Estereótipos de gênero: Untitled Film Stills de Cindy Sherman 7

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Resenha: as novas formas de expressão do preconceito e do racismo

Wilma Ribeiro

Atualmente encontramos novas formas de expressão do preconceito e do racismo, que corporifica muitos comportamentos cotidianos de discriminação sendo estes ocorridos ao nível institucional, ou ao nível interpessoal como trata o artigo de Lima e Vala (2004). O objetivo do artigo é analisar as várias teorizações produzidas pela Psicologia Social que explicitam as novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Dentre estas pode-se citar: os racismos moderno e simbólico da Austrália e dos EUA; os racismos aversivo e ambivalente dos EUA; o preconceito sutil da Europa; e, finalmente, o racismo cordial do Brasil. O racismo simbólico “se baseia em sentimentos e crenças de que os negros violam os valores tradicionais americanos do individualismo ou da ética protestante”. Já o racismo moderno guarda elementos comuns com o racismo simbólico e envolve a percepção de que os negros violam valores que são considerados importantes para os brancos e ainda recebem mais do que são merecedores. O racismo aversivo é considerado como decorrente da coexistência de um sistema de valores igualitários com sentimentos e crenças negativos direcionados aos negros. Por sua vez, o racismo ambivalente aborda a ambivalência de sentimentos na expressão do racismo. O artigo trata também sobre o preconceito sutil como uma forma mais velada e disfarçada de preconceito, e o racismo cordial como aquele que caracteriza o encontrado na sociedade brasileira. Sobre este último falaremos mais adiante. O artigo de Lima e Vala (9999) estabelece a diferenciação entre dois fenômenos distintos mais relacionados um ao outro: o preconceito e o racismo. O preconceito se refere a uma atitude hostil contra um indivíduo pertencente a um grupo desvalorizado socialmente. Dentre as várias formas de preconceito, encontramos o étnico ou racial “que se dirige a grupos definidos em função de características físicas ou fenotípicas supostamente herdadas”. Já o racismo constitui-se num processo de “exclusão e discriminação contra um indivíduo ou toda uma categoria social que é definida como diferente com base em alguma marca física externa, a qual é re-significada em termos de uma marca cultural interna.” O racismo é apontado como fenômeno que repousa sobre uma crença na distinção natural entre grupos. Mas afinal, quem é preconceituoso no Brasil? Os autores apontam para os dados de uma pesquisa realizada junto a uma amostra nacional indicando que quase 90% dos entrevistados se considera não racista. É bom pensar, entretanto, que não se é racista, uma vez que este termo caminha atrelado a outras características negativas como desumano, frio, etc. Mas a pesquisa continua demonstrando dados interessantes e contraditórios, pois ao passo em que esta alta porcentagem de brasileiros se considera não racista, a mesma quantidade de pessoas acredita que existe racismo no Brasil (Turra & Venturi, 1995). Onde estão os preconceituosos, então? Observa-se que as formas de expressão do preconceito bem como a natureza do mesmo são influenciadas e definidas pelas normas sociais vigentes na contemporaneidade. O artigo aponta para a mudança nos estereótipos relacionados a negros no Brasil com dados coletados na década de 50 e no ano de 2001. O resultado demonstra um decréscimo nos escores