Salvador, Bahia, segunda-feira, oito horas da noite. Peguei um táxi para ir ao supermercado. O motorista, claro, com o rádio ligado. Um radialista , famoso por sua alacridade, passou a desancar, ao vivo e sem subterfúgios, a (falta) de educação do povo baiano. Não ficou pedra sobre pedra. Mijar em qualquer canto, parar o carro no meio da rua e atrapalhar o trânsito na maior desfaçatez, tratar qualquer um, independente de idade, sexo ou religião, de forma descortês, enfim, uma série de mazelas que quem vive na cidade de todos os santos conhece bem e de tão acostumado nem leva mais a sério. Claro que os comentários demandariam uma reflexão mais aprofundada a respeito dos muitos anos de desgoverno de um certo partido que tinha vergonha do próprio nome, da herança maldita deixada pelo império despótico do “senador do povo”, assim como da completa ausência de valores que parece imperar na nossa terra de ninguém. Não foi bem isto que se viu em seguida. Imediatamente o radialista mudou de assunto e passou a fazer troça, junto a um colega, de um habitual comentarista da rádio, que felizmente para o radialista e os seus colegas de batente, e infelizmente, ou não, para o alvo das gracinhas, não se encontrava presente. O teor dos comentários do radialista, assim como os termos e as expressões utilizadas, foram absolutamente impróprios para menores, e constrangedores, para não dizer outra coisa, para um ouvinte que não comunga com a esculhambação que se apossou da terra de Gregório de Matos. Longe deste que escreve ironizar ou mesmo desancar o radialista. Ele apenas reproduziu o que anteriormente criticara. Isto apenas demonstra quão fácil é ver os defeitos dos outros e como estes mesmos predicados podem ser interpretados como uma coisa positiva, a depender do alvo, da boa vontade e do estado de espírito de quem está julgando.