A dimensão avaliativa dos estereótipos

Hoje, 07 de dezembro de 2007, podem ser identificadas no orkut, a rede social preferida pelos internautas brasileiros, algumas comunidades que ostentam o termo estereótipos no próprio nome. A mais popular, ´eu odeio estereótipos´, mantém o registro de 2080 membros. Os nomes destas comunidades evidenciam quão negativa é a visão que as pessoas possuem dos estereótipos sociais; de um total de 18 comunidades, 13 ostentam no próprio título expressões como a anteriormente aludida, ou similares, tais como ,´chega de estereótipos´, ´sou contra estereótipos´ e ´Brasil sem estereótipos´. Isto parece refletir a opinião socialmente compartilhada acerca dos estereótipos, o que é um bom indicador de que os estereótipos não se manifestam apenas em pessoas toscas, cognitivamente limitadas ou em pessoas preconceituosas, acostumadas a tratar de forma discriminatória aos membros das categorias minoritárias. Qualquer pessoa estaria suscetível a adotar o raciocínio categórico e tratar a um outro de forma estereotipada. As teorias psicológicas sobre os estereótipos teriam de dar conta desta condiçãoe o s argumentos apontam para três grandes direções. Uma é claramente individualista. Hipóteses como as da frustração-agressão ou teorias como as do bode expiatório sugerem que os estereótipos se manifestam porque os indivíduos precisam oferecer satisfação às suas necessidades psicodinâmicas. Uma segunda é inteiramente holista e sustenta a tese que as crenças estereotipadas se manifestam nas circunstâncias em que estão presentes e se disseminam na sociedade conflitos reais entre os grupos. Estas duas teorias, apesar de aparentemente divergentes nos seus princípios básicos, confluem em um ponto comum, ao admitirem que os estereótipos apenas refletem a ação de indivíduos, com diferentes graus de preconceito, submetidos a uma situação real de conflito entre os grupos. Um terceiro grupo de teorias se inscreve numa vertente mais sistematista e adere ao entendimento de que a expressão dos estereótipos preenche uma função política no âmbito de um sistema social hierarquizado, sendo usado preferencialmente para justificar e racionalizar a desigualdade e a discriminação. A entrada em cena do movimento da cognição social representa uma reviravolta nas teorias predominantes até então. A busca pela identificação dos conteúdos das crenças arrefece e ganha corpo um grande interesse pela investigação dos processos cognitivos envolvidos na ativação e aplicação dos estereótipos. Estereotipizar passa a ser visto como um efeito inevitável da ativação e aplicação dos rótulos verbais que associam os indivíduos às categorias sociais às quais eles pertencem. Nesse sentido, como se trata-se de um elemento decisivo no processo de codificação e categorização e, na medida em que oferece os recursos necessários para simplificar, retirar as ambigüidades e enriquecer a experiência perceptual, o processo de estereotipização tende a ser um recurso que o indivíduo habitualmente a encontra à disposição para dotar de sentido a realidade em que vive. Ainda que pese o impacto das teorias de base cognitiva, a visão negativa que acompanha o conceito de estereótipos não se diluiu inteiramente, tanto na visão do senso comum, o que se confirma pela simples leitura dos conteúdos expressos nas mensagens das diversas comunidades do orkut, quanto na própria psicologia social, onde os estereótipos continuam sendo referidos como o resultado da manifestação de mecanismos da economia cognitiva, como, por exemplo, na correlação ilusória, que se consusbstanciam na adoção dos atalhos mentais por um agente cognitivo considerado avaro e econômico de recursos.

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Autor: Marcos E. Pereira

Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal da Bahia. O currículo Lattes pode ser acessado no site http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4799492A6

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