Femininismo, mídia e música

Contribuição: Thiago Falcão

Não é incomum encontrar imagens estereotipadas espalhadas por toda a produção midiática – e de fato, certos teóricos encaixam os meios de comunicação de massa no mesmo eixo que pais, amigos e professores como principais responsáveis senão pela aquisição, ao menos pela mudança dessas idéias pré-fabricadas.
No campo da música os exemplos são vastos – mas escolhemos três exemplos distintos de discursos associados à idéia do feminismo pra ilustrar este post: se os dois primeiros se baseiam fortemente na idéia da defesa do feminismo, o terceiro não vai muito por esta via – e vale a pena perceber que nos três exemplos são mulheres que cantam.


Hanin Elias, membro-fundador da famosa banda alemã anarco-ativista Atari Teenage Riot fundou seu selo Fatal Recordings para servir de plataforma para idéias feministas, lançando unicamente mulheres cantando música de cunho politizado.
Hanin, com seu estilo e idéias, viria a influenciar duas garotas de Liverpool que além de compartilhar a idolatria da produtora por guitarras distorcidas e sintetizadores, compartilhavam também suas idéias.

Assim surgia o Robots in Disguise, abrindo seu primeiro álbum, auto-intitulado, com a faixa “Girl”, clamando por respeito no próprio modo como os homens se referem a mulheres. Os lyrics da faixa dão uma idéia de qual o conteúdo do estereótipo impresso às mulheres:

Robots in Disguise

Girl

You like to throw up words
Speak to us s’if we got germs
And label us with junior terms
I’m a dog I’m a pig I’m a cow I’m a bird (Tweet Tweet)
Your tongue twists and scars
I need these tags like stabs in the heart
Names for my sex – Oh Blah Blah Blah
I’m a slag I’m a slut I’m a tramp I’m a tart
It’s not a dirty word
It’s not a dirty word
C’mon use it dream it choose t own it sign it scream it
G-I-R-L – GIRL!!
We’re a double X and proud of it
So vexed -Shan’t mind our language
With the F word – F for feminist
I’m a doll I’m a witch I’m a peach I’m a bitch
Hands up ‘f u wanna be in our gang
Cos ladies need a modern vocab
and for starters snatch the old school slang
I’m a twat I’m a bag I’m a cunt I’m a shag

Nem tudo, contanto, no mundo das mulheres e da música, é política. Nellie Mckay, comediante, atriz (recentemente Ciara, no filme PS. I Love You) e cantora, abre seu álbum Obligatory Villagers, com um tom de desafio às feministas – sugerindo que, na verdade, elas precisam de homens, não de idéias:

Nellie McKay

Mother Of Pearl

Feminists don’t have a sense of humor
Feminists just want to be alone (boo-hoo)
Feminists spread vicious lies and rumor
They have a tumor on their funny bone

They say child molestation isn’t funny
Rape and degradation’s just a crime (lighten up, ladies)
Rampant prostitution, sex for money (what’s wrong with that)
Can’t these chicks do anything but whine

Dance break
Woo-hoo
(Take it off)

They say cheap objectification isn’t witty, it’s hot
Equal work and wages worth the fight (sing us a new one)
On demand abortion, every city (okay, but no gun control)
Won’t these women ever get a life

Feminists don’t have a sense of humor (poor Hilary)
Feminists and vegetarians
Feminists spread vicious lies and rumor
They’re far too sensitive to ever be a ham
That’s why these feminists just need to find a man

I’m Dennis Kucinich, and I approve this message

Autor: Marcos E. Pereira

Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal da Bahia. O currículo Lattes pode ser acessado no site http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4799492A6

17 comentários em “Femininismo, mídia e música”

  1. conheço algumas bandas assim. A Dominatrix, famosa banda punk no mundo underground de são paulo é famosa por: só ter garotas entre as integrantes, ser feminista ultra-radical e a vocalista, importante ativista, Elisa, ser ,entre outras coisas, vegetariana. Elas são presença certa na “verdurada”, evento Vegan que acontece em sampa.
    Mas o mundo do rock ainda é bastante machista. No Brasil, com ícones pop como Pitty, isso tem melhorado UM POUCO.

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  2. Concordo que as mulheres são uma categoria desfavorecida socialmente. Coisa absurda.

    E as moças do Robots in Disguise estão certas em se ofender com quem acha q elas são só uma parte da anatomia delas ou só isso ou só aquilo. Mas qual é o objetivo nestas ações tão furiosas? O que elas querem, afinal?

    As mulheres são objeto de desejo dos homens. Qual é a melhor maneira de se lidar com isso?

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  3. E fui assistir alguns clipes da banda e achei o estilinho até legalzinho. Lembra CSS (mas CSS é bem melhor e a Lovefoxxx bem mais fofa). E o clipe da música “Girl” é um plágio safado do “Made in Japan” do Pato Fu, com a luta de robôs e a arma de caixas de som! Que sem-vergonhas!

    Três comentários neste post. Gostei dele, não?

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  4. O mais legal é que Nellie McKay sem maquiagem, sem discurso de ordem nem nada, é inegavelmente bela por ser simplesmente mulher, atributo que passa longe das demais artistas acima, feias, deformadas, degeneradas e desprovidas de feminilidade. são as atitudes claramente afetando o comportamento.