dos estereótipos negativos (ex.: preguiçosos e estúpidos) e um aumento nos escores dos positivos (ex.: musicais e alegres). O que poderíamos compreender erroneamente a partir dos dados apresentados é que o preconceito contra os negros diminuiu, e então celebrarmos a igualdade entre raças. Esta inferência não passa de um ingênuo engano. O que se observa hoje são formas sutis e veladas de demonstração do preconceito, enquanto o mesmo continua sendo fortemente vivenciado. Estas demonstrações estão ocorrendo em todo o mundo e no Brasil adquiriu o nome de “racismo cordial”. O Brasil é considerado um país multiracial. A miscigenação encontrada na pele, cultura, religião do povo brasileiro nos fala de um país onde o contato inter-racial, tem sido desde o início da civilização e o é até então, um fenômeno definidor da identidade social. A presença do preconceito neste país difere da dos outros países uma vez que aqui encontramos manifestações polidas de atitudes e comportamentos discriminatórios. Em especial, essas se expressam “ao nível das relações interpessoais através de piadas, ditos populares e brincadeiras de cunho “racial”. Isto é o que podemos chamar de racismo cordial. Assim, em geral, pessoas de cor negra não deixam de ser vítimas do sarcasmo de pessoas que de longe, se consideram preconceituosas. O artigo traz a posição de Guimarães (1999, p. 67), sobre este relevante aspecto: “trata-se de um racismo sem intenção, às vezes de brincadeira, mas sempre com conseqüências sobre os direitos e as oportunidades de vida dos atingidos”. Assim, no lugar de observarmos pessoas sendo xingadas ou agredidas por serem negras, ou sendo expulsas de ambientes restritos, identificamos novas modalidades de discriminação. Embora esteja claro que maneiras mais explícitas de demonstração não tenham deixado de existir por completo. Ademais, algumas expressões como: ‘A coisa tá ficando preta!’, ‘Denegrir a imagem’, ‘Humor negro’, são naturalizadas no vocabulário cotidiano e escondem uma depreciação e desvalorização daquilo que está relacionado com a cor escura, com o negro. Estas formas são mais difíceis de serem identificadas e conseqüentemente mais complexas no que se refere ao seu enfrentamento. Durante décadas o preconceito racial esteve presente na história da humanidade. O questionamento que se instaurou: Como vai a sua manifestação hoje? Pode ser respondido de forma clara. Certamente as leis que obrigam a uma convivência pacífica e penalizam aqueles que manifestam sua aversão a raça do outro tem conseguido uma diminuição dos atos de agressão e exclusão. Mas essas mesmas leis não têm diminuído o preconceito. A literatura aponta para a possibilidade de pessoas preconceituosas mascararem com negação, falseamento ou justificativas seus atos de discriminação. A lei, desta forma, não diminuiu o preconceito e situações discriminatórias ainda continuam perpassando o cotidiano de indivíduos em todo o mundo que nem sempre recorrem aos seus direitos legais. O artigo que faz uma comparação entre os preconceitos existentes no Brasil, Austrália, Europa e EUA, salienta a necessidade de maior ênfase na investigação dessas modernas formas de preconceito no Brasil, a fim de encontrar elementos que diferenciem e assemelhem as maneiras de demonstração preconceituosa existente nesses diferentes países. O anseio pessoal é que as investigações também caminhem para a descoberta de novas e eficazes formas de enfrentamento e diminuição do preconceito.

