A hipótese do contato afirma-se no pressuposto de que se pessoas de grupos diferentes passarem a estabelecer um número maior de contatos entre si, o grau de preconceito conhecerá uma queda substancial. Tal hipótese parece receber algum suporte empírico, embora seja importante estar atento para o efeito de dois fatores que exercem um papel decisivo: a situação em que ocorre o contato e as características dos indivíduos, sobretudo o status relativo de cada um deles e as suas habilidades particulares.
Independente de tais restrições, podemos admitir que a realização de atividades cooperativas em grupos multiculturais produz mudanças em vários níveis, incluindo-se aquelas relativas às atitudes quanto aos grupos externos, a intensificação do comportamento de ajuda às pessoas do outro grupo étnico, a redução dos conflitos e um acréscimo no grau de influencia dos membros do grupo minoritário. Entretanto, se estudos desta natureza tendem a depor a favor da viabilidade da adoção dessa estratégia, outros indícios não permitem este otimismo, talvez exagerado: muitas vezes, a intensificação de contatos físicos pode acirrar os ânimos e levar à adoção de comportamentos discriminatórios.
Ao que parece, a hipótese mais plausível a se adotar em relação a esta teoria é o reconhecimento de que não será o puro e simples contato, por si só, que irá gerar transformações que possam levar à redução dos preconceitos, sendo necessário, na maior parte das vezes, adotar estratégias relativamente complexas para que se possa obter algum sucesso na redução dos preconceitos mediante os contatos. Assim, independente de aceitarmos ou não essa perspectiva, devemos reconhecer a natureza complexa da questão e adotar uma posição compatível com a tese de que os preconceitos podem ser reduzidos através dos contato, desde que estes sejam organizados de acordo com alguns critérios fundamentais. Quais seriam as regras a serem seguidas por quem deseja adotar o contato entre grupos como um recurso para a redução dos preconceitos ?
Em primeiro lugar, devemos confiar no pressuposto de que o contato deve ser orientado pelo entendimento de que é possível maximizar a cooperação e minimizar a competição entre os grupos. Em segundo lugar, não podemos esquecer que o status de todas as pessoas envolvidas nestes contatos deve ser o mesmo, seja em relação à circunstância particular em que ocorre a atividade de contato, seja fora dela. Em terceiro lugar, é imperativo que selecionemos um número semelhante de indivíduos de cada grupo e que estes possuam alguma similaridade em dimensões tais como as crenças e valores, ao mesmo tempo em que devemos evitar selecionar pessoas com diferenças significativas no campo das competências individuais. Em relação ao desenvolvimento dos contatos, é importante acentuar que estes, além de serem voluntários, devem contar com um forte apoio institucional e que os resultados porventura advindos devem ser igualmente compartilhados por todos os grupos envolvidos. Além disso, os contatos intergrupais devem obrigatoriamente se expandir além dos limites da situação em que as atividades forem desenvolvidas, devendo ocorrer em um número significativo de contextos e envolver o maior número possível de participantes de todos os grupos.