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  5. “Rampant prostitution, sex for money (what’s wrong with that)/
    Can’t these chicks do anything but whine”

    “On demand abortion, every city (okay, but no gun control)”

    Tb me pergunto, Nellie, tb me pergunto…
    (4º comentário!)

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  6. Feminismo, feminismo. Ele foi responsável por muitos dos avanços que temos hoje, mas também fizeram bobagens como queimar sutiãs e lançar a moda daquelas malditas ombreiras dos anos 80…

    Hoje, acho que é um movimento viciado. Sou contra muitas das idéias, e sinceramente, detesto bandas feministas. E isso não me torna também o radical contra, a Amélia dos 00. Mas vá lá eu falar isso… Pois é, acho que aquele papo de que o erro do feminismo foi querer igualar homens e mulheres em tudo – eu disse EM TUDO – não deixa de ser uma verdade.

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  7. Vamos deixar de hipocrisia!!! se as mulheres reagiram de forma tão radical foi simplesmente por causa de anos e anos de opressão e submissão. Queimar o sutien foi uma vitória, um simbolo, uma marca na história. Devido aos movimentos feministas que conseguimos usar mine-saia, pilula, sair do âmbito doméstico, cuidar apenas dos filhos e o pior, servir aos nossos “amados” maridos assim como a sua vontade. Claro que não precisamos fazer apologia a guerra dos sexos, nem ser tão agressivas, mas as vezes é necessário… Ou as mulheres de hoje gostariam de viver da mesma forma que nossas bisavós, tataravós… viveram??? fala sério.

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  8. Andréia, eu não desmereço as conquistas sociais dos movimentos das mulheres, mas tb não vou me submeter a visões simplistas que muitas militâncias gostam de aderir. A uns anos atras eu fiz um trabalho com trabalhadoras domésticas e fui pesquisar a história desta atividade no Brasil. Achei muito interessante em saber o fato de que muitas mulheres de classe média que começaram a sair para estudar, trabalhar e participar de grupos políticos precisavam da mulher pobre, negra e sub-remunerada para poder se livrar dos afazeres domésticos.

    Acho que muita gente que grita isso ou aquilo por ai nem sabe muito bem o que está fazendo e onde quer chegar. Muitos apenas querem virar o jogo, e normalmente isso se consegue quando aparece outro grupo para tomar o lugar de baixo da pirâmide.

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  9. Sem contar que era interessante que as mulheres fossem trabalhar e ganhar seu próprio dinheiro. Afinal, como diz o estereótipo presente em nossa cultura, elas gastam muito mais do que os homens.

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  10. O feminismo como surgiu pra mim é inconcebivel no momento atual.
    Igualdade coisa nenhuma somos mesmo é diferentes e essa diferença é que tem que ser respeitada!

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  11. É exatamente nisso que o feminismo peca. Ao invés de tentar transformar a idéia de que a diferença não deve ser usada pra oprimir, procura uma postura semelhante ao machismo.

    Do barro, da evolução ou da cultura, o fato é que homens e mulheres não são iguais. Graças!

    E nem todos os homens são iguais e nem todas as mulheres. Fato.

    Houve uma época em que o feminismo precisou ser radical, hoje em dia já não há mais essa necessidade, as transformações bruscas já foram conquistadas, a visibilidade já existe. Agora é ir com calma, a mulher prova cada vez mais que tem espaço, com conquistas muito significativas, ainda assim brandas.
    Persistir na mesma estratégia após o sucesso só a faz se tornar defensável, em time que está ganhando, se mexe sim.

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  12. Será que vcs sabem o que é feminismo?
    Ou só julgam a partir de uma ideia pré-concebida de mulheres com aparência masculina, raivosas, queimadoras de sutiã e mal-amadas (pq esse é o estereótipo disseminado e odiado)?
    Existem várias vias de feminismo. E os estudos de gênero são bastante sérios e sensatos. Dizem não que mulher é melhor que homem. Nem que é igual. Mas que as diferenças biológicas não determinam em última instância o que elas podem ser. Não é porque nasci com vagina em vez de pênis que eu devo me ater ao espaço privado, não posso ser engenheira ou política. Ou que tenho de ser compreensiva e submissa. Sugiro que leiam mais sobre a questão de gênero.

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  13. sou mulher do primeiro ao último fio de cabelo e nunca pretendi ser melhor ou maior que qualquer homem.somente quero que meus desejos,meus sonhos,meus anseios pessoais e profissionais sejam respeitados e nao tolhidos pelo simples fato de ser mulher,algo que o movimento prega.ser feminista hoje é correr o risco de ser taxada de sapatão e outras cositas do gênero,mas mulher alguma deve se deixar abater por estas bobagens,pois ela já conhece o seu valor,seus potenciais e suas reais necessidades.então,se quiserem,me chamem de sapatão!como diz rita lee:”sou mais macho que muito homem”.
    Em tudo o que já li sobre o feminismo eu sei que ele é muito mais que queimar sutiãs em praça pública.
    E para aqueles que julgam ou condenam o movimento,sugiro um breve estudo de tudo o que ele já conquistou e ainda vem conquistando para as mulheres em geral.
    E se ainda assim persistir a idéia de que o movimento é surreal ou pouco ideal para a realidade atual então,paciência!
    Afinal,vivemos num mundo livre e cada qual escolhe em que se apoiar ou acreditar.

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