Resenha: Estereótipos sexuais aplicados às nadadoras

Fernanda Brito

Quais fatores interferem no grau de masculinidade ou feminilidade atribuído às pessoas? A opção por uma prática esportiva certamente é um importante fator, principalmente por modificar o corpo, facilitando muitas vezes a identificação e a classificação dos atletas e dos não-atletas. O artigo apresenta um estudo feito para explorar a aplicação de estereótipos sexuais às nadadoras, avaliando se há um impacto na percepção de dois grupos de pessoas que diferem quanto ao envolvimento com o desporto. Adota-se o pressuposto de que pessoas não envolvidas com a natação tendem a aplicar estereótipos sexuais em função do biotipo das atletas.
Atualmente a questão acima não é mais vista de forma unidimensional, como pólos opostos de um mesmo plano. Os construtos de masculinidade e de feminilidade são vistos como bidimensionais, ou seja, numa escala psicométrica um indivíduo pode obter dois escores independentes. Estes dois escores independentes dão origem a quatro grupos tipológicos: Masculino, Feminino, Andrógino e Indiferenciado.
Desta nova concepção surge o conceito de androginia psicológica que se traduz pelo desenvolvimento simultâneo e equilibrado de características masculinas e femininas por uma mesma pessoa. Este conceito corrobora para uma melhor compreensão dos padrões de comportamento, uma vez que indica uma maior flexibilidade comportamental: melhor ajustamento às diferentes situações sociais que exigem de uma mesma pessoa tanto características masculinas quanto femininas. Por exemplo, estudos demonstram que em relação ao engajamento em atividades apropriadas e inapropriadas ao sexo, os grupos andrógino e indiferenciado não apresentam diferenças significativas em comparação aos grupos masculino e feminino que tendem a se engajar em atividades apropriadas ao seu sexo e evitar as inapropriadas.
Neste sentido, a escolha de mulheres pela prática de desportos com predomínio de características masculinas como agressividade, competitividade e de homens por desportos que requerem suavidade e leveza favorecem a aplicação de estereótipos sexuais. Isto ocorre porque as características do desporto associado ao sexo do praticante contrariam a desejabilidade social que está pautada nas construções sociais do que é masculino e feminino.
O instrumento utilizado no artigo foi o Inventário de Papéis Sexuais de Bem (BSRI) compostos por três escalas: feminina, masculina e neutra. A escala neutra é composta por itens desejáveis e indesejáveis para ambos os sexos. As variáveis do estudo foram o grau de envolvimento com o desporto e o sexo dos participantes. De modo geral, não houve diferenças quanto ao sexo na aplicação de estereótipos sexuais, a não ser pela tendência das mulheres em considerar as nadadoras com maior quantidade de características neutras, podendo indicar que na percepção das mulheres as nadadoras não são tão femininas, o que foi constatado também no grupo que não possuía envolvimento com o desporto.

Essa percepção distorcida pode ser explicada pelo desconhecimento do esporte e pelo biotipo das nadadoras que contrariam os padrões estéticos designados à feminilidade. Além disso, a preocupação com a aparência física e a atratividade sexual potencializa nas mulheres a aplicação de estereótipos sexuais para toda e qualquer mulher que se afaste desses padrões culturalmente femininos. Fica como sugestão para próximos estudos, uma melhor investigação sobre o grau de impacto desses estereótipos sexuais na decisão de uma adolescente por esportes de características predominantemente masculinas, e sobre a possível existência de conflitos entre biótipos de atletas e padrões culturais que podem impedir o início ou prosseguimento de uma carreira desportiva.
Referência: Giavoni, A. Estereótipos sexuais aplicados às nadadoras. Revista Brasileira Ciência e Movimento,10, 2, 27-32.