Referência:  Lima, M. E. e Vala, J. As novas formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos em Psicologia (Natal), 9, 3, 2004.

Estereótipos de gênero: Untitled Film Stills de Cindy Sherman 6

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Estereótipos de gênero: Untitled Film Stills de Cindy Sherman 5

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Resenha: Flutuações e diferenças de gênero no desenvolvimento da orientação sexual – Perspectivas teóricas.

Apohena Noroya

O artigo faz uma revisão de pesquisas que abordam as diferenças de gênero e suas flutuações no desenvolvimento da orientação sexual. As autoras são psicólogas clínicas portuguesas e uma delas realiza pós doutorado. Elas fazem um apanhado sobre as conceituações e diferenças entre a identidade de gênero, papéis sexuais e orientação sexual, assim como, de que forma (geralmente numa ótica estereotipada) a sociedade vê as flutuações de orientação sexual – uma hora heterossexual, na outra bissexual, transexual, pansexual, polisexual.
Na introdução as autoras falam da importância da compreensão do que leva as pessoas a relacionarem-se entre si, investigando as relações dos sexos e dos gêneros com a diversidade de comportamentos humanos. Elas afirmam que para uma melhor entendimento psicológico da identidade sexual é preciso definir separadamente os conceitos de sexo- estrutura anatômica e gênero- aspectos psicossociais do sexo. No desenvolvimento da identidade sexual é preciso destacar três componentes que vão se desenvolvendo gradativamente: a identidade de gênero, os papeis sexuais e a orientação sexual.
Durante a fase da identidade de gênero, a criança se reconhece num processo de auto-identificação como menino ou menina, os papeis sociais e sexuais dizem respeito aos estereótipos das características masculinas e femininas, sobre os ditames sociais do que se espera socialmente da aparência,comportamento e aspectos da personalidade destas pessoas. Em relação a orientação sexual, as autoras falam da preferência por parceiros do sexo oposto, do mesmo sexo ou por ambos os sexos, destacando dois aspectos essenciais distintos: a preferência física sexual e a preferência afetiva. Sendo assim, as categorias homossexual, heterossexual e bissexual se caracterizam não como nomes mas sim como adjetivos que se referem ao sexo do parceiro que uma pessoa escolhe para se relacionar afetivamente e sexualmente.
Ao abordar a questão da fluidez no desenvolvimento da orientação sexual, as autoras se detém a exemplificar e explicar este tema através do universo feminino. Através de pesquisas as autoras constataram que a sexualidade da mulher é relativamente fluida, a identidade sexual das mulheres passa por diversas mudanças nas atrações sexuais ao longo do tempo, passam de heterossexuais, a homossexuais ou bissexuais. Embora alguns estudos sobre desenvolvimento afirmem que uma vez se assumindo homossexual para si e para os outros não haja mais alteração da identidade sexual, outros estudos dizem que algumas mulheres se assumem como lésbicas por não se encaixarem ou não se aceitarem como bissexuais.
Apesar das atrações sexuais entre as mulheres parecerem bastante estáveis, as identidades e os comportamentos são bem mais fluidos e diversificados, exemplo disto é o fato das lésbicas geralmente se reportarem a um colega de escola homem entre as suas primeiras atrações sexuais. Elas podem inclusive ficar com homens mais tarde novamente espontaneamente, não por pressão social, embora não se vejam ou não se assumam como bissexuais. Segundo alguns autores, os bissexuais tem uma maior capacidade de experimentar atrações por ambos os sexos o que dará aos seus sentimentos subjetivos uma maior suscetibilidade de serem influenciados pelo ambiente, se afastando assim, da identidade sexual minoritária. As autoras acreditam que há consistência de mudanças na orientação sexual ao longo do tempo, exemplo disto são os bissexuais se tornarem homossexuais em sua orientação sexual, embora se mantenham em sua identidade sexual como bissexuais.
Em relação às diferenças de gênero no desenvolvimento da orientação sexual, as autoras verificaram através de pesquisas que sujeitos do sexo feminino tem maior probabilidade de experienciar relações heterossexuais antes de ter experiências com o mesmo sexo e os rapazes a ter experiências primarias com o mesmo sexo. As diferenças de gênero na orientação sexual podem ser compreendidas através: a)preferências por relações sexuais descomprometidas, assim como no interesse em estímulos visuais, b)importância subjetiva da fidelidade emocional e sexual e c)no valor da percepção de características do parceiro. Sendo que, as diferenças de gênero prevalecem independente da orientação sexual. Em termos de atrações sexuais verificou-se que os sujeitos do sexo masculino apresentam um contexto sexual, de sexo descomprometido e estímulos visuais, enquanto as mulheres seguem um contexto emocional, atribuindo maior importância a fidelidade emocional.
Diferenças de gênero X idade foram encontradas em relação a convicção da identidade sexual mas não em relação aos primeiros comportamento sexuais. Resultados de estudos comprovaram que as mulheres mais jovens afirmavam mais identidades bissexuais que os homens jovens. Verificou-se que as diferenças de gênero tem sido muito importantes em relação as questões de comportamento sexuais, numero de parceiros sexuais e idade de iniciação, mas em relação a orientação sexual não foram encontradas diferenças significativas entre as categorizações gay, heterossexual ou bissexual.
Em sua conclusão as autoras falam do privilégio feminino visto na fluidez, na permissão de uma maior possibilidade de escolhas e de mudanças no ciclo de vida, enquanto o homens ainda são muito cobrados em manter uma maior exclusividade de orientação sexual refletindo numa maior rigidez social. As relações, a sexualidade e os amores são influenciados pelo meio e predispostas biologicamente, na sua subjetividade individual sem ser separados de um contexto social de inserção.

Referência:
Almeida, J. e Carvalheira, A. A. Flutuações e diferenças de género no desenvolvimento da orientação sexual: Perspectivas teóricas. Análise Psicológica, 25, 3, 343-350, 2007

Estereótipos de gênero: Untitled Film Stills de Cindy Sherman 4

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Estereótipos de gênero: Untitled Film Stills de Cindy Sherman 3

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Estereótipos de gênero: Untitled Film Stills de Cindy Sherman 2

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Estereótipos de gênero: Untitled Film Stills de Cindy Sherman 1

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Estereótipos e política: homem + mulher + amor = família

Contribuição: Apohena Noyora