Rose Luz Silva Perez
O texto Afeto e desigualdade: gênero, geração e classe entre empregadas domésticas e seus empregadores foi escrito pela antropóloga e professora da Universidade Federal de Juiz de Fora, Jurema Brites. O texto consolidou-se como resultado da pesquisa etnográfica realizada por ela no período de 1995 a 1998. O estudo aborda um tema bastante interessante que perpassa o cotidiano de grande parte da população brasileira: a ambiguidade da interação entre patroas e domésticas. São analisadas as características que envolvem esta relação e como, de maneira extremamente sutil, é perpetuada a distância social entre universos distintos e estabelecida a naturalização da desigualdade social.
Os dois atores envolvidos nesta relação, provenientes de realidades completamente diferentes, estabelecem ao mesmo tempo uma interação permeada pela cumplicidade e o antagonismo. Este fato para a autora, gera a ambiguidade afetiva, pois, se de um lado a doméstica cuida do que há de mais precioso na vida familiar que são os filhos, o marido e a casa, por outro, deve haver um espaço bem demarcado que difere o universo da empregada doméstica e o de seus patrões.
A questão que se impõe diz respeito a como a desigualdade é reproduzida ao longo dos anos pelas classes média e alta, sendo internalizada sistematicamente pelas crianças que recebem os cuidados das domésticas. Neste aspecto, é dada ênfase quanto à acentuada proximidade e afetividade que marcam a relação entre as babás e crianças e como se reproduzem patroas adultas com um forte sentido de hierarquia. Para a autora, os constantes rituais de separação de espaços domésticos como o banheiro, o pequeno quarto, entre outras informações subliminares, vão configurando o terreno fértil para a manutenção da distância social e do sistema altamente estratificado de gênero, classe e cor.
As reflexões provenientes da pesquisa realizada são confrontadas com conceitos de diversos outros autores sobre o tema, o que amplia a percepção e crítica sobre o mesmo. No entanto, não foram citados maiores detalhamentos sobre o trabalho etnográfico efetivado, a exemplo do quantitativo da amostra dos patrões e domésticas, o que poderia oportunizar maior clareza sobre a extensão do grupo pesquisado. Não obstante, os resultados apresentados despertam no leitor a necessidade de um olhar mais cuidadoso sobre as relações estabelecidas no interior dos lares e de como, sem que possamos nos dar conta, contribuímos para a perpetuação da desigualdade social.
Referência: Brites, J. Afeto e desigualdade: gênero, geração e classe entre empregadas domésticas e seus empregadores. Cadernos Pagu, 29, 91-109, 2007.
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