços menores de encontros e de identificação, possibilitando um maior entrosamento e afirmação dessas identidades grupais menores, tantas vezes excluídas pela maioria da sociedade.
De acordo com Plummer, as subculturas são resultantes de sociedades complexas onde não existe um sistema de valor único. Nesse sentido as subculturas seriam entendidas como uma forma de resistência, criando-se um espaço de livre expressão. Seguindo essa lógica os autores apontam para uma formação grupal positiva, envolvendo três aspectos: o reconhecimento de que certas desvantagens não são derivadas de experiências pessoais, que os aspectos minoritários do grupo são ilegítimos e derivados de preconceito e o desenvolvimento de uma identidade grupal positiva que como conseqüência gera a noção de comunidades homossexuais. Pessoas que participam de uma comunidade estabelecem relações virtuais ou face a face de modo que nem toda comunidade é uma subcultura. No Rio de Janeiro o autor defende que se pode falar tanto em comunidade quanto em subcultura homossexual (a noção de comunidade implica uma noção de identidade compartilhada, no caso especifico dos homossexuais.).
Fica registrada a importância desses espaços, na medida em que a rua é considerada um lugar heterossexual. Na medida em que se criam lugares específicos fica liberado a livre expressão de seu modo de ser, como andar de mãos dadas, beijarem, etc. Sob esse aspecto criam-se espaços de transitoriedade e de refugio ao preconceito. Por outro lado alguns lugares podem também ficar estigmatizados e serem alvos fáceis de manifestações homofóbicas. Nesse sentido há uma certa contradição, pois que se criam espaços para se estar mais livre, ter uma sensação de identidade, não obstante a própria necessidade de se criar espaços próprios revela o caráter excludente e preconceituoso da sociedade carioca, nesse caso. O texto, porém reafirma a construção de tais lugares como resistência cultural de grande simbologia.
No caso da subcultura brasileira, os homossexuais, apesar da identidade gay, parecem ter fundado sua união pela noção de diferença sexual. Ou seja, existe um aspecto comum de resistência ao preconceito, de compartilhamento da marginalidade, formando laços entre indivíduos estranhos, não necessariamente comuns. Portanto existem também as diferenças e inclusive a formação de subgrupos rotulados pelos próprios membros da comunidade: transformistas, drag queens, michês, boys, go-go-boys, bichas, bofes, bichas velhas, entendidos, ursos, barbies, dentre outros citados no artigo.
É chamada a atenção para o fenômeno atual da barbies que seriam homens que se dedicam ao culto do corpo, raspam os pelos – verdadeiros narcisos, buscando a virilidade e a eterna juventude. Tal fato por sua vez não surpreende na medida em que são valores também buscados fora da comunidade e da subcultura homossexual, reflexo da sociedade moderna. O texto chama a atenção justamente para o fato de existirem estilos dominantes de acordo com cada época, assim como espaços urbanos que vão sendo trocados ou reinvestidos, na medida em que não há guetos homossexuais no Brasil como nos Estados Unidos ou Europa. Verifica-se uma transição de um estilo mais afeminado desde a dec. de 70 para esse protótipo do supermacho e então na década de 90 o modelo dominante colocado como andrógino das barbies. É importante ressaltar, ainda que o artigo não trate com ênfase este assunto que há preconceitos entre os subgrupos gays, refletindo também as condições socioeconômicas de seus integrantes como em outras derivações sociais.
Encontramos ainda as mudanças espaciais, no deslocamento de espaços do centro da cidade, que eram muito freqüentados por homossexuais na década de setenta para bairros como Copacabana, Ipanema, Botafogo, Leblon e Barra da Tijuca. O centro, que sempre foi um local de utilização de homossexuais mais humildes, somando ao fenômeno da AIDS contribuiu para os deslocamentos já mencionados do espaço urbano (banheiros, cinemas e parques deixaram de ser largamente utilizados). Há um destaque para o bairro de Copacabana, que apesar de seu declínio e de hoje ser grande zona de prostituição, é ainda um espaço onde homossexuais de diversas origens se reúnem, principalmente no carnaval. Tem como marco seu quiosque rainbow que pode ser visto por qualquer transeunte na orla.
Vale salientar como afirma Trevisan a ambigüidade da criação e ampliação desses espaços, que podem ser invadidos pela policia, sendo um marco de que a tolerância serve para atender aos limites da comunidade. “Entre seus iguais (em termos de estigma) o homossexual pode estabelecer uma identidade positiva, mas corre o risco de viver num mundo incompleto e artificial se ficar muito preso à comunidade gay”. A formação das comunidades são formas de acomodação ao estatuto de estigmatizados?
O comportamento de consumo é referido como uma importante forma de simbolizar atos e a própria identidade da subcultura gay, na medida em que disponibilizam meios e recursos de identificação assim como também de estigma. Mas de todo modo gera uma certa abertura, no sentido de ampliar a visibilidade dentro da sociedade como um todo. Ainda assim permanece a questão: seria esse o inicio para uma liberdade, ou esse sonho é só mais uma mentira de nossa complexa sociedade moderna que é supostamente democrática? Liberdade ou isolamento? Liberdade demarcada? Como o homem pode superar suas dificuldades em tratar o diferente?

Referência: Nunan, A. e Jablonki, B. Homossexualidade e preconceito: aspectos da subcultura homossexual no Rio de Janeiro. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 54, 1, 21-32, 2002.

%d blogueiros gostam disto: