Luciana Matos
O texto vem trazer uma nova visão a respeito do desenvolvimento psicossexual masculino e feminino, contrapondo-se à teoria clássica freudiana. Freud trouxe diversos significados aos conceitos masculino e feminino, detendo-se no nível psicossexual do desenvolvimento, que envolve os níveis biológico e sociológico. Ele propõe a concepção da bissexualidade constitucional, onde todo ser humano, no início da vida, seria uma síntese de traços masculinos e femininos. Na teoria clássica, o masculino/feminino são percebidos através das posições ativo/passivo e fálico/castrado, que serviriam de base para a identificação sexual.
Ainda na perspectiva freudiana, o desenvolvimento sexual masculino e heterossexual se daria através da passagem pela ansiedade da castração e da identificação do menino com o pai, abrindo mão do amor incestuoso pela mãe. Já a feminilidade seria desenvolvida por um percurso mais difícil, onde a menina sentiria inveja do pênis, o que pode faze-la sentir inferiorizada, ficando passiva e masoquista, tendo o clitóris como um pênis defeituoso, não conseguindo deslocar o erotismo para a vagina. A feminilidade se desenvolveria de forma saudável quando a menina, voltando-se para o pai, desenvolvesse o desejo de ter um bebê.
Questões recentes na discussão psicanalítica do masculino e do feminino
As novas perspectivas psicanalíticas contrapõem-se á idéia freudiana de que o desenvolvimento psicossexual, tanto da masculinidade quanto da feminilidade, se dê a partir da aprendizagem resultante de frustração, conflito e trauma, sua ultrapassagem e elaboração. Novas abordagens não descartam essa possibilidade, mas propõem que esta não seja tida como uma abordagem universal.
Segundo Freud, a mulher se constituiria como passiva, narcisista, masoquista e com um superego mais frágil que o homem. Esta concepção suscitou críticas, pois caracteriza a estrutura feminina como inferior. A questão do masoquismo, por exemplo, foi tida por Blum (1977 apud Afonso) como um resíduo de um conflito infantil não resolvido, mas não como algo essencialmente feminino. Muito do que foi visto na teoria freudiana sobre a sexualidade feminina precoce foi baseado na observação direta e crianças, porém, ultimamente, os estudos psicanalíticos se baseiam em observação na prática clínica ou descobertas de disciplinas como a embriologia.
Outras questões da feminilidade trazidas por Freud como a transferência do gozo clitoriano para o gozo vaginal, o complexo de castração feminino e a inveja do pênis, são questionadas. Não existem evidências anatômicas nem fisiológicas da transferência clitóris-vagina, e, além disso, não há distinção entre os dois orgasmos. Alguns autores também consideram a metáfora da castração feminina como algo que varia de menina para menina, podendo a mesma sentir-se confortável com sua feminilidade se valorizada pelo pai e bem relacionada com a mãe. Além disso, consideram que nem todas as meninas entram no Édipo por esta via. Autores contemporâneos também relativizam a questão da inveja do pênis e propõem que haja uma inveja sexual em ambos os sexos. Além disso, se discute também a maternidade como central na fundação da feminilidade.
Os homens parecem ter sido um pouco deixados de lado no discurso psicanalítico com o falocentrismo e a ênfase nas questões femininas, pois já eram vistos como possuidores do pênis, e por isso, masculinos, ativos, agressivos, dominadores. Porém, diversos autores questionam alguns aspectos do desenvolvimento psicossocial masculino trazidos por Freud. Person (1986) relaciona o interesse masculino em ter parceiras múltiplas, que faz parte de um ideal de ego masculino, como um espelhamento dos medos sexuais dos homens, como tamanho, perícia, potência e rejeição. Ela traz ainda que a indisponibilidade das parceiras sexuais na adolescência desperta a ferida narcísica original do menino, podendo leva-lo a ereções inoportunas, como se perdesse o controle do falo, o que leva-nos a compreender o medo da impotência e da ejaculação precoce masculinos.
Os últimos estudos feitos a respeito dos aspectos desenvolvimentais pré-edipianos vêm reavaliando os papéis dos pais devido às mudanças na constituição familiar, como o aumento do número de divórcios, aumento do número de pais com a custódia dos filhos, divisão dos cuidados com as crianças devido às atividades profissionais das mulheres. Assim, acredita-se que o pai vem acessando o seu mundo pré-edipiano, permitindo-o reconhecer defesas e repressões, antes ativadas apenas na fase edipiana dos filhos. Esse novo papel do pai permite uma reformulação do processo de separação-individuação, além de levantar questões a respeito da necessidade de um objeto transicional, já que passam a existir muitos objetos disponíveis.
Conclusão
Ao trazer novas perspectivas a respeito da masculinidade e feminilidade, contrapondo alguns conceitos freudianos, o autor permite pensa-los de maneira mais atual e relativizada, enxergando-os de forma contextualizada e menos determinista. Concordando com alguns conceitos, revendo outros e ainda adequando outros às situações atuais, o autor propõe discussões bastante interessantes para a prática psicanalítica na atualidade.
Referência: Afonso, J. Masculino e Feminino: Alguns aspectos da perspectiva psicanalítica. Análise Psicológica, 25, 3, 331-342, 2007.
São relevantes as discussões a respeito das metáforas feitas sobre o desenvolvimento infantil e suas estruturas psíquicas. Toda “ciências” esta sujeita a modificações e reelaboração das suas sentenças. São pertinentes estudos na área. Já que há poucas pesquisas psicanalíticas.
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