Resenha: estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica

Ivanilde Souza

Das interpretações reinantes no contexto social para o fenômeno do envelhecimento, a mais cristalizada fortalece a compreensão de que o processo de envelhecimento representa uma época sombria, decrépita, coalhado de doenças e repleta de temores da morte. Neste artigo, Rosa Maria Lopes, professora coordenadora da Escola Superior de Enfermagem do Instituto Superior Politécnico de Viseu e Maria de Lurdes Martins, enfermeira graduada do Hospital S. Teotónio, S.A., em Viseu, fazem uma análise dos estereótipos sobre os idosos, reinantes no discurso social, os quais revelam uma percepção limitada desta população.
O termo “ancianismo” criado pela gerontologia e utilizado neste artigo é definido como um processo de discriminação sistemática, contra as pessoas por que são velhas.
Assim, este estudo vem contribuir para o esclarecimento de algumas questões sobre a atual situação do idoso na sociedade. A urgência de trazer à cena estas questões, as quais estas autoras exploram, justifica-se se levarmos em consideração que as representações sociais, como por exemplo, a dos idosos, está intimamente relacionada com o tratamento que é dispensado a este grupo, tanto em termos de relações proximais, como de relações institucionais.
No sentido de elucidar estas questões e baseados nos pressupostos teóricos defendidos por vários autores, este artigo traz conceitos referentes a estereótipos, crenças e atitudes. Estereótipos são “generalizações” e simplificação de crenças acerca de um grupo de pessoas, podendo ser de natureza positiva ou negativa. O estereótipo positivo é aquele em que se atribuem características positivas a todos os membros de uma categoria particular, por exemplo, “todos os idosos são prudentes”. Contrariamente, um estereótipo negativo, atribui características negativas a todas as pessoas de uma determinada categoria, de que é exemplo “todos os idosos são senis”.
Crenças, conjunto de informações sobre um assunto ou pessoas, determinante das nossas intenções e comportamentos, formando-se a partir das informações que recebemos. Por exemplo: a “idéia” de que todos os idosos são sensatos e dóceis e nunca se zangam.
Atitude, conjunto de juízos que se desenvolvem a partir das nossas experiências e da informação que possuímos das pessoas ou grupos. Pode ser favorável ou desfavorável, e embora não seja uma intenção pode influenciar comportamentos.
Em seguida traz um estudo realizado na Université de Montreal, que teve como objetivo identificar os estereótipos mais freqüentes aplicados aos idosos. Este estudo verificou que a maioria destes estereótipos estão ligados não a características específicas do envelhecimento, mas sim a traços da personalidade e a fatores socioeconômicos. Uma das justificativas para a construção dos estereótipos é que estes cumprem a função de simplificar os fenômenos sociais, por um lado; por outro, esta simplificação leva a uma ignorância acerca das suas especificidades, o que faz com que sejam minimizadas as características individuais de cada sujeito. No caso dos idosos – utilizados como exemplo pelas autoras deste artigo – aqueles que são ativos socialmente e que não se enquadram aos estereótipos de invalidez e improdutividade são considerados, muitas vezes, como tendo um comportamento social atípico, pelo que se enquadram numa exceção.

O fato é que os estereótipos são gerados porque há uma carência no sentido de aprofundamento dos processos de envelhecimento, fato que exerce uma influência direta na maneira como os indivíduos interagem com a pessoa idosa e na percepção que eles próprios têm de si mesmo, como bem coloca os autores.
Se analisarmos de forma mais aprofundada a condição dos idosos, talvez seja possível perceber uma discrepância entre a visão negativa de pessoas mais jovens acerca do envelhecimento e a percepção dos próprios idosos quando atribuem significado às suas experiências. Apesar da convivência com doenças e agravos, suas histórias de vida revelam ganhos e não apenas limitações, contribuindo para isto o apoio familiar e o social, os dois atuando como um diferencial na sua existência. Desta forma, há de se ter a preocupação de não estigmatizar a velhice.

Referência:
Martins, R. M. e Rodrigues, M. L. Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica. Millenium. Revista do ISPV, 29, 249-254, 2004.

Autor: Marcos E. Pereira

Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal da Bahia. O currículo Lattes pode ser acessado no site http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4799492A6

5 comentários em “Resenha: estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica”

  1. Muito interessante a resenha da colega, pois expõe um problema muito frequente na nossa sociedade Ocidental: o peso dos estereótipos negativos no grupo dos idosos. Numa sociedade como a nossa, que busca a juventude eterna e só valoriza as pessoas que podem contribuir finaceiramente para o “progresso da nação”, os idosos encontram-se numa posição de inferioridade. Sem contar que o sistema assistencialista para os nossos idosos do Brasil é algo extremamente vergonhoso, os estereótipos que são disseminados também contribuem para um tratamento diferencialmente negativo para com esses idosos. Isso contribui ainda para que as pessoas mais velhas procurem evitar se denominarem como “idosos”, para nao carregarem todos os estigmas que estão embutidos nesse conceito. Creio que devessemos tomar como exemplo as sociedades Orientais, que valorizam, respeitam e exaltam a importância do indivíduo idoso, pois eles sabem que a verdadeira essência, a vontade de viver, a alegria, não se perdem com o passar dos anos.

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  2. Quando se fala em estereótipo de idosos, sinto dificuldade em selecionar atributos típicos que possam ser associados a esse grupo como um todo.
    Fiquei pensando se, assim como se faz com os estereótipos que se referem a homens e mulheres, não seria pertinente se falar também em subtipos de idosos.
    Por exemplo: em relação aos traços de personalidade, consigo distinguir duas concepções antagônicas no que diz respeito a essa categoria: de um lado, a típica “dona Benta”, uma senhora amorosa e paciente; de outro lado, pode-se pensar em idosos como pessoas poliqueixosas, ranzinzas…

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  3. De uma forma ou de outra a necessidade de ancorar pessoas em grupos ou categorias está muito presente nos dois casos, o problema é que ao fazermos isso perdemos muito da individualidade humana e das especificidades de cada ser. Na busca/necesidade de alocar pessoas, indivíduos em grupos e categorias perde-se muito de sua individualidade e especeficidades. E nisso corremos o risco de ter comportamentos preconceituoso, por conta de estarmos fazendo sempre generalizações.

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  4. Vemos presente neste artigo que as experiências nos ensinam a prática de determinados comportamentos e atitudes e ressalta que eles podem ser diferentes. Esta pesquisa tenta vislumbra alguns conceitos sobre o processo de envelhecimento.
    Como nosso país é um país de jovens, com objetivo de produtividade. O envelhecimento é visto como algo improdutivo. Desta forma, são agregados muitos estereótipos negativos.

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  5. Gostei muito de ter lido este artigo, foi uma esperiencia gostosa de ter adquirido essa informação, esse conhecimento vou compartilhar dentro de sala de aula com os amigos, e professores. Eu quero que vocês possa fazer uma materia sobre a sexualidade na terceira idade, as sua carecteristica, cultura. da região do amazonas em manaus. obrigada.

    Maurenice martins M. Carvalho

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