Resenha: Cues that Matter: How Political Ads Prime Racial Attitudes During Campaigns

Thiago Falcão

O artigo examina o efeito de como as pistas raciais podem ativar um pensamento racial/racista na avaliação de um certo candidato, pelo público. Os autores vão apresentando suas hipóteses no decorrer do texto: (1) apelos que tenham pistas raciais vão aumentar o poder de justificativa de atitudes raciais nas avaliações de certos candidatos; (2) entrevistados levariam menos tempo para identificar deixas raciais quando esse conteúdo já tiver sido ativado; Os autores ainda executam a extensão de um estudo anterior (Nelson et al, 1997; Miller e Krosnick, 2001), sobre a importância das questões raciais nos processos de ativação, e (3) testam se há um processo psicológico sofisticado o suficiente, na avaliação dos candidatos pelo público, para que a importância que tal candidato dá a certos grupos seja um fator relevante.
Os autores começam o artigo discutindo um fato emergente na América: no decorrer dos últimos 40 anos, atitudes públicas relacionadas à raça foram radicalmente diminuídas, mas algumas pesquisas ainda indicam que formas midiáticas ainda reforçam os estereótipos de minorias. Valentino e seus colegas, então, se utilizam de um modelo desenvolvido por Mendelberg para se referir ao assunto, mas adiantam que enquanto o modelo é muito convincente e seus resultados muito persuasivos, mais testes precisam ser executados sobre o problema. A premissa básica do estudo, então, é a de que mesmo velados, os componentes raciais no discurso midiático ainda são uma força potente na política americana.
A aproximação teórica de Mendelberg tem quatro componentes: (1) americanos brancos são divididos entre a “norma de igualdade” e seu ressentimento com relação aos negros em falhar ao aderir à crença americana no individualismo e no trabalho duro; (2) o priming racial funciona porque certas deixas tornam alguns esquemas racionais mais acessíveis pela memória, daí eles serem usados nos processos de tomada de decisão imediatamente posteriores; (3) estar ciente de conteúdo racial numa mensagem faz com que a maioria dos americanos a rejeitem, por causa da “norma de igualdade” e (4) apelos raciais só são efetivos se não forem reconhecidos como tal pela audiência.
Os autores vão, então, se focar em três questões que pra eles estão relacionadas, para tentar jogar alguma luz sobre o problema: (1) pistas raciais em apelos políticos normais realmente ativam atitudes raciais? (2) que tipos de deixas ativam atitudes raciais? (3) afinal, qual o mecanismo psicológico que está associado à ativação racial? Seguindo esse viés argumentativo, os autores finalmente chegam à teoria que dá suporte (com base em várias pesquisas) ao artigo: para a maioria das pessoas, atitudes raciais negativas afetam o pensamento político automaticamente – ou simplesmente não o fazem mais.
O estudo, então, foi realizado com 346 adultos não-estudantes, na Universidade de Michigan, com os entrevistados tendo sido informados via panfletos. A amostra não era perfeitamente representativa da nação como um todo por conter muitos graduados e poucos republicanos, além de os autores apontarem o problema de não poder isolar as respostas por grupos étnicos, porque a amostra não continha um número suficiente de pessoas enquadradas nesse grupo. Os entrevistados foram expostos a um questionário demográfico e três comerciais, tendo sido levados a realizar uma atividade de cunho léxico desenhada para medir a acessibilidade de atitudes raciais na memória.
Os resultados mostram que uma variedade de pistas raciais implícitas pode, sim, ativar questões raciais, especialmente aquelas que implicam que os negros não seriam merecedores dos gastos do governo. Com relação à segunda hipótese, os autores percebem que os resultados corroboram com a idéia anterior de que as pistas raciais ativam questões nas memórias dos espectadores, mas mais importante que isso, embora a narrativa já o fizesse por si só, quando as deixas visuais foram apresentadas, o efeito detectado foi maior – o que dá pistas de como os processos de ativação funcionariam.
Os autores ainda executam a extensão de dois estudos (Nelson et al, 1997; e Miller e Krosnick, 2001), sobre os níveis de importância que os expectadores dariam às representações de grupos na avaliação de certos candidatos. Segundo Valentino e seus colegas, o nível de importância que os expectadores dão ao problema seria uma variável tão importante quando a ativação das informações na memória, pelas pistas raciais. Os resultados sugerem que a hipótese é sustentada – pistas raciais implícitas, especialmente aquelas sobre os negros não serem merecedores da ajuda do governo, ativam atitudes com relação ao problema e tornam a questão de grupos mais importante no cálculo de votos.
Por fim, os autores testam a última hipótese, e chegam à conclusão de que deixas raciais ativam as questões referentes à raça causando impacto sobre a avaliação dos candidatos. Os autores ainda especulam que deixas anti-estereotípicas não ativam tais questões, mas podem levar a uma reflexão sobre a questão dos grupos étnicos na avaliação de um candidato.
Os autores encerram o artigo sugerindo que um maior debate sobre questões raciais precisa ser travado nos Estados Unidos, e que, em suma, quando os americanos estão cientes do assunto – quando o assunto da raça é explícito – eles suprimem o pensamento racial/racista.

Referência: VALENTINO, N., HUTCHINGS, V. E WHITE, I. (2002) Cues that Matter: How Political Ads Prime Racial Attitudes During Campaigns. In: American Political Science Review, Vol. 95, N. 1, p. 75-90.

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Autor: Marcos E. Pereira

Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Mestrado e Doutorado) da Universidade Federal da Bahia. O currículo Lattes pode ser acessado no site http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4799492A6